A APRENDIZAGEM NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DA CRIANÇA SEGUNDO EMÍLIA FERREIRO
Keli Cristina Ferreira da Cunha¹
RESUMO:
O presente artigo relata formas básicas de um conjunto de práticas de ensino que envolve o sistema de alfabetização das crianças, compreendendo o processo de construção do conhecimento da criança, com objetivo em analisar a aprendizagem inicial, envolvendo o sistema de leitura e de escrita que cada aluno desenvolve. Foi desenvolvido uma pesquisa bibliográfica baseado na autora Emília Ferreiro e outros autores, pesquisadores sobre o processo de alfabetização das crianças. O estudo revelou que o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos e alunas, está em processo contínuo com as experiências vivenciadas por cada indivíduo.
Palavras-chave: Aprendizagem. Alfabetização. Criança.
ABSTRACT
This article presents basic forms of a set of teaching practices involving children literacy system, comprising the construction process of the child's knowledge, in order to analyze the initial learning, involving the system of reading and writing each student develops. a literature search based on author Emilia Ferreiro was developed and other authors, researchers on the literacy process of children. The study revealed that the development of students' learning and students, is a continuous process with the life experiences of each individual.
Keywords: Learning. Literacy. Child.
Introdução
Tendo em vista a problemática de como se dá o desenvolvimento na aprendizagem inicial da criança em seu processo de alfabetização, segundo Emília Ferreiro, chega-se analisar o conjunto de práticas de ensino que envolve o sistema de alfabetização em torno da leitura e da escrita. Entender a interpretação que a criança faz do sistema de escrita. Conhecer algumas propostas e aspectos que a autora explica dos processos e formas as quais a criança desenvolve a aprendizagem e chega a ler e a escrever, e a compreender o processo de construção do conhecimento da criança no início da aprendizagem.
1 Especialização em Alfabetização e Letramento, pela Universidade São Luiz EAD. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.. Orientadora: Maria do Carmo Iroshi Coelho.
Esse trabalho traz uma importância muito grande para nós futuros profissionais da educação onde é possível verificar as dificuldades e fracassos nas séries iniciais na aprendizagem da leitura e escrita.
As obras de Emília Ferreiro destacam que as crianças são facilmente alfabetizáveis, e que são os adultos que sempre dificultam esse processo.
Considerando que a pesquisadora Emília Ferreiro realizou diversos estudos acerca do processo de alfabetização, escolhi o tema “A aprendizagem no processo de alfabetização da criança, segundo Emília Ferreiro” para conhecer algumas propostas e aspectos, e entender como a autora e outros autores explicam os processos e formas mediante as quais a criança chega a ler e escrever.
O desenvolvimento desse tema contribui para uma melhor prática sendo de suma importância na realização de um bom trabalho em sala de aula, envolvendo a escola em suas práticas pedagógicas contribuindo e oferecendo qualidade para a sociedade. Sendo uma pesquisa científica pode se analisar e compreender aspectos e propostas de diversos autores.
A forma de pesquisa para elaboração desse artigo foi totalmente bibliográfica, leituras de diversas obras de autores que realizaram pesquisas sobre o processo de alfabetização, proporcionando investigar o processo de aprendizagem.
O Trabalho desenvolvido na alfabetização
A alfabetização envolve um processo de construção de conhecimento com uma concepção de aprendizagem que o vê com algo produzido, construído pela ação e pela reflexão do sujeito.
Ela não é vista como algo desconexo do mundo, sendo que envolve um processo de construção de conhecimentos, e carrega a pretensão de reconhecer os educandos como sujeitos autônomos, críticos na sociedade para serem sujeitos ativos, possuindo a competência de transformar a sociedade. Segundo Ferreiro e Teberosky,
“A posição que sustentamos reiteradamente é que o marco da teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget é apto para compreender os processos de apropriação de conhecimentos envolvidos na aprendizagem da lecto-escrita. Dizemos apropriação do conhecimento, e não aprendizagem de uma técnica. Contudo o que essa apropriação significa aqui como em qualquer outro domínio da atividade cognitiva: um processo ativo de reconstrução por parte do sujeito que não pode se apropriar verdadeiramente de um conhecimento senão quando compreendeu seu modo de produção, quer dizer, quando o reconstituiu internamente. (1985, p. 275).”
A partir da década de 1980 constam avanços significativos nas investigações sobre alfabetização, com destaque para as pesquisas que focalizaram os processos de aprendizagem pela criança. Essas pesquisas deslocam o foco de atenção de alfabetização e nas relações entre QI e alfabetização e elegem como unidade de análise o processo de construção do conhecimento pelo o sujeito. Além desses estudos as investigações empíricas no contexto sala de aula têm focalizado a relação professor-aluno-conhecimento, através da análise dos processos interativos e discursivos na sala de aula.
Do conjunto que focalizam processos de aprendizagem, destacam-se a investigação inovadora de Ferreiro e Teberosky realizada entre os anos de 1975 e 1980, que teve como objeto de estudo os processos de apropriação do sistema de escrita em crianças pré-escolares argentinas e mexicanas. Baseando-se nos estudos de Piaget e nos avanços das ciências linguísticas, Ferreiro e Teberosky (1991) realizaram estudos experimentais, utilizando o método clinico desenvolvido por Piaget como um instrumento de abordagem dos sujeitos pesquisados. O objetivo era revelar e interpretar as hipóteses elaboradas pela criança no processo de construção do conhecimento sobre a escrita.
Os resultados desse trabalho apontam para uma transformação na concepção do sujeito que aprendem a língua escrita, não mais por alguém que aprende por repetição, copiando e reproduzindo letras isoladas, sílabas, palavras, frases, mas um sujeito que aprende atuando com a língua e sobre a língua, buscando compreender o sistema de escrita, formulando hipóteses.
Esse processo de aprendizagem não espera a escola, começa a ocorrer muito antes de a criança submeter-se ao ensino sistemático, muito antes de ser “autorizada” a aprender.
O trabalho de Ferreiro e Teberosky altera significativamente a concepção de erro no processo de aprendizado da escrita; se antes eram tratados como algo a ser evitado, um desvio de processo, uma patologia da criança, eliminados através de treino e repetição, os erros da escrita das crianças passam a ser vistos como parte do processo, construtivos, indicadores das hipóteses que a criança constrói sobre a escrita, os conhecimentos que já possui sobre esse objeto. Nessa perspectiva altera-se a orientação do processo de ensino-aprendizagem na escola, redimensionando-se práticas centradas apenas na codificação e decodificação do código escrito.
A pesquisa de Ferreiro avançou até o estágio denominado “alfabético”. O processo de compreensão das regras e convenções ortográficas e de outros aspectos do sistema de escrita não se constituiu em objeto de suas investigações naquele momento. As principais conclusões é o aprendizado da escrita que começa antes da entrada da criança na escola; na interação com a escrita a criança formula hipóteses em direção à compreensão da natureza alfabética do sistema; essas hipóteses são regulares, ou seja, todas as crianças que aprendem o sistema alfabético passariam pelas mesmas etapas.
Considerando a natureza heterogênea da escrita, a autora afirma, com base em dados empíricos, que o que se vê na apropriação da escrita, na sala de aula, é uma diversidade de formas de interpretação desse objeto de conhecimento pela criança, derivada das experiências que cada uma tem com a leitura e a escrita em seu meio sociocultural. O professor desempenha um papel fundamental no processo de apropriação, apontando e nomeando aspectos do sistema de escrita que não seriam percebidos espontaneamente. Essa apropriação, portanto, não ocorre da mesma forma para todas as crianças, dada a diversidade das práticas de ensino da leitura e da escrita.
O conhecimento do sistema de escrita é apenas um dos aspectos que envolvem a leitura e a escrita. “Ter se apropriado do sistema de escrita (codificando e decodificando, relacionar fonemas e grafemas) é diferente de ter aprendido a ler e a escrever” (Soares, 1998). Portanto, outro aspecto fundamental que envolve o processo de alfabetização é a apropriação dos usos e funções sociais da escrita.
Para Ferreiro (1996) a leitura e escrita são sistemas construídos paulatinamente. As primeiras escritas feitas pelos educandos no início da aprendizagem devem ser consideradas como produções de grande valor, porque de alguma forma os seus esforços foram colocados nos papéis para representar algo.
Os estudos sobre processos de apropriação da escrita no contexto da sala de aula apontam novas orientações para o processo de ensino, ao evidenciar que o professor exerce um papel determinante, não sendo apenas um facilitador ou um orientador, mas um mediador da prática pedagógica.
Smolka extraiu uma proposta de uma prática conservadora, em que o professor propõe uma orientação pedagógica baseada no treino e na repetição das letras, sílabas e frases, com uma ênfase no método de ensino e em uma concepção de língua como um código desvinculado de suas características sociais. Uma hipótese importante nessas praticas é a de que o aprendizado por meio das semelhanças é mais simples e mais fácil para a criança.
Assim o ensino começa pelo conjunto das vogais e consoantes, depois as “sílabas simples” e, por último, as “sílabas complexas”. As crianças não escrevem para cumprir os usos e funções sociais da leitura e da escrita, ou seja, para registrar uma ideia, documentar um fato, para interagir com alguém distante, etc. Escrevem palavras e sílabas soltas, sem articulação e sem sentido, tendo por motivo “aprender a ler e escrever”. A intenção do professor é mostrar as relações grafemas-fonemas.
A escrita e a leitura produzidas pela escola pouco têm a ver com as experiências de vida e de linguagem da criança fora da escola. A realidade cotidiana é o resultado de um conjunto complexo de condições e circunstâncias em que pesam fatores socioeconômicos, políticos, ideológicos.
Outra situação de ensino e aprendizagem evidencia uma relação diferente do professor e dos alunos com a escrita, a partir de uma concepção de linguagem como interação e como discurso. A interação da criança com alguns materiais escritos evidencia uma variedade de modos de leitura e estratégias de interpretação das crianças. Evidencia que o que as crianças percebem como relevante ou significativo não é sempre a mesma coisa e não é a mesma coisa para todos. Que os recortes que as crianças fazem dependem das informações adquiridas na sua experiência de vida e que essas interpretações dependem também do contexto, das situações, das funções e usos que elas fazem da escrita em seu meio social, depende de seus esquemas. Isso significa que o processo de apropriação da escrita não pode ser considerado como regular e homogêneo, universal, como propõe Ferreiro e Teberosky. A diversidade é parte constitutiva de processo.
Alguns elementos são relevantes para o subsídio de práticas de alfabetização, a apropriação da escrita ocorre na interação com o outro, e não na interação direta do sujeito com o objeto de conhecimento; a atividade mental da criança no processo de alfabetização não é apenas cognitiva, mas é uma atividade discursiva; as apropriações são diversas e variadas e refletem as características sociais; ao apropriar-se do sistema de escrita, a criança apropria-se também de um modelo de escrita e de texto; das condições de produção da prática de leitura e de escrita.
De acordo com suas experiências com crianças, Ferreiro (1999, p.44-7), esquematiza algumas propostas fundamentais sobre o processo de alfabetização inicial. Restituir a língua escrita seu caráter de objeto social; Desde o inicio (inclusive na pré-escola) se aceita que todos na escola podem produzir e interpretar escritas, cada qual em seu nível; Permite-se e estimula-se que as crianças tenham interação com a língua escrita, nos mais variados contextos; Permite-se o acesso o quanto antes possível à escrita do nome próprio; Não se supervaloriza a criança, supondo que de imediato compreendera a relação entre a escrita e a linguagem; Não se pode imediatamente, ocorrer correção gráfica nem correção ortográfica.
Entretanto no processo de alfabetização inicial, nem sempre esses critérios são utilizados. Sabemos que os professores ensinam da mesma maneira como aprenderam quando eram alunos, e não aceitam os erros que seus alunos cometem. Ferreiro (1999, p.47) afirma que “a alfabetização não é um estado ao qual se chega, mas um processo cujo início é na maioria dos casos anterior a escola é que não termina ao finalizar a escola primária”. A autora defende que, de todos os grupos populacionais as crianças são as mais facilmente alfabetizáveis e estão em processo continuo de aprendizagem, enquanto que os adultos já fixaram formas de ação e de conhecimento mais difíceis de modificar ressalta ainda que:
“Há crianças que chegam à escola sabendo que a escrita serve para escrever coisas inteligentes, divertidas ou importantes. Essas são as que terminam de alfabetizar-se na escola, mas começaram a alfabetizar muito antes, através da possibilidade de entrar em contato, de interagir com a língua escrita. Há outras crianças que necessitam da escola para apropriar-se da escrita.
(Ferreiro, 1999, p.23)”
A pesquisadora, assumindo ser dedicada fundamentalmente a tentar compreender o desenvolvimento dos conceitos infantis sobre a língua escrita, afirmam que através dos resultados obtidos uma conclusão deve ser considerada as crianças são facilmente alfabetizáveis foram os adultos que dificultaram o processo de alfabetização delas. (Ferreiro, 1999, p.17)
Goodman (1980 Apud Ferreiro & Palácio, 1987, p.86). Cito alguns princípios que as crianças descobrem e aprendem a controlar à medida que desenvolvem um sistema de escrita:
Os princípios funcionais desenvolvem-se á medida que a criança soluciona o problema de como escrever e para que escrever. A significação que a escrita tenha em seu dia a dia terá consequências no desenvolvimento desses princípio e as funções especificam dependerão da necessidade que a criança sentira da linguagem escrita.
Os princípios linguísticos desenvolvem-se à medida que a criança resolve o problema da forma como a linguagem escrita esta elaborada para extrair significados na cultura. Nessas formas estão incluídas as regras ortográficas, grafo fônicas, sintáticas, semânticas e pragmáticas de linguagem escrita.
Os princípios relacionais desenvolvem-se a medida em que a criança resolve o problema de como a linguagem escrita chega a ser significativa. Assim, passa a compreender com a linguagem escrita representa as ideias e os conceitos que as pessoas, os objetos no mundo real e a linguagem oral possuem em uma determinada cultura.
Existem práticas que levam a criança às convicções de que o conhecimento é algo que os outros possuem e que só se pode adquirir da boca destes, deixando, assim, de ser participante da construção. Algumas práticas levam a pensar que aquilo que existe para conhecer já foi estabelecido, como um conjunto de coisas fechado que não podem se modificar. Há práticas que levam a criança a ficar sem participar do conhecimento, como espectador ou receptor daquilo que o professor ensina.
Ferreiro afirma que “nenhuma pratica pedagógica é neutra. Todas estão apoiadas em certo modo de conceber o processo de aprendizagem e o objeto dessa aprendizagem” (2000, p.31).
Cada sujeito deve reconstruir o processo de leitura e escrita percorrido pela humanidade de forma pessoal e original.
O educando possui diferentes interações com o código escrito e, dependendo do seu uso social, a criança elabora hipóteses que juntamente com as experiências vividas, enriquecem e significam o processo. É por isso que se enfatiza a importância de que as crianças entrem em contato com o uso social da leitura e da escrita, reconhecendo a função social da linguagem.
Para Vygotski a aprendizagem está relacionada ao desenvolvimento e só acontece quando o sujeito está envolvido num grupo ou meio cultural. A partir das experiências vivenciadas por cada indivíduo, o significado de uma palavra pode carregar sentidos diferentes a partir de uma situação que ela vivencia, a experiência individual é mais complexa do que a generalização que se apresenta nos signos.
Neste processo de alfabetização, o sujeito alfabetizando precisa ser permeado por situações de conflitos singulares que para uns poderá ser essencial, enquanto outros o consideram desnecessário, pois não há uma linearidade e uma uniformidade nas vivências e na identidade de cada sujeito.
A estas inquietações podemos agregar os estudos da Psicogênese da Língua Escrita de Emília Ferreiro (1985), que vieram estabelecer níveis progressivos para o desenvolvimento da escrita e que ajudam a melhor identificar a etapa vivenciada por cada sujeito em determinado espaço de tempo. Essa situação de atualização de experiências vividas é explicada pela Psicologia, que menciona o fato do sujeito comumente poder transferir para uma situação ativa o que viveu em situação passiva, de modo que boas experiências de aprendizagem revertem numa possível relação amistosa para aprender, e seu inverso também.
O processo de alfabetização depende também das experiências prévias de cada alfabetizando, que acontecem antes mesmo da educação escolar, através das atividades não formais que as crianças vivenciam e, assim, podem criar estratégias para tentar identificar, interpretar o que está no texto codificado pelas letras.
Verificamos que as crianças quando estão mediante um texto, elaboram hipóteses e tem critérios investigativos, para descobrir e desvendar as informações que os jornais, os livros, as revistas, os outdoors, as placas, os rótulos comportam. Utilizam informações prévias como: tipo e tamanho de letra, se colorida ou discreta, retiram indícios das gravuras que o texto traz e, assim, elaborando uma possível representação da mensagem. Todo este repertório de investigação está num processo mental reflexivo elaborado desde as primeiras noções que podem construir em torno da leitura, esse conjunto é o que constitui o contexto do universo de letramento, numa mútua implicação com a alfabetização.
Utilizamos a concepção teórica de Soares, para identificar as características do ato de ler:
“Dessa forma, ler entende-se desde a habilidade de simplesmente traduzir em sons sílabas isoladas, até habilidades de pensamento cognitivo e meta cognitivo; inclui, entre outras habilidades, a habilidade de decodificar símbolos escritos; a habilidade de captar o sentido de um texto escrito; a capacidade de interpretar sequência de ideias ou acontecimentos, analogias, comparações, linguagem figurada e relações complexas, anáforas; e ainda habilidade de fazer predições iniciais sobre o significado do texto, de construir o significado combinando conhecimentos prévios com informações do texto, de controlar a compreensão e modificar as predições iniciais, quando necessário, de refletir sobre a importância do que foi lido, tirando conclusões e fazendo avaliações. (2004, p.31).”
Da mesma forma, ao escrever percorremos o caminho das predições, de interpretar e combinar significados, na tentativa de decifrar e se apropriar deste código escrito, o mais semelhante possível ao modelo convencional. É importante que estes passos iniciais ocorram com situações significativas, a exemplo da escrita do seu nome próprio e de seus familiares, amigos e colegas, palavras e textos de seu interesse. Utilizando a abordagem teórica de Ferreiro, descrita por Kato, encontramos quatro diferentes níveis de escrita.
“No nível Pré-silábico a escrita não apresenta nenhuma correspondência sonora, isto é, que não fazem correspondência entre grafia e som. [...] No nível Silábico, a criança procura efetuar correspondência entre grafia e sílaba, geralmente uma grafia para cada sílaba o que não exclui alguns casos problemáticos derivados de exigências de quantidade mínima de letras. [...] No nível Silábico-alfabético a sistematicidade da tarefa executada pela criança se dá no sentido de que cada grafia corresponde a um som. [...] No nível Alfabético, a escrita é organizada com base na correspondência entre grafias e fonemas. (FERREIRO, apud KATO, 1994, p. 55).”
Na passagem de um nível de entendimento para outro superior está a essência da aprendizagem que, acompanhada pela construção de novas estruturas, novas hipóteses e esquemas de compreensão, fazem do aprender um processo contínuo, infindo em suas possibilidades, até mesmo, no processo de alfabetizar-se permanentemente em novos textos e contextos.
É indispensável que a partir desta concepção quanto maiores as vivências e mais qualitativas forem as interações com materiais escritos, o que compreende a construção de um mundo letrado de significado, maior facilidade terá a criança para compreender a alfabetização. Como também, se para a família a leitura e a escrita são atividades cotidianas, maior desejo terá a criança de construir este processo para compartilhar deste conhecimento comum na família. Caso contrário, a alfabetização poderá ser um processo lento, difícil que envolverá até “sofrimento” para reconhecer o valor e a função da leitura e da escrita como formas prazerosas de comunicação.
Conforme Freire e Macedo, “alfabetização significa adquirir língua escrita através de um processo de construção do conhecimento, dentro de um contexto discursivo de interlocuções e interação, com uma visão crítica da realidade”. (1990, p. 17).
É importante valorizar o envolvimento que o aluno dá ao processo de conhecimento, feito pela escolarização. Porque, ao reconhecer a alfabetização como processo que lhe permite autonomia no ser, fazer, conhecer e conviver, fica a possibilidade de associar-se à descoberta do prazer em aprender. Se o sujeito escolar aprender a conhecer, conseguirá de modo autônomo, aprender a aprender. Quando conseguir aprender a fazer, terá uma competência em experiências práticas.
Ferreiro aborda que “aprender a ler e a escrever, em uma sociedade letrada, tem o significado de apropriação de poder, de um instrumento que permite participar na sociedade como um cidadão pleno, e não como cidadão pela metade”. (1990, p. 69). Este pensamento enfatiza o processo de autoria e de identidade que a alfabetização traz, que se opõem ao preconceito com os analfabetos, de serem sujeitos constituídos como sem identidade, “sem plenitude”, tidos como submissos, incapazes, à mercê da sociedade, sem condições de participar desta conquista comunicativa.
Busco a concepção de Teberosky e Cardoso, “criar situações de aprendizagem significativas, partindo do nível conceitual real de cada criança, de seus conhecimentos, com o objetivo de que seja a própria criança quem elabore e desenvolva seu projeto, quem planifique e regule sua atividade”. (1993, p. 234). Cada alfabetizando torna-se protagonista de sua construção, mas ao alfabetizador é dado o papel não de simples coadjuvante, porém de alguém que deve possuir competência para cumprir a tarefa de planejar, inventar situações e atividades a fim de que haja aprendizagem.
O processo de alfabetização vai se concretizando pelas situações reais formadas e as tentativas que o aluno faz para acertar, cometendo falhas construtivas, melhorando sua forma de pensar, escrever e ler, com o auxílio da intervenção docente, num espaço social e colaborativo. Como dito antes, a conquista da alfabetização é mediada por hipóteses que revelam o constante processo de reformulação das descobertas discentes.
No processo de alfabetização contemporâneo e suas consequências nos âmbitos sociais, culturais, cognitivos e na inserção social letrada, surgiu a necessidade de utilizar um termo diferente, inovador: Letramento.
Para Soares, “Letramento é, pois, o resultado da ação de ensinar ou aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita”. (2001, p.18).
Na escola precisamos ensinar com leituras e produções reais, significativas, assim como ouvimos para falar, deve-se cumprir essa relação entre escrever para ser lido e ler para escrever melhor, utilizando a função prática da linguagem em nossa sociedade.
A educação precisa ter uma finalidade concreta, para que também motive o desejo de aprender, ao cumprir seu propósito na comunicação. Na própria escola é construído o espaço da ação dos sujeitos para abrir possibilidades e ampliar os conhecimentos. De acordo com Marta Kohl de Oliveira:
“A escola é, assim, um lugar social onde o contato com o sistema de escrita e com a ciência enquanto modalidade de construção de conhecimento se dá de forma sistemática e intensa, potencializando os efeitos desses outros aspectos culturais sobre os modos de pensamento. Além disso, na escola o conhecimento em si é objeto privilegiado da ação dos sujeitos envolvidos, dependentemente das ligações desse conhecimento com a vida imediata e com a experiência concreta dos sujeitos. (OLIVEIRA, apud KLEIMAN, 1995, p.156).”
Alfabetização é um processo que se inicia muito antes do ingresso dos sujeitos na escola e não tem limite para terminar, pois no decorrer da vida estaremos nos alfabetizando. Nossa sociedade é letrada e cercada de materiais escritos, conhecimentos socialmente construídos e que transitam no cotidiano de todos nós, ao qual devemos ter acesso e domínio.
A alfabetização e o letramento são processos complementares, inter-relacionados, sendo que um facilita a importância do outro. Quanto mais entendemos a função social da linguagem, no uso da leitura e da escrita melhor será nosso nível de letramento.
De acordo com Ribeiro, “Letramento - procura compreender a leitura e a escrita como práticas sociais complexas, desvendando sua diversidade, suas dimensões políticas e implicações ideológicas”. (2003, p.12).
A escola como espaço de aprendizagem, deve superar a manutenção da hegemonia social e abrir espaço para a promoção da igualdade que suporta a diferença, com uma educação transformadora e cidadã. Assim, precisa trabalhar a alfabetização com fascinação e encantamento, despertando o imaginário e a subjetividade, para que estes sujeitos ao longo da vida preservem seus hábitos de leitores e escritores, utilizando como função social sua capacidade de letrados.
A sala de aula é um espaço de diversidade, cada sujeito traz seu repertório, sua bagagem cognitiva, e como alfabetizar é uma tarefa complexa com níveis diferenciados, nada melhor que oportunizar a interação e a riqueza das desigualdades, relacionando saberes entre professores e alunos.
Moura (1999, p. 213) aponta que no processo de ensino-aprendizagem o educador deve partir dos interesses e realidade dos educandos, tendo comprometimento na sua atuação, uma vez que,
“Os motivos dos alfabetizandos devem servir de motivação para os alfabetizadores. Devem despertar-lhes o interesse e o desenvolvimento de atitudes no sentido de levar a sério a tarefa de alfabetizar, de pesquisar, de aprender, junto com eles, de entender a importância do planejamento e da organização da prática como extensão das exigências que são feitas nas práticas sociais mais amplas. (MOURA, 1999, p.213).”
Para Emilia Ferreiro as dificuldades e fracassos nas séries iniciais na aprendizagem da leitura e escrita constituem um problema que nenhum método conseguiu solucionar. Em suas obras, porem ela não apresenta nenhum método pedagógico que deveria ser seguido pelos professores para alfabetizarem seus alunos, mas revela os processos de aprendizagem das crianças.
Tendo como base de referencia a teoria psicológica e epistemológica de Piaget, a pesquisadora mostra que a criança constrói seus sistemas interpretativos, ou seja, pensa em diferentes hipóteses para construir seus conhecimentos.
É necessário que o professor considere as escritas do ponto de vista construtivo, representando a evolução de cada criança, é preciso que haja uma reestruturação interna na escola com relação à alfabetização e também no que se refere às formas de alfabetizar.
O procedimento metodológico dessa pesquisa está relacionado na área da ciência quanto à pesquisa teórica, com leituras aprofundadas onde analisei uma compreensão do pensamento expresso nas obras e a identificação dos pressupostos. Associando as ideias expostas com ideias de outras abordagens.
A partir da interpretação obtive uma coleta de elementos, dados e informações de autores que realizaram pesquisas sobre o processo de alfabetização, proporcionando investigar o processo de aprendizagem, que começa a ocorrer muito antes de a criança se submeter ao ensino sistemático.
Foi adotada uma pesquisa somente teórica, pois uma pesquisa tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas propostos.
Visando a realização dessa pesquisa foram seguidos os seguintes passos, leituras de diversas obras e diferentes autores. Tendo a fonte básica de Emília Ferreiro.
Esse trabalho é desenvolvido com o objetivo em pesquisa bibliográfica e exploratória, onde foi recuperado o conhecimento científico, proporcionando um levantamento bibliográfico.
Com uma abordagem qualitativa, analisando dados e informações, coletados em obras de Emília Ferreiro e outros autores que realizaram estudos experimentais.
A concepção de aprendizagem que vê o conhecimento como algo produzido, construído pela ação e pela reflexão do sujeito. Esse sujeito no caso o aluno que tem experiências, saberes e conhecimentos, contribui para uma melhor prática sendo de suma importância na realização de um bom trabalho em sala de aula, envolvendo a escola em suas práticas pedagógicas contribuindo e oferecendo qualidade para a sociedade.
Sendo uma pesquisa científica pode se analisar e compreender aspectos e propostas de diversos autores. Trazendo benefícios e contribuindo para a formação de novos profissionais da educação, compreendendo a dimensão dessa profissão, auxiliando na investigação do processo educativo.
Nessa perspectiva, ressalto que o objetivo de adotar a pesquisa bibliográfica como um dos elementos que contribuem na formação docente é que o professor conheça a origem do problema e assim possa determinar a melhor ação educativa a ser adotada.
Considerações finais
Através do estudo foi possível compreender que para Emilia Ferreiro as dificuldades e fracassos nas séries iniciais na aprendizagem da leitura e escrita constituem um problema que nenhum método conseguiu solucionar. Em suas obras, porem ela não apresenta nenhum método pedagógico que deveria ser seguido pelos professores para alfabetizarem seus alunos, mas revela os processos de aprendizagem das crianças.
Alguns resultados apontam para uma transformação na concepção do sujeito que aprendem a língua escrita, não mais por alguém que aprende por repetição, copiando e reproduzindo letras isoladas, sílabas, palavras, frases, mas um sujeito que aprende atuando com a língua e sobre a língua, buscando compreender o sistema de escrita, formulando hipóteses.
Esse processo de aprendizagem não espera a escola, começa a ocorrer muito antes de a criança submeter-se ao ensino sistemático, muito antes de ser “autorizada” a aprender.
Os estudos sobre processos de apropriação da escrita no contexto da sala de aula apontam novas orientações para o processo de ensino, ao evidenciar que o professor exerce um papel determinante, não sendo apenas um facilitador ou um orientador, mas um mediador da prática pedagógica.
Destaco uma prática conservadora, em que o professor propõe uma orientação pedagógica baseada no treino e na repetição das letras, sílabas e frases, com uma ênfase no método de ensino e em uma concepção de língua como um código desvinculado de suas características sociais. Assim o ensino começa pelo conjunto das vogais e consoantes, depois as sílabas simples e as complexas. As crianças não escrevem para cumprir os usos e funções sociais da leitura e da escrita, escrevem palavras e sílabas soltas, sem articulação e sem sentido, tendo por motivo aprender a ler e escrever. Uma conclusão deve ser considerada as crianças são facilmente alfabetizáveis foram os adultos que dificultaram o processo de alfabetização delas.
É necessário que o professor considere as escritas do ponto de vista construtivo, representando a evolução de cada criança, é preciso que haja uma reestruturação interna na escola com relação à alfabetização e também no que se refere às formas de alfabetizar.
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