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A migração e a construção de um novo lugar pelo migrante na visão dos pioneiros Itaubenses

 

Caroline di Laura Battisti[1]

Sirlei Anzolin Battisti[2]

 

RESUMO

Este trabalho de pesquisa está voltado para uma reflexão sobre a visão dos pioneiros de Itaúba-MT quanto à formação de um novo lugar, dentro de uma análise de como se deu o processo de colonização e migração deste município, bem como a colonização do Mato Grosso. Como se deu o processo de migração? Se houve a construção de um novo lugar pelo migrante? Qual foi no papel do Governo? E das Cooperativas? Tomamos como parâmetros no desenvolvimento deste trabalho de pesquisa a análise das respostas às entrevistas aos pioneiros e pesquisa bibliográfica. O trabalho foi desenvolvido através de pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo com base em dados qualitativos onde obtivemos informações concretas que nos deram suporte no trabalho desenvolvido. Uma vez que nossos objetivos eram de verificar se houve a construção de um novo de lugar pelo migrante, e as reais condições desse lugar, como foram incentivados a vir para cá. Hoje podemos dizer que possuímos uma visão mais ampla sobre como se deu a colonização de nosso Estado e a importância de nossa prática pedagógica.

Palavras-chave: Migrante. Colonização. Construção. Itaúba.

 

ABSTRACT

This research is aimed to reflect on the vision of Itaúba-MT pioneers as the formation of a new place, in an analysis of how was the process of colonization and migration of this municipality as well as the colonization of Mato Grosso . How did the migration process? If there was the construction of a new place by the migrant? What was the role of government? And of Cooperatives? We take as parameters in the development of this research the analysis of the interviews to the pioneers and literature. The work was developed through literature and field research based on qualitative data which we obtained concrete information that gave us support in their work. Once our objectives were to determine whether there was the construction of a new place by the migrant, and the actual conditions that place, they were encouraged to come here. Today we can say that we have a broader vision of how was the colonization of our state and the importance of our educational practice.

Keywords: Migrants. Colonization. Construction. Itaúba.

 

INTRODUÇÃO

Este trabalho faz parte de um estudo da área de História na Modalidade Licenciatura para os anos finais do Ensino Fundamental do Núcleo de Educação Aberta e a Distância da UNICIC/UNIASSELVI.

O curso tem por objetivo uma formação acadêmica de qualidade que propõe desenvolver nos alunos - professores formação teórica e metodológica, contribuindo para um processo educativo escolar em suas múltiplas inter-relações pedagógico, histórico, social, econômicas, políticas, culturais.

O presente trabalho se propõe a fazer uma reflexão sobre o processo de migração e colonização e a construção de um novo lugar pelo migrante, do município de Itaúba - MT, tendo como base a leitura e discussão dos fascículos, paralelamente a leituras complementares, pesquisas e entrevistas com sete moradores pioneiros, sendo destes três homens e quatro mulheres, visando uma compreensão dos conceitos balizadores da ciência geográfica: espaço, território, paisagem, lugar e ambiente, abordados no estudo destas disciplinas e como os mesmos podem ser observados e vivenciados no nosso dia-a-dia.

O trabalho foi realizado através de pesquisas bibliográficas fundamentadas em dados qualitativos, onde foram analisados e comparados às respostas obtidas por meio de entrevistas e os conceitos abordados nos fascículos e em leituras complementares fizeram um estudo intensivo e descritivo procurando obter informações concretas.

O texto final foi fundamentado nas ideias e concepções de autores como: Ferreira (2001), Barcellos (2001), Souto (2000), Cardoso ( 1989), Antunes (2000), Siqueira (2000), Pannuti (2002), Oliveira  (1994), Castro (20002), Santos (1996).

 

DESENVOLVIMENTO

 

A Colonização de Mato Grosso entre as décadas de 1970 e 1980

Para compreender melhor o processo de migração no contexto histórico de Mato Grosso e o fluxo migratório do município de Itaúba, necessitamos conceituar estes dois processos; a colonização e a migração.

A colonização da região Norte de Mato Grosso deu-se durante as décadas de 1970 e 1980 com o propósito de assegurar as fronteiras agrícolas e acelerar o processo de ocupação do espaço considerado “vazio”, porém nesses espaços haviam os seringueiros, pescadores que eram a população ribeirinha que tinham como principal atividade a “pesca” e os índios que habitavam as inúmeras áreas que seriam ocupadas. Aconteceram muitos conflitos entre brancos e índios, pois existiam e existem muitas discriminações e massacres nesta região como em outras regiões do país. Como afirma Souto (2000):

 Não sei se por ignorância, por desprezo, simplesmente, para dar um nome as coisas, pois para muita gente nós somos apenas uma coisa. Essas palavras vão contar para vocês a última parte do drama, que nós estamos vivendo, desde que os homens de outras raças, de outra cultura, de outro mundo puseram os pés em nossa terra. O homem branco, aquele que se diz civilizado, pisou duro não só na terra, mas na alma do meu povo, e os rios cresceram e o mar tornou mais salgado porque as lagrimas da minha gente foram muitas.(SOUTO, Apud. RONDON, 2000. p.47).

Como o próprio autor diz, sabemos que os que aqui chegaram não levaram em consideração os povos que eram habitantes deste lugar. Expulsando e até mesmo assassinando muitos deles. Grande parte desses índios hoje se encontram confinados em uma reserva indígena que é destinadas a diversas etnias,  “ NO PARQUE NACIONAL DO XINGU”.

 A ocupação de Mato Grosso foi semelhante a ocupação do Brasil que foi de forma desorganizada, havendo muitas promessas enganosas. Onde não tinham conhecimento do clima e do solo, que causou sérios sofrimentos aos migrantes que aqui chegaram. Esse processo de colonização foi um fracasso, por não atender as necessidade da classe menos favorecida que necessitavam de suporte para uma sobrevivência digna.

            Hoje, tanto em nível de Brasil como de Mato Grosso existem sérios problemas sociais, econômicos, políticos e ambientais. Sendo que a posse de terras era um dos mais graves problemas do País e o Estado de Mato Grosso não é diferente.

            Dentro deste contexto o Estado de Mato Grosso se resume em: exploração no sentido de busca, abertura, conhecimento, ocupação e muita lutam.

            Segundo Pannuti (2002, p.72), “havia as florestas e rios e também o sonho de centenas de trabalhadores, idealizados pelo fascínio e pela possibilidade de encontrar  em terras mato-grossenses melhores condições de vida”.

            Os estudos de história nos mostram que no período de 1970, no governo general Emílio Garrastazu Médici, foi lançado o Plano de Integração Nacional (PIN), para povoar os imensos “espaços vazios”, da região para que a Amazônia fosse povoada, seria fundamental investir em obras e infraestrutura: ferrovias, rodovias, colonização, reforma agrária etc. Foram construídos dois grandes eixos rodoviários: a Trans. - Amazônica e a Cuiabá – Santarém, que ligariam a Amazônia ao resto do País. Com esse projeto o governo brasileiro esperava transferir cerca de trezentas mil famílias, principalmente nordestinas para as margens desta rodovia, no entanto até 1974, foram assentadas apenas seis mil famílias. Com o fracasso dessa investida o Governo Federal estimulou a instalação dos chamados projetos de “colonização empresarial” e de colonização privada em Mato Grosso concentrou o maior volume de recursos nas décadas de 1970/1980, em projetos empresariais destinados aos Estados da Amazônia Legal.  

            Segundo Oliveira (1994):

O sonho não se concretizou. Os forasteiros sucumbiram às dureza da vida na floresta, ao confronto com os índios, à malária, ao solo pobre, enfim a uma região inóspita para viver. Os índios sucumbiram às doenças, ao confronto e aos costumes trazidos pelo branco, além de terem seu habitat destruído pelo “progresso”. E boa parte das estradas sucumbiu à força da natureza, tomada novamente pela selva. Desde o seu inicio, a SUDAM (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia) não foi uma história de sucesso. (OLIVEIRA,1994, p. 98)

 Para compreendermos o processo migratório em Mato Grosso é de fundamental importância conhecer como se deu sua colonização, como já foi dito anteriormente o Governo tinha como objetivo colonizar os “espaços” “vazios” e integrar Mato Grosso ao resto do País. Foram experimentados vários Projetos de Assentamentos Dirigidos como nos mostra          a autora a seguir.

“Diversos modelos foram testados, como os Projetos de Assentamentos Dirigidos (PADs), os Projetos de Assentamento Rápido (PARs), os Projetos Especiais de Colonização ( PECs), os Projetos Especiais de Assentamentos, (PAES), e os Projetos de Assentamento Conjunto (PACs)”. ( PANNUTI, 2002, p.33)    

Com relação aos Projetos de Colonização que podemos destacar, promovido pelo Governo Federal citamos os principais conforme afirma Castro e Teal (2002.p 67): “Terra Nova 1978; Peixoto de Azevedo 1980; Ranchão 1980; Braço Sul 1981; Carlinda e Lucas do rio Verde 1981”.

As cooperativas tornaram-se instrumentos do Governo Federal e veículo e suas políticas agrárias.

A colonização oficial não cumpriu seus compromissos, não acompanhou a demanda de terras por parte dos trabalhadores, não ofereceu condições mínimas como: transporte, estradas, escolas, hospitais, centro de saúde e financiamentos.

Com todos esses problemas e sem condições para trabalhar na agricultura, fizeram com que muitos agricultores deixassem sua lavoura para trabalhar no garimpo. Muitos garimpavam em seus próprios lotes, depois de desmatados, riachos desviados e poluídos eles os abandonavam.

No estado de Mato Grosso a colonização social não deu resultado esperado. Houve muito abandono e vendas de lotes pelos colonos. Houve também muita violência, corrupção, grilagem, e vendas ilegais. A questão agrária continua sendo um dos grandes problemas nacionais.

O Brasil vivia uma época de mudanças políticas e agitação social, passava por uma transição de Governo (sai Géiser e entra Figueiredo). Como mencionamos anteriormente as diretrizes econômicas voltam-se para o campo. O INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), buscavam  formas mais racionais e mais produtiva de colonização, cria então uma nova metodologia onde as tarefas e os custos seriam divididos entre a iniciativa privada e o poder Público Federal, dessa forma o governo jogou para as Cooperativas e sindicatos a responsabilidades de solucionar a questão da terra. Simplesmente mostrava as possibilidades de áreas disponíveis e as cooperativas e sindicatos faziam o resto do trabalho como cita Castro (2002.p.48). “O trabalho de “convencimento” e seleção dos trabalhadores rurais que seriam transferidos para a área do Projeto seria de responsabilidade das cooperativas e dos sindicatos”. Dessa forma o Governo evitou atritos diretos com os colonos colocando a responsabilidade de fracasso ou êxito nas mãos das cooperativas.

Se por um lado, expandir a fronteira Agrícola representava para o Estado ocupar os “espaços vazios” e acumular capital, para o pequeno trabalhador essas terras seriam as possibilidades de um meio de subsistência, acreditavam ser a solução de seus problemas econômicos. Seriam proprietários de grandes extensões de terras e teriam heranças para seus filhos, mas ao conhecermos o desfecho da história, vimos que as coisas não aconteceram como os colonos esperavam, as promessas feitas pelas cooperativas de que teriam a infra-estrutura adequada, eram as mesmas que decidiam o que plantar, levando em conta as necessidades do mercado europeu. Também tiveram problemas de transporte e armazenamento dos grãos, solo sem qualidade, relevo difícil, doenças como a malária que chegou a matar várias pessoas, muitos queriam voltar, mas não podiam pois tinham se desfeito de tudo o que possuíam,  para vir em busca do sonho da posse da terra tão desejada.

Foi esse avanço de dominação capitalista que a Amazônia passou a ser considerada e integrada ao processo global. Estabelecidos após a guerra mundial. Como fronteira nacional.

 

Colonização: A História e a Geografia do município de Itaúba.

Como afirma Ferreira (2001), em seu livro Mato Grosso e seus municípios, a formação histórica do município de Itaúba está vinculada a vários processos migratórios da década de 70, época em que se deu início à construção da Rodovia Federal Br 163 – Cuiabá / Santarém, e da instalação da Base Aérea da Serra do Cachimbo. A referida rodovia tinha como principal finalidade promover a ocupação da região Norte do Estado de Mato Grosso e adaptar seu desenvolvimento agropecuário, além de permitir a exploração e seu potencial madeireiro.

Muitas expedições atravessaram a região, desde o século XIX, até meados deste século, com interesses científicos, hidroviário e econômico, nas diversas fases da borracha.

O Estado de Mato Grosso vendeu dois títulos de terras a Benedito de Andrade, onde atualmente se situa a cidade de Itaúba. Os referidos títulos recebiam a denominação de “Selvagem” e “Trindade”. Portanto foram esses os nomes primeiros com que o lugar ficou conhecido. Segundo (Ferreira 2001.p.477), a origem do nome de Itaúba é Tupiniquim ITA = pedra + YWA = arvore, que significa árvore dura como pedra, escassa na região nos dias atuais”.

Segundo Ferreira (2001.p.477), “Estas terras passaram por diversos donos que não pretendiam permanecer na região e colonizá-las, o interesse era obter lucros imediatos com a compra e venda de terras”.

Em 1973, Adelino Bedin e seus dois irmãos (Ildo e Ivo), adquiriram as terras a fim de explorar o beneficiamento de madeiras para em seguida abrir pastagens.

 A cidade de Itaúba originou-se de um grupo precedente de Ouro Verde, distrito de Abelardo Luz, Estado de Santa Catarina, os Irmãos Bedin, que adquiriram uma grande área de terras que pertencia ao Município de Chapada dos Guimarães.

Não encontrando pessoas capacitadas na região para realizar as tarefas os Irmãos Bedin viram-se a necessidade de buscar trabalhadores no Sul do país, na sua terra natal.

Vieram então junto aos Irmãos Bedin alguns desbravadores dentre eles: o Senhor Erci Vicente dos Santos, que derrubou a primeira árvore em Itaúba Getúlio Gilioli (in memorian), Jorge Strapazzon (in memorian), João Pelechatti e outros.

O progresso não tardou em se fazer presente, tanto que em 18/12/1977, foi criado o Distrito de Itaúba, pela Lei n.º 4.158, sancionada pelo então Governador Dr. José Garcia Neto. Fazia Itaúba parte do longínquo município de Chapada de Guimarães, dentro do cujo imenso território também estava Colíder (Colonizadora Líder Ltda.), ainda não emancipada. A emancipação política de Colíder se deu em 18/12/1979, pela Lei n.º 4.158 passando então Itaúba a integrar aquele novo município como seu único distrito.

A criação do município se deu pela Lei n.º 5.005/86, de 13/05/1986, com terras desmembradas do município de Colíder, Diamantino e Sinop. A referida Lei foi sancionada pelo Governador Dr. Júlio José de Campos. Antes, porém, da aprovação da lei n.º 5.005, foi autorizada a realização de um plebiscito, conforme Decreto Legislativo n.º 2649, de 10/04/1986, assinado pelo deputado Roberto Cruz, então presidente da Assembléia Legislativa do Estado (Lei Orgânica Municipal, 1990, p. 07)

 

Emancipação político administrativo de Itaúba

Conforme afirma Ferreira (2001, p. 477), em seu livro, Mato Grosso e seus municípios, “A formação do município de Itaúba, deu-se a partir da primeira eleição em 15/11/1986, alguns municípios recém criados, como era o caso de Itaúba, elegeram seus primeiros Prefeitos, escolhidos pelo povo, na voz soberana das urnas”. O primeiro prefeito de Itaúba foi o Sr. Eduardo Zeferino, com seu companheiro de chapa Carlos Alberto Carrara, como vice-prefeito. O primeiro Prefeito empossado em 01/02/1987 teve um mandato de apenas dois anos. Devido ter passado dois anos do mandato qual a ele pertencia, o mesmo foi eleito após um Plebiscito. Em 15/11/1988, Itaúba elegeu seu segundo Prefeito, o Sr. Carlos Alberto Carrara e como vice-prefeito o Sr. Mauri Xavier Lopes, a posse do novo prefeito, do vice e dos vereadores se deu no dia 01/01/1989. No ano de 1992, foi eleito o Prefeito o Sr. Levino Heller, tendo como vice o Sr. Alfredo Alves de Oliveira Filho, sendo empossados no dia 01/01/1993. No ano de 1996, foi eleito o Sr. Valdir Donato e como vice-prefeito o Sr. João Alberto Zanetti, que governou o município até 2000, sendo reeleito e tendo como vice na Segunda gestão o Sr. Alexandre Granoski. Em 2004 foi eleito o Sr. Levino Heller e tendo como vice o Sr. Demeval Lemes Silva que estão administrando o município até os dias atuais.

As razões da migração além da grande riqueza representada pela madeira e pela qualidade excelente de suas terras, com uma pecuária pujante em crescente expansão, nota - se também um grande desenvolvimento na agricultura, principalmente no cultivo de soja, arroz e milho.

 

Geografia de Itaúba

O município de Itaúba se localiza na mesorregião norte mato-grossense pertencente à microrregião de Sinop., com área de 6.215.35 km², os municípios que fazem divisas com Itaúba é respectivamente os citados: Ipiranga do Norte, Nova Santa Helena, Sinop., Cláudia, Colíder, Nova Canaã do Norte e Tabaporã, população atual de Itaúba, senso 2007, 4575 habitantes. A distância entre Itaúba e a capital Cuiabá, por via asfaltada é de 568 km, com coordenadas geográficas da sede do município de 10º 59’ 35” latitude Sul, 55º 14’ 30” longitude Oeste Gr e altitude 390 metros em relação ao nível do mar.

 O relevo do município de Itaúba é muito diversificado com áreas planas, onduladas e levemente acidentadas. A classificação do solo é apresentada como terra roxa estruturada, podzólico, vermelho-amarelo e latossolos vermelho-amarelo. Apresentando Planalto Residual Norte mato-grossense, Serra do Cachimbo e Serra dos Caiabis. (MIRANDA, 2001, p. 56).

 

Segundo Ferreira (2001,p.477), “Clima  é equatorial quente e úmido, com temperaturas médias de 24 C, com 3, (três) meses de seca, de junho à agosto. A precipitação pluviométrica é entorno de 2500 mm. atual, nos meses de janeiro, fevereiro e março”.

O município possui um bom potencial hídrico. Seus rios são de pequena e média extensão. Destaca-se a grande bacia do Amazonas. Para esta bacia contribuem a do Rio Teles Pires que recebe pela esquerda o Rio da Saudade e pela direita o rio Peixoto de Azevedo e no município de Itaúba o Rio Renato, Córgão e Parado são seus principais afluentes.

A economia do município baseia-se no extrativismo vegetal, pecuária intensiva e extensiva, com sistema de cria, recria e engorda. Na agricultura as culturas principais são: arroz, a soja, o milho, segundados por culturas de subsistência.

A partir deste contexto histórico documental, realizamos a pesquisa de campo com pioneiros que sob a sua visão, nos forneceram dados que muitas vezes são ocultos nos documentos oficias.

Sendo assim, a próxima parte deste estudo, estaremos contextualizando e analisando o processo histórico do município conforme os depoimentos dos pioneiros desta cidade.

 

Análise dos dados obtidos nas entrevistas com os pioneiros do município de Itaúba

Em nosso trabalho procuramos fazer uma reflexão sobre, a forma que se deu o processo de migração e colonização no município de Itaúba-MT. Foram entrevistados sete moradores do município que nesta cidade por volta da década de setenta. Indivíduos, considerados antigos moradores e fundadores do local, quatro do sexo masculino e três do sexo feminino. Nos quais os resultados das entrevistas serviram de fundamentação e subsídio para análise do nosso trabalho. Nossa análise foi qualitativa, onde nos baseamos nos conteúdos pesquisados, quanto às respostas obtidas, fazendo sua interpretação a partir do referencial teórico que possuímos.

Realizamos nossa pesquisa com os pioneiros sob sua visão na construção de um novo lugar.

Como já mencionamos foram entrevistados sete pioneiros. O entrevistado “A,[3] era empresário do setor   madeireiro, a entrevistada B, veio acompanhando seu marido e hoje é enfermeira do posto de saúde municipal, a entrevista C, veio acompanhando uma família e trabalhar na casa da mesma, a entrevista de D, veio acompanhando sua família, o entrevistado E, veio com sua família a convite de um amigo, a entrevistada F, veio acompanhando seus pais, o entrevistado G, veio a convite do empresário A.

Abaixo estão relacionadas às questões e as respostas que obtivemos nas entrevistas:

Questão 1[4]: Em que ano que eles vieram para esta região?

 

Entrevistada A: veio em 1973.

Entrevistada B: veio em 1974.

Entrevistada C: veio em 1974.

Entrevistada D: veio em 1976.

Entrevistada E: veio em 1978.

Entrevistada F: veio em 1980.

Entrevistada G: veio em 1980.

 

Questão 2: De que forma e porque decidiu vir para o Mato Grosso ?

 

 Entrevistado A: Minha família atuava no ramo madeireiro e devido ao esgotamento das reservas florestais na região Sul, e com a abertura da Rodovia BR163, e a Transamazônica novas oportunidades surgiram nesta região. Então nossa família resolveu adquirir áreas com madeira para explorar, o objetivo era instalar uma madeireira para dar continuidade aos negócios e nas áreas exploradas, formar pastagens para a criação de gado”.

 

Entrevistada B: “Meu esposo trabalhava com o grupo Irmãos Bedin . Decidimos vir morar para Ter melhorares condições d financeiras”.

 

Entrevistada C: “De carro decidi vir para conhecer, trabalhar e morar com uma família que vieram na mesma época”.

 

Entrevistada D: “Nos viemos para Mato Grosso juntamente com a mudança em cima do caminhão para adquiri mais terras e melhorar as finanças”. 

 

Entrevistado E:De ônibus, a convite de um amigo para gerenciar a fazenda e cuidar do gado, trabalhei 18 (dezoito) meses”.

 

Entrevistada F: “De ônibus, inclusive de Cuiabá até o município levava dez dias, divido as estradas ser de chão e ser período chuvoso, a BR 163, não oferecia segurança para o trafico até mesmo o ônibus que viajávamos tombou na estrada devido a lama e estava  muito escorregadia. Decidi vir acompanhar meus pais, que sonhava dar uma vida melhorar  para seus filhos isso foi uma ilusão viemos para uma fazenda para fazer a derrubada e formar pastagem, a pedido do proprietário essa fazenda continua com o mesmo nome ate hoje, (fazenda gato  preto). Meu pai sonhava em trabalhar e conseguir um pedaço de terra para plantar e garantir o futuro de seus filhos. Que éramos em oito filhos, todos ainda dependentes dos pais”.

 

Entrevistado G: “No decorrer do ano de mil novecentos e oitenta (1980), estava cursando o segundo grau, em nível técnico, estava me formando Técnico em Contabilidade e como aqui nesta região naquela época havia muita dificuldade de encontrar este tipo de  mão de obra os diretores do Grupo Bedin. Já conhecido de minha família, me propuseram ao final do curso vir para Itaúba e fazer uma experiência temporária, e trabalhar para suas empresas no ramo contábil e administrativo. E aceitei devido a dificuldade na época em continuar meus estudos. Achei que poderia me realizar profissionalmente e financeiramente nesta área de trabalho numa região que estava começando a se desenvolver.”

 

Questão: 3: Quais eram suas expectativas antes de vir para esta região e o que  encontrou quando chegou?

 

Entrevistado A: “Os acontecimentos foram de acordo com as expectativas, pois como não havia nada, somente a floresta, já sabíamos, que as coisas não seriam tão fáceis, como realmente não foram. Com relação aos negócios, também foram acontecendo dentro das expectativa, ou seja algumas dificuldade iniciais como falta de estradas, comunicação, estrutura, desconhecimento da região”.

 

Entrevistada B: “Expectativas, lugar novo vida nova. Era só mata, tivemos muitas dificuldades em acesso a outras localidade era tudo estrada de chão (sem asfalto)”.

  

Entrevistada C: “Imaginei encontrar aqui uma cidade organizada, realizar um sonho, de conhecer lugares diferente, porém, quando cheguei na metade do caminho tive vontade de voltar, mas consegui chegar aqui, a cidade não era muito bonita, havia apenas quatro o ou cinco casas de moradia, uma rodoviária, a BR 163, não era asfaltada, muito menos a cidade de Itaúba, não tinha energia, elétrica, nem telefone, comunicávamos com outras regiões através radio amador(px)”.

 

Entrevistada  D: “A expectativa antes de chegar era grande para conhecer a região e o que encontrei quando cheguei era, pura mata nenhuma cidade por perto”.

 

Entrevistado E: “Vim de ônibus, com muita dificuldade levou quatro dias de Cuiabá á Itaúba não tinha asfalto, os ônibus super lotados, ônibus que comportava 40 passageiros, trazia80, havia gente deitado no corredor. Após 40 dias voltei para buscar minha família, outra dificuldade trazer a mudança de caminhão com a família (esposa e 03 filhos pequenos)”.  

 

Entrevistada F: “Que aqui encontraríamos condições para melhorar de vida, o sonho de um pedaço de terra, dificuldades no acesso à outras localidades, mato apenas,  um mercado, não tinha hospital público, apenas 02 (dois) médicos particulares”.

 

Entrevistada G: “Conhecia muitas pessoas que já moravam aqui tinha uma noção como eram as coisas por aqui. Mas eu não tinha certeza de que ficaria tanto tempo. Achava que logo retornaria para continuar os estudos, etc..., mas gostei muito daqui e me adaptei rapidamente ao clima, ao lugar, às pessoas, ao trabalho e decidi ficar”.

 

Questão: 4:Quais foram as maiores dificuldades encontradas aqui?

 

 Entrevistado A: “Aquilo que foi respondido na pergunta anterior,  distância dos grandes centros, preço baixo da madeira, falta de estrada, comunicação, contratação de – mão de obra qualificada e vários outras situações, tais como: Incidência de doenças como malária e falta de hospitais...”

 

Entrevistada B: “Dificuldade para a saúde, alimentação, Sinop estava iniciando, era tudo em Cuiabá, tivemos muitas vezes malária etc”.

 

Entrevistada C: “Todas possíveis, falta de energia, água potável, saúde, transporte, comunicação”.

 

Entrevistada D: “As maiores dificuldades que aqui encontrei era a distância de uma cidade para outra pois não tínhamos carro dependia de ônibus que levava de sete a oito horas de Itaúba até Sinop, com pessoas doente procurando hospitais, porque a doença da época era a malária, as vezes não tinha o tratamento em Sinop as pessoas eram levadas para a cidade de Vera para o tratamento do mesmo. No último caso em Cuiabá para fazer transfusão de sangue”.

 

Entrevistado E: “Amizade. Não tínhamos amigos havia um pequeno hospital particular com dois médicos, uma farmácia, tinha dois mercados, um mercado inclusive mantido pelo Governo Federal que conseguia trazer mercadoria mais barato, após alguns problemas de abastecimento o dono do outro mercado pegava a mercadoria do mercado do Governo Federal e vendia em seu mercado, com esse problema foi fechado o mercado do Governo, começou a faltar até  mercadoria

 

Entrevistada F: “O grande problema foi o racionamento de alimento, pois os mesmos chegavam de avião, e devido as mas condições das estradas, mesmo quando vinham de transporte terrestre, as frutas e verduras chegavam estragadas, havia muito racionamento de frutas e verduras”.

 

Entrevistado G: No inicio, a falta de comunicação. Eu tinha dezessete, anos e de repente estava a, 2.300 km de minha família. É verdade que tinha muitos conhecidos até parentes aqui, mas de cara senti a falta da família. Então a gente se comunicava através de cartas que demorava cerca de quinze dias para chegarem ao destino. Não havia sinal de televisão, não tinha telefone, nada. Depois, com o progresso regional, o asfaltamento da Rodovia BR 163,  instalação de telefones  a vida começou a melhorar e aos poucos nossa cidade ficou inteiramente  integrada, facilitando a vida das pessoas”.

 

Questão: 5: Os seus sonhos foram realizados ?Justifique?

 

Entrevistado A:  “De uma maneira geral sim, porque conseguimos realizar quase tudo o que nos propomos no início, em certos casos, até superando as expectativas iniciais, já que não imaginávamos que seria fundada uma cidade que se tornaria um município posteriormente”.  

Entrevistada B: “Em partes, bens materiais mais ou menos, mas tive uma família maravilhosa que é a minha maior riqueza. O resto não importa”.

 

Entrevistada C: “Quando retornei em 1980 em busca de um sonho morar com meu marido, construir uma família”.

 

Entrevistada D: “Sim. Porque consegui realizar além da minha expectativa, que comecei trabalhar como uma pessoa leiga na escola e hoje sou professora formada com nível superior”.

 

Entrevistado E:  “Não, queria ficar rico e não consegui, trabalhei bastante trabalhava como pedreiro uma semana para na outra aplicar na construção da panificadora e minha esposa trabalhava como lavadeira numa lanchonete para ajudar no sustento da família, hoje tenho uma panificadora, consegui fazer meu pé de meia”.

 

Entrevistada F: “O sonho foi realizado pois,  meu pai conseguiu comprar suas terras e melhorar nossas vidas, porém passando oito anos que aqui chegamos, meu pai adoeceu, tivemos que vender tudo até mesmo suas terras para seu tratamento, não adiantou muito, pois mesmo com todo nosso esforço ele faleceu”.

 

Entrevistado G: “Sim, porque todo homem sonha em se realizar profissionalmente, financeiramente e construir uma família. Neste aspecto, sinto-me muito feliz pela família que constitui, pelo meu trabalho, afinal estou trabalhando na mesma empresa a 27 anos e muito embora não esteja totalmente realizado financeiramente, também não posso reclamar das oportunidades e das condições de vida atuais”.

 

Questão 6: Em algum  momento, você teve vontade de voltar? Porque não voltou ? Porque ficou?

 

Entrevistado A: “Não. Houve momentos mais difíceis, mais complicados, mas sempre tivemos em mente que a região propiciava os investimentos e que no tempo certo as coisas fatalmente aconteceriam”.

 

Entrevistada B: “Sim, quem não gosta de retornar a sua origem, porque construí minha família aqui. Filhos a gente não larga por nada na vida”.

 

Entrevistada C: “Não, a cidade foi crescendo e oferendo mais recursos, devido também ao trabalho do meu marido que era necessário ficar aqui, derrubava mato, no entanto foi ele que derrubou a primeira árvore aqui, não construímos fortuna, mas grandes amigos”. 

 

Entrevistada D: “Nem um momento tive vontade de voltar, porque consegui realizar um trabalho que não estava previsto”.

 

Entrevistado E: “No começo sim, mas não tinha como voltar, pois tinha deixado tudo para trás não vendi nada que tinha no Sul, após alguns anos tudo ficou melhor, tinha muitos amigos, festejávamos todo final de semana, comemorávamos os aniversários com muita festa, hoje acredito que devido à política, atrapalhou muito, separou os amigos, muitos foram embora, enfim a cidade ficou nisso, não festamos mais, comemoramos nossos aniversários apenas com nossos familiares, nós comemorávamos até mesmo as nossas caçadas dividíamos  tudo e festejamos”.

 

Entrevistada F: “Sim, no ano seguinte voltei para estudar em São Paulo meu lugar de origem, mas não consegui  permanecer  lá pois sentia a falta da minha família, preferi deixar de meus sonhos de estudar para mais tarde e ficar com minha família. Após alguns anos mais tarde consegui dar continuidade em meus estudos, fiz magistério, depois pedagogia e pós- graduação  em psicopedagogia. “Hoje estou realizada com meus estudos”.

 

Entrevistado G: “Antes de casar por volta do final de 1982, quase voltei. Não por causa de Itaúba, mas devido as questões profissionais, etc., mas depois de algumas reflexões, negociações, etc., resolvi ficar e não me arrependo desta decisão, pois depois disso, nunca mais cogitei ir embora daqui”.

 

Questão 7:  Você considera que Itaúba é seu lugar? Por quê?

 

Entrevistado A: “Considero, porque tudo o que temos está aqui e consideramos Itaúba nossa casa”.

Entrevistada B: “Sim, me considero mais mato-grossense do que riograndensse”.

 

Entrevistada C: “Gosto muito, creio que é meu lugar, porém se pudesse voltar com a família toda, mas sei que é impossível, voltaria”.

 

Entrevistada D: “Eu  me considero uma itaubensse. Porque já moro a trinta e dois anos nessa região.

 

Entrevistado E: “Hoje? Não gostaria, porque o que tenho não compensa vender (porque não consigo o preço que vale) e com o preço que vender não consigo sobreviver no Sul, e ficar aqui, nessa situação de abandono sem perspectiva de melhora, é muito difícil querer ficar e não ver melhora”.

 

Entrevistada F: “A pesar das dificuldades  que existem por ser um lugar pequeno, não volto para minha cidade de origem por que não gosto de cidade grande por causa da violência”.

 

Entrevistado G: “Sim, Itaúba é meu lugar. Não me imagino vivendo em outro lugar. Aqui temos todas as condições favoráveis para se viver, felizes, com muitos amigos, ambiente de trabalho excepcional, uma família numerosa que jamais nos deixa sozinhos, mesmo nos piores momentos”.

 

Percebemos, que dos 7 entrevistados 5 vieram na década de 70 e dois vieram na década de 80, pois as datas precisa está acima escrito. Período em que se deu o início da construção da BR 163 foi o marco do início da imigração para esta região. Os pioneiros entrevistados vieram para esta região em anos consecutivos, apenas dois vieram no mesmo ano, em 1974 (o entrevistado B e C).

Continuamos nossa entrevista, perguntamos a eles, de que forma e porque decidiu vir para o Mato Grosso? O entrevistado A, “Minha família atuava no ramo madeireiro e devido ao esgotamento das reservas florestais na região Sul, e com a abertura da Rodovia BR163 e a Transamazônica novas oportunidades surgiram nesta região. Então nossa família resolveu adquirir áreas com madeira para explorar, o objetivo era instalar uma madeireira para dar continuidade aos negócios e nas áreas exploradas, formar pastagens para a criação de gado”. Enquanto a entrevistada B, nos respondeu que “meu esposo trabalhava com o grupo Irmãos Bedin”, a entrevistada C, relatou que “De carro decidi vir para conhecer, trabalhar e morar com uma família que vieram na mesma época”, a entrevistada D, “Nos viemos para Mato Grosso juntamente com a mudança em cima  do caminhão para adquirir mais terras e melhorar as finanças.”, o entrevistado E, disse “De ônibus, a convite de um amigo para gerenciar a fazenda e cuidar do gado, trabalhei 18 (dezoito) meses, a entrevistada F, relatou que veio de ônibus com muitas dificuldades devido as mas condições das estradas, o entrevistado G, relatou que veio a convite do empresário A, citado acima, para trabalhar em sua empresa. Percebemos que os entrevistados tiveram motivos semelhantes, embora em condições diferentes para vir para essa região. O motivo que mais destacou foi melhores condições de vida.

Percebemos, que não foi mencionado pelos entrevistados que havia alguns conflitos de terras no Sul do País. Como afirma Pannuti (2002.p.34), “Em 1978, com o conflito ocorrido entre índios e colonos nas reservas indígenas de Nonoai e Guarita, no Rio Grande do Sul, teve inicio essa colonização conjunta” podemos notar que nenhum dos nosso entrevistados, relacionaram a vinda deles para essa região, com  este conflito inclusive  a entrevistada C, veio desta cidade acima  citada (Nonoai – RS).

Questionamo-los novamente, quais eram suas expectativas antes de vir para esta região? E o que encontrou quando chegou? O entrevistado A nos respondeu, Os acontecimentos foram de acordo com as expectativas, pois como não havia nada, somente a floresta, já sabíamos, que as coisas não seriam tão fáceis, como realmente não foram. Como relação aos negócios, também foram acontecendo dentro das expectativa, ou seja algumas dificuldade iniciais como falta de estradas, comunicação, estrutura, desconhecimento da região. Os(as), entrevistada B, C, D, E, F, Nos relataram que tinham a esperança de encontrar aqui uma nova cidade, porém organizada, mas não foi o que encontraram só encontraram mata fechada.Com o relato de nossos entrevistados  percebemos que eles traziam consigo o sonho de melhores condições de vida para suas famílias e crescer financeiramente.   O entrevistado G, relatou que por  conhecer varias pessoas que moravam aqui já  sabia o que iria encontrar.

Percebemos com as respostas dos nossos entrevistados e teorias estudadas que as expectativas eram de conhecer novos lugares e crescer financeiramente.  Acreditamos, que  conforme os autores estudados eles não sabiam das dificuldades, que poderiam encontrar aqui, o governo fazia propaganda nas rádios e nos jornais da época, essa propagandas eram de que havia terra em abundância e que estas eram férteis. Segundo Oliveira et al,  (2002):

A grande quantidade de terras devolutas no Estado foi o chamariz usado pela propaganda oficial para incentivar a migração interna, principalmente de colonos da região Sul, mas também de outras partes do País, e mesmo do exterior. Como incentivo, o governo, através do projeto Marcha para Oeste, doaria aos colonos lotes de terras, inicialmente em caráter provisório e, após três anos, com título definitivo. (OLIVEIRA, et al , 2002.p. 21).

 

Como podemos perceber os colonos foram atraídos com falsas promessas, embora nossos entrevistados em nenhum momento fizeram esta afirmação, alegaram apenas que foram atraídos por melhores condições de vida. Embora quando chegaram aqui o que encontraram era bem diferente das quais imaginavam.

Retornamos questionando-os, quais foram as maiores dificuldades encontradas aqui? O entrevistado A, B, C, D, E, F, Todos os (as) entrevistados disseram que encartaram dificuldades entre elas falta de energia elétrica, água tratada, alimentos, hospitais, telefone, transporte. O entrevistado E, afirma ainda que sentia falta de amigos.

Com relação às respostas dos nossos entrevistados ficou claro para nós que as dificuldades encontradas por eles foram muitas, principalmente de acesso á outras localidades, falta de energia elétrica, alimentação, comunicação, hospitais inclusive havia na época epidemia da malária.

Porém nossos entrevistados não mencionaram nenhuma crítica com relação ao Governo, que foi o principal responsável por eles estarem aqui, como bem sabemos, conforme afirma Castro (2002 p. 102): “O ano de chegada ao projeto e o ano de chegada ao lote não coincidem. Isto se explica pelo fato de que os primeiros colonos chegaram sem ter um mínimo de infraestrutura básica”.

Acreditamos, a partir das respostas que os entrevistados não tinham consciência, dos verdadeiros motivos pelos quais foram atraídos para esta região, por isso não mencionaram em nenhum momento da entrevista, pois o principal objetivo do governo era assegurar fronteiras, resolver os conflitos de terras na região Sul do País, aumentar a poupança interna.

 Diante desta ótica, continuamos nossa pesquisa perguntando a eles se  os seus sonhos foram realizados, seis disseram que sim, A, B, C, D, conseguiram se realizar profissionalmente, embora alguns afirmaram que a construção familiar foi o maior bem conquistado,  A  entrevistada F, tenha feito uma ressalva:  “O sonho foi realizado pois meu pai conseguiu comprar suas terras e melhorar nossas vidas, porém passando oito anos que aqui chegamos, meu pai adoeceu, tivemos que vender tudo até mesmo suas terras para seu tratamento não adiantou muito, pois mesmo com todo nosso esforço ele faleceu”. Enquanto o entrevistado E, “Disse que não realizou seu sonho porqueQueria ficar rico e não consegui, trabalhei bastante, trabalhava como pedreiro, trabalha uma semana para aplicar na construção da panificadora  e minha esposa como lavadeira em uma lanchonete para ajudar no sustento da família  hoje tenho uma panificadora, consegui fazer meu pé de meia”. Através das respostas analisadas e de acordo com os autores, pesquisados, (Pannuti, Ferreira, Castro, Souto, Oliveira), Todos tinham como objetivo realizar seus sonhos, porém esses diversificados, alguns financeiramente, outro mesmo não tendo realizado na questão financeira, conseguiram se  realizar familiarmente. Eles não deixaram claro sobre os fatores para a realização dos sonhos. Segundo Oliveira (1994 p. 98) “O sonho não se concretizou, os forasteiros sucumbiram á dureza da vida na floresta, ao confronto com os índios, à malária, ao solo pobre, enfim a uma região inóspita para viver”.

Conforme a citação acima que se refere ao solo pobre, aos índios e a malária, nossos entrevistados mencionaram apenas a malária, foram unânimes afirmando sobre a existência da malária, quando chegaram aqui.

Foi perguntado aos entrevistados: Você teve vontade de voltar? Porque não voltou? Porque ficou? Dos nossos entrevistados três A, D, C, foram bem taxativos, disseram que não tiveram vontade de voltar, pois com o passar dos dias a situação foi melhorando e começaram fixar aqui suas raízes e acreditavam que tudo iria melhorar, dentre os três entrevistados que não teve vontade de voltar, A entrevistada C, ainda nos relata que, “Devido também ao trabalho do meu marido que era necessário ficar aqui, derrubar mato, no entanto foi ele que derrubou a primeira árvore aqui, não construímos fortuna, mas grandes amigos”. O entrevistado E, No começo sim, mas não tinha como voltar, pois tinha deixado tudo para trás não vendi nada que tinha no Sul”. E o entrevistado G disse que, “Antes de casar por volta do final de 1982 quase voltei”.

A entrevistada B relatou que, “Sim, quem não gosta de voltar a cidade de origem, porque construí minha família aqui. Filhos a gente não larga por nada na vida”. A entrevistada F, “Disse sim, no ano seguinte voltei para estudar em São Paulo meu lugar de origem, mas não consegui permanecer lá, pois sentia a falta da minha família, preferi deixar de meus sonhos de estudar para mais tarde e ficar com minha família. Após alguns anos mais tarde consegui dar continuidade em meus estudos, fiz magistério, depois pedagogia e pós- graduação em psicopedagogia. Hoje estou realizado com meus sonhos”.

Após analisar esta questão constatamos que seus desejos ficaram divididos, enquanto alguns tiveram vontade de voltar por motivos de saudade do seu lugar de origem, outro não disseram se teve vontade de voltar, de construir aqui, seu lugar. A entrevistada F, “Disse sim, no ano seguinte voltei para estudar em São Paulo meu lugar de origem, mas não consegui  permanecer  lá pois sentia a falta da minha família, preferi deixar de meus sonhos de estudar para mais tarde e ficar com minha família. Após alguns anos mais tarde consegui dar continuidade em meus estudos, fiz magistério, depois pedagogia e pós- graduação  em psicopedagogia. Hoje estou realizado com meus sonhos”.

Os entrevistados mesmo com tantas dificuldades disseram que construíram aqui seu lugar, não mencionaram porque seus sonhos não poderiam ser realizados em sua terra natal, eles também não citaram os conflitos de terras existentes entre índios e brancos nessa região, como bem sabemos essas terras eram habitadas por índios. Conforme o relato dos entrevistados citados acima também não deu nenhuma importância a floresta que aqui existia dizendo apenas que vieram para derruba-las. Com relação a floresta algumas providências para que a extinção não aconteça só foi tomada a pouco tempo, por parte do Governo Federal através de medidas que contenha o desmatamento.

Para finalizar nossa entrevista, perguntamos a nossos entrevistados, você considera que Itaúba é seu lugar? Por quê? Com relação a estas perguntas aos entrevistados, A, B, D, F, e G, disse que sim, consideram Itaúba seu lugar, porém o porquê consideram Itaúba seu lugar é diversificadas, o entrevistado A, refere-se apenas ao financeiro o entrevistado B, não deixou claro sua resposta, a D, “Por morar na região a trinta e dois anos. A F, afirma “A pesar das dificuldades  que existem por ser um lugar pequeno, não volto para minha cidade de origem por que não gosto de cidade grande por causa da violência”. O entrevistado G, “Sim, porque todo homem sonha em se realizar profissionalmente, financeiramente e constituir uma família. Neste aspecto, sinto-me muito feliz pela família que constitui, pelo meu trabalho, afinal estou trabalhando na mesma empresa há vinte sete anos e muito embora não esteja totalmente realizado financeiramente, mas também não posso reclamar das oportunidades e das condições de vida atuais”. Após o término da análise da última pergunta, sendo eles A, B, D, F, G, consideram Itaúba seu lugar, pois afirmam eles que construíram aqui suas famílias, fizeram amigos, e seus bens materiais estão nesta região. O entrevistado G, “Afirma que Itaúba é meu lugar”. Não me imagino vivendo em outro lugar. “Aqui temos todas as condições favoráveis para se viver feliz, com muitos amigos, ambiente de trabalho excepcional, uma família numerosa que jamais nós deixa sozinhos, mesmo nos piores momentos”. Enquanto que A entrevistada C, não deixa claro dizendo “Gosto muito, creio que é meu lugar, porem se pudesse voltar com a família toda, mas sei que é impossível”. O entrevistado E, “Hoje? Não gostaria por que o que tenho não compensa vender por que não consigo o preço que vale e com o preço de vender não consigo sobreviver no sul, e ficar aqui nessa situação de abandono sem perspectivas de melhorar, é muito difícil, querer ficar e não e não ver melhoras”.

É possível perceber que os entrevistados E, e C, não consideram Itaúba como seu lugar. Pois para Leite (1998), o conceito de lugar significa:

No campo da Geografia Humanista este conceito surge no âmbito da sua consolidação no início da década de 70. Sua linha de pensamento caracteriza-se principalmente pela valorização das relações de afetividade desenvolvidas pelos indivíduos em relação ao seu ambiente [...]. Para os seguidores da corrente humanística: [...] Lugar significa muito mais que o sentido geográfico de localização. Não se refere a objetos e atributos da localização, mas á tipo de experiência e envolvimento com o mundo, a necessidade de raízes e segurança. (LEITE, 1979. p. 10).

Como cita o autor acima essas relações de afetividade que desenvolve os indivíduos com o lugar, ocorrem em virtude de estes se voltarem para ele munidas de interesses pré-determinados, ou seja, com alguma intencionalidade.

   Acreditamos o que aconteceu com nosso entrevistado E, foi semelhante a citação acima, ele fixou aqui suas raízes porém reclama da situação política que o município se encontra, como o restante do País, separando os amigos, mas aqui é seu lugar pois construiu uma família e fez seu pé de meia. Por tanto construiu uma relação de afetividade em relação ao seu ambiente. No caso da entrevistada C, ela não construiu seu lugar afirma, que gosta muito, porém se pudesse voltar com toda família, voltaria, mas sabe que é impossível. Sabemos que para construir seu lugar o indivíduo tem que ter uma relação de afetividade ela só construiu essa relação com a família. Conforme LEITE citando TUAN(1930), “uma pessoa pode Ter vivido durante toda sua vida em determinado local e a sua relação com ele ser completamente irreal, sem nenhum enraizamento”. Isso aconteceu com a entrevistada C, mesmo vivendo aqui a trinta e quatro anos ainda gostaria de voltar, fiou claro que construiu somente relações afetivas familiares e não com o ambiente.

 

CONCLUSÃO

Através deste estudo, verificamos o quanto é importante resgatar nosso passado e fazer história, pois podemos observar que muito da história de nosso município se perdeu ao longo dos tempos por não existir, na época um historiador, ou até mesmo, pessoas comuns que fizessem suas anotações e o pouco que conhecemos foi transmitido de geração a geração. Também compreendemos que nós somos parte integrante do contexto histórico do Mato Grosso.

A falta de informação é um dos grandes problemas, pois a mesma dificultou nosso trabalho, o que levaria meses talvez anos de pesquisa para que chegássemos a detalhar nossa história hoje passa despercebido, pois o que é encontrado  de  registro desta história, se torna pouco diante da imensidão de fatos aqui ocorridos, conforme relatos oral da população.

Foi nas décadas de 1970 e 1980 que nossa região passou a ser vista como umas opções de investimentos desejam de ocupação e povoamento por outras cidades e até mesmo sob o olhar dos governantes do País e de pessoas que tinha o sonho de uma vida nova um novo lugar.

Com o desejo que o desenvolvimento da região Centro – Oeste, melhorasse o Governo logo executou as obras das Rodovias BR 163 e Trans. – Amazônica, abrindo as portas para a colonização e aguçando o interesse dos grandes empresários, uma vez que os pequenos poucos podiam fazer, pois eram trazidos para cá abandonados à própria sorte, conforme as teorias estudadas e alguns relatos dos moradores da época.

A colonização de Itaúba teve início na década de 1970, com a abertura da BR 163, com iniciativa governamental promovendo políticas explicitas e implícitas  para promover a ocupação da região Norte do Estado e acabar com os conflitos de terra entre índios e brancos da região Sul bem como, aumentar o capital internacional, proporcionar o desenvolvimento agropecuário e permitir a exploração do seu potencial madeireiro existente na época em grande escala. Outro fator importante foi a importância mineral para a economia da região Norte (ouro e diamante). Percebemos através das pesquisas realizadas, que a maioria dos moradores de Itaúba são oriundos da região Sul do país e que grande parte da população que para cá se deslocou veio em busca de trabalho na agricultura, que era e ainda são as principais fontes de renda do município que até então não era município ainda. Nossos entrevistados em momento algum relatou a presença dos povos indígenas existentes aqui, ficou uma pergunta, Será que não existia mais aqui quando eles chegaram? Ou eles não eram considerados humanos para eles?

Percebemos que nossos entrevistados não relataram os conflitos de terras existentes na região entre fazendeiros, brancos e índios, seringueiros, e grileiro de terras, não questionaram as responsabilidades dos governantes que foram os maiores incentivadores, da vinda dos mesmos para esta região.

Concluímos então que a maioria dos nossos entrevistados permanecem no município devido ter construído aqui famílias e seus bens materiais, e uma relação de afetividade com o ambiente, construindo assim um novo lugar. Apesar das dificuldades encontrados no início da colonização conseguiram  supera-las e fixar,  raízes, tornando o município um lugar de somatória das dimensões simbólicas, emocionais, cutucarias, políticas e biológicas. 

 

REFERÊNCIAS

CARDOSO, José Soares,1927, Mato Grosso em foco ,  José Soares Cardoso-Cuiabá; Edição Guiapress, 1989.

CASTRO, s.et. al. A colonização em Mato Grosso: “A nata e a borra da sociedade”. Cuiabá: EdUFMT,2002.

FERREIRA, João Carlos Vicente: Mato Grosso e seus municípios. Cuiabá Secretaria de Estado da Educação, 2001 Editora Buritis.

OLIVEIRA, Maynara, Geografia: Do olhar do homem oas segredos da natureza. Fasciculo 3 Tomo 1e 2 Cuiabá, EdUFMT, 2002.

PANUTTI, Maria Regina Viana, História: O processo de ocupação de Mato Grosso.2.ed.v.3,Cuiabá, EdUFMT,2002.

PANUTTI,  Regina, História: Introdução. Fascículo 1 e 3 Cuiabá, EdUFMT, 2002.

SANTOS, Maria Sirley dos, Geografia:  Do olhar do homem aos segredos da natureza.Fasciculo1 Cuiabá, EdUFMT, 2002.

SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. Historia de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias atuais. Cuiabá: Entrelinhas, 2002.

SOUTO, Ariovaldo Nesso, Mato Grosso e sua Hitoria,2000.Grafica Real.

http://<www.ef.unicamp.br/ensino/graduacao/dowloand/Capitulos/GeoProefestLugarEstudoDoMeio.doc> acesso em 20, abril 2015.

http://<www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php> acesso em 15, abril 2015.

http://www.uff.br> acesso em 15, abril 2015.

 


[1] Licenciada em História. Atua como docente na área de ciências humanas – História – na E. E. Papa João Paulo II, Itaúba/MT. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

[2] Licenciada em História. Atua como docente na área de ciências humanas – História – na E. E. Papa João Paulo II, Itaúba/MT. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

[3] Estas letras A, B, C..., estão representando os nomes dos pioneiros entrevistados para que os mesmos fossem mantidos no anonimato.