ENSINO APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: concepções de professores
Waldimaria Francisca Cunha Damacena[1]
Adenilson Carlos Pinto[2]
RESUMO
O referente trabalho trata-se de uma pesquisa de conclusão de curso, tem como objetivo investigar e analisar quais as concepções dos professores de Matemática a respeito do processo de ensino-aprendizagem dessa disciplina no contexto da Educação de Jovens e Adultos. A educação de Jovens e Adultos têm se mostrado uma questão da identidade sociocultural dos alunos da EJA, surge então a necessidade de verificar o comprometimento dos professores com uma política de inclusão e garantia do espaço desse educando na escola, só assim o aluno se sentirá como sujeito sociocultural. Para analisarmos esse tema teremos como suporte a pesquisa qualitativa, pois dará suporte para uma interpretação mais detalhada do estudo.
Palavras-chave: Ensino-aprendizagem. Educação. EJA.
ABSTRACT
The related work it is a course completion research aims to investigate and analyze which conceptions of mathematics teachers about the teaching-learning process of this discipline in the context of the Youth and Adult Education. The Youth Education and Adults have been an issue of socio-cultural identity of the EJA students, so the need arises to verify the commitment of teachers with a policy of inclusion and ensuring space that student in school, just so the student will feel like sociocultural subject. To analyze this issue we will have to support qualitative research, as will support for a more detailed interpretation of the study.
Keywords: Learning, teaching education and adult education.
Introdução
O processo de ensino-aprendizagem da Matemática no âmbito da Educação de Jovens e Adultos (EJA) requer um tratamento diferenciado em função da especificidade dessa modalidade frente às demais modalidades da Educação Básica e, portanto, o professor ao organizar o currículo e suas aulas, deve considerar que os educandos da EJA possuem um perfil sócio-cultural distinto dos alunos do ensino regular, e por isso mesmo, requerem que o processo educacional nessa modalidade reconheça as características peculiares do seu público de jovens e adultos.
A Educação de Jovens e Adultos volta-se à questão da identidade sociocultural dos seus educandos. Diante disto, surgiu então a necessidade de verificar o comprometimento desses professores com a política de inclusão, garantia do espaço dos educandos jovens e adultos na escola, e finalmente, do desenvolvimento dos mesmos como sujeitos portadores de conhecimento básico em Matemática, instrumento de melhoria da qualidade de vida, oportunizando-os a perceber e se apropriar das mudanças sociais e culturais provenientes do processo educacional. Compreendendo esse universo, essa pesquisa, buscou analisar o ensino-aprendizagem da Matemática na concepção dos professores da EJA e o comprometimento dos mesmos com a política de garantia do educando na escola proposta pelos documentos que regulamentam a EJA.
Em relação ao tipo de pesquisa, pode considerá-la de duas formas, a primeira concentra-se na pesquisa bibliográfica, esta realizada com base em autores renomados, que dão veracidade ao presente trabalho, e a segunda refere-se ao estudo de caso, este sendo, a parte prática da realização dessa pesquisa. Neste sentido inicia-se o referente trabalho ressaltando um breve relato histórico da EJA e suas especificidades, a disciplina de Matemática neste contexto e as concepções dos docentes desta disciplina para essa modalidade de ensino.
Educação matemática e concepções sobre a EJA
A educação de Adultos nasceu juntamente com o Ensino Elementar em 1549, mas somente no ano de 1824 ocorreu o primeiro fato significativo no campo da Educação de Adultos que foi a Constituição na qual objetivava alfabetizar os cidadãos brasileiros e garantia sua instrução primária e gratuita (Ribeiro, 2007, p.22).
No ano de 1854 surgiu a primeira escola noturna no Brasil, sendo que em 1876 esse número de escolas já passavam de 117, (Gentil, 2002). Porém o ensino de adultos só teve um avanço significativo a partir da década de 1920 graças ao êxodo rural e ao grande surto de urbanização.
No governo Vargas em 1945 após a queda da ditadura, iniciou-se um movimento de fortalecimento dos princípios democráticos no país, onde houve a criação da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), que dita como princípios educar os adultos analfabetos. (Porcarro, 2007). Para atender essa reivindicação foi criado em 1947 o Serviço de Educação de Adultos SEA, com o objetivo de orientar e coordenar os planos anuais de ensino supletivo, e a 1º Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos CEAA-1947, propondo alfabetizar os analfabetos do país em três meses.
Em 1963 na cidade de Angico (RN), Freire que foi um dos grandes defensores da EJA, criou um projeto que visava a efetivação de cem mil matrículas de Jovens e Adultos, financiado pelo Governo do Estado junto a Aliança para o Progresso, assim em 1967 surge o MOBRAL (Movimento Brasileiro da Alfabetização), (Ribeiro, p. 25, 2007).
Em 1971 o exame supletivo foi instituído pelo MEC, em que ganhou capitulo especial na lei de diretrizes e bases da educação – LDBEM n° 5962/71, que estipulava que essa categoria de ensino poderia ser ministrada a distância, por correspondência ou por outros meios adequados a suprir as necessidades de adolescentes e adultos que tiveram seus estudos interrompidos. Após este fato e com a estrutura política na década de 80, as pequenas iniciativas de educação popular começam a ser difundidas, refletindo no fim do MOBRAL e na formulação da constituição de 1988.
No ano de 2000 o Governo Federal, no parecer 11/2000 CNE/MEC, institui a Educação de Jovens e Adultos como modalidade da educação básica, e no Estado de Mato Grosso vale salientar que a efetivação da EJA como modalidade de ensino deu-se através da resolução 180/2000 CEE/MT onde concedia as escolas autonomia de amparo para criar um ambiente propicio a necessidades de cada aluno.
No desenvolvimento da sociedade humana, de uma maneira geral, os conhecimentos matemáticos se mostraram importantes para diversas áreas do conhecimento, aprender matemática é uma necessidade social de todos e constitui-se também, num direito básico dos indivíduos, pois para exercer plenamente a cidadania é importante saber calcular, medir, comparar raciocinar, abstrair, emergindo assim a importância do ensino da matemática em todas as modalidade de ensino, e na Educação de Jovens e Adultos ensinar matemática pode ser mais complexo pois esses alunos já possuem bagagem de conhecimento e vivências onde utilizam a matemática de maneira informal.
Então, os professores devem estar preparados às variadas manifestações de aprendizado do aluno, e na EJA essas manifestações surgem a partir do sucesso que os professores conquistam junto aos seus alunos, os mesmos se espelham nos professores e procuram a educação para se libertarem de aprisionamentos sociais causados pela falta desta. Outro fator importante para que o professor da EJA tenha como guia metodológico é entender as construções empíricas de conhecimento que o aluno consegue expor, defendido por Fonseca (2005).
O ensino da Matemática na EJA deve ser concebido e estruturado de forma que a aprendizagem parta de algo significativo e os conhecimentos matemáticos construídos pelos alunos jovens e adultos repassem pela valorização do processo histórico-cultural de suas vivências, constituindo esses como aspectos fundamentais na promoção da aprendizagem significativa da matemática. Nessa trajetória de transposições de conhecimentos temos que analisar que significados os docentes dão em relação a matemática, pois segundo (Brasil, 2008, p. 194), a atuação do professor no ensino da matemática é uma conseqüência do modo como vêem matemática, modo esse construído ao longo de suas experiências de aluno, de formação profissional e de exercício da profissão.
Logo a significabilidade do ensino da matemática parte, sobretudo do que já é conhecimento daqueles educandos, e na EJA o ensino se torna significativo a partir do momento que os educadores compreendem o grau de instrução e a realidade social desses educandos.
A presente pesquisa teve por principal objetivo analisar nas concepções dos professores de matemática na utilização de metodologias de ensino para a modalidade EJA, em especial a influência que as novas metodologias de ensino têm em relação ao modo que o professor trabalha em sala de aula. Sendo assim, essa pesquisa está norteada pelos pressupostos teóricos que caracterizam a pesquisa qualitativa.
Com isso, pretende-se que a investigação propicie um avanço na compreensão das concepções dos sujeitos, sendo assim, é fundamental que se tenha acesso aos significados que os sujeitos atribuem à modalidade da EJA.
Portanto, como o professor é questionado em seu ambiente natural, ou seja, a escola onde cada um vive uma realidade e uma proposta escolar diferente é possível que encontremos diferentes concepções daqueles que lidam com a modalidade de EJA para o ensino da matemática. Sendo assim, esta pesquisa consiste em descobrir e analisar essas concepções e dar uma resposta a nossa questão diretriz, qual seja, Quais as concepções dos professores de Matemática a respeito do processo ensino-aprendizagem dessa disciplina no contexto da Educação de Jovens e Adultos?
Para efetivação do trabalho, foram utilizados questionários de caracterização como instrumento para a coleta de dados que possibilitou fazer a análise dos dados, esses questionários eram de questões abertas e foram aplicados á docentes que lecionavam a disciplina de Matemática na unidade de ensino CEJA (Centro de Educação de Jovens e Adultos) Silva Freire. O Centro de Educação de Jovem e Adulto Benedito Santana Silva Freire está localizado na rua das Avencas s/n, criado no ano de 2009 tendo por finalidade “constituir identidade própria para a modalidade de Educação de Jovens e Adultos e oferecer formas diferenciadas de educação que compreenda a educação formal e informal integrada ao mundo do trabalho ao longo da vida e a necessidade de reconhecer as especificidades dos sujeitos educandos de jovens e adultos dos diferentes tempos e espaços formativos” (Mato Grosso, 2008).
Após, foi realizada entrevistas semi-estrutura com o objetivo de aprofundar as informações obtidas, pois, segundo Bogdan e Biklen (1994) apud Pereira (2005): mesmo quando se utiliza um guião às entrevistas qualitativas oferecem ao entrevistador uma amplitude de temas considerável que lhe permite levantar uma série de tópicos e oferecem ao sujeito a oportunidade de moldar seu conteúdo.
Conclusão
O objeto de estudo desta pesquisa, buscou analisar o ensino-aprendizagem da Matemática na concepção dos professores da EJA e o comprometimento dos mesmos com a política de garantia do educando na escola proposta pelos documentos que regulamentam a EJA.
Após realizada esta pesquisa, pode-se diagnosticar que praticamente todos os professores entrevistados não fizeram curso específico para trabalhar matemática com a modalidade EJA, em relação às dificuldades trazidas pelos alunos na disciplina de matemática todos os entrevistados disseram que seus alunos apresentavam dificuldades, mas vale ressaltar que possuem exceções. Muitos consideram que a matemática é uma disciplina difícil nos diversos segmentos educacionais, e todos eles ressaltam as dificuldades específicas desses alunos, apontando que a maioria deles ficaram muito tempo fora da sala de aula, e isso se torna mais um obstáculo a ser superado em um trabalho conjunto entre professores e alunos.
O conhecimento matemático produzido pelos educandos e o resgate do processo histórico-cultural desse conhecimento matemático devem se constituir como fundamentais para promover uma aprendizagem significativa. Assim, num contexto com especificidades tão particulares como é a Educação de Jovens e Adultos, o processo de ensino-aprendizagem da Matemática deve buscar compreender os percursos escolares e vivências diversificadas dos educandos dessa modalidade no tocante à construção de suas idéias Matemáticas, e o professor como promotor e mediador desse processo, vivencia sua atuação docente a partir de suas concepções de educação, solidificado na profissionalidade.
Assim, ao analisarmos as concepções de educação presente nas falas dos professores entrevistados percebeu-se que se faz necessário a formação específica, tanto inicial quanto continuada, com ênfase na Educação Matemática de Jovens e Adultos.
REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO
BRASIL, Ministério da Educação, Programa Gestão da Aprendizagem Escolar - GESTAR II. MATEMÁTICA: Caderno de teoria e prática 1 – TP 1, Secretaria de Educação Básica, Brasília, 2008.
FONSECA, Maria da Conceição Ferreira Reis- Educação Matemática de Jovens e Adultos -2ª ed. Belo Horizonte, 2005.
GENTIL, Viviane, EJA: contexto histórico e desafios da formação docente. Publicado em 2002. Disponível em: <www.cereja.org.br> ultimo acesso 20 jun. 2009.
MATO GROSSO; Secretaria de Educação e Cultura, Resolução 180 CEE/MT, Conselho Estadual de Educação, 2000. 40
MATO GROSSO; Secretaria de Educação e Cultura, Decreto n° 1.123 CEE/MT, Conselho Estadual de Educação, 2008.
PEREIRA, Milton Luiz Néri. História da Matemática e Educação Matemática: Como os professores concebem o uso da História da geometria no ensino de geometria. 2005. 333f. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências) – Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá.
PORCARRO, Rosa Cristina, A História da Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Publicado em 2007. Disponível em: <www.dpe.ufv.br> ultimo acesso 24 jun. 2009.
RIBEIRO, Emerson da Silva Ribeiro, Darsie, Marta Maria Pontin. Educação de Jovens e Adultos: concepções e especificidades. Publicado em 2007. Disponível em: <www.ufmt.br> ultimo acesso 30 out. 2008.
[1] Licenciatura plena em matemática. Atua como professora na escola Municipal Papa João Paulo II. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
[2] Licenciatura plena em matemática. Atua como professora na escola Municipal Jardim Bela Vista. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.