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O DESENHO DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL*

 

Gisele da Costa Silva

Universidade do Estado de Mato Grosso, Sinop/ MT - Brasil

 

RESUMO

O artigo tem como objetivo compreender a importância do desenho no desenvolvimento da criança de 05 anos de idade na Educação Infantil. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, com entrevistas com os professores, alunos e direção. Ao desenhar a criança expressa revelando suas emoções, vontades, imaginação, criatividade, medos e angustias, revelando no desenho emocional, intelectual, perceptual, social, físico, estético e criativo. Como referencial utilizaram-se Sandra Richter e Vander Jarabiza. Conclui-se que os profissionais têm desenvolvido suas práticas pedagógicas ao trabalhar o desenho livre com as crianças, enfatizando no processo de aprendizagem, tendo um olhar sensível ao desenho da criança.

 

Palavras-chave: Educação Infantil. Desenho da Criança. Expressar.

 

ABSTRACT

The article aims to understand the importance of desing in the development of children 05 years of age in early childhood education. It is qualitative research with approach and interviews with teachers, students and direction. To draw the child expresses revealing their imagination desires emotions creativity, fears and anxieties, revealing the intellectual, emotional design, aesthetic and creative physical social, perceptual. As a reference the used Sandra Richter and Vander Jarabiza. Concluded that the professionals have developed their pedagogical practices when working the free drawing, with children, emphasizing in the learning process having a sensitive look at the child’s drawing.

 

Word- Key: Children, Draw, To express.

 

1 INTRODUÇÃO

 

O presente artigo é resultado da pesquisa - A criança e o desenho na Educação Infantil, ao qual, relata o olhar sensível do professor referente ao desenho e qual a importância que o professor dá a esses desenhos. A Educação Infantil no Brasil até pouco tempo não priorizava a formação da criança, não se tinha a visão de que a construção do saber inicia-se desde o nascimento.

De acordo com Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998):

 

A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas também o marca. A criança tem na família, biológica o não, um ponto de referência fundamental, apesar da multiplicidade de interações sociais que estabelece com outras instituições sociais.

 

O professor, enquanto em sala de aula tem que saber compreender, observar e ter um olhar sobre as expressões dos desenhos realizados de seus alunos em sala. Pois não é apenas um passa tempo à criança enquanto fazer artístico é algo mais do que simples, é uma forma dela se comunicar com o mesmo, o desenho é uma linguagem, onde através dessa linguagem o professor possa perceber o que a criança transmite pelo que expressa.

Trago como abordagem reflexiva de que o professor deve deixar as crianças explorar o meio em que está inserido dentro e fora da sala de aula, criando rodas de conversas, produções de desenhos, usando canetinha, giz de cera, tintas e colagem, o professor estará contribuindo para uma prática diferenciada, reconhecendo a “criança” como ela é, ou seja, como um ser completo, se desprendendo de vestígios do passado e oportunizando essa criança.

O lócus da pesquisa foi o C.M.E.I Pequeno Príncipe localizado na Avenida dos Ingás Jardim Imperial n° 4411, localizado no Município de Sinop/MT. Para a coleta de dados, foram realizadas entrevistas com professores, alunos e direção. A elaboração das perguntas teve como objetivo cumprir as indagações da pesquisa, onde as buscas para as respostas da ida a campo e com bases teóricas puderam chegar com a conclusão desse trabalho.

 

2 O DESENHO COMO LINGUAGEM

 

Antes da invenção do alfabeto os povos antigos transmitiam suas mensagens, ideias e objetos por meio do sistema pictográfico. Segundo Aurélio (2004, p.570) O pictograma ou pictografia se compõem de “picto” que é imagem pintada, e “grama” por transmissão de mensagem. Sendo o desenho, uma linguagem e comunicação é um meio no qual a criança acaba descobrindo e desenvolvendo suas habilidades.

O professor como mediador ao trabalhar as práticas de aula com as crianças pequenas reconhece os limites, as possibilidades, as expressões e o que envolve no domínio do conhecimento de cada um.

 

3 REFLEXÃO VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Segundo o Referencial Curricular Nacional (BRASIL, 2001, p.13), para a Educação Infantil, sua função é contribuir com as políticas públicas e programas de Educação Infantil, assim considerando as especificidades afetivas, emocional, sociais e cognitivas das crianças de 0 a 6 anos. Baseando nos princípios do “acesso das crianças aos bens socioculturais disponíveis ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas á expressão, á comunicação, á interação social, ao pensamento, á ética e a estética”.

No Artigo 58, ECA lei (n° 8.069) capítulo IV, do direito a educação, á cultura, ao esporte e o lazer ressalta que, no processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura. (2010, p 24).

 

4 A ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS E O FAZER ARTÍSTICO

 

Sabemos que todas as crianças precisam de um local amplo onde possa se sentir a vontade seja tanto para brincar, correr, desenhar, pular entre demais outros fatores. Falamos aqui também em um espaço escolar qualificado, no qual, a criança se sinta confortável para expressar o seu desenho, o mesmo enquanto em ato de criação imaginadora precisa de um espaço amplo, no qual possa se sentir a vontade dentro da sala de aula.

Além desse espaço a criança pode estar interagindo com outras crianças, como troca de lápis, dialogando, descobrindo as cores e também aprendendo a dividir e compartilhar os materiais, a explorar a imaginação criadora. De acordo com Ferraz (1993, p.56):

 

Durante a construção ela se coloca uma sucessão de imagem, signos, fantasias, que as vezes são mais considerados por elas no momento em que o resultado do trabalho. A criança em atividade fabuladora ou expressiva participa ativamente para o conhecimento da produção da criança e evidenciam o desenvolvimento da expressão de seu e do seu mundo.

 

A citação de Ferraz diz claramente que a criança no ato de construção atua naturalmente, sendo motivada pelo desejo da descoberta do seu imagético. Ela enquanto expressividade sente sensações, sentimentos, e percepções instantâneas na atividade proposta. Richter vem de encontro com essa citação (2004, p. 40):

 

Que envolvem a criação de objetos e símbolos através de diferentes expressivas. Isto porque este momento de vida, da criança de 2 á 7 anos, é caracterizado fundamentalmente pelo pensamento simbólico. É neste momento de vida, e não em outro que ocorrem todas as gêneses simbólicas que nos permitirão dialogar com o mundo, com os outros e conosco mesmo.

 

É importante lembrar que não é somente ter um espaço amplo mais é necessário o professor trabalhar também com o imagético das crianças, nesta faixa etária, fazer com que a criança tenha invenções, criações, do seu mundo e do seu eu que esta ao seu redor.

A partir do momento que a criança descobre que giz de cera, pincel ou caneta forma desenhos ou marcas, esse momento já é denominado como um processo evolutivo. O professor ao conhecer a fase de cada uma percebe as habilidades, os graus de dificuldade e o grau de desenvolvimento no ato enquanto desenho, de cada criança. Outro fato a destacar é sobre a importância do professor em sala revigorar o olhar sobre as diferentes atuações que emergem a relação entre imagem/gestos/forma, algo que é aperfeiçoado historicamente pelo fazer artístico.

Além dos espaços é necessário que o professor tenha como objetivo proposto ao trabalhar o desenho livre com a criança, os recursos dos materiais que utilizam em sala, pois conforme Referencial Curricular Nacional Educação Infantil (RCNEI) (1998, p. 100), para que a criança possa desenhar, é importante que ela possa fazê-lo livremente sem intervenção direta, explorando os diversos materiais, como lápis preto, lápis de cor, lápis de cera, canetas, carvão, giz, penas, gravetos etc., e utilizando suportes de diferentes tamanhos e texturas, como papéis, cartolinas, lixas, chão, areia, terra etc.

Percebe-se também em algumas práticas a desvalorização da linguagem artística, valorizando a linguagem verbal “escrita e fala” deixando de lado o mundo criança, o seu brincar, o lúdico e o seu imaginário.

Como ser professor e adulto devemos respeitar a etapa do estágio de cada criança para que ela possa vivenciar cada momento adequado de sua vida. Conforme Beatriz (2012, p. 07) coloca em um prefácio, (2010, p. 07):

 

Diz à lenda que um homem, certo dia perguntou a Deus; Senhor tudo que criastes foi para poder ser em nosso usado em nosso proveito, mas a uma das vossas criações que não entendo. O horizonte, Senhor. Por que criaste o horizonte algo tão inútil que quanto mais procuramos alcança-lo mais de nos se afasta? E o Senhor respondeu: Foi exatamente para isso que o criei, para fazer vos caminhar.

 

Partindo desse contexto é que devemos valorizar o estágio de vida de cada criança, e o professor em conjunto com a família deve orienta-los para o desenvolvimento do processo evolutivo, fazendo-a caminhar rumo ao horizonte, respeitando cada uma em seu ritmo de desenvolvimento.

 

5 FASES DO DESENHO INFANTIL

 

O processo evolutivo das fases do desenho infantil é caraterizado por Lowenfeld e Brittan (1970).

 

a) Fase da garatuja 2 a 4 anos aproximadamente, É na interação da criança com o meio que tem início a aprendizagem. O desenvolvimento começa cedo mesmo não tendo uma adequada instrumentalização, mas o registro permanente de suas ações começa a partir das garatujas.

 

Pereira (1995) ressalta que o desenho é precedido pela garatuja, fase inicial do grafismo. Semelhantemente ao brincar, se caracteriza inicialmente pelo exercício da ação. O desenho passa a ser conceituado como tal a partir do reconhecimento pela criança de um objeto no traçado que realizou. Nessa fase inicial, predomina no desenho a assimilação, isto é o objeto é modificado em função da significação que lhe é atribuída, de forma semelhante ao que ocorre com o brinquedo simbólico. Na continuidade do processo de desenvolvimento, o movimento de acomodação vai prevalecendo, ou seja, vai havendo cada vez mais aproximação ao real e preocupação com a semelhança ao objeto representado, direção que pode ser vista também no jogo de regras (PIAGET, 1971; 1973).

 

b) Fase pré-esquemática aproximadamente de 3 a 6 anos, os seus desenhos começam surgir formas fechadas que aprecem bolinhas que podem ser organizada de acordo com determinados preceitos topográficos, como: embaixo/em cima, fora/dentro.

c) Fase esquemática aproximadamente de 7 a 9 anos. Nessa fase a maior descoberta é a ordem definida das relações espaciais, o desenho é considerado como esquema ou símbolo de um objeto real, encontrasse figuras organizadas de acordo com o tema ou ordem clara, a intenção do que é o desenho é manifestada.

 

A criança ao desenhar, expressa a que estar ao seu redor, ao seu meio, na sua convivência, ao seu entorno e no que está inserida como: família, internet, meios de comunicação e demais outros fatores, fazendo com que ela se manifeste por meio de representações que evidenciam o desenho, pintar, jogar e brincar.

 

6 METODOLOGIA

 

A pesquisa foi realizada no Centro Municipal de Educação Infantil Pequeno Príncipe, com crianças de 05 cinco á 6 seis anos de idade, a partir de pesquisas bibliográficas e pesquisa de campo, numa abordagem de cunho qualitativo, através da investigação in loco, utilizando de um roteiro de questões aplicados a professora, direção e crianças desta instituição. Na sequência, realizei junto à professora e alunos participantes da pesquisa, a observação em sala e fora dela, referente às práticas realizadas no contexto escolar.

Um dos eixos foi investigar o Projeto Político Pedagógico (PPP) da instituição pesquisada, e ver se as atividades com relação a artes envolvem o giz de cera, lápis de cor, massinha, tintas, canetinha e outros meios de didático-pedagógicas. Após essas etapas que compõem esta pesquisa, parti para um processo de análise e interpretação das informações obtidas. Pois isto TRIVIÑOS (1987, p. 170). “[...] permite a passagem constante entre informações que são reunidas que, em seguida, são interpretadas” [...]

Os sujeitos da pesquisa foram professores, crianças e direção da escola. Os dados foram coletados através da entrevista semiestruturadas elaborada para cada entrevistador. A realização desta pesquisa durou quatro semanas com uma turma de pré-escola, onde a observação foi em sala e fora, esse momento aconteceu para promover uma interação com a turma.

Para registrar as observações e dados coletados utilizei o diário de campo e os desenhos das crianças. Na segunda feira eu e a professora da sala realizamos uma roda de conversa com as crianças, perguntamos como foi o final de semana, após a roda de conversa, pedimos para que cada um desenhasse conforme nós havíamos conversado. O questionário elaborado para as crianças foram realizados de forma com que eles fossem me entregando o desenho. Passada a coleta de dados pôde-se dar continuidade a pesquisa observando os desenhos das crianças e a sua realidade no cotidiano.

 

7 COMPREENSÃO DOS DESENHOS DAS CRIANÇAS NA PESQUISA CAMPO

 

É uma instituição pública em que atende turmas de Pré II. Nos dias de observação na escola campo, fui direcionada a desenvolver a pesquisa na sala da professora ao qual será mencionada por (01) professora A, com uma turma de Pré II matutino, com crianças de 5 cinco á 6 seis anos de idade.

Segundo a professora (A) relata que: os alunos no início do ano desenhavam pouco, por eles terem pouco domínio no desenho. No qual fui trabalhando durante o ano letivo o desenho livre.

A ida a campo durou aproximadamente quatro semanas. Inicialmente com o objetivo dos alunos se acostumarem com a minha presença, comecei com uma roda de conversa, onde todos os alunos falaram o que fizeram no final de semana. Depois que todos falaram abordei sobre o desenho livre, queria saber se eles tinham conhecimento sobre o que era desenho livre, e expliquei para eles como é desenhar livre. Logo após perguntei. O que vocês mais gostam de desenhar?. Fui dialogando com as crianças, motivando para algo que gostasse de desenhar.

Em sala entreguei folhas de papel sulfite onde cada criança desenhou e pintou o seu desenho. No decorrer da aplicação da atividade a professora (A) compartilhou algo que havia ocorrido algum tempo atrás em sua sala de aula; comentou que, faltando alguns dias para a comemoração do dia dos pais, ela tinha pedido para que seus alunos fizessem um desenho para entregar aos pais, e o (2) aluno (B) tinha feito seu desenho e entregou a professora (A) pedindo-a para que embrulhasse o desenho, pois o pai não morava com ele, naquele momento o pai do aluno estava preso. A mesma recolheu o desenho, quando a mãe chegou para pegar o menino na escola a professora explicou a situação, então, no final de semana, a mãe levou o filho para entregar o desenho que havia feito ao pai.

Embora em algumas instituições seja muito difícil conciliar um vínculo entre, escola, professores e pais, é muito importante ter essa relação que o professor tem que realizar onde ambos possam ver a realidade de cada um seja cultural, social, e familiar.

Veremos na figura 1, o desenho feito pelo aluno (B), onde desenhou seu final de semana brincando com o seu amigo, na hora que me direcionei até a sua carteira perguntei. O que você desenhou?

 

(01) Aluno (B): Eu desenhei, eu brincando com o meu amigo no quintal de casa.

 

Indaguei novamente: vocês estavam brincando do que?. Ele me respondeu:

 

(02) Aluno (B): Estávamos brincando de casinha e fizemos também um vulcão.

 

Algo que me chamou a atenção foi quando perguntei qual seria ele entre os dois meninos no desenho e ele me mostrou o menino do tamanho grande, perguntei se o amigo dele era menor que ele.

 

(03) Aluno (B): balançou a cabeça e depois diz. Não profe não é, meu amigo é maior que eu.

 

Não sei o motivo do porque querer ser maior do que seu amigo, sendo que o amigo é maior do que o aluno (b), além disso, o mesmo falou que na casa dele tinha plantado muitos pés de melão.

 

F igura 1 – Desenho do aluno (B), brincando com o amigo em casa.

Fonte: Aluno (B), 2015.

 

Foi possível perceber que o aluno (B) dentro da sala de aula em alguns momentos agia de forma natural, em outros momentos tinha um comportamento diferenciado com os demais alunos da sala, gritava com os coleguinhas precisando que a professora intervisse.

Neste aspecto, Porcher (1982, p108 apud Jarabiza, 2011) com muita propriedade nos lembra, ao comentar esta situação que:

 

Ao desenhar, a criança expressa coisa bem diferente do que sua inteligência ou seu nível de desenvolvimento mental: uma espécie de projeção de sua própria existência e da dos outros. Eis porque a psicologia projetiva, por exemplo, utiliza muito o desenho das crianças como objetos nos quais é possível ler uma personalidade.

 

Ensina-nos que o desenho apresenta também elementos capazes de induzir a uma imagem do estado emocional da criança, o desenho é a personalidade conforme Jarabiza comenta.

Durante a roda de conversa a aluna (C) comenta:

 

(04) Aluno (C): passei o feriado com a família, noís fomos pra um lugar bem longe. veremos a figura 2.

 

 Figura 2 – Aluno (C) com a família em um lugar bem distante.

Fonte: Aluno (C), 2015.

 

Na construção do seu desenho a aluna (C) escreveu aleatoriamente algumas letras do alfabeto, ou seja, construção de letras invertidas (espelhadas).a mesma desenhou ao seu lado o pai, seu irmão ao lado dela e do outro lado à madrasta, perguntei para a aluna (c) porque ela tinha desenhado o pai forte.

 

(05) Aluna (C): porque meu pai é barrigudo.

 

Com muita propriedade nos lembra, ao comentar esta situação que Aroeira (1996, p.55) afirma:

 

O primeiro símbolo produzido pela criança em geral é a figura de uma pessoa - o boneco - uma representação constante nos desenhos da primeira infância. A figura típica desse estágio é um círculo indicado a cabeça e duas linhas verticais indicando as pernas.

 

Conforme relata o autor, a aluna utilizou o círculo para desenhar as cabeças no desenho e um traço representar o corpo, percebe-se que ela colocou o traço apenas nela em sua madrasta e irmão, sabendo que o pai não é magro ela retornou a fazer o círculo para desenhar o corpo do pai.

Ainda em conversa com a aluna (C), perguntei o que mais ela tinha desenhado.

 

(06) Aluna (C): O sol tinha umas placas de pare e de estacionar onde a gente deixou estacionado o carro.

 

A aluna (C) comentou que nesse lugar em que ela tinha ido, bem distante, tinha um rio onde eles viram peixes. Chamou-me a atenção o fato dela pintar a agua do rio em um tom marrom, perguntei para ela o motivo que tinha levado a pintar de marrom.

 

(07) Aluno (C): A água do rio lá era suja.

 

8 DIALOGANDO COM A PROFESSORA DA SALA E COM A DIREÇÃO ESCOLAR

 

A entrevista foi concluída com roteiro tanto para a professora da sala como para a direção escolar. Relação ao conceito sobre: O que é desenho?

 

(08) Professora (A): Desenho é uma manifestação criativa do ser humano ao interagir com o mundo em que vive, é uma forma da criança se expressar no que sente vontade de falar.

 

Ainda sobre o desenho, perguntei para a professora (A): quando você trabalha desenho livre com as crianças percebe alguma dificuldade delas de se expressarem através do desenho? Por quê? Obtive a seguinte resposta:

 

(09) Professora (A): Em alguns sim, por medo de errar.

 

Dando ênfase perguntei se a criança demostra interesse em querer desenhar? E de que maneira?

 

(10) Professora (A) sim, sempre que peço para que o façam livremente, alguns demonstram interesse.

 

Perguntei sobre o que as crianças mais gostam de expressar em desenho livre.

 

(11) professora (A): O desenho da criança enquanto construção envolve cultura, casa, sol, família, brinquedos, animais de estimação, gestos de representação de algo.

 

Vemos que o desenho livre faz com que a criança tenha autonomia sobre seus pensamentos como diz Richter (2004, p. 22):

 

Trata-se de ajudar intencionalmente as crianças a tornarem-se mais flexíveis em suas relações imagéticas, o que equivale dizer, alargar possibilidade sensíveis de interpretar, ou ainda, tornar o seu mundo maior.

 

Com relação ao desenho, perguntei a professora (A) se já ocorreu à criança ter expressado no desenho algum tipo de abuso, seja familiar ou o que está em seu meio.

 

(12) professora (A): Em sala de turma que eu trabalhei nunca aconteceu, mas caso haja, eu acho que o correto é investigar se realmente está ocorrendo aquilo e a partir dai tomar providencias cabíveis, chamando a família para conversar, caso não tenha êxito, é encaminhado ao conselho.

 

Em relação sobre alguma atitude da direção escolar sobre os desenhos, perguntei se a direção encontra-se algum tipo de abuso nos desenhos qual seria o primeiro passo e a quem eles deveriam recorrer?

 

(13) Direção (D): chamar para uma conversa, onde se pede explicação do desenho, em se constatando alguma forma de abuso, chamar os pais ou responsáveis para uma conversa e por ultimo o conselho tutelar será acionado.

 

Pensando sobre a formação do professor perguntei se a equipe pedagógica da escola trabalhava com os profissionais a formação continuada onde eles possam desenvolver artes com as crianças?

 

(14) Direção (D): sim, no tema brincar espontâneo, a arte está inclusa, onde os professores são incentivados para deixar a criança se expressar no faz de conta e relatar essa expressão, seja de qual forma for, inclusive no desenho livre, após a contação de história.

 

Na Educação Infantil, não devemos perder de vista as necessidades e os interesses das crianças, sempre ávidas para explorar, experimentar, colecionar, perguntar e aprender.

 

9 CONCLUSÃO

 

Como resultado deste estudo foi possível compreender como os profissionais da Educação Infantil têm desenvolvido suas práticas pedagógicas ao trabalhar o desenho livre com as crianças, enfatizando o professor nesse processo de aprendizagem, tendo um olhar sensível ao desenho da criança e sua representatividade com um lápis, giz e papel.

Foi possível observar a maneira de como o professor trabalha com o imaginário das crianças através do desenho, trazendo o cotidiano para a representação em sala de aula através dos desenhos. O professor tem um olhar sensível a esses desenhos? Qual a importância desses desenhos? São preguntas que muitas vezes não paramos para questionar, e saber a rica criatividade da criança, não apenas um simples desenho, mas sim riquezas que são trazidas para dentro da sala.

Ao desenvolver a pesquisa na instituição C.M.E.I Pequeno Príncipe, tive a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a importância dos desenhos da criança nesta faixa etária e compreender que a linguagem escrita, oral e motora está relacionada a expressividade da criança através do desenho.

Mesmo que a sala de aula não tenha muitos recursos materiais onde a professora poderia explorar mais com os alunos sobre o desenho no fazer pedagógico, as atividades ocorrem diariamente, porém, se o espaço da sala fosse mais amplo, as crianças poderiam se sentir mais acomodadas para desenvolver suas atividades.

 

REFERÊNCIAS

 

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PEREIRA, L. K. Distúrbios do desenvolvimento da linguagem e dinâmica familiar. 1995. Doutorado (Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano) - Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, USP, Brasil, 1995.

 

________, L. K. O desenho infantil e a construção da significação: um estudo de caso. Disponível em: <http://portal.unesco.org/culture/en/files/29712/11376608891lais-krucken-pereira.pdf/lais-krucken-pereira.pdf>. Acesso em: 28 nov. 2015.

 

PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.

 

______; INHELDER, B. A psicologia da çriança. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1973.

 

RICHTER, Sandra. Criança e Pintura, ação e compaixão do conhecer. Porto Alegre: Medição 2004.

 

TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva, Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

 

 

Correspondência:

Gisele da Costa Silva. Graduanda em Pedagogia pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Sinop, Mato Grosso, Brasil. E-Mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

*Este artigo é um recorte do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) intitulado: O desenho da criança na Educação Infantil, sob orientação Ma. Edneuza Alves Trugillo, Graduada em pedagogia, Faculdade de Educação e Linguagem (FAEL) da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) Campus Universitário de Sinop, 2016/2 Email: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo..