O LETRAMENTO E A ALFABETIZAÇÃO DAS CRIANÇAS
Ireny Antonia Marassi França[1]
Mayara Priscila Brauna Miatelo[2]
Silmara Sousa Brauna[3]
RESUMO
O presente trabalho teve por objetivo verificar que muitas pessoas são alfabetizadas mais não estão letradas, isso porque, o processor de alfabetização depende do ambiente alfabetizador a que essa pessoa foi exposta. A alfabetização dessa pessoa pode ter sido apenas pela decodificação de algum método de alfabetização, em que, o alfabetizador não criou desafios ou expôs seu aprendiz a um ambiente de fato letrado. O processo de alfabetizar, é um ato onde se aprende a ler e a escrever, tendo nessa relação à leitura como ponto de partida, pois é através da leitura que se ensina as relações entre letras e sons, mostrando como estas relações são diferentes, em um sistema ortográfico, quando se parte da leitura para a escrita ou da escrita para a leitura.
Palavras-chaves: alfabetização, escrever, letramento.
RESUMO
This study aimed to find that many people are literate are more illiterate, this because the literacy processor depends on the literacy environment to which such person has been exposed. Literacy that person may have been just for the decoding of any literacy method, where the literacy challenges did not create or exposed his apprentice to a fact literate environment. The process of literacy, is an act where one learns to read and write, having this relationship to reading as a starting point, it is by reading what is taught the relationship between letters and sounds, showing how these relationships are different, in a spelling system, when reading part for writing or writing to reading.
Keywords: literacy, writing, literacy.
INTRODUÇÃO
Diante de todas as discussões acerca do conceito de alfabetização perpassam por dois campos: os condicionantes sociais, culturais e políticos, para a construção do conceito de alfabetismo e de analfabetismo e as questões sobre a natureza do processo de alfabetização.
Conforme Michaelis-Moderno Dicionário da Língua Portuguesa (2008)
A alfabetização consiste no aprendizado do alfabeto e de uma utilização como código de comunicação, de um modo mais abrangente alfabetização é definido como processo no qual o individuo constrói a gramática em suas variações. Esse processo não se resume apenas na aquisição dessas habilidades mecânicas (codificação e decodificação) do ato de ler, mas na capacidade de interpretar, compreender, criticar, ressignificar e produzir conhecimento. Muito embora, essas capacidades citadas anteriormente só se concretizam quando o aluno é exposto ao contato com todos os tipos textuais, principalmente de maneira frequente, envolvendo-o em diversas situações de uso da linguagem, para que haja o desenvolvimento da compreensão sobre á mesma. Assim, a alfabetização pode ser considerada como um fator propulsor de exercício da cidadania nas mais diversas formas de trocas simbólicas, usadas pelos sujeitos dentro da sociedade ou instituição social.
Sendo-se assim essa definição de alfabetização, vem de certa forma, ampliar o conceito que a UNESCO vem utilizando nesses últimos anos, como referencia para todos os países: “o alfabetizado é uma pessoa capaz de ler e escrever com compreensão uma breve e simples exposição de fatos relativos à vida cotidiana”, definição que ainda hoje serve como referência para vários (as) professores (as) que a compreendem como um simples processo através do qual o individuo passa a ser capaz de ler e escrever.
De acordo com Magda Soares, a alfabetização consiste em um processo cognitivo de apropriamento do sistema de escrita alfabético/ortográfico, ou seja, existem alguns conhecimentos técnicos desse sistema de escrita que é preciso ser compreendido por quem vai ser alfabetizado:
O que poderíamos chamar de acesso ao mundo da escrita-num sentido amplo é o processo de um individuo entrar nesse mundo, e isso se faz basicamente por duas vias: uma, através do aprendizado de uma” técnica”. Chamo a escrita de técnica, pois aprender a ler e a escrever envolve relacionar sons com letras, fonemas com grafemas, para codificar ou decodificar. Envolve, também, aprender a segurar um lápis, aprender que se escreve de cima para baixo e da esquerda para a direita; enfim, envolve uma série de aspectos que chamo de técnicos. Essa é, então, uma porta de entrada indispensável. (2003, p.1).
Para Soares, a alfabetização, apesar de compreender um processo bem distinto, não está dissociado do que ela chama de outra porta de acesso ao mundo da escrita, a outra via, ou porta de entrada, que consiste em desenvolver as práticas de uso dessa técnica, que é o letramento, do qual trataremos a seguir.
Tfouni (1995) refere-se à alfabetização como uma prática que não é meramente a habilidade abstrata para produzir, decodificar e compreender a escrita, pelo contrário, quando as crianças são alfabetizadas, elas usam a leitura e escrita para a execução das práticas que constitui sua cultura, e, por isto, contesta autores que, como ela afirma, “pensam na alfabetização como um processo de aquisição individual de habilidades requeridas para a leitura ou escrita, ou como um processo de representação de objetos diversos, de naturezas diferentes” (p.14). Para ela, o erro desses autores é pensar que “a alfabetização é algo que chega ao fim, e pode, portanto, ser descrita sob formas de objetos,... a alfabetização intimamente ligada á instrução formal e as práticas escolares, e é muito difícil lidas com essas variáveis separadamente” (p.16).
Com a definição que afirma ser o processo de alfabetizar, um ato onde se aprende a ler e a escrever, tendo nessa relação à leitura como ponto de partida, pois é através da leitura que se ensina as relações entre letras e sons, mostrando como estas relações são diferentes, em um sistema ortográfico, quando se parte da leitura para a escrita ou da escrita para a leitura, o professor Cagliari afirma que:
No processo de alfabetização, a leitura precede a escrita. Na verdade, a escrita nem precisa ser ensinada se a pessoa souber ler. Para escrever, uma pessoa precisa, apenas, reproduzir graficamente o conhecimento que tem de leitura. Por outo lado, se uma pessoa não souber ler, o ato de escrever será simples cópia, sem significado. (Cagliari, 1994, apud Massini- Cagliari, 1994, p.26).
A proposta construtivista influenciada pelas pesquisas de Ferreiro e Teberosky (1986) defende uma alfabetização contextualizada e significativa através da transposição didática das práticas sociais da leitura e da escrita para a sala de aula e considera a descoberta do principio alfabético como uma consequência da exposição aos usos da leitura e da escrita que devem ocorrer de uma forma reflexiva a partir da apresentação de situações problema nas quais os alunos revelem espontaneamente as suas hipóteses e sejam levados a pensar sobre a escrita, cabendo ao professor o papel de intervir de forma a tornar mais efetiva esta reflexão. Toda essa teoria de aprendizagem, é denominada pelas autoras como a Psicogênese da Língua Escrita no qual elas focam suas investigações no conhecimento de “como leem as crianças que não sabem ler” e “como escrevem as crianças que não sabem escrever”:
Temos uma imagem empobrecida da língua escrita: é preciso reintroduzir, quando consideramos a alfabetização, a escrita como sistema de representação da linguagem. Temos uma imagem empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho fonador emite sons. Atrás disso há um sujeito cognoscente, alguém que pensa que constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu. Um novo método não resolve os problemas. É preciso reanalisar as práticas de introdução da língua escrita, tratando de ver os pressupostos subjacentes a elas, e até que ponto funciona como filtros de transformação seletiva e deformante de qualquer proposta inovadora. Os testes de prontidão também não são neutros. (...) É suficiente apontar que a “prontidão” que tais testes dizem avaliar é uma noção tão pouco cientifica como a “inteligência” que outros pretendem medir. (Ferreiro, 1981, p. 26-27).
Complementando este novo olhar acerca da alfabetização, Teborosky (1994), afirma que:
a formação de um vocabulário estável de palavras a partir dessas práticas seria o principal referencial da criança para a descoberta do sistema alfabético, uma vez que esta dar-se-ia a partir dos conflitos vivenciados pela criança entre a sua concepção original de escrita e a escrita convencional dos nomes. Para os adeptos desta corrente, não haveria necessidade de estudo sistemático das correspondências som-grafia nem de atividades de estímulo á consciência fonológica uma vez que esta seria uma consequência da própria evolução conceitual da criança em face de uma aprendizagem reflexiva da leitura e da escrita.
Emilia Ferreiro (apud WEISZ, 2001) aprofunda um aspecto importante no processo de construção da leitura e da escrita: problema cognitivo envolvido no estabelecimento da relação entre o todo e as partes que o constituem. Emilia nos mostra que a criança elabora uma série de hipóteses trabalhadas através da construção de princípios organizadores, resultados não só de vivências externas, mas também por um processo interno. Mostra também como a criança assimilada seletivamente as informações disponíveis e como interpreta textos escritos antes de compreender a relação entre as letras e os sons da linguagem.
Como uma das principais estudiosa e defensora das pesquisas de Ferreiro e Tederosky, Telma Weisz (2000) afirma que a Psicogênese da Língua Escrita, oferece-nos um instrumental de possibilidades de ver a criança no seu processo de aquisição da escrita, de verificar o que ela sabe e o que ela não sabe. “É muito importante conhecer o que a criança não sabe e o que ela tem condições de fazer com a ajuda de um adulto, porque é ai que o professor vai atuar” afirma Weisz, e, para que compreendemos isto é necessária uma reflexão sobre teoria e a pratica da alfabetização num eixo construtivista baseado em estudos de natureza psicológica.
Poderíamos continuar apresentando os pressupostos que fundamentam os diversos estudos sobre a alfabetização no Brasil, o seria muito interessante, mas, entendemos que num trabalho de pesquisa, é preciso fazer escolhas teóricas.
Percebe-se nas afirmações acima, que os autores têm um ponto em comum. Quando falam em alfabetização, á pratica, ou seja, a alfabetização se constitui através da pratica social em que o sujeito está inserido, seja na escola, na sociedade ou nas situações de letramento em que é submetido na família antes mesmo de ir á escola. A escola por sua vez, acaba transformando esse sujeito em um reprodutor de significados, um mero decodificador, sem a competência da leitura, muita má da escrita e interpretações.
DESENVOLVIMENTO
1. O letramento e alfabetização
Nunca no mundo, o aprendizado da língua escrita teve tanta importância para a garantia da participação do cidadão no mundo letrado, e é, dentro desta perspectiva que se faz necessária, por parte de todos os professores, a iniciar pelos alfabetizadores, a compreensão clara de que tudo que é aprendido na escola, necessariamente deve ter alguma relação com o mundo onde vivemos, em tudo que aprendemos temos que ver qual a sua utilidade individual e social, e nisto se inclui a aprendizagem da leitura e da escrita, consideradas como uma das habilidades fundamentais para que possamos aprender outras habilidades e conhecimentos. Por isto, o ensino continua sendo um desafio para a pedagogia assim como para todas as demais licenciaturas, e, portanto, um problema para os todos os educadores.
De acordo com Soares (2003), apesar de a alfabetização constituir-se como um processo bem distinto, cujo principal objetivo é garantir ao alfabetizando, a aprendizagem do sistema de escrita alfabético/ortográfico de uma forma que ele venha a compreender como esse sistema funciona, essa aprendizagem de nada tem significado se esse não se compreender o porquê eu estou aprendendo tudo isto, onde eu vou utilizar tais conhecimentos, pode proporcionar de mudanças em minha vida pessoal e coletiva.
Essa outra via ou porta que entra ao mundo da leitura e da escrita é o letramento, “que compreende o desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema de escrita em atividade de leitura e escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita” (SOARES, 2004, P.25).
Segundo Rego (2005, p.06), “se por um lado, não podemos descartar a importância das práticas socioculturais da leitura e a apropriação da língua escrita enquanto forma de comunicação, temos que considerar que também é um fato incontestável, que só a partir da descoberta do principio alfabético e das convenções ortográficas formamos um leitor e escritor autônomo”.
Fica, portanto muito claro que, uma proposta pedagógica de alfabetização deve ter a clareza de que, desde o inicio do processo de alfabetização, devem estar presentes em sala de aula, o lugar e o papel da escrita no mundo dessa criança, como complementa Rego (op.cit.):
Portanto, temos defendido uma proposta pedagógica que dê suporte ao pleno desenvolvimento desses dois aspectos envolvidos na aprendizagem da leitura e da escrita desde o inicio da escolaridade, distribuindo o tempo pedagógico de forma equilibrada e individualizada entre atividades que estimulem esses dois componentes: a língua através de seus usos sociais e o sistema de escrita através de atividades que estimulem a consciência fonológica e evidencie de forma mais direta para a criança as relações existentes entre as unidades sonoras da palavra e sua forma gráfica.
É nessa perspectiva que vivenciamos a partir desde século XXI, a emergência dos estudos sobre o letramento tendo como principal objetivo, compreendermos a dimensão sociocultural da língua escrita e de seu aprendizado. Conforme Mastrobuono, (2007; p.03):
Letramento é palavra nova, que nasceu da necessidade de se nomear um também novo fato social, e trata-se da versão para o Português da palavra inglesa literacy, que significa, em linhas gerais, “o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e escrever” (SOARES, 2003, p.17). Tal significado aponta para a constatação de que a aquisição da leitura e da escrita traz consequências sociais, culturais, politicas, econômicas, cognitivas e linguísticas tanto para o grupo social em que é introduzido, quanto para o sujeito que aprende a usá-las: cria-se um novo “estado”, altera-se sua “condição”, define-se um novo modo de estar no mundo. Define-se, em última análise, uma nova identidade, descortinando-se uma dimensão da subjetividade de anteriormente desconhecida.
A sintonia entre esses movimentos letração e alfabetização, nas vertentes teóricas e conceituais, fez com que se rompessem a dicotomia existente entre o sujeito que aprende e o professor que ensina além de acabar com o reducionismo de que o especo da sala de aula é o único lugar onde se dá a aprendizagem.
O caminhar histórico da alfabetização a partir dos meados anos de 1980, passa, então, a ser influenciado pelas contribuições dos estudos sobre o letramento, como afirma Soares (2004):
É curioso que tenha ocorrido em um mesmo momento histórico, em sociedades distanciadas tanto geograficamente quanto socioeconomicamente e culturalmente, a necessidade de reconhecer e nomear práticas sociais de leitura e de escrita mais avançadas e complexas que as práticas do ler e do escrever resultantes da aprendizagem do sistema de escrita. Assim, é em meados dos anos de 1980 que se dá, simultaneamente, a invenção do letramento do Brasil, do illettrisme, na França, da literacia, em Portugal, para nomear fenômenos distintos daquele denominado alfabetização, alphabétisation. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, embora a palavra literacy já estivesse dicionarizada desde o final do século XIX, foi também nos anos de 1980 que o fenômeno que ela nomeia, distinto daquele que em língua inglesa se conhece como Reading instruction, beginning literacy tornou-se foco de atenção de atenção e de discussão nas áreas da educação e da linguagem, o que se evidencia no grande número de artigos e livros voltados para o tema, publicados, a partir desse momento, nesses países, e se nos operacionalizou vários programas, neles desenvolvidos, de avaliação do nível de competências de leitura e de escrita da população (...) (p.5-6).
A relevância do conhecimento desta concepção é tratada pelos estudiosos já citadas anteriormente, cada um com o seu olhar, compreendendo esses processos como bem distintos, mas indissociáveis, e por outros, como um processo único, pois para estes, as perspectivas do letramento já estão na alfabetização, e por isto, em seus trabalhos muitas vezes não encontramos tal definição.
Para Cavalcante (2008, p.97) podemos distinguir dois grandes grupos, os quais argumentam de forma muito clara e com rigor teórico seus pontos de vista sobre o letramento. Um grupo, que tem por base o entendimento de Magda Soares, que tem entre seus colaboradores, nomes como o de Costa Val (2005), Gomes Batista (2005), Paiva (2006) e outros no qual o letramento é entendido como um “resultado da ação de ensinar e aprender as práticas de leitura e escrita: o estado ou condição que adquire um grupo social ou individuo como consequência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas sociais”.
Vejamos o que esses estudiosos nos apresentam como reflexão:
Sob o ponto de vista do processo individual de cada sujeito, Magda Soares reúne as características do letramento em leitura como um conjunto de:
Habilidades linguísticas e psicológicas, que se estendem desde a habilidade de decodificar palavras escritas até a capacidade de compreender textos escritos (...) a leitura é um processo de relacionar símbolos escritos a unidades de som e é também o processo de construir uma interpretação de textos escritos (...). Desse modo, a leitura estende-se da habilidade de traduzir em sons silabas sem sentindo a habilidades cognitivas e metacognitivas; inclui, dentre outras: a habilidades de decodificar símbolos escritos; a habilidades de captar significados; a capacidade de interpretar sequencias de ideias ou eventos, analogias, comparações, linguagem figurada, relações complexas, anáforas; e ainda, a habilidade de fazer previsões iniciais sobre o sentindo do texto, de construir significado combinando conhecimentos prévios e informação textual, de monitorar a compreensão e modificar previsões iniciais quando necessário, de refletir sobre o significado do que foi lido, tirando conclusões e fazendo julgamento sobre o conteúdo” (SOARES,2003, p.69).
Outra importante pesquisadora sobre a alfabetização e o letramento é Maria das Graças Costa Val, que nos chama a atenção para as dimensões do letramento:
Conceber a alfabetização na dimensão do letramento possibilita aliar os micro aspectos, comentados anteriormente, com macro aspectos, relacionados com o conhecimento da organização sintático-discursiva dos textos; conhecimento de instituições, atividades e situações sociais que são marcadas pela linguagem escrita em diferentes esferas sociais de conhecimento; de tipos de texto e de suas particularidades e usos, entre outros aspectos. A aliança entre os microaspectos e os macroaspectos do processo de aprendizagem da linguagem escrita vem recentemente merecendo a atenção de pesquisadores e professores, já que se observa uma tendência para se privilegiarem ora alguns aspectos, ora outros. De uma forma e de outra, conhecimentos importantes para a aprendizagem da escrita são deixados de lado (2006, p.6).
Outro grupo, que tem como uma de sua base teórica o principio construtivista que sustenta o processo de construção da escrita, ou a psicogênese da Língua Escrita, no qual,o letramento é parte integrante da alfabetização, tem entre seus pesquisadores, Weisz (2000) e outros;
Para aprender a ler e a escrever é preciso pensar sobre a escrita, pensar sobre o que a escrita representa e como ela representa graficamente a linguagem. Algumas situações didáticas favorecem especialmente a analisa e a reflexão sobre o sistema alfabético de escrita e a correspondência fonográfica. São atividades que exigem uma atenção à analise – tanto quantitativa como qualitativa- da correspondência entre segmentos falados e escritos. São situações privilegiadas de atividades epilinguísticas, em que, basicamente, o aluno precisa (2001).
Segundo Kleiman (1991) o conceito letramento começou a ser usados nos meios acadêmicos numa tentativa de separar os estudos sobre o “impacto social da escrita dos estudos sobre a alfabetização, cujas conotações escolares destacam as competências individuais no uso e na pratica da escrita. Eximem-se dessas conotações dos sentidos que Paulo Freire atribui a alfabetização, que à vê como capaz de levar o analfabeto a organizar reflexivamente a consciência critica, introduzi-lo num processo real de democratização da cultura e da libertação.
Portanto, seja pela necessidade da tomada de consciência das linguísticas sobre a alfabetização, ou pela democratização da cultura e de libertação, o fato é que o letramento na visão dos autores acima proporciona e permite que os sujeitos participem na pratica de vários eventos escritos e compreendam seu funcionamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um individuo alfabetizado não é necessariamente um individuo letrado: alfabetizado é aquele que sabe ler e escrever: já o individuo letrado, o individuo que vive em estados de letramento, é não só aquele que usa a leitura e a escrita, pratica a leitura escrita responde adequadamente as demandas sociais de leitura e escrita (SOARES,1998).
A citação acima parece ser equivocada em principio, mas descreve claramente a diferença entre individuo letrado e um individuo alfabetizado demonstra também que é através da pratica social que esse tipo de relação acontece. Para um sujeito ser considerado letrado não é necessário que tenha frequentado a escola ou que saiba ler e escrever, basta que o mesmo exercite a leitura de mundo no seu cotidiano, sendo um cidadão participe de sua comunidade, atuando em associações, clubes, instituições, igreja, entre outros. Quem é letrado continuando com Soares,
[...] utiliza a escrita para escrever uma carta através de um outro individuo alfabetizado, um escriba, mas é necessário enfatizar que é o próprio analfabeto que dita o seu texto, logo ele lança mão de todo os recursos necessários da língua para se comunicar, mesmo que tudo seja carregado de sua particularidades. Ele demostra com isso que conhece de alguma forma as estruturas e funções da escrita. O mesmo faz quando pede para alguém ler alguma carta que recebeu, ou texto que contém informações importantes para ele.(SOARES, 2003, p.43 apud PEIXOTO et al, 2004).
Kleiman & Moraes (1999, p.97) afirmam que a diferença entre estar alfabetizado e ser letrado implica basicamente, na diferença do grau de familiaridade que os sujeitos têm com os diversos usos da escrita no cotidiano social: escrever bilhetes, cartas, ofícios, ler jornal, revistas e documentos oficiais, defender seus direitos em quanto consumidor, contribuir para os debates, etc.
Muitos estudiosos afirmam que muitas pessoas são alfabetizadas mais não estão letradas, isso porque, o processor de alfabetização depende do ambiente alfabetizador a que essa pessoa foi exposto. A alfabetização dessa pessoa pode ter sido apenas pela decodificação de algum método de alfabetização, em que, o alfabetizador não criou desafios ou expôs seu aprendiz a um ambiente de fato letrado.
Quanto as diferenças entre letramento e alfabetização é necessário alertar que, estes dois processos estão diretamente ligados, contudo, devemos separá-los quanto ao seu abarcamento, devido as suas distinções já mencionadas anteriormente. Há verificações de que a concepção de alfabetização também reflete diretamente no processo de letramento. Por outro lado, o que também se observa é que , com frequência, estes dois de maneira confusa têm sido fundidos como só um processo.
Para concluir, é preciso que fique bem clara a seguinte questão: Se afirmamos que a alfabetização é algo que não tem um ponto final, então dizemos que ela tem um continuam, e ainda, poderíamos dizer que este é o letramento. Com isto, acordamos que os dois processos andam de mãos dadas. Com isso foi exposto acima, é muito perigoso e porque não afirmar, um grande equivoco não só teórico como metodológico, estabelecer uma ordem, ou sequencia, entre a alfabetização e o letramento, pois são processos distintos porém indissociáveis.
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