A ALFABETIZAÇÃO E LEITURA DA CRIANÇA
Elaine Fátima Arseno[1]
Meire Simone Martinez[2]
Zaira Terezinha Totti Lourenço[3]
RESUMO
As discussões sobre a alfabetização tiveram início, como nos falam os contos infantis, há muito tempo atrás, história esta que entendemos ser importante e ser conhecida para quem alfabetiza. Retornado um pouco na história, podemos observar que o tema alfabetização foi alvo de várias discussões, mesmo antes dos e permeado a cabeça de muitos estudiosos desde os tempos primitivos, onde a educação geralmente era passada de pais para filhos, de forma rude e empírica, apenas pelo conhecimento de mundo que cada um traz consigo, e através de um modelo padronizado de escrita e leitura. Assim sendo, essas atividades de falar e escrever de maneira ambientada e rotineira representa apenas a função das mais básicas que existe, onde o indivíduo ainda não e possui a competência necessária para se sobressair no meio social à que pertence.
Palavras-chaves: Alfabetização, escrita, leitura.
ABSTRACT
Discussions on literacy began as tell us fairy tales, a long time ago, this story that we believe to be important and be known to those literate. Returned a little in history, we can see that the theme of literacy was the subject of many discussions, even before and permeated the minds of many scholars from early times, where education was usually passed from father to son, to rude and empirically, only the world of knowledge that each brings, and through a standardized model of writing and reading. Therefore, these activities of speaking and writing of acclimated and routinely represents only the most basic function of there, where the individual has not and has the necessary competence to stand out in the social belonging.
Keywords: literacy, writing, reading.
INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos a alfabetização escolar tem sido alvo de inúmeras controvérsias teóricas e metodológicas, exigindo da escola, principalmente dos profissionais que têm o desafio de alfabetizar seus alunos, se posicionem em relação às mesmas, correndo o risco de trazer sérias consequências para as práticas pedagógicas que adotavam.
Durante décadas predominou a discussão sobre a eficácia no Brasil dos métodos de alfabetização, gerando-se confrontos entre os chamados métodos sintéticos e analíticos chegando-se a uma combinação nos chamados métodos analítico-sintéticos como é o caso da palavração. Assim, para evitar as diferenças individuais que apareciam na aprendizagem inicial da leitura e da escrita e evitar fracassos que costumavam aparecer já que os métodos em si não eram capazes de contornar, criou-se um conjunto de pré-requisitos para que a alfabetização fosse bem-sucedida, houve certo privilégio a maturidade dos aspectos perceptuais e motores, aliada a um domínio da linguagem oral dos alunos.
Esta tradição estava ligada a uma concepção de alfabetização aonde o foco da aprendizagem inicial da escrita e da leitura era fazer o aluno chegar mais rápido ao reconhecimento da palavra, garantindo-lhe o domínio das correspondências fonográficas.
Depois de muitas controvérsias sobre os mais diferentes métodos a proposição de modelos pedagógicos diferenciados de alfabetização chegam ao Brasil, nos anos oitenta, através das pesquisas das linguistas, Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1986), apresentando-nos outro olhar acerca do processo de aprendizagem da escrita feito pela criança, não como um novo método, mas sim como uma teoria denominada Psicogênese da Língua Escrita, tendo como seu principal orientador teórico Piaget, e os modelos de leitura propostos por Goodmann (1967) e Smith (1971). Estes estudos defendem uma alfabetização contextualizada e significativa através da transposição didáticas das práticas sociais da leitura e da escrita para sala de aula e considera a descoberta do princípio alfabético como uma consequência as exposição aos usos da leitura e da escrita que devem ocorrer de uma forma reflexiva a partir da apresentação de situações problema nas quais os alunos revelam espontaneamente as suas hipóteses e sejam levados a pensar sobre a escrita, cabendo ao professor o papel de intervir de forma a torna mais efetiva esta reflexão.
Nos anos noventa, um novo movimento nas discussões sobre a alfabetização começa a tomar corpo entre alguns pesquisadores brasileiros – pedagogos, linguistas, sociólogos, antropólogos, movimento este que, junto com a Psicogênese, trazem para as práticas de alfabetização, muitos avanços, mas também controvérsias, desencontros, já que, apresentam mudanças significativas nessa fase inicial do processo de escolarização das crianças. Destacam-se nesse novo olhar sobre a alfabetização, novos conceitos, como o do letramento, o qual traz consigo, o uso de práticas de leitura e escrita na sala de aula, como atividades que devem ser vivenciadas desde os primeiros momentos da alfabetização.
DESENVOLVIMENTO
1. Refletindo algumas controvérsias em seus conceitos
A educação a qual podemos observar hoje já passou por grandes desafios e mudanças desde o seu surgimento, já enfrentou tantas dificuldades, discriminações, já foi analisada e defendidas de tantas formas, por tantas pessoas, que determinar um simples conceito do que significa na totalidade da história da humanidade fica muito difícil. Essa mudança também acontece com o significado papel, o objetivo da alfabetização e mais recentemente com o do letramento. Sabemos que a relevância dessas concepções é vista como fator principal dentro do processo de ensino e aprendizagem, e, no caso da aprendizagem da leitura e da escrita, foco principal do ensino da Língua Portuguesa. Através deste conceito surge-se então a pergunta “Qual é o papel social do ato de ler e escrever”, traz-se, portanto, a concepção, o papel da Educação em uma nação, nação esta que, investirá ou não neste direito, para todos os seus cidadãos.
Com o alto índice de analfabetismo dos anos 80 do século XX, a UNESCO/UNICEF inicia um trabalho internacional que tem entre seus principais objetivos, repensar o papel da Educação, mais especificamente a escolar nos aspectos pedagógicos, iniciando-se assim em 1990 uma empreitada internacional contra o analfabetismo, seja de crianças, jovens e adultos, que teve o nome de Década da Alfabetização.
Em sua dissertação de mestrado, Castro (2001, p, 48) faz a seguinte reflexão:
Um país, que leva a sério às questões da garantia a todos os seus cidadãos do direito a uma Educação Pública e de qualidade, deve propor ações que, ao mesmo tempo e de forma progressiva, caminhem em direção à erradicação do analfabetismo, garantindo, assim, uma educação fundamental que trabalhe sempre dentro do limite mínimo de repetência. Caso isto não ocorra, certamente haverá um aumento do contingente de jovens e adultos analfabetos ou pouco escolarizados, detectados no significativo índice de repetência, reprovação e evasão das crianças das séries iniciais do ensino fundamental.
Como o Brasil está incluído nessa situação, torna-se necessário, segundo Emília Ferreiro (1989, p.70), pensar a problemática da alfabetização a partir de dois pontos: “a dos jovens e adultos enquanto ação reparadora tardia e a da criança que inicia na educação fundamental, entendida como uma ação preventiva do analfabetismo adulto”.
Nessa história, Emília Ferreira e Ana Teberosky (1985), passam a ter um papel fundamental, pois, preocupadas com essa crise da Educação, com destaque para o elevado índice de fracasso escolar, de crianças de escolas públicas da América Latina, já que, a partir de suas pesquisas sobre o processo de aquisição do código escrito, denominado - Psicogênese da Língua Escrita -, que não é um método de alfabetização, mas revelam os processos de aprendizado das crianças, levando a conclusões que puseram em questão os métodos tradicionais de ensino da leitura e da escrita. Suas pesquisas contribuíram para um repensar pedagógico, de acordo com as novas perspectivas, que geraram grandes mudanças nos paradigmas educacionais. Dessa forma o ensino passa a ser norteada pelo sujeito que aprende, sua finalidade é contribuir na solução de problemas de aprendizagem, evitando assim que se continue a se produzir, principalmente, futuros analfabetos.
Em 1979 realizou-se na cidade do México uma Conferência Regional de Ministros da Educação e de muitos encarregados do Planejamento Econômico da América Latina e Caribe, no âmbito da UNESCO. Essa conferencia deu origem ao que se conhece por Projeto Principal de Educação para América Latina e Caribe, esse se propõe a realizar ações concertada e projetos eficazes para conseguir, antes de 1999, a escolarização de todas as crianças, oferecendo uma educação geral mínima de 8 a 10 anos: eliminar para a mesma data, o analfabetismo adulto, melhorar e ampliar a qualidade e eficiência dos sistemas educativos.
Porém, como nos relembra Castro (2000, p.79):
Segundo Alberto Brusa (apud NEPP, 2000, p.2), no início dos anos 90, a população da América Latina chegava a 430 milhões de pessoas, das quais 86 milhões são jovens entre 15 e 24 anos. Ainda nesse documento, estão os seguintes dados: existem no Brasil cerca de 32 milhões de jovens (1998) com enormes diferenças quanto às condições de vida, desde as relativas ao acesso aos sistemas de ensino como aquelas afetas ao mundo do trabalho.
Muito embora, o projeto proponha a efetivação da escolarização de todas as crianças, de 8 a 10 anos, eliminar a analfabetismo adulto e ampliar a qualidade e eficiência dos sistemas educativos, ao mesmo tempo mascara o discurso meramente ideológico, mostrando apenas a qualidade de escolas inauguradas por vezes improvisadas para um ensino de qualidade dificultando ainda mais a alfabetização, afirmou Ferreiro, em seu livro “Com todas as Letras”, que recomendamos como leitura obrigatória para todos os alfabetizadores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através deste trabalho foi possível compreender que se tem muito ainda o que pesquisar e aprender sobre alfabetização e letramento. A primeira das quais é usada com desenvoltura pelos educadores, enquanto que, o termo letramento ainda tem o seu conceito não bem compreendido por muitos deles.
Isto porque, a maioria dos educadores ainda não tomou para si esse termo, ou ainda não está totalmente esclarecido sobre seu uso, ou não entende a importância do mesmo para formar sujeitos de fato alfabetizadores e letrados, com a desculpa de que o conceito letramento ainda é novo.
Porém, mesmo sendo um novo conceito, já é bastante usado ao meio da classe escolar, e não pode servir como desculpa para o desuso na prática da alfabetização ou como de difícil compreensão como muitos alegam. O importante é que o professor perceba que para se entender ou compreender sobre algo é necessário que se faça muitas leituras para desmistificar qualquer conceito não entendido como o da alfabetização e letramento.
A palavra alfabetização, por exemplo, no sentido restrito de aprendizagem inicial da leitura e escrita, isto é, a ação de ensinar a ler e a escrever o código alfabético, ou seja, se relacionar letras e os sons, não passaria apenas de uma decodificação se descartássemos o letramento.
No caso do letramento, podemos dizer que é alguém que se apropriou de forma competente da leitura e da escrita a ponto, de usá-la com propriedade e desenvoltura no seu meio social.
No entanto, para que se formem sujeitos com ás competências acima na escola, se faz necessário que exista uma política de leitura, principalmente incluída na formação de professores leitores, na oferta de materiais bons e variados, materiais escritos, na implantação de bibliotecas, sala de leitura equipadas e estruturadas e dinamizadas por bibliotecários.
Porém, sabe-se que a realidade de materiais didáticos das escolas brasileiras ainda está longe dessa exigência, mas que também nada impede ao professor ou á escola criar mecanismos e estratégias adequadas á condição social da escola, para que essa realidade chegue aos seus alunos e faça com que os mesmos participem do mundo letrado dentro e fora dela. Além disso, “não se ensina a gostar de ler por decreto, muito menos por imposição, nem tão pouco se forma letrados por meio de exercício da leitura e gramática rigidamente controlada” (CARVALHO, 2005, p.67).
O aprender a ler passa primeiramente por um gostar, um querer, que é inerente ao querer do professor, mas que se incentivado e motivado através de várias ações como o oferecimento dos mais diversos recursos didáticos e nas mais variadas estratégias e metodologias, com certeza o aluno tornara-se competente nas questões de leitura, e o letramento fará parte das mais variadas situações sociais do seu cotidiano.
Assim, para se alfabetizar/letramento deve se haver um trabalho de sensibilização dos professores, para que façam atividades com seus alunos de forma intencional e especificas de comunicação desde a educação infantil até ao término do ensino fundamental, para que os mesmos deem continuidade ao que aprenderam e que levem para o resto de sua vida de forma coerente e competente.
E o mais importante, é que o letramento e a alfabetização embora em seus conceitos diferentes sejam estudados e aplicados juntos, para que as próprias classes dos educadores tenham intimidade bastante com os mesmos, a ponto de vê-los com um só olhar e necessários para a formação de uma sociedade letrada, alfabetizadora e preparada para enfrentar os mais variados desafios que possam surgir ao longo de sua vida, com competência, desenvoltura e habilidade.
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ZILBERMAN, ET SILVA - Gragoatá, 1996 – Instituto de letras, Programa de Pós-graduação, Universidade PUC/RS.