EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR QUE PROPORCIONA RESULTADOS POSITIVOS NA ESCOLA ESTADUAL PAULO FREIRE – SINOP/MT
Rosemeri Hemsing Weber[1]
Adelaide Lucas de Souza Norberto[2]
Luciane Reichert Costa[3]
RESUMO
O presente artigo apresenta o resultado de uma pesquisa realizada na Escola Estadual Paulo Freire, situada no município de Sinop – MT, instituição esta que compreende somente o ensino fundamental. A pesquisa foi realizada com o objetivo de identificar a aplicação da Educação Ambiental nesta instituição, verificando a interdisciplinaridade deste tema, sendo este trabalho justificado pela necessidade de mudanças urgentes no âmbito escolar. Para o desenvolvimento da pesquisa foi utilizada como metodologia o estudo de caso exploratório, mediante entrevistas de natureza aberta-fechada com os alunos de duas turmas de sexto ano – terceira fase do segundo Ciclo de Formação Humana – e nonos anos – terceira fase do terceiro Ciclo de Formação Humana, bem como professores e funcionários da instituição, além da observação direta das aulas durante uma semana em cada turma escolhida. Os resultados foram surpreendentes, pois se constatou que é possível o trabalho interdisciplinar baseado na EA, basta apenas o interesse dos profissionais envolvidos no processo de ensino. Desta forma, as análises dos resultados foram compiladas em cinco tópicos, sendo eles: a EA é fundamental para a compreensão de ações de preservação dos recursos naturais; projetos interdisciplinares (Projetos de Aprendizagem); é dispensável uma disciplina especifica de EA; formação continuada dos profissionais (Sala de Educador); realidade na prática.
Palavras-chave: Educação Ambiental; Interdisciplinaridade; Projetos de Aprendizagem.
ABSTRACT
This article presents the results of a survey conducted in the State School Paulo Freire, in the municipality of Sinop - MT, an institution that comprises only primary school. The survey was conducted in order to identify the application of environmental education in this institution by checking the interdisciplinarity of this issue, and this work justified by the need for urgent changes in schools. For the development of the research was used as methodology the exploratory case study through interviews of open-closed nature with students of two classes of sixth grade - third phase of the second cycle of Human Formation - and the 9th year - the third of the third cycle phase Human Formation, as well as teachers and staff of the institution, as well as direct observation of lessons during a week in each chosen class. The results were surprising because it was found that it is possible interdisciplinary work based on the EA, simply the interest of professionals involved in the teaching process. Thus, the analyzes of the results were compiled into five topics, namely: EA is fundamental to understanding actions to preserve natural resources; interdisciplinary projects (Learning Projects); is dispensable discipline-specific EA; continuing education of professionals (Educator room); reality in practice.
Keywords: Environmental Education; Interdisciplinarity; Learning projects.
INTRODUÇÃO
Durante os últimos séculos o ser humano presenciou profundas evoluções nas áreas da ciência e tecnologia, provocadas por ele mesmo em benefício do seu bem estar, e assim ocorreram simultaneamente mudanças nos valores e modos de vida da sociedade, pois com o surgimento do processo industrial durante o século XVIII e o crescimento descontrolado das cidades, surgiu a necessidade de aumentar a utilização dos recursos naturais provocando consequentemente, a produção de resíduos.
Desta forma as mudanças na cultura da sociedade, afetaram a percepção que os indivíduos têm a respeito do meio ambiente, isto porque passou-se a visar a utilização dos recursos naturais para atender suas necessidades e vontades, sem se preocupar em impor limites e critérios apropriados para a extração e utilização destes recursos.
Neste contexto não demorou muito para que as consequências dessa cultura moderna, baseada na economia de mercado e caracterizada pelo consumo desenfreado aparecessem. Assim o surgimento de problemas ambientais que afetam a qualidade de vida evidencia uma crise entre sociedade e meio ambiente.
Diante deste cenário, surge a necessidade de promover e renovar os conceitos de ambiente, já existentes e os que estão em construção, surge então a educação ambiental, uma proposta que visa mudanças em todos os aspectos que envolvem o meio ambiente. Sendo assim, este trabalho propõe identificar a aplicação da educação ambiental na Escola Estadual Paulo Freire nas turmas de 6º e 9º anos do ensino fundamental, verificando a interdisciplinaridade deste tema.
A escolha deste tema justifica-se pelo fato das necessidades de mudanças urgentes no âmbito educacional, porque vivemos hoje em uma sociedade “descartável”, e percebemos que os alunos não se importam com o meio em que vivem. Por isso é necessário que a questão ambiental seja trabalhada em todos os níveis da educação, ou seja, desde as séries iniciais e ao longo da vida. Comportamentos ambientalmente corretos devem ser aprendidos na prática contribuindo para a formação de cidadãos críticos e responsáveis, pois de acordo com Achutti e Branco (2003) a educação ambiental “é um processo permanente baseado no respeito e na melhoria das relações entre os seres vivos e o ambiente.”.
Perante esta proposta a pesquisa foi estruturada da seguinte maneira: inicialmente o leitor encontrará a introdução onde será apresentado o tema que será abordado, bem como os objetivos e a justificativa para a realização da pesquisa, em seguida no decorrer do desenvolvimento será mostrada a fundamentação teórica da Educação Ambiental (EA), além de apresentar a metodologia e os resultados de nosso estudo de campo juntamente com a análise dos mesmos e para concluir será apresentamos as nossas inferências a respeito do tema.
2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL
2.1 O HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL (EA)
Atualmente a educação ambiental (EA) tem sido discutida constantemente e é considerada como ponto de partida para muitas decisões importantes, isso se fez comum a partir dos anos 60, pois não é de hoje que a EA vem sendo uma proposta de educação global, “orientada para o bem-estar da comunidade humana e compreendida como uma grande área do conhecimento que abrange conceitos multidisciplinares (ROSALEM, 2008).
Assim o mundo sentiu a necessidade de tomar providências para minimizar os impactos de suas ações no início dos anos 60, quando foi publicado o livro “Primavera Silenciosa” da jornalista Rachel Corsan, que alertava sobre os efeitos danosos das ações humanas sobre o meio ambiente. No Brasil os primeiros passos ambientalistas surgiram no ano de 1968.
Ao longo dos anos a visão sobre a EA foi sendo modificada e como marco deste período Rosalem (2008) ressalta que “A ‘Conferência Internacional para o Meio Ambiente Humano’, promovida pela ONU em 1972, representa o momento em que a Educação Ambiental entra para a história do movimento ambientalista mundial, passando a ser considerada como campo de ação pedagógica”.
Os diversos encontros, conferências e seminários realizados pelo mundo afora resultaram em importantes medidas para a concretização das propostas da EA, e o resultado mais marcante desta história é a Conferência do Rio em 1992, na qual foram propostos os princípios norteadores da EA, reunidos na Agenda 21, que é caracterizada por Santos (2011):
A Agenda 21 enfatiza o papel da educação na promoção do desenvolvimento sustentável através da concentração de esforços dos países para a universalização da educação básica e a promoção da educação ambiental que deveria ser ensinada a partir do ingresso das crianças nas escolas, integrando os conceitos de meio ambiente e desenvolvimento e dando especial ênfase à discussão dos problemas locais.
E como o próprio autor ressalta em seu trabalho, “é a partir de 1999 que a educação ambiental no Brasil passa a ser regida através de legislação específica tendo como marco inaugural a lei que estabeleceu a Política Nacional de Educação Ambiental” (SANTOS, 2011).
Sem esquecermo-nos de mencionar que a Lei 9.795/99 - Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA)
[...] tem por princípios básicos o enfoque humanista, a concepção do meio ambiente em sua totalidade, o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural, a continuidade e avaliação crítica do processo educativo, a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais e a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais (SANTOS, 2011).
Assim ao longo dos últimos anos o ideário das questões ambientais é incorporado às práticas educativas de muitos professores que passaram a se denominar “educadores ambientais”.
2.2 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CENÁRIO MUNDIAL
Vivemos em um planeta de constantes transformações que abrangem os mais diversificados setores entre eles: sociais, econômicos, políticos, culturais, educacionais e tecnológicos, neste contexto as esferas que mais se destacam e evoluem são a falta de consciência e o descaso com a vida.
Perante tal situação a EA é considerada como um processo permanente no qual os indivíduos e a sociedade se conscientizam da condição do seu ambiente e adquirem os conhecimentos, os valores, as habilidades, as experiências e a determinação que os tornem aptos a agir, individualmente e coletivamente.
Abreu (2010) ressalta que a EA “[...] é capaz de formar cidadãos conscientes sobre os problemas do meio ambiente. E somente essa educação pode criar perspectivas para uma mudança real dessas dificuldades mundiais. Mas para que haja essa formação é indispensável à união do governo, da sociedade e da escola.”.
Vale ainda salientar as palavras de Tristão (2002:169) que define a EA “como uma prática transformadora, comprometida com a formação de cidadãos críticos e co-responsáveis por um desenvolvimento que respeite as mais diferentes formas de vida [...]”.
Verificamos neste panorama a importância da EA como sendo uma proposta renovadora e modificadora das ações humanas, ou seja, uma prática engajada em alterar as concepções de meio ambiente impregnadas na cultura atual e esperançosa quanto aos resultados de sua aplicação na educação de nossas futuras gerações.
2.3 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ÂMBITO ESCOLAR
A escola sempre foi considerada um lugar de ensinamentos e aprendizagens, onde ocorre a formação e a transformação de conceitos, neste sentido a escola passou por um processo de transmissão de conceitos e conhecimentos prontos e acabados. Neste contexto Mendonça (2006) ressalta que
Foi necessário criar o termo educação ambiental porque nos afastamos da natureza. Os processos educativos ficaram racionais e a escola descuidou dos sentimentos, das sensações e das relações em sala de aula, esquecendo o ar, a água, o corpo, o bairro, a cidade, o planeta. Ora, se a educação ambiental pretende resolver os problemas ambientais pela formação das pessoas, é preciso usar ferramentas transformadoras. Uma delas é o aprendizado sequencial.
Esta atitude se deve ao fato da população não ter mais a natureza como ponto de referência, pois as tecnologias permeiam o dia-a-dia dos indivíduos. Sendo assim a EA surge como uma disciplina que “além de ser um processo educacional das questões ambientais, alcança também os problemas socioeconômicos, políticos, culturais e históricos pela interação de uma forma ou de outra destes campos com o meio ambiente” (SANTOS, 2007, p.13).
A Educação Ambiental possui um histórico recente no Brasil, de acordo com as palavras de Almeida e Oliveira (2007, p.15)
No Brasil, até a década de 1970 não existia Educação Ambiental formal. Sob pressão da Conferência de Estocolmo, realizada em 1972, e do Banco Mundial, a Presidência da República se viu obrigada a tomar iniciativas para uma política de gerenciamento ambiental, criando, assim, a Secretaria do Meio Ambiente - SEMA, em 1973. Foi o marco inicial da Educação Ambiental brasileira, proporcionando parceria entre instituições do meio ambiente e a Secretaria de Educação dos Estados.
Segundo as autoras no início dos anos 70 a preocupação com as questões ambientais ainda eram irrelevantes, porém no decorrer desta mesma década surgiram as primeiras medidas de preservação dos recursos naturais e mais adiante nos anos 90 é que surgiu de fato a EA como conteúdo dos currículos escolares que envolvem o ensino fundamental e médio no Brasil.
Em 1996, o Ministério da Educação - MEC, incluiu temas ecológicos nos currículos do Ensino Fundamental e Médio e nos cursos superiores, através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB 9394/96, determinando que a Educação Ambiental deverá ser abordada em todos os conteúdos curriculares sem constituir uma disciplina específica (ALMEIDA e OLIVEIRA, 2007, p. 15).
Sendo assim a escola atua como mediadora e propagadora da EA, podendo iniciar seu trabalho nos anos iniciais, pois as crianças aprendem e constroem conceitos mediante ao contato com o novo e o meio em que vivem, é neste sentido que ressaltamos as palavras da “A Carta da Terra em Ação” (2000, princípio 14)
14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.
a. Prover a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas que lhes permitam contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.
É neste meio que a EA se desenvolve como um tema interdisciplinar que deve ser trabalhado pelos educadores nas mais variadas disciplinas, pois de acordo com Santos (2007, p.19)
O fato de uma escola manter uma disciplina específica não quer dizer que a educação ambiental será desenvolvida apenas dentro da disciplina, pois, como diz na sua definição, ela é um processo e, portanto, deve ser trabalhada por todos, em todas as etapas do desenvolvimento do ser humano. Essa é uma realidade trazida pela preocupação com os problemas ambientais que, devido à sua gravidade não podem mais ser ignorados.
Sendo assim a escola realiza suas atividades focadas e amparadas na realidade, ampliando as possibilidades de estudo, pois ocorre a articulação de diferentes conteúdos nas diversas áreas do conhecimento.
3 METODOLOGIA
Mediante a proposta de investigação da implantação da EA em sala de aula e a constatação da interdisciplinaridade deste tema em relação as demais disciplinas, optou-se pelo estudo de caso em uma escola estadual do município de Sinop no Estado de Mato Grosso. A Escola Estadual Paulo Freire situada em um bairro da periferia da cidade atende os alunos dos bairros arredores do prédio, oferecendo o ensino fundamental, desde os anos iniciais até o nono ano.
O recurso metodológico utilizado para o desenvolvimento desta pesquisa é o estudo de caso de caráter exploratório, pois “busca familiarizar o aluno com o assunto e com a realidade da organização. [...] o produto final é esclarecido para o leitor” (CAVALCANTI e MOREIRA, 2010, p. 87). Para isto realizou-se uma entrevista de natureza aberta-fechada com estes alunos, para coletar as informações necessárias a elaboração do estudo. Ainda foi realizada uma observação direta da efetiva aplicação da educação ambiental nas turmas selecionadas.
Sendo assim, fora selecionadas quatro (04) salas de aula, sendo duas (02) do sexto ano (6º) – terceira fase do segundo Ciclo de Formação Humana -, e duas do nono ano (9º) – terceira fase do terceiro Ciclo de Formação Humana -, totalizando 120 alunos. Além destes também entrevistou-se os professores de todas as disciplinas destas turmas e para reforçar as informações coletadas foram assistidas todas as aulas, durante uma semana, em cada turma.
4 RESULTADOS
Diante dos resultados obtidos com as entrevistas, realizou-se a análise das respostas e os resultados foram sintetizados em cinco (05) tópicos diversos, sendo eles: A EA é fundamental para compreensão e promoção de ações de preservação dos recursos naturais; projetos interdisciplinares (Projetos de Aprendizagem); é dispensável uma disciplina especifica de EA; formação continuada dos profissionais (Sala de Educador); realidade na prática.
4.1 A EA É FUNDAMENTAL PARA COMPREENSÃO E PROMOÇÃO DE AÇÕES DE PRESERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS
Durante a pesquisa foi constatada com uma situação inesperada, pois mesmo a EA sendo um assunto dinâmico e mundialmente conhecido ainda pode-se perceber a dificuldade na efetiva implantação da mesma, no entanto uma situação diferente ocorre na Escola Estadual Paulo Freire. Após as entrevistas, conversas e observação das aulas foi constatado que tanto os alunos como os profissionais da educação desta instituição são e estão em ação para desenvolver a EA da melhor maneira possível.
Rosalem (2008) enfatiza que “a participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente coloca-se, então, como um dos pressupostos fundamentais da Educação Ambiental.”. Esta participação ativa pode ser percebida nas práticas desenvolvidas por esta instituição de ensino, pois não somente os professores e alunos estão envolvidos no desenvolvimento da EA, mas sim todos os profissionais da escola desempenham um papel importante na EA.
Isto é percebido na hora do recreio, onde as crianças já se policiam e não desperdiçam o lanche, bem como na limpeza e organização das salas de aula após o período letivo, bem como a conservação do pátio e o cuidado com as plantas que compõem a paisagem da escola, conforme relatos dos alunos:
“Se a gente não cuida da escola, não adianta reclamar depois que tá tudo feio e estragado.” (Lucas – 6º ano).
“O lanche é como a comida de casa quando a gente tá sem fome não de pegar e estragar, a água também pode faltar por isso nós devemos fechar bem as torneiras.” (Karina – 6º ano).
“A escola foi pintada, então não devemos estragar o que foi feito para nós.” (Wellington – 9º ano)
4.2 PROJETOS INTERDISCIPLINARES (PROJETOS DE APRENDIZAGEM)
Muitos estudiosos defendem o trabalho com projetos, pois além de ser uma prática interdisciplinar é também um trabalho de interesse dos próprios discentes, ou seja, os projetos de aprendizagem são oriundos do interesse dos alunos, assim “esse trabalho, além de favorecer a construção da autonomia e da autodisciplina, pode constituir-se num processo de aprendizagem mais dinâmico, significativo e interessante para quem aprende, minimizando a imposição dos conteúdos de maneira autoritária” (PORTO, 2009, p. 59).
Esta prática é comum em todas as salas de aula da Escola Estadual Paulo Freire, isto porque cada turma juntamente com o seu professor regente escolhe um tema que condiz com a realidade dos alunos, ou seja, uma curiosidade/dúvida que envolve a realidade da comunidade (em que estão inseridos) é escolhida como tema do projeto, e a partir de então os alunos juntamente com o professor passam a estipular qual a importância, quais os objetivos, quais os benefícios deste projeto para eles mesmos e para a comunidade em geral.
Segundo Porto (2009, p. 59) vale salientar que
O processo e o produto do projeto propiciam as interações entre os alunos, tornando-se propriedade do grupo que dele participa, sendo incorporado às vivências da turma. Durante o desenrolar de um projeto, a cumplicidade de propósitos entre os alunos e o professor faz com que o ambiente de trabalho se torne mais criativo, pois cada um passa a contribuir com suas aptidões.
Assim os projetos desenvolvidos pelos alunos junto com os professores e funcionários englobam temas pertinentes a realidade da comunidade em que vivem e são cercados, desta forma são desenvolvidos alguns projetos como: Dengue, um perigo constante; Horta, uma alimentação saudável; Poluição, uma realidade cruel; Saneamento Básico; Jardim com reciclagem de garrafas pet; A arte da reciclagem; Semana de Conservação da Escola; Comunidade na Escola e outros mais.
Salientando que os temas foram escolhidos pelos alunos após uma análise da realidade que os cerca, isto é percebido de maneira geral em todas as entrevistas, “Os professores pedem que a gente observe o nosso bairro e encontre algo que gostaríamos de conhecer melhor, depois na sala todos apresentam suas idéias e escolhemos um tema, o mais interessante, para o nosso projeto” (Sabrina – 9º ano).
Desta forma, esta atitude é reforçada nas palavras de Santos (2011) ao definir o papel da EA segundo a Agenda 21.
A Agenda 21 enfatiza o papel da educação na promoção do desenvolvimento sustentável através da concentração de esforços dos países para a universalização da educação básica e a promoção da educação ambiental que deveria ser ensinada a partir do ingresso das crianças nas escolas, integrando os conceitos de meio ambiente e desenvolvimento e dando especial ênfase à discussão dos problemas locais.
4.3 É DISPENSÁVEL UMA DISCIPLINA ESPECÍFICA DE EA
Considerar a hipótese de uma disciplina específica de EA está longe dos olhares de alunos e professores da instituição em questão, isto porque tanto os alunos como os professores em suas entrevistas mencionam que os temas que elencam a EA são desenvolvidos de maneira interdisciplinar pelos professores das mais diversas áreas.
Nas palavras de Almeida e Oliveira (2007, p.15) a política educacional do Brasil reformulou suas diretrizes por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s enfatizando “a educação ambiental, através dos Temas Transversais, dedicando um fascículo a este assunto, mostrando a importância dos vínculos entre a educação e a vida, bem como a evolução da degradação do meio ambiente.”.
Além desta determinação ainda conta-se com a Lei de Diretrizes e Bases – LDB 9394/96, que determina “[...] que a Educação Ambiental deverá ser abordada em todos os conteúdos curriculares sem constituir uma disciplina específica.” (BRASIL, 1996).
Neste tópico cabe salientar que apesar da resistência de alguns profissionais da educação diante da crença de impossibilidade e incompatibilidade de áreas, precisa-se ousar e enfrentar as barreiras conceituais, por isso a interdisciplinaridade deve ser vista “[...] como uma necessidade de interação, de cooperação, de inter-relacionamento explícito entre as disciplinas e, consequentemente, entre as pessoas” (TRISTÃO, 2002, p.175).
Sendo assim, esta ousadia foi percebida e observada durante a pesquisa, tanto na fala dos alunos como na ação dos professores em sala:
“Todos os professores trabalham temas do meio ambiente, poluição, doenças, reciclagem e outros, não é só a professora de ciências que fala sobre isso.” (Carla – aluno 9º ano).
“Algumas vezes encontramos dificuldades quanto a certos assuntos, mas então procuramos os demais professores e conversamos sobre a melhor maneira de trabalhar a EA nos seus diferentes aspectos.” (Joana – Professora).
Ressaltando que foi possível perceber a facilidade de professores das áreas especificas em trabalhar a EA, mas os demais não deixaram de buscar meios (vídeos, textos, sites) para abordar o assunto, este tópico passa a ser base para o tópico seguinte, pois ambos caminham juntos no desenvolvimento da EA.
4.4 FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFISSIONAIS (SALA DE EDUCADOR)
Apesar do nome Sala de Educador, este momento de formação continuada que ocorre na escola uma vez por semana, é um encontro em que todos os funcionários da escola fazem parte, assim desde os profissionais responsáveis pela limpeza, cozinha, administração, salas de aula até a coordenação e direção participam deste momento de troca de conhecimento e, acima de tudo, momento de aquisição de novos conhecimentos.
Segundo as palavras dos professores entrevistados a formação não deve ser voltada somente para os professores ou somente aos funcionários de maneira isolada, mas sim de forma integrada onde as vivencias sejam compartilhadas e as ações repensadas garantindo assim uma educação articulada que visa o bem-estar de todos os envolvidos.
Estas idéias são defendidas por Romanowski (2008, p.131) que define a formação continuada como um processo que precisa “[...] incluir saberes científicos, críticos, didáticos, relacionais, saber-fazer pedagógico e de gestão [...]”, no entanto a autora ainda salienta que “os saberes da experiência são os vivenciados, os que advêm da prática ao longo da carreira, que não atingem o estatuto pelo tempo e pela quantidade, e sim, pela reflexão permanente, pelo confronto com os outros, com as teorias, e pela discussão coletiva”.
Sendo assim todos os profissionais da educação estão aptos a participarem da formação continuada, baseada em teorias e práticas escolares, resultado em um trabalho pensado, refletido e de sucesso, isso ocorre na Escola Estadual Paulo Freire, pois todos os profissionais conversam e atuam no mesmo sentido: qualidade na educação.
Rosalem (2008) destaca que a EA tem ainda como finalidade “proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de adquirir os conhecimentos, o sentido dos valores, as habilidades, o interesse ativo e as atitudes necessárias para proteger e melhorar o ambiente”, e isto pode ser alcançado no trabalho em conjunto durante a formação dos profissionais da educação.
Não esquecendo que neste trabalho articulado a EA acontece de maneira mais fácil, pois como relatam os funcionários e alunos da escola:
“A tia do pátio tem menos trabalho e a escola fica mais limpa se a gente não joga papel pelo pátio.” (Pedro - aluno 6º ano)
“O respeito é o dialogo facilitam o trabalho de todos e mantém um ambiente tranqüilo.” (Cidinha – Zeladora).
“Com o trabalho em conjunto percebemos que os alunos respeitam todos os segmentos da escola, desde a cozinheira, a zeladora, até os colegas, e isto só é possível se todos continuarmos trabalhando juntos.” (Marta – Professora).
“A EA não se resume somente a uma atividade ou assunto de ciências, mas sim a todos nós, por isso é importante que todos façam a sua parte por um todo” (Vanderlei – Professor).
4.5 REALIDADE NA PRÁTICA
Ao iniciar este tópico destacam-se as palavras de Dias (1992)
[..] sobressaem-se as escolas, como espaços privilegiados na implementação de atividades que propiciem essa reflexão, pois isso necessita de atividades de sala de aula e atividades de campo, com ações orientadas em projetos e em processos de participação que levem à autoconfiança, a atitudes positivas e ao comprometimento pessoal com a proteção ambiental implementados de modo interdisciplinar.
Estes dizeres refletem bem a realidade da Escola Estadual Paulo Freire, pois durante a pesquisa pudemos observar e presenciar aulas práticas com visitas ao Parque Florestal da cidade, visitas as casas vizinhas a escola, bem como a presença de palestrantes com nível superior falando a importância da preservação dos recursos naturais, como também de catadores de lixo que ensinaram aos alunos como separar o lixo, ainda presenciamos aulas de reciclagem de diversos materiais, como CDs, garrafas Pet, jornais, tampinhas de garrafas, anéis de latas e outras práticas.
Ruy (2004) atenta para o fato de que
[...] deve-se buscar alternativas que promovam uma contínua reflexão que culmine na metanóia (mudança de mentalidade); apenas dessa forma, conseguiremos implementar, em nossas escolas, a verdadeira Educação Ambiental, com atividades e projetos não meramente ilustrativos, mas fruto da ânsia de toda a comunidade escolar em construir um futuro no qual possamos viver em um ambiente equilibrado, em harmonia com o meio, com os outros seres vivos e com nossos semelhantes.
Atitudes transformadoras de conceitos como estas são importantes para que a EA alcance os objetivos de sua existência, pois todos os segmentos da educação são aptos e capazes de promover melhorias, no entanto o que falta é força de vontade, “Ás vezes é difícil trabalhar a EA em sala de aula, mas quando a transportamos para o dia-a-dia dos alunos encontramos melhores resultados, pois isso sempre que possível trazemos a realidade até a sala ou levamos a sala de aula (alunos) até a realidade.” (Adelaide – Professora).
O contato com o “novo” (despercebido no dia-a-dia) desperta maior interesse dos alunos e promove maior absorção dos conceitos, “Foi bom conhecer um catador de lixo e aprender como separa o lixo, agora eu sei como ajudar, porque antes eu não tinha nem noção de como fazer.” (Fernanda – 9º ano).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando a EA surgiu como um tema interdisciplinar que deveria ser abordado por todas as disciplinas, muitas foram as dúvidas e resistências ao novo modo de pensar, pois como esclarece Santos (2011) “[...] que um dos principais desafios atuais da educação ambiental é influenciar a atual concepção de desenvolvimento adotada pela grande maioria das nações do planeta.”.
Mudanças conceituais e atitudinais não ocorrem de um momento para outro, pois demandam inúmeras ações e estudos para nos conscientizar e mudar nossas atitudes neste mundo capitalista induzido ao consumo desenfreado dos recursos naturais.
No entanto pode-se perceber em nossa pesquisa que a efetiva implantação da EA não está aquém de nossas possibilidades, pois o exemplo dado pela Escola Estadual Paulo Freire do município de Sinop-MT, serve de base para que muitas outras escolas adotem algumas das ações promovidas nesta instituição.
O grupo (professores, alunos e funcionários) passa a ser importante na mudança de conceitos, isto porque somente o coletivo é capaz de promover mudanças conceituais e atitudinais, e os projetos de aprendizagem são um grande passo para este trabalho de sucesso, caracterizado pelo empenho e colaboração de todos os envolvidos na educação.
Desta forma encerra-se esta pesquisa com a certeza que a Educação Ambiental pode ser desenvolvida nas escolas de maneira interdisciplinar, desde que os envolvidos no processo tenham em mente a necessidade da construção de um mundo sustentável, com a promoção de novos comportamentos, bem como o desenvolvimento de novas concepções de relação do homem e o meio ambiente, conservando e respeitando os recursos naturais.
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[1] Rosemeri Hemsing Weber, especialista lato sensu em Metodologia de Ensino de Biologia e Química pela FATEC/FACINTER.
[2] Adelaide Lucas de Souza Norberto, especialista lato sensu em Educação Matemática pela UNEMAT/Colíder.
[3] Luciane Reichert Costa, Luciane Reichert Costa, especialista lato sensu em Metodologia de Ensino de Matemática e Física pela FATEC/FACINTER.