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O JORNAL COMO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO  NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA

 

Fabiana Bernachi Batista[1]

 

RESUMO

Neste trabalho, faremos uma análise de como está o ensino da Língua Portuguesa voltada para o ensino médio, ressaltando a urgência na renovação das metodologias utilizadas nas aulas de Língua Portuguesa. Acredita-se que o jornal na sala de aula poderá ser um interessante instrumento de trabalho para o ensino/aprendizagem por proporcionar aos alunos o contato com a realidade em que vivem, desenvolver o senso crítico e também contribui para o  seu crescimento intelectual. Para sabermos se o uso do jornal na sala em aula pode se tornar um ótimo instrumento pedagógico fizemos um estudo de caso para alunos do 1º ano do Ensino Médio. Ao analisarmos os resultados obtidos com o projeto, tivemos a comprovação de que se o professor souber utilizar o jornal em suas aulas, ele terá um ótimo resultado em relação ao desempenho dos alunos.

Palavras-chave: Língua Portuguesa, Jornal, Ensino, Aprendizagem.

 

ABSTRACT

In this work, we will do an analysis of how is the teaching of Portuguese Language forward-secondary education, emphasizing the urgency to renew the methods used in the classes of Portuguese Language. It is believed that the newspaper in the classroom could be an interesting instrument of work for the teaching / learning by providing students in touch with reality in living, developing the critical sense and also contribute to the growth of intellectual. To know whether use of the newspaper in the classroom can become a great learning tool, applied a project for students of Year 1 of high school. In reviewing the achievements of the project, we had to prove that if the teacher knows use the newspaper in their classes, he will have a great result for performance of de students.

Keywords: Portuguese Language, Newspapers, Education, Learning.

 

INTRODUÇÃO

   A linguagem é um importante instrumento para que o indivíduo consiga se comunicar. O homem faz uso da linguagem desde pequeno, através do aprendizado adquirido em seu contexto familiar, através do que ele escuta do pai, da mãe... A escola tem uma importante participação na construção desta linguagem, principalmente nas aulas de Língua Portuguesa que tem como função garantir ao indivíduo o acesso a todas as linguagens.

        Este trabalho tem como proposta mostrar que a utilização do jornal na sala de aula poderá auxiliar no ensino/aprendizagem em aulas de Língua Portuguesa nas escolas.  Esta proposta é muito discutida por autores como Maria Alice de Oliveira Faria e Antônio Alberto Trindade, porém pouco utilizada por educadores e quem perde com isso são os alunos que deixam de aumentar o seu vocabulário, a praticar a leitura e interpretação a partir de textos que trazem fatos reais. 

Cabe ressaltar que com auxílio do jornal como instrumento pedagógico, o professor trabalhará com textos atualizados, podendo despertar no aluno o interesse pela leitura e a escrita, além de levar uma ampla variedade de gêneros para sala de aula.

 Este trabalho está dividido em três capítulos, no primeiro capítulo falamos sobre o ensino da Língua Portuguesa voltada para o Ensino Médio. Em seguida abordamos os Gêneros Textuais segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, depois falamos sobre como trabalhar com os diversos Gêneros textuais que encontramos no jornal. No segundo capítulo explicamos por que trabalharmos com o jornal em sala de aula, e como usar o jornal como instrumento pedagógico. No terceiro capítulo descrevemos a metodologia que utilizamos para realizarmos esta pesquisa, consta também o histórico da escola onde aplicamos o projeto, finalizamos o trabalho com a aplicação do projeto e análise dos resultados. O estudo de caso foi aplicado na escola estadual Rosa dos ventos e foi desenvolvido no 1º ano do Ensino Médio no período matutino.

Através da aplicação do projeto O jornal como instrumento pedagógico nas aulas de Língua Portuguesa. Pretendemos mostrar que ao utilizar o jornal o professor pode despertar o aluno para a leitura e escrita, além de incentivá-lo a fazer reflexões críticas sobre questões sociais, expressar sua opinião de maneira clara e objetiva, podendo também aguçar a criatividade, além de contribuir  para o seu crescimento intelectual.

 

1   O  ensino da Língua Portuguesa voltada para o Ensino Médio

 

            OS Parâmetros Curriculares Nacionais (2002, p.137) ressaltam a necessidade de mudanças para o ensino de Língua Portuguesa para o ensino Médio, “o estudo da língua materna  na escola aponta para uma reflexão sobre o uso da língua na vida  e na sociedade”,  Já que os objetivos de aprendizagem do ensino da Língua Portuguesa são o conhecimento e o domínio da linguagem, os PCNs (2002 p.136) afirmam que “a comunicação deve ser entendida como um processo de construção de significados em que o sujeito interage socialmente”.

Geralmente, as aulas de língua portuguesa não são bem quistas pelos alunos, muitos reclamam que as aulas são cansativas, que os professores trabalham apenas regras gramaticais, Bagno (2002 p.17) ressalta que “não podemos dar as costas a toda a contribuições lingüísticas modernas e continuar a ensinar de acordo com os preceitos e preconceitos da gramática tradicional”.  Tomando por base os PCNs podemos dizer que a escola ainda prioriza o ensino da Língua padrão, para aprender a ler e escrever corretamente, é preciso decorar as regras gramaticais da língua. Segundo Suassuna (1995 p. 91) “Ensinar apenas a Língua padrão significa negar a linguagem seus usos e funções, sua historicidade, sua natura ideológica”, sobre o ensino da língua materna os PCNs (p.141 2002) ressaltam que “A língua dever estar situada no emaranhado das relações humanas, nas quais o aluno está mergulhado, e não divorciada do contexto social vivido”.

 Luft também ressalta que:

Importante é ter bem claro que o aluno não precisa “aprender” a língua; precisa sim reforçar sua gramática implícita, internalizada na primeira infância, ampliá-la com elementos próprios do modelo culto padrão. E precisa aprender a ler e escrever, ter contato constante com bons textos, e descobrir, com o professor e toda a classe, as riquezas expressionais do seu idioma (1995 p.99).

 

            Infelizmente a escola perde muito tempo ensinando aos alunos as regras gramaticais da língua, e esquece que o aluno já conhece a língua materna, ele precisa apenas reforçar os seus conhecimentos adquiridos na infância.

Apesar de lingüistas, educadores e os PCNs oferecerem mudanças em relação ao ensino da Língua Portuguesa, essas mudanças caminham a passos lentos, e continua tradicional, principalmente no que diz respeito à leitura escrita e interpretação e produção de texto, pois geralmente, não existe o incentivo por parte da escola e professores.

           A produção e interpretação de texto são feitas de forma superficial. A maioria dos professores utiliza apenas os textos do livro didático para a interpretação e produção. Textos que não exigem do aluno uma leitura mais profunda. Segundo Antunes (1987 p.27) “a escola institui uma escrita pela qual tanto faz dizer-se isto ou aquilo,  contando que se observem os padrões da correção gramatical ou ortográfica”. Sendo assim, o aluno não tem interesse em debater, dialogar, questionar e explicitar as suas opiniões. Os PCNs (2002) afirmam a importância do diálogo e debates na sala de aula.  Assim, os alunos terminam o ensino Médio e chegam à faculdade sem saber como escrever uma boa redação, ou seja, as escolas ficam em busca de um “aperfeiçoamento” gramatical da língua e se esquecem que o objetivo das aulas de Língua Portuguesa é preparar o aluno para que ele possa fazer um bom uso da linguagem e consiga se comunicar.  Segundo Cagliari

Fornecer aos alunos condições para que possam entender o que é uma língua, quais as propriedades e usos que ela realmente tem, qual é o comportamento da sociedade e dos indivíduos com relação aos lingüísticos, nas mais variadas situações de suas vidas (1989 p.28).

 

         A maioria das escolas adota os manuais didáticos, e alguns professores utilizam apenas o livro didático em suas aulas. Estes livros muitas vezes trazem textos que não instigam o senso crítico do aluno e os professores não buscam outros recursos para que os alunos tenham uma outra visão dos conteúdos a serem estudados.

            Neves (2002) defende que o professor deve ser melhor que o autor do livro para que possa superar essa superficialidade que o livro traz, o professor deve preparar sua aula e não se  basear apenas no livro didático.

Luft afirma que:

O professor tradicional não se dá conta de que todo falante sabe sua língua, apenas precisa desenvolver, crescer, praticar em outros níveis e situações. Nunca ouviu falar em gramática internizada. Falta-lhe em geral uma formação lingüística mais seria, ou é mais cômodo restringir a currículos impostos e livros didático (1995 p.42).

 

Para que o professor consiga oferecer ao aluno um ensino de qualidade, ele não deve se acomodar tem sempre buscar novos métodos de ensino e deixar para traz o ensino tradicional da língua.

 

1.2 O estudo dos Gêneros Textuais

 

Os gêneros textuais constituem-se em uma família de textos que encontramos em nosso dia a dia. Marcuschi define os gêneros textuais como

os gêneros não são entidades formais, mas sim entidades comunicativas. Gêneros são formas verbais de ação social relativamente estáveis realizadas em textos situados em comunidades de práticas sociais e em domínios discursivos específicos (2005 p.25).

         

            A escola estava acostumada a trabalhar apenas com a tipologia textual que conhecemos como a narração, a descrição e a dissertação, através desse tipo de texto o aluno aprende apenas como estruturar um texto,  ele  não oferece ao aluno embasamento para que argumente, e consiga expor sua opinião.

          A proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (2002) é fundamentar o ensino da língua Portuguesa, tanto oral quanto escrita, na diversidade de gênero que existe fora da escola. Os gêneros textuais são inúmeros, mas podemos citar alguns exemplos como a carta, telefonema, romance, reportagem jornalística, horóscopo, resenha, receita culinária, piadas, charge e assim por diante. Já existe uma preocupação da escola em trabalhar com os gêneros textuais para auxiliar no ensino aprendizagem, por se tratarem de textos que fazem parte da vida diária do aluno, acredita-se que os gêneros textuais contribuam para que o aluno aprenda a argumentar e expor suas idéias de maneira objetiva. Segundo os PCNs (2002 p. 143) “os gêneros discursivos cada vez mais flexíveis no mundo moderno nos dizem sobre a natureza social da língua”. Segundo Bezerra:

O estudo de gêneros pode ter conseqüências positivas nas aulas de Português, pois leva em conta seus usos e funções numa situação comunicativa. Com isso as aulas podem deixar de ter um caráter dogmático e/ou fossilizado, pois a língua a ser estudada se constitui de formas diferentes e especifica em cada situação e o aluno poderá construir seu conhecimento na interação com o objeto de estudo, mediato por parceiros mais experientes (2005, p.41).

 

Trabalhar com textos diversificados na sala de aula pode ajudar a despertar no aluno o interesse pela a leitura, e pela produção de texto, além de motivá-lo a conhecer os variados gêneros textuais, e ir de encontro ao que se pretende: que o estudante  tenha acesso aos diversos tipos de saber.

 

1.3 Como trabalhar com os Gêneros textuais (jornais)

 

Dentre os textos informativos podemos trabalhar com os alunos, a leitura e produção textual, reportagens, notícias, colunas que contém os acontecimentos culturais da cidade (shows, palestras, cinema, saúde, horóscopo...). Os textos de opinião como artigo, resenha, entrevistas etc., podem ser bastante produtivo, porque estes textos são bastante argumentativos, e podem fazer com que os estudantes  participem mais da aula,  e desenvolva o seu senso crítico.

            Pode ser interessante utilizarmos a linguagem da Propaganda na sala de aula, uma vez que o anúncio publicitário possibilita ao professor trabalhar diferentes formas de linguagem além de estimular a criatividade do aluno. Quando o professor leva para sala de aula as charges, ele traz para sua aula os acontecimentos da sociedade seja político ou social, de uma forma criativa e divertida.

O jornal permite que o professor utilize vários exemplos para ilustrar a linguagem, e faz com que o aluno perceba a funcionalidade de cada gênero e a distinguir quando deverá fazer o uso adequado da língua para cada situação de comunicação, assim acreditamos que o estudo da língua fará sentido para ele.

Como falamos acima em um jornal encontramos diversos gêneros textuais que podemos utilizar em sala de aula, como Por exemplo, reportagens, editorial, textos de opinião, charge, história em quadrinhos, publicidade e classificados.

 

2 Por que e como  usar  o jornal na sala de aula?

 

É interessante que o professor repense a sua prática pedagógica, deixe de lado as velhas metodologias, e trabalhe com textos atuais, reflexivos, criativos e divertidos e que estes estejam presentes no dia a dia do aluno, facilitando o processo de ensino/aprendizagem. Por isso que o jornal pode tornar-se um instrumente cada vez mais freqüente na sala de aula.

 Os PCNs (2002 p.143), afirmam que “A língua, na sua atualização representa e reflete a experiência em ação, as emoções, desejos, necessidades, a visão de mundo, valores e ponto de vista.” O trabalho com textos que fazem parte da realidade do aluno poderá despertar nele o gosto pela leitura e pela escrita, além de desenvolver o conhecimento de mundo e o senso crítico do aluno.  Segundo Nagamini (2002 p.30) “a circulação do texto na escola pode contribuir para levar o debate à escola, sobretudo porque detectam a presença, mesmo que tímida de materiais não didáticos” Pode-se dizer que o jornal como material didático exigirá do aluno mais participação e criatividade durante as aulas. Viana (2002 p. 89) ressalta que “ignorar essa explosão cotidiana de atualidades, especialmente na escola de 1º grau, é optar por uma estratégia temerária”. O jornal possui uma diversidade de Gêneros Textuais que pode ser explorado em sala de aula, tanto para leitura e escrita contextualizada quanto para análise crítica, semântica e lingüística, entre outros aspectos.

    O professor que procurar trabalhar com textos atualizados, que não estão fora do contexto do aluno, tornarão suas aulas mais interessantes e menos monótonas, presas aos textos que algumas vezes são mal trabalhados no livro didático e nos textos literários.  Faria (1994 p. 7) ressalta que “a crise do ensino da língua portuguesa se prende, entre outros fatores, à permanência do uso exclusivo do texto literário em sala de aula”, ou seja, os professores estão acostumados a trabalhar com apenas um único gênero textual, esse não é o melhor caminho a ser seguido porque dentro de uma sala de aula encontramos diversos gostos de leitura, e dificuldade em compreender  alguns gêneros.

Segundo Dionísio:

[...] não se deve enfocar o ensino da produção (e da leitura também) de texto como um procedimento único e global, válido para qualquer texto, mas como um conjunto de aprendizagens específicas, pois os estudos aplicados mostram que muitas das dificuldades dos alunos são específicas de um determinado gênero textual  (2003 p.92).

 

O jornal pode ser um dos meios para atendermos a toda essa diversidade. É evidente a importância em utilizar diversos gêneros para um ensino mais amplo, satisfatório e eficaz. 

  Faria (1994 p.47) também afirma que o “jornal é importante não só para aprofundar o domínio da língua entre os alunos, como também desenvolver-lhes o espírito crítico e preveni-los sobre a ilusão da neutralidade do texto jornalístico, ou seja, o papel da escola e do professor não é apenas ensinar os alunos a ler e escrever, mas também formar leitores críticos, que saibam se colocar ativos perante a sociedade.

O jornal possibilitará que o professor utilize material que abrange múltiplas linguagens desde o português padrão ao coloquial. Com o jornal o professor poderá desenvolver os temas transversais, como meio ambiente saúde e ética. A através desta prática de ensino, poderá haver grande interação entre o professor, aluno, e sociedade, tornando o professor um mediador do conhecimento, deixando para trás o ensino tradicional, onde o professor é o único “detentor do saber”, dono de uma verdade absoluta, Freire conceitua esta  educação como  bancária.     

Na visão “bancária” da educação, o “saber” é uma doação dos que se julgam sábios aos que se julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão - absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual se encontra sempre no outro (1987 p. 58).

 

            Segundo Freire, para que possamos oferecer aos nossos alunos uma educação de qualidade, é preciso que o educador deixe de lado esta ultrapassada educação bancária onde “a educação se torna um ato de depositar, em os educandos são os depositários e o educador o depositante (1987 p.5)”. 

            Sabemos que a escola tem o papel de formar o cidadão. Mas infelizmente, o método tradicional de ensino não oferece ao aluno esta formação, Segundo Citelli (2001 p. 35) “a escola, enquanto instituição privilegiada no contexto da formação da sociabilidade, deve otimizar o seu papel, ampliando o conceito de leitura e de aprendizagem, equipando-se para entender melhor os significados e os mecanismos de ação das novas linguagens”.

Gómez afirma que:

É necessário exercer uma mediação que permite orientar a aprendizagem dos estudantes fora da aula, que permita recontextualizá-la, sancioná-la sob diversos critérios éticos e sociais, permitindo aproveitar o que de positivo oferecem os meios de comunicação, capitalizando para a escola a informação e as demais Possibilidades que esses meios nos trazem (1997 p.63).       

 

E o jornal dentro da sala de aula poderá contribuir para que o aluno continue a aprendendo mesmo fora do contexto escolar. Faria também ressalta que:

A escola, como instituição, é estabelecimento relativamente fechado e nela os alunos recebem (ou deveriam receber) instrução e formação. Dado o anacronismo, em parte inevitável, de sua estrutura e dos programas, os alunos ficam isolados da sociedade que evolui à sua volta. Um dos principais papéis do professor seria, pois, o de estabelecer laços entre a escola e a sociedade. Ora levar jornais/revistas para a sala de aula é trazer o mundo para dentro da sala de aula (1996 p.11).

            Os questionamentos e reflexões sobre o jornal na sala de aula são freqüentes em palestras pedagógicas e percebemos que a escola está mais flexível em relação à circulação de outros textos na escola, segundo Libâneo (1998 p.63)  “Numa sociedade caracterizada pela multiplicidade de meios de comunicação e informação, não teria lugar para a escola convencional, a escola do quadro-negro e giz”. Pesquisadores como Maria Alice Faria acreditam que o jornal pode ser um ótimo auxílio nas aulas de produção e interpretação de textos, e através de leituras diárias seguidas de comentários reflexivos sobre a notícia que leram, o professor incentivam os alunos a lerem cada vez mais.  Segundo Faria (1996 p.11) “se a leitura do jornal for bem conduzida, ela prepara leitores experientes e críticos para desempenhar seu papel na sociedade”.

             O jornal impresso é um dos meios de comunicação mais importante e mais antigo da humanidade e sobreviveu a toda tecnologia do mundo moderno, Bond salienta que:

O jornalismo começou quando o homem aprendeu a escrever; o jornal surgiu quando o homem aprendeu a escrever em intervalos regulares. É esse elemento de prioridade que se destaca como característica básica do jornal e o distingue do mero escrito esporádico, mesmo que este trate de tópicos atuais (1962 p.49).

 

 Antes que o professor que utilize o jornal como instrumento pedagógico em sua aula, é importante que o professor estabeleça o primeiro contato do aluno com o jornal. Faria (1996 p.29) salienta que “antes de se fazer uma análise mais aprofundada do jornal e sua leitura crítica, bem como conduzir um jornal escolar, convém desenvolver atividades em que os alunos entrem em contato com os periódicos de forma solta e variada”. Para que o professor consiga alcançar seus objetivos com esta aula, é necessário aguçar a curiosidade dos alunos em relação ao jornal, permita que manuseiem o jornal, e conheçam toda a parte estrutural exterior e inferior de um jornal impresso. Para que os alunos compreendam a estrutura do texto jornalístico é importante que o professor explique as diferenças que existem em um texto jornalístico para um texto literal, explicar a eles  que os textos jornalísticos muitas vezes  não são escritos  na ordem cronológica, com começo, meio e fim,  os jornalistas escrevem  na ordem  chamada pirâmide invertida, ou seja, os redatores nem sempre respeitam a ordem de começo, meio e fim.

Depois passamos para a parte mais importante de um jornal que são as manchetes, explicando aos alunos que a Manchete é o destaque do título principal do jornal, que são compostas em letras grandes e geralmente na primeira página do jornal. As chamadas de um jornal é um pequeno resumo da matéria que vamos encontrar dentro do jornal, que serve para instigar a curiosidade do leitor para que ele leia a matéria toda.

No interior do jornal estão inseridos as notícias, as reportagens, as informações de editorias, os artigos, os classificados, os anúncios publicitários, e prestação de serviço e oferece também distração através de quadrinhos e charges. 

 Faria (1996 p.14) ressalta que “grande número de pessoas são levadas a acreditar que tudo o que vem no jornal é verdade ou é a verdade sobre o fato. Basta cotejar os títulos de uma mesma notícia em dois jornais diferentes para se pôr em dúvida esta crença. Dependendo da série que o professor for trabalhar é interessante que professor comente sobre a ética, a neutralidade e a imparcialidade do jornalista sobre a notícia, e quais os propósitos ideológicos, político ou social do jornal.

 

3 Materiais e Métodos

 

            Todos nós sabemos da importância dos meios de comunicação para a sociedade, pois através deles as pessoas têm acesso a todos os tipos de informação. O jornal na sala de aula possibilita trazer a escola para a realidade em que o aluno vive, e fará com que o aluno tenha uma visão atualizada das reais necessidades de sua sociedade, assim o aluno perceberá que o aprendizado vai além do muro da sua escola.  

            Faria (2004 p.11) afirma que “é importante a doação de textos jornalísticos como padrão de língua escrita escolar, substituição ao texto literário”. É por acreditarmos que o jornal é uma ferramenta indispensável dentro da sala de aula, que propomos aplicar um projeto, para sabermos se os nossos objetivos e expectativas seriam alcançados.

            Começamos a aula, perguntando aos alunos quem tinha costume de ler jornal, ou se já leram alguma vez, as respostas foram quase unânimes a maioria dos alunos não tinha sequer pegado em um jornal para ler, ou apenas folheá-lo por curiosidade. Explicamos aos alunos qual a importância de um jornal e sua finalidade na sociedade. Como eles não conheciam o jornal, explicamos a eles a diferença de um texto jornalístico para um texto literal. Para uma melhor compreensão, nós entregamos aos alunos alguns textos impressos para que eles percebam as diferenças entre os textos.

            Depois nós entregamos aos alunos dois jornais locais, o Diário Regional, A Gazeta, para que os alunos sintam o prazer de manusear um jornal, e como a maioria estava pegando pela primeira vez em caderno de jornal, foi interessante este momento de conhecimento.

            Em seguida pedimos aos alunos que escolhessem um texto que mais lhe interessasse, lesem a reportagem, refletissem sobre o assunto e depois socializassem com os colegas da sala. Segundo Orlandi (2003 p. 95) “não é dado ao aluno espaço para que ele reflita sobre a leitura, todas as respostas são dadas antes que os alunos respondam”. Depois que os alunos estavam mais familiarizados com o jornal, já tinham lido e socializado a reportagem com os colegas, finalizamos a aula com uma produção textual, da reportagem que eles leram. Segundo a Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG     

O discernimento dos critérios (das razões) subjacentes às afirmações de um texto, bem como a reflexão sobre as justificativas que sustentam a adesão a determinado ponto de vista são exercícios que favorecem concomitantemente a produção de textos e o desenvolvimento do senso crítico (2003 p. 66).

 

O texto jornalístico contribuiu para que os alunos escrevessem de maneira uma clara e objetiva, e conseguissem ressaltar no texto o seu ponto vista sobre  a matéria que leram.

           

3.2 Aplicação da Pesquisa: análise dos resultados

 

O jornal como instrumento pedagógico nas aulas de Língua Portuguesa voltada para o Ensino Médio, tem com objetivo mostra que trabalhar com textos atuais e inseridos no dia a dia do aluno, contribui para tornar as aulas mais criativas, participativas e reflexivas, pode despertar no aluno o gosto pela leitura, além de auxiliar para o desenvolvimento crítico do aluno.

Sabemos que o trabalho com o jornal na sala de aula é um processo lento, em que o professor tem que inserir o jornal aos poucos na sala de aula, para que os alunos se familiarizem com o jornal. Mas como o tempo para aplicar o projeto foi curto, trabalhamos os pontos que achamos mais importante para a sua realização. Faria (1996 p.17) salienta que os professores devem tomar cuidado com “os inúmeros perigos que podem advir de sua utilização mal feita, é necessário que o professor tenha seus instrumentos pedagógicos afiados para empreender esta tarefa”, ou seja, o professor tem que saber utilizar o jornal em sala de aula, o jornal deve ser um auxílio em suas aulas, e o professor deve estar preparado para recorrer a outros instrumentos pedagógicos caso esta não de certo.

Através da aplicação da pesquisa na “Escola Estadual Rosa dos Ventos”, tivemos a comprovação de que o jornal pode auxiliar o professor em suas aulas principalmente na leitura, interpretação e produção de texto.  Antes de começarmos a aula, explicamos aos alunos que como seria a aula, explicamos que a aula exigia leitura, a principio eles não gostaram muito da idéia, falaram que ler era muito chato e que não gostavam de ler, mas dissemos a eles que seria uma leitura sem compromisso. Quando entregamos os jornais aos alunos, foi um momento muito interessante, aqueles mesmos alunos que antes haviam dito que não gostavam de ler, estavam todos compenetrados com um jornal na mão, manuseando-o , e muito dos alunos  pela primeira vez. Todos os alunos leram um texto, cada um deles encontrou no jornal um texto que mais lhe agradara para ler, alguns escolheram ler sobre a violência, outros leram sobre a política da cidade, sobre a saúde pública e sobre esportes, Silva (2004 p.12) afirma que “O ato de ler é fundamentalmente, um ato de conhecimento”, ou seja, através da leitura conhecemos o mundo que está em nossa volta. E podemos dizer que trabalhar com textos atuais que fazem parte do dia a dia do aluno contribui para que os eles se interessassem mais pela leitura, Wornicov ressalta que:

A leitura, porém, somente terá valor quando for motivada a atender as necessidades do leitor. A aquisição da habilidade de ler tem seu valor grandemente diminuído, quando se torna um simples mecanismo sem nada a acrescentar de importante à vida e ao crescimento do leitor (1986 p.04).

 

Além do jornal em sala de aula despertar o aluno para uma leitura mais contextualizada, também contribuiu para a interpretação e produção de texto porque os alunos já tinham um conhecimento prévio do assunto que eles leram, eles já tinham ouvido falar do determinado assunto que leram, seja em casa, na televisão, ou na escola através de  comentários de seus colegas, por isso os alunos  não tiveram dificuldade em expressarem suas opiniões e  produzirem bons textos.  Segundo Dell’Isola (1997 p.89)  “Para produzir um texto, é preciso que os alunos tenham, algo para dizer e queiram dizê-lo para alguém e que o faça colocando-se como sujeito de suas palavras”, mas esta troca de conhecimentos  não acontece na sala de aula, muitas vezes a produção de texto é feita no “vazio”, os alunos não sabem o que escrever, não conhecem o assunto que foi proposto para produzirem o texto, ou seja, o professor pede ao aluno para que ele escreva, mas não oferece-lhe  meios para que ele possa produzir um bom texto. Sobre produção de texto  Geraldi ressalta que:

A produção de texto, é, portanto um processo interativo em bailam vários pares: aluno-aluno, aluno-professor, aluno-corretor ou vice-versa, os quais, dissonância ou não formalizam uma corrente sangüínea de escritores-leitores e o exercício  construtor da crítica, da autocrítica e da responsabilidade com a própria escrita (2000 p.141).

 

Através do jornal como instrumento pedagógico nas aulas de Língua Portuguesa, conseguimos fazer com que os educandos expressassem suas opiniões e socializassem com a sala as suas reflexões em relação ao texto que leram. Geralmente os professores não abrem um espaço em suas aulas para que haja a interação entre o aluno o professor, ou para que os alunos possam expressar as suas idéias e opiniões sobre determinado assunto, e o professor como mediador do conhecimento deve estar sempre atento às necessidades do aluno, incentivando e estimulando o aluno a buscar novos conhecimentos, Freire (2002 p. 47) revela que “às vezes, mal se imagina o que pode passar a representar na vida de um aluno um simples gesto do professor. O que pode um gesto aparentemente insignificante valer como força formadora ou como contribuição à do educando por si mesmo”, ou seja, o estudante precisa do incentivo da escola e do professor para o seu desenvolvimento crítico, Caporalini (1991 p.127) também afirma que “a relação professor-aluno deve ser uma relação estimulante, no sentido de permitir e ajudar o crescimento do estudante como ser humano, é imprescindível que o professor assuma sua posição como orientador de sua evolução”.

               Através da aplicação da pesquisa comprovamos que o jornal na sala de aula, pode incentivar os alunos a lerem mais, a produzirem textos mais contextualizados, contribui também para a formação crítica do aluno enquanto cidadão. Podemos afirmar que foi uma experiência válida, pois os resultados obtidos na pesquisa foram positivos, porque foram ao encontro dos objetivos propostos.

 

CONCLUSÃO

 

O ensino de Língua Portuguesa tem como principal objetivo oferecer ao aluno o conhecimento e o domínio da linguagem, possibilitando assim que estudante  consiga comunicar - se  com clareza, em qualquer situação do seu cotidiano.

 O ensino de língua portuguesa voltada para o ensino médio prioriza a leitura, interpretação e a produção de texto, mas sabemos que a leitura é pouco praticada na sala de aula. Os alunos não gostam e nem se interessam pela leitura. Os fatores que contribuem para o fracasso da leitura na sala de aula são inúmeros, podemos dizer que os alunos não foram incentivados a ler desde pequenos ou porque a escola não incentiva a leitura apenas pelo prazer em ler, e sim pelo dever. Por se tratar do ensino Médio, os PCNs sugerem que a escola trabalhe a diversidade de gêneros textuais na sala de aula, a fim de prepará-los para o vestibular. 

 Para que o professor consiga trabalhar na sala de aula esta diversidade de gêneros textuais que existem fora da escola, propomos que o professor utilize o jornal como instrumento pedagógico para o ensino/aprendizagem nas aulas de Língua Portuguesa porque o uso do jornal na sala de aula possibilita que o professor trabalhe com textos reais e atualizados. O professor promoverá aulas mais participativas e produtivas, além de despertar o senso crítico do aluno e levá-lo a interagir com o seu meio social.

Portanto podemos dizer que o jornal como instrumento pedagógico em sala de aula contribui para o ensino de Língua Portuguesa. Constatamos também que o jornal na sala de aula foi o diferencial, em uma aula onde trabalhamos a leitura, interpretação e a produção textual do gênero jornalístico. Podemos dizer que a aplicação da pesquisa trouxe credibilidade ao nosso trabalho, e contribuíram para que os nossos objetivos propostos fossem alcançados.

 

 

 

 

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[1] Licenciada em Letras Português  e cursando  a Pós- Graduação em Metodologia do ensino.