A LUDICIDADE COMO ALTERNATIVA DE ENSINO/APRENDIZAGEM
MARIA APARECIDA RIBEIRO DA SILVA GONZALES
RESUMO:
O presente trabalho possui cunho qualitativo de pesquisa, visando mostrar a importância da ludicidade na educação infantil, abordando reflexões referentes a historicidade dos jogos e das brincadeiras como alternativa lúdica do professor ensinar e das crianças aprenderem. Além disso, visou-se mostrar a importância destas atividades para a Educação Infantil, considerando as bibliografias pesquisadas. Com isso foi possível compreender que os jogos e brincadeiras são utilizados cotidianamente pelos seres humanos desde a antiguidade, contudo, sua importância para a educação aconteceu após a fundamentação de novo entendimento sobre a criança, onde compreendeu-se a infância como uma fase especial, onde se tem a necessidade de ter o predomínio de táticas mais dinâmicas de aprendizagem.
PALAVRAS-CHAVE: Ludicidade. Jogos. Brincadeiras. Educação Infantil.
INTRODUÇÃO:
Este trabalho possui o objetivo de mostrar a importância a ludicidade como uso de jogos e brincadeiras são importantes dentro de salas de aula de Educação Infantil, visando apontar autores que ressaltam com intensa veracidade a respeito do tema.
Além disso é apontado um histórico acerca da evolução do uso de jogos e brincadeiras realizados dentro e fora de sala de aula. Chegando à ideia central da forte influência que tal metodologia possui quando aplicada às crianças como meio de aprendizagem.
Os objetivos aqui propostos voltam-se para a conscientização da necessidade de aplicação de boas práticas de uso dos jogos e das brincadeiras em salas de aula da modalidade de Educação Infantil.
Inseriu-se ainda imagem ilustrativa de possível exemplo de trabalho lúdico dentro de sala de aula, onde ressalta-se a prática pedagógica em seu cotidiano, e ainda uma importante alternativa de ensino para crianças.
DESENVOLVIMENTO:
De modo geral, o homem como um ser e no decorrer de suas fases de vida, encontra-se num processo contínuo de descobrimento e conhecimento através do contato mantido com seu próximo. Assim, é a partir deste contexto que insere-se o processo de ensino-aprendizagem.
Assim, como bem nos assegura Dallabona e Mendes (2004, p. 1) “a esse ato de busca, de troca, de interação, de apropriação é que damos o nome de educação”. Com isso, extrai-se o pensamento de que para que haja o conhecimento, é preciso compreender que esse processo acontece de forma contínua e de total interação entre os seres humanos, pois a educação “não existe por si só; é uma ação conjunta entre as pessoas que cooperam, comunicam-se e comungam do mesmo saber” (DALLABONA e MENDES, 2004, p. 1).
Considerando o citado acima, é possível pensar que a vida humana adquire conhecimentos com o passar do tempo, embora seja importante ressaltar que é na infância deve-se ter maior atenção quanto a importância de se ter uma educação lúdica, pois assim, há uma permeação entre o conhecimento externo do outro para o intelecto da criança. Assim é exposto por Dallabona e Mendes (2004):
[...] A educação lúdica é uma ação inerente na criança e aparece sempre como uma forma transacional em direção a algum conhecimento, que se redefine na elaboração constante do pensamento individual em permutações constantes com o pensamento coletivo [...] (ALMEIDA, 1995, p. 11 apud DALLABONA e MENDES, 2004, p. 2).
Nesse seguimento, é indispensável o emprego de jogos e brincadeiras para o processo de aprendizagem dos alunos no contexto pedagógico, pois desse modo, o aluno através tende a absorver com mais aptidão os conteúdos expostos pelo professor em sala de aula. Assim, podemos entender que o significado do léxico lúdico vai além do simples uso de diferentes jogos, e sim,
O lúdico permite um desenvolvimento global e uma visão de mundo mais real. Por meio das descobertas e da criatividade, a criança pode se expressar, analisar, criticar e transformar a realidade. Se bem aplicada e compreendida, a educação lúdica poderá contribuir para a melhoria do ensino, quer na qualificação ou formação crítica do educando quer para redefinir valores e para melhorar o relacionamento das pessoas na sociedade (DALLABONA e MENDES, 2004, p. 2).
Dessa forma, leva-se em conta que o conhecimento percebido em sala de aula, tem valores para a vida pessoal de cada criança, da qual desenvolverá funções para com a sociedade. Pensa-se isso, quando de acordo com Luckesi (2005), que a historia da humanidade perpassa pelo processo e uso de brincadeiras e sua grande influência para com a relação socioafetiva entre as pessoas. Assim:
A compreensão sobre as atividades lúdicas, especialmente sobre a sua constituição sóciohistórica e sobre os seus papéis na vida humana, tem origem em várias áreas do conhecimento. Assim, existe uma história do brinquedo, uma sociologia do brinquedo, um estudo folclórico do brinquedo, um estudo psicológico do brinquedo [...] (LUCKESI, 2005, p. 7).
Luckesi (2005, p. 9) diz os brinquedos são como “caminhos real para o inconsciente da criança”. O mesmo expõe ainda que a prática lúdica dirige-se para a construção futura, notando que as brincadeiras mostram o que as crianças estão sentindo/pensando.
O autor supracitado aborda que com as atividades lúdicas, as crianças realizam imitações do adulto, construindo o modo de ser. Meio pelo qual as crianças compreendem o quem os adultos fazem, experimentando possibilidades de vidas, por intermédio do uso de brincadeiras, podendo construir ou fortalecer suas identidades e modos de ser (LUCKESI, 2005, p. 09).
Noutro ponto, o mesmo ressalta o seguinte:
Se prestarmos atenção em nossos filhos e filhas, ou nossos netos e netas, ou nossos alunos na escola, ou crianças em geral, observaremos que seus atos, sempre, estarão comunicando alguma coisa. Para entender essa comunicação, importa estar atento para o que elas querem dizer. [...] Por vezes, será bastante fácil descobrir o significado dessa comunicação, por outras vezes, será exigido mais atenção e esforço de nossa parte para proceder essa compreensão. E, mais que isso, para aceitar a comunicação que está vindo através de uma brincadeira, pois que nem sempre estamos preparados e dispostos para acolher o que está ocorrendo. Por vezes, as brincadeiras de nossas crianças nos desagradam, mas o que será que elas estão nos revelando, nos dizendo ou querendo nos dizer? É isso que a Psicanálise nos ensina: observe como as crianças estão brincando, seus atos estão revelando o seu interior (LUCKESI, 2005, p. 9 - 10).
Nessa perspectiva, o uso da brincadeira correlaciona-se com o estudo do interior da criança, pois, quando a criança encontra-se inserida na brincadeira, a mesma revela o que está sentindo e/ou pensando.
De acordo com Winnocott (1975, p. 26) apud Kishimoto (1998, p. 19) “se brincar é essencial é porque é brincando que o paciente se mostra criativo”. Nesse sentido, brincar está compreendido num processo criativo, ou seja, num mecanismo que trás seus pensamentos, sua criatividade para a realidade.
Nesta ótica, pode ser ressalvado que o jogo e a brincadeira estão incorporados no modo lúdico de ensinar, de acordo com as definições de Kishimoto (1998, p. 21):
[...] o que caracteriza o jogo é menos o que se busca do que o modo como se brinca, o estado de espírito com que se brinca. Isso leva a dar muita importância à noção de interpretação, ao considerar uma atividade como lúdica. Quem diz interpretação supõe um contexto cultural subjacente ligado à linguagem, que permite dar sentido às atividades. O jogo se inscreve num sistema de significações que nos leva, p. ex., a interpretar como brincar, em função da imagem que temos desta atividade, o comportamento do bebê, retomando este o termo e integrando-o progressivamente ao seu incipiente sistema de representação. [...] KISHIMOTO (1998, p. 21).
O referido autor afirma que “a criança, longe do saber brincar, deve aprender a brincar”. Enfatizando a importância do fazer brincar, no sentido de que “as brincadeiras chamadas de brincadeiras de bebês entre a mãe e a criança são indiscutivelmente um dos lugares essenciais dessa aprendizagem” Kishimoto (1998, p. 22).
Referindo-se a origem do termo “ludicidade”, Almeida (2009, online) aponta que “o lúdico tem sua origem na palavra latina "ludus" que quer dizer "jogo". Se se achasse confinado a sua origem, o termo lúdico estaria se referindo apenas ao jogar, ao brincar, ao movimento espontâneo”. Desse modo pode-se entender que no português, o brincar aponta uma ação que é resultado da interação de mais de uma pessoa por meio de jogos e brincadeiras.
Para Le Sann (2011) apud Santos (2012. p. 11), a qualificação profissional “deve contribuir para o desenvolvimento de um ensino condizente com as exigências da vida no século XXI e do mercado de trabalho contemporâneo”. Desse modo, infere-se que o educador deve estar qualificado profissionalmente e adequadamente para o desempenho das funções dentro de sala de aula, pois é inteiramente responsável pela aprendizagem da criança, em suma, na Educação Infantil onde o processo e metodologias de ensino ocorrem de maneira mais complexa.
De acordo com Maluf (2004), as brincadeiras têm o poder de despertar a atenção e curiosidades das crianças, e ainda em todos os seres humanos, estando livres para aprender e absorver o conhecimento com maior facilidade por compreender uma gama de dinamicidade.
Como exemplo de trabalho lúdico possíveis de ser realizado em sala de aula, nota-se na imagem 01, uma das possibilidades que vem a somar no processo de apreensão de conhecimentos pela criança.
Figura 01 - Uso de massas de modelar
Fonte: Lunetas (2017)
Para Cavalcanti (1991, p. 35), há uma relação entre métodos de ensino e condições de aprendizagem dos alunos, como exposto abaixo:
[...] Há, pois uma autonomia relativa dos objetivos sociopedagógicos e dos métodos de ensino, pelo que a matéria de ensino deve organizar-se de modo que seja didaticamente assimilável pelos alunos, conforme idade, nível de desenvolvimento mental, condições prévias de aprendizagem e condições socioculturais (CAVALCANTI, 1991, p. 35).
Assim, cabe ao professor entender que os alunos chagam em suas salas de aula com facilidades e ainda com dificuldades para aprenderem determinados conteúdos e por isso, o educador, responsável pela sala deve ser maleável em seu modo de ensinar, como afirmado abaixo:
Aprende-se linguagem na forma escrita, oral, gráfica, corporal, por signos não verbais, através dos quais efetuamos as leituras do mundo, ultrapassando o pensamento espontâneo do senso comum, sistematizando as informações, transformando-as em conceitos (FRANCISCHETT, 2004, p. 24)
Para que seja desenvolvido o trabalho pedagógico, é necessário utilizar concepções teórico metodológicas que ajudem no conhecimento de um indivíduo para outro, ou seja, em sala de aula o professor necessita ajustar sua prática de ensino para que seus alunos possam compreender facilmente os conteúdos, os tornando indivíduos com competência a ler e interpretar o mundo através da legitimidade, como enfatiza Callai (2005):
Para romper com a prática tradicional da sala de aula, não adianta apenas a vontade do professor. É preciso que haja concepções teórico metodológicas capazes de permitir o reconhecimento do saber do outro, a capacidade de ler o mundo da vida e reconhecer a sua dinamicidade, superando o que está posto como verdade absoluta. É preciso trabalhar com a possibilidade de encontrar formas de compreender o mundo, produzindo um conhecimento que é legítimo. (CALLAI, 2005, p. 231).
Para Seber (2009), o conhecimento é oposto a linear, ocorrem oscilações que permeabilizam a compreensão de diversas etapas do conhecimento. Essa dinamicidade, também caracterizada por idas e vindas, ocorre em função da junção de conquistas que precederam o conhecimento atual, deixando o entendimento de que o desenvolvimento possui etapas diferentes. Nesse sentido, podemos entender que o ensino deve estar pautado num contexto múltiplo, onde existem diversos nexos e entendimentos, fazendo com que o educador esteja apto a desempenhar sua docência com uma boa prática educativa.
O professor progride na medida em que possui dúvidas e questionamentos a serem solucionados, e a partir do momento em que nada mais se questiona, o mesmo pode estacionar, deixando de produzir, absorver e transmitir novos conhecimentos, aperfeiçoar ainda mais sua postura pedagógica, melhorando qualitativamente seus métodos ensino (SEBER, 2009).
Seber (2009) aborda ainda sobre o procedimento da organização das informações que viabilizam o entendimento:
[...] o que importa é comparar ou ordenar as informações que vão sendo assimiladas, estabelecer correspondências, realizar análises combinatórias, variando ora o posicionamento das forças gráficas, ora sua quantidade, reorganizar as informações tendo em vista a incorporação de novidades etc. Enfim, uma série de processos construtivos viabiliza o entendimento que está sendo conquistado. Priorizar esses processos não significa ignorar a importância das solicitações do meio. Ao contrário, implica valorizar as influências e os modelos sociais, mas sem deixar de privilegiar o empenho da própria criança (SEBER, 2009, p. 138).
Em sequência desta ideia, é possível compreender que para haja o ensino em salas da Educação Infantil, torna-se necessário que o profissional da educação faça correlações do meio, dos jogos e das brincadeiras, para que a criança melhor compreenda as novidades e novos conhecimentos que vivencia no cotidiano escolar.
CONCLUSÃO:
Com o presente trabalho foi possível entender a importância da ludicidade para as turmas de educação infantil, enfatizando reflexões a respeito da historicidade dos jogos e das brincadeiras como alternativa lúdica para o professor ensinar e as crianças aprenderem, considerando o embasamento teórico pesquisado.
Com isso, se pode compreender que os jogos e brincadeiras são empregados cotidianamente pelos seres humanos desde a antiguidade, porém, teve seu auge na educação após a fundamentação de novos estudos sobre a criança, mostrando a necessidade de maneiras mais dinâmicas de aprendizagem.
Dessa forma, a ludicidade vem a ser a metodologia de ensino mais favorável para o trabalho docente em salas de aula de crianças, pois quando usada, torna o trabalho mais prazeroso e significativo, e ainda desenvolve o cognitivo infantil.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Anne. Ludicidade como instrumento pedagógico. 2009. Online. Disponível em: <https://www.cdof.com.br/recrea22.htm>. Acesso em: 08 de Agosto de 2019.
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DALLABONA, Sandra Regina; MENDES, Sueli Maria Schmitt. O lúdico na educação infantil: jogar, brincar, uma forma de educar. Revista de divulgação técnico-científica do ICPG, v. 1, n. 4, p. 107-112, 2004. Disponível em: <https://conteudopedagogico.files.wordpress.com/2011/02/o-ldico-na-educao-infantil.pdf> . Acesso em: 08 de Agosto de 2019.
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MALUF, Angela Cristina Munhoz. Brincadeiras para sala de aula. Editora Vozes Limitada, 2013. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=FdQbBAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PP12&dq=brincadeiras+com+as+m%C3%A3os&ots=Sqwv9ICmMy&sig=--PEL9wdegVb7Uq3K8j7Ux1TGXc#v=onepage&q=brincadeiras%20com%20as%20m%C3%A3os&f=false>. Acesso em: 08 de Agosto de 2019.
SANTOS, Ivaneide Silva dos. Dificuldades em ensinar/aprender cartografia nas séries iniciais: Desafios na formação de professor/ pedagogo. In: Revista Metáfora Educacional. 2012, p. 15, disponível em: <http://www.valdeci.bio.br/pdf/n13_2012/santos_dificuldades_em_n13_dez12.pdf>. Acesso em 08 de Agosto de 2019.
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