A IMPORTÂNCIA DO APRENDIZADO DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
PORFÍRIO, Valdinéia
RESUMO
A música é uma linguagem muito rica em todos os aspectos, despertando a liberdade de expressão, a comunicação e a socialização. Na educação infantil a música é muito importante no processo de ensino e aprendizagem, no desenvolvimento do indivíduo como socialização, interação e autoestima. O objetivo desse texto foi de definir e analisar os conceitos e as contribuições que o ensino da música pode proporcionar no desenvolvimento da criança, na educação infantil e na forma de como ela é usado pelos educadores que atuam nessa faixa etária. A importância da música no dia a dia da criança proporciona um melhor desenvolvimento em diversas áreas, facilitando o ensino e a aprendizagem da música dentro da sala de aula. A música desperta emoções e sentimentos de acordo com a capacidade de percepção, ela nos mostra que a música não é só uma associação de som ou palavras, mas um rico instrumento que pode fazer a diferença nas escolas, ela desperta um mundo prazeroso e satisfatório que gera alivio para mente e para a alma. Enfim, música no ambiente escolar ajuda as crianças no aprendizado, na concentração, cantar, tocar e aprender é a melhor forma de concentrar a atenção naquilo que faz.
Palavra-chave: música, socialização, escola e aprendizagem.
1 INTRODUÇÃO
A música é uma arte que esteve presente em vários momentos da nossa vida e, consequentemente, no processo de desenvolvimento da humanidade, exercia um papel importante na formação da criança. Visto que a música, além de colaborar para a formação do indivíduo, era uma grande incentivadora de associações cognitivas assim como da autoestima e da sensibilidade dos sons desenvolvendo a concentração da coordenação motora, da socialização, do respeito a si próprio e ao grupo.
Em contato com a música a criança podia desenvolver disciplina, além de ser um estímulo agradável, a música tinha o poder de quebrar a rotina proporcionando um ambiente com entusiasmo, ampliava e facilitava a aprendizagem de educando de forma significativa, ensinando-o a ouvir e escutar de maneira mais ativa e reflexiva.
A música podia ser utilizada como fator determinante em vários aspectos como o desenvolvimento motor, o linguístico, o afetivo e os aspectos cognitivos de todos os indivíduos estabelecendo vínculos afetivos que permaneceria para sempre.
O objetivo da música era incentivar como instrumento facilitador do processo de ensino e aprendizagem, verificando a metodologia usada pelo professor no trabalho musical realizado com as crianças, observava as dificuldades encontradas na realização de atividades aplicadas pelo professor em sala de aula e analisavam junto com o professor, quais instrumentos musicais seria mais comum e preferido das crianças.
A contribuição da música era um processo contínuo de construção e envolvia vários sentidos do ser humano, desde o ventre da mãe já se iniciava esses sentidos, com diversas maneiras de experiências musicais podendo ser trabalhado com a criança na fase de descobertas, como uma contribuição muito rica para sua formação.
A música era um meio de expressar sentimentos e ideias dos mais variados, o silêncio, os vários sons, ruídos e suas combinações, já despertavam sentidos e significados no início da vida quando o bebê está assimilando tudo ao seu redor.
A música em sala de aula era um recurso didático e possibilitava diversas atividades para se trabalhar com os pequenos.
...a música é uma linguagem universal, mas com muitos dialetos, que variam de cultura, envolvendo a maneira de tocar, de cantar, de organizar os sons, e de definir as notas básicas e seus intervalos (JEANDOT, 1997, P.12).
Para tanto, busquei realizar em levantamento bibliográfico sobre a importância do aprendizado da música na educação infantil, caracterizando o desenvolvimento das crianças e identificando as possíveis contribuições da música para o desenvolvimento da aprendizagem musical.
2 O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
2.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O cenário da Educação Brasileira era construído por uma considerável diferença tratando-se de sua oferta, neste cenário por longo tempo a educação escolar era tida como privilégio de poucos, visto que, era oferecida exclusivamente para os filhos dos senhores, classe em destaque naquela época. Com o surgimento de novas formas de gerir a sociedade e com avanços conquistados através de lutas pela oferta do saber elaborado, aos poucos, a educação ganhou espaços entre os que antes eram excluídos.
Em nossos tempos presenciamos uns momentos de educação igualitária, ou seja, há oferta do ensino para qualquer pessoa, de qualquer sexo, idade ou posição social; a criação de novas oportunidades para as classes menos favorecidas e seus objetivos de proporcionar educação pública de qualidade para todos.
A primeira etapa da educação Básica Nacional (LDB 9394/96) ficou compreendida que as crianças de 0 a 05 anos deviam receber as primeiras bases de formação na Educação Infantil. Pensavam que nessa faixa etária tudo era descoberta, e em muitos casos a descoberta era causa de desconforto, insegurança e traumas; busquei criar para essas crianças um ambiente amistoso cercado por objetos já conhecidos em meio aos que lhes seriam apresentados, dentre eles a música fazia um diferencial positivo, pois se assemelha ao novo e também ao já conhecido e aceito pelas crianças.
Nos primeiros anos escolares a relação da criança com a comunicação revelava a importância da linguagem como atividade simbólica oral, associava a elementos para verbais, como entonação e acentuação expressivas, e não verbais como gestos, atitudes e mimicas.
De acordo com Piaget (1995, p.41):
Com o surgimento da linguagem e, por consequência, da comunicação, o comportamento da criança é intensamente transformado, tanto no aspecto afetivo, quanto no intelectual, pois no momento do surgimento da linguagem, a criança se encontra com o mundo social e as representações interiores. (Piaget 1995, p.41)
Piaget caracterizava esta fase como “A primeira infância” (dos 02 aos 07 anos) que é aquela na qual as crianças falavam, mas não podiam saber se escutavam (1995, p.42). É neste período que surgia as consequências essenciais para o desenvolvimento intelectual da criança: socialização da ação, a gênese do pensamento, a intuição e as transformações da vida afetiva. Destas consequências há:
...uma possível troca entre os indivíduos, ou seja, o início da socialização da ação; uma interiorização da palavra, isto é, a aparição do pensamento propriamente dito, que tem como base a linguagem interior e o sistema de signos, e, finalmente uma interiorização da ação como tal, que, puramente perceptiva e motora que era até então, pode daí em diante se constituir no plano intuitivo das imagens e das experiências mentais. (PIAGET, 1995, P.24)
Se para Piaget (1995), o desenvolvimento da linguagem passava por fases que dependia do desenvolvimento da inteligência da criança, para Chomsky (1971, p.36) “a criança construía essa teoria ideal sem instrução implícita”, pois “adquiria esse conhecimento numa fase que não era capaz de grandes desempenhos intelectuais em muitas outras áreas, e que essa realização era relativamente independente da inteligência”.
Nessa perspectiva, Delalande (citado por Brito, 2013, p.31) nos indicava alguns caminhos ao relacionar às formas de atividade lúdica infantil, na visão de Piaget as três dimensões presentes na música.
- Jogo sensório-motor – vinculado à exploração do som e do gesto; neste sentido, as cantigas de ninar, as canções de roda, as parlendas e todo tipo de jogo musical têm grande importância, pois é por meio das interações que se estabelece que os bebês desenvolvam um repertório que lhe permitirá comunicar-se pelos sons.
- Jogo simbólico – vinculado ao valor expressivo e à significação do discurso musical; Através da linguagem musical, a criança tem acesso à cultura, chegam às tradições e seu contexto cultural assim observa-se a necessidade de inserção da temática dialogada.
- Jogo com regras – vinculado à organização e à estruturação da linguagem musical. O trabalho com música deve se organizar de forma a que desenvolva as seguintes capacidades: Ouvir, perceber e discriminar eventos sonoros diversos, fontes sonoras e produções musicais.
Martenot defendia e propôs o jogo como principal estratégia metodológica para a integração entre corpo e alma que, em consequência, refletia um resultado musical satisfatório. Para ele, o jogo unia o corpo, a alma e a inteligência, resultando num clima de alegria e confiança que abre possibilidade para a criatividade. O jogo é estratégia que podia ser aplicada a todas as faixas etárias, desde que adequava as regras e ao foco.
De acordo com Souza (2000, p.15), para Bakhtin “a categoria básica da concepção da linguagem era a interação verbal, cuja realidade fundamental era seu carácter dialógico”. Em outras palavras, a linguagem ocorria no diálogo entre textos, tanto falados quanto escritos e, portanto, no ato da comunicação.
Para Vygotsky, no entanto, “o uso da linguagem se constitui na condição mais importante do desenvolvimento das estruturas psicológicas da criança” e que a interiorização dos conteúdos historicamente determinados e culturalmente organizados se dá principalmente por meio da linguagem (Souza, 2000, p.17-18).
Assim como a linguagem contribuía para o desenvolvimento psicológico da criança e passava por fases distintas, há vários mecanismos que incentivava este desenvolvimento, como o uso de materiais pedagógicos lúdicos e também da exploração de manifestações artísticas e culturais, como a música, foco principal desta pesquisa.
2.2 A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
O direito universal da Educação para todos está contemplado por meio da LDB 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo ministro da educação Paulo Renato em 20 de dezembro de 1996. A Lei, em artigo Art.26, $ 2º, deixava clara a obrigatoriedade do ensino da arte, sendo esta componente curricular obrigatória nos diversos níveis da educação básica com o objetivo de auxiliar o desenvolvimento dos alunos.
Ainda no mesmo artigo, $6º, definia-se a obrigatoriedade do ensino da música, subentendendo-se que a música, bem como as demais disciplinas, deveria ser conteúdo do currículo nas escolas públicas e que todos, sem distinção alguma teria oportunidades de aquisição do conhecimento musical de forma sistemática.
Percebia que a música na a educação brasileira ainda era vista como acessório para entretenimento, como um recurso de reposição em momentos em que não se é possível cumprir o planejado pelo currículo escolar, sem a importância devida como material didático-pedagógico que podia contribuir para o desenvolvimento no ensino aprendizado do aluno e a formação do homem. As escolas tentavam enquadrar-se para inclusão da nova disciplina usando estratégias, nas maiorias conhecimentos científicos, não apresentava o mesmo valor das outras disciplinas.
Ainda que esses procedimentos viessem sendo repensados, muitas instituições encontravam dificuldades para integrar a linguagem musical ao contexto educacional. Constatei uma defasagem entre o trabalho realizado na área da música e nas demais áreas do conhecimento, evidenciada pela realização de atividades de reprodução e imitação em detrimento de atividades voltadas à criação e a elaboração musical.
Todos nós gostávamos de algum tipo de música, ela estava presente na história do ser humano há tempos e exercia grande influência sobre suas vidas. A música era uma linguagem universal e não era necessário nenhum tipo de aprendizado para absorvê-la, porém ela podia servir para o nosso aprendizado desde cedo. O processo do crescimento de uma criança ia muito além do desenvolvimento cognitivo ou de aspectos físicos e intelectuais, esse processo englobou também o amadurecimento afetivo e social, tão necessário para a nossa interação com o mundo. Todos estavam inseridos em algum tipo de cultura e a música fazia parte desse meio, então acostumava um bebê desde cedo com esses sons, fizeram se sentir inserido em alguma “tribo cultural” no futuro. E esse estímulo começou desde sua vida no útero, ao mesmo tempo em que a música possibilitava a diversidade de estímulos, por ser relaxante, na maioria das vezes podia estimular a absorção de informação.
A música era um dos principais meios de comunicação que existiu na sociedade. Através dela era possível transmitir não só palavras nos sentimentos e ideias que podiam ganhar grandes proporções didáticas, quando bem direcionadas. “Primeiramente, devíamos educar a alma através da música e a seguir o corpo através da ginástica” disse Platão. Segundo ele a ginástica é dança e luta. A luta para conquistar saúde e vigor e a dança para alcançar a nobreza e liberdade.
Assim sendo, a finalidade da educação musical era infundir no educando um espírito de ordem e desenvolver o verdadeiro amor à beleza. O bem específico da música era a capacidade de introduzir ordem e beleza de forma perfeita nas ações e na vida. A música era definida como arte educadora por excelência que penetrando na alma por meio dos sons, inspirava o gosto pelas virtudes. Na música estavam contidos três elementos: melodia, harmonia e ritmo.
- Melodia é a combinação dos sons sucessivos.
- Harmonia é a combinações dos sons simultâneos.
- Ritmo é a combinação dos valores.
“A música, tinha o poder de acalmar e disciplinar uma criança, portanto facilitava a aprendizagem, seja ela formal ou no âmbito familiar”. Ela era um estímulo mais potente para os circuitos do cérebro, além de ajudar no raciocínio lógico matemático, contribuía para a compreensão da linguagem e para o desenvolvimento da comunicação. Atuava nos dois hemisférios do cérebro: “O direito que é criativo e intuitivo e o esquerdo que é lógico e sequencial”. Afirma Paulo Roberto Suzuki- Musico terapeuta.
A filósofa Maria Angeles Fernandez, inspirada em Apolo, deus da música nos diz: “nada era mais agradável aos ouvidos dos deuses, que estes maravilhosos sons vindos das cordas de tambores e atabaques. O mundo se criou com música, o homem tão pequeno, tão limitado frente à soberba grandeza de seu contexto, aprendiam em seguida que os sons eram sua comunicação com Deus”.
Sabíamos a importância de estabelecer regras para o reconhecimento dos limites na educação da criança, e quem nos ensinava isso era a própria natureza, que nos mostrava a todo instante a presença do ritmo, da harmonia e dos sons. Nenhuma criança permanecia quieta enquanto cantava, ela batia palmas, batia os pés e dançava, ou seja, os instrumentos naturais do próprio corpo, em sua qualidade de gestos rítmicos primordiais, complementavam a expressão melódica do canto.
A consciência rítmica é de natureza dinâmica, motora; ela é na música a representação de forças vitais que animam o reino vegetal: propulsão, crescimento, respiração, pulsação da seiva, etc.[...] A consciência especificamente melódica é de natureza muito diferente, rica de tudo que a vida afetiva composta de variedade anímica [...] Só o ser humano pode praticar a harmonia [...]. Ela é necessariamente do domínio da consciência reflexiva. (Willems, 1975, p.165, tradução nossa).
As crianças pertenciam a um mundo puro, inocente e mágico, onde a música estava presente, portanto não devia ser excluída do seu cotidiano, pois sua natureza anímica pede isso. A música é a linguagem da alma e como tal ela podia nos ajudar a resgatar os verdadeiros valores, tão ausentes no mundo de hoje, carente dos reais valores humanos. Humanizar a educação é o maior desafio que encontrei hoje nas escolas, e nas famílias, e fazia valer estas três grandes virtudes: a bondade, a beleza e a justiça.
Uma ação pedagógica eficaz é cantar, ouvir boas músicas, ouvir músicas clássicas, ouvir sons da natureza junto com os filhos. Para cantar com a criança, não era necessário possuir técnicas vocais, e sim deixar a voz sair do coração, e assim conduzi-la, nesse mundo mágico em que ela vivia. Cantei com ela e o laço afetivo certamente seria fortalecido, facilitando assim o seu processo educativo.
Segundo Brito (2003, p.187):
Aprender a escutar deve ser um dos aspectos trabalhados com empenho e atenção pelos educadores, pois, é por meio da audição e da percepção que adquirimos os conteúdos, principalmente na Educação Infantil. Por este motivo, a música é um instrumento facilitador no desenvolvimento da criança e seu uso deve ser incentivado em sala de aula, porém de forma mais ampla do que a utiliza habitualmente (Brito 2003, p.187).
Neste sentido, fazia-se necessário trabalhar a música interdisciplinarmente para que todas as disciplinas possam-se articular, pois a expressão musical das crianças é caracterizada por aspectos intuitivos e afetivos, bem como, pela exploração (sensório-motora) dos materiais sonoros. Deste modo as crianças integravam a música e às demais brincadeiras e jogos: cantavam enquanto brincavam, acompanhavam com os sons os movimentos de seus carrinhos, dançavam e dramatizavam situações sonoras diversas, conferindo “personalidades” e significados simbólicos aos objetos sonoros ou instrumentos musicais e à sua produção musical.
2.3 A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO SOCIAL E EMOCIONAL DA CRIANÇA
As crianças que frequentavam aulas de musicalização aprendiam a cantar, e o ato de cantar contribuíam para o desenvolvimento social e emocional, também influenciava de forma a melhorar a comunicação e interação.
Quando a criança cantava, ou estava envolvida com papeis de interpretação sonora em coletividade, ela sentia-se integrada no grupo, e compreendia a necessidade de cooperação com os colegas, a criança tornava-se mais comunicativa e convivia o tempo inteiro com regras e socialização.
A criança aprendia há respeitar o tempo e a vontade do próximo aprendia a ter disciplina, a ouvir e interagir com o grupo.
E, entre tantas outras habilidades, ressaltava mais uma vez que a música, neste período como em outros, ajudava na concentração, na socialização e na coordenação motora.
2.4 A MÚSICA NO AMBIENTE FAMILIAR
A família podia desempenhar o papel principal agente social de iniciação cultural do indivíduo. A música promovida pelo meio familiar podia constituir-se, então, desde as formas simbólicas pelas quais a criança passava a se interessar pelas as cores e o formato de capas de discos, DVDs, CDs e livros, e para saciar sua curiosidade tomava contato mais profundo desejando ouvir determinado disco.
Dessa forma o conhecimento desses objetos culturais ia se tornando rotineiro, ao ser aprofundando no seu dia-a-dia, permitia que a criança, ao conhecê-los, passava a gostar mais de determinados repertórios musicais, por exemplo, escutava músicas e assistia, passava a fazer parte do cotidiano.
A família é a primeira instituição de iniciação musical do indivíduo. Cabia salientar que os hábitos da família determinavam os hábitos de seus filhos, já que estes seriam formados cognitivamente em um processo que envolvia a imitação da atitude daqueles que estavam ao seu redor e este tomava como padrão.
Fucci-Amato (2008.p, 04) analisava biografias e depoimentos de alguns músicos quanto à importância da família na sua formação cultural. A autora relatava que Antônio Carlos Gomes (1836-1896) considerado por muitos o maior compositor das Américas no séc.XIX, tiveram contato com a atividade musical desde cedo, uma vez que seu pai Manoel José Gomes (Maneco Músico), era mestre de banda e compositor, interpretando tanto a música erudita, como a música popular.
[...] O pai educou os filhos na música, logo que pôde formou uma banda, ou orquestra, com a família. A tradição musical vinha de longe, pois o pai de Carlos Gomes tinha sido aluno de André da Silva Gomes, mestre da Capela da Sé paulistana [...]. Aos dez anos de idade, Carlos iniciou os estudos musicais com o pai e aprendeu a tocar vários instrumentos musicais. Mais tarde seria um bom pianista e possuía uma voz agradável de tenor. Auxiliava o pai dando lições de música em Campinas, tanto que se encontra em jornais daquela cidade, em janeiro de 1858, anúncios seus de oferecimento para ensinar noções de música, canto e piano (MARIZ, 2000 citada por FUCCI-AMATO 2008, p 03).
Heitor Villa-Lobos (1887-1959), maestro e principal expoente da música brasileira, também revelavam a grande influência da cultura familiar, determinante para sua incursão ao mundo da música, destacando o papel de seu pai.
Desde a mais tenra idade iniciei a vida musical, pelas mãos de meu pai, tocando um pequeno violoncelo. Meu pai, além de ser homem de aprimorada cultura geral e excepcionalmente inteligente, era um músico prático, técnico e perfeito. Com ele, assistia sempre a ensaios, concertos e ópera, a fim de habituar-me ao gênero de conjunto instrumental. (VILLA-LOBOS, 1987, citado por FUCCI-AMATO 2008, p 03).
Para entender melhor o relacionamento musical na família recorri a Maffioleti que escreve.
A diversidade familiar está presente nas aulas de música, cada uma das crianças que participa da aula de música tem suas vivências musicais, uma mais que as outras. A família seria principal referência da criança na orientação de sua conduta, adoção de valores e aprendizagens culturais. O contato com a música é essencial, pois as habilidades musicais dependem da experiência prática para se desenvolver, acentuando-se assim o compromisso dos educadores e pais com sua formação musical (MAFFIOLETI, 2001, p. 09).
Os Referenciais Curriculares para a Educação Infantil, também sugeria um ensino de música de forma lúdica.
Ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, realizar brinquedos rítmicos, jogos de mãos, etc. São atividades que despertavam, estimulavam e desenvolvia o gosto pela atividade musical, além de atenderem a necessidade de expressão que passava pela esfera afetiva, estética e cognitiva. (REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA EDUCAÇÃO INFANTIL, 1998, p.42).
2.5 A MÚSICA NO CONTEXTO ESCOLAR
A música tinha importante papel no processo de formação de um indivíduo. Ela é uma ferramenta potente que estimulava os circuitos do cérebro, além disso, contribuía para o desenvolvimento da linguagem e comunicação. A música podia ser usada como ferramenta lúdica, se levada em consideração, à hipótese de que o aprendizado ocorria como resultado de um processo sem tensão ou ansiedade. Podia afirmar que a música contribuía para aumentar a qualidade da relação entre professor e aluno (inteligência intrapessoal).
Muitos professores usavam a música para ensinar conteúdos em sala de aula, enfim, ao processo de alfabetização, porque brincando com as letras em forma de música chamava a atenção dos alunos, isso acontecia mais na Educação Infantil, porque o professor exercia um papel importante nesse contexto e cabia a ele intermediar esta comunicação, podendo assim, encaminhar os alunos para enxergarem a questão da beleza estética da música e seus valores.
Segundo o RCNEI, ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, realizar brincadeiras de ritmos e jogos, são atividades que despertavam, estimulavam e desenvolvia o gosto pela atividade. Quando a criança aprendia a música ela integrava suas experiências, suas vivências, a percepção e reflexão.
Compreendia-se a música como linguagem e forma de conhecimento, por meio de brincadeiras e pela intervenção de professores ou do convívio social, a linguagem musical tem estruturas e características próprias.
- Produção- centrada na experimentação e na imitação, tendo como produtos musicais a interpretação, a improvisação e a composição.
- Apreciação- recepção tanto nos sons e silêncios quanto das estruturas e organizações musicais, buscando desenvolver por meio do prazer da escuta, a capacidade de observação, análise e conhecimento.
- Reflexão- sobre questões referentes à organização, criação, produto e produtores musicais (BRASIL, 1998, p.48).
Então, era papel da escola incentivar as aulas de música e proporcionar condições para que eles aconteçam, desde a compra de instrumentos até em espaço favorável para realização das aulas.
Podemos dizer que o povo brasileiro trazia em sua cultura um riquíssimo repertório musical, com o qual tomamos contatos desde que nascemos. Nesse sentido, o papel do ensino de música na educação devia ser o de proporcionar aos alunos tanto um conhecimento mais aprofundado desse universo já conhecido, como acesso a universo desconhecido. E nessa relação conhecido/ desconhecido buscava as nossas significações para a música como arte.
Considerando-se que a maioria dos professores de Educação Infantil, não tinha uma formação específica em música, o RCNEI sugere que cada profissional fazia um contínuo trabalho consigo mesmo.
2.6- A IMPORTÃNCIA DA CONFECÇÃO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS
Existiam diversos instrumentos musicais, classificados em três grupos: corda, como violão, cavaquinho, harpa e os mais modernos, como o baixo e a guitarra, que as crianças tinham mais acesso e admiração por serem mais utilizados e visto na atualidade, outros também que entraram neste grupo são acionados por teclas, como piano e o órgão; o sopro pode citar a flauta, o sax e outros, e percussão como pandeiro e a bateria. Todos os instrumentos eram de grande importância e podiam ser trabalhadas com as crianças, mas é importante destacar e valorizar os diferentes instrumentos de variadas regiões, que podiam ser construídos pelas crianças com mais facilidade.
Em princípios, todos os instrumentos musicais podiam ser utilizados no trabalho com as crianças pequenas, procurando valorizar aqueles presentes nas diferentes regiões, assim como aqueles construídos pelas crianças. (BRASIL, 1998.p. 60)
As crianças imitavam e tomavam exemplo do adulto principalmente do professor, por isso é importante que o professor mostrasse exemplos no modo de agir, no tom da fala, para não forçar a voz, e destacar assim para os alunos que além dos instrumentos musicais o nosso corpo deve ser cuidado e respeitado, pois é uma das principais fontes de música e deve ter atenção especial.
A música na educação Infantil teve o forte papel de favorecer descobertas e possibilitou a vivência na aprendizagem, e teve realmente o contato, despertando o interesse das crianças.
O primeiro contato com um instrumento causa muita curiosidade e saber que, além de sua voz, existiram diversos instrumentos para tocar, e criar músicas despertando o interesse em manipulá-los e toca-los, mas, para isso, é necessário criar certa habilidade que desafiava a criança e gerava auto realização.
O professor devia estar junto com seus alunos nessa experiência tão rica de construção de instrumentos, auxiliando no que for necessário.
Uma grande fonte de recursos para se construir instrumentos com as crianças, era a utilização, existindo uma grande variedade de materiais recicláveis que possam ser apresentados e postos a disposição das crianças.
Na construção de instrumentos a criança tinha a oportunidade de novas vivências no trabalho em grupo, criando, pesquisando de várias formas e imaginando o que podia ser feito, com tudo tendo esclarecimento de como era produzido o som e seus elementos.
- METODOLOGIA
O intuito era de analisar a importância do aprendizado da música na educação infantil, busquei por uma pesquisa bibliográfica com total auxílio de livros, revistas, sites, artigos, disponíveis em bibliotecas e instituições públicas, com a finalidade de construir um embasamento teórico do tema e de conhecer a realidade do aprendizado da musicalização.
O objetivo da utilização destes documentos era o de mostrar a importância musical na educação infantil, e o que os pesquisadores dessa área falavam sobre o assunto.
O trabalho pautou uma busca minuciosa em autores como: Ferreira, Bréscia, Jeandot, entre outros.
Para Jeandot (1997, p.54):
A música representa uma importante fonte de estímulos, equilíbrio e felicidade para as crianças. Consequentemente, as brincadeiras musicais contribuem para reforçar todas as áreas do desenvolvimento infantil, representando um inestimável benefício para a formação e o equilíbrio da personalidade da criança (Jeandot 1997, p.54).
De acordo com a pesquisa realizada, a música estimulava o desenvolvimento da criança, ajudava na interação com o meio, auxiliava na linguagem, aprendia a ouvir os sons e as diferenciava entre eles, estimulava a prestar atenção aos sons, fazia a descobrir o mundo a sua volta de forma mais prazerosa.
Nessa perspectiva, coletei informações objetivando as dificuldades que impediam as práticas docentes se articularem no aprendizado musical. Nessa abordagem sobre o tema música busquei entender como era esse processo no contexto escolar.
Através dos dados pesquisados obtive uma visão mais ampla de como a música era importante na sala de aula, como recurso pedagógico na construção da aprendizagem, despertava os alunos outras formas de conhecer, interpretar e sentir-se no seu dia-a-dia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A música é um universo que propicia a comunicação entre os seres, facilitando o desenvolvimento cognitivo e estimulando a memória da criança. Ela está presente no cotidiano das pessoas, é atribuída em várias funções, como fonte de cultura e aprendizagem, é educação, lazer, expressão cultural e arte.
Para musicalizar o contexto escolar, o educador devia entender e compreender a escola em todos os seus segmentos. Dessa maneira os educadores poderiam refletir sobre a arte musical, e reconstextualizar as suas práticas.
O papel da música no ambiente escolar era apresentado como elemento fundamental na formação do aluno, tendo como objetivo a educação infantil.
A música aliada ao ensino, ela é entendida por muitos pesquisadores como uma ferramenta pedagógica. O intuito de ensinar música não é formar crianças instrumentistas ou concertista, no futuro se eles quiserem seguir a carreira musical, eles podem, mas o que estamos nos referindo é que o professor pode trabalhar a música com o canto, ou até ensinar a tocar instrumentos com o objetivo de aliar a música no currículo da educação infantil.
Concluí realmente que as crianças têm preferência pelo violão e a bateria, deixando claro que é preciso ensinar as crianças a apreciar as variedades de instrumentos que existem e suas culturas.
A conclusão desse trabalho possibilitou uma melhor compreensão de como a música contribuiu na formação do desenvolvimento da criança, na área cognitiva, afetiva, linguística e psicomotora e que a cada dia temos um novo pensamento, uma nova ideia e sempre temos que buscar o novo, para termos novas ideias e ter sempre o que aprender... Não só criticando os professores, mas revendo a sua formação, os recursos que eles trabalham, mostrando que é possível trabalhar a música na educação infantil com o envolvimento político, na formação dos professores para atuar com melhores recursos com a música no seu trabalho em sala de aula.
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