Buscar artigo ou registro:

 

JOGOS LÚDICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Playful Games in Child Education

 

Claudia Aguiar Santana

Resumo

Não é de hoje que as brincadeiras e jogos fazem parte do mundo infantil, se trata de elementos culturais que estão inseridos na sociedade desde os primórdios. De acordo com Vygotsky (1991), a brincadeira é entendida como atividade social da criança, cuja natureza e origem específicas são elementos essenciais para a construção de sua personalidade e compreensão da realidade na qual está inserida. Sendo assim, este artigo tem por objetivo analisar, através de um apanhado teórico, a relevância dos jogos educativos no desenvolvimento infantil, demonstrando que a ludicidade é uma ferramenta importante para auxiliar os professores na apresentação dos conteúdos escolares para as crianças, aumentando o desempenho escolar e social.

Palavras-chave: Jogos Educativos. Desenvolvimento Infantil. Brincadeiras. Lúdico.




Abstract

It is not today that games and games are part of the children’s world, they are cultural elements that have been inserted in society since the beginning. According to Vygotsky (1991), play is understood as the child’s social activity, whose specific nature and origin are essential elements for the construction of his personality and understanding of the reality in which he is inserted. Thus, this article aims to analyze, through a theoretical overview, the relevance of educational games in child development, showing that playfulness is an important tool to help teachers in presenting school content to children, increasing school performance. and social.

Keywords: Educational Games. Child Development. Just Kidding. Ludic.





 

  • Introdução

 

 

As brincadeiras estão presentes no cotidiano dos seres humanos desde o início dos tempos. O ato de brincar faz parte da nossa essência, que busca encontrar prazer mesmo nas pequenas coisas.

1 O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.



A metodologia de ensino utilizando o lúdico tem por objetivo criar um ambiente agradável e prazeroso para as crianças, facilitando a absorção do conteúdo escolar e servindo como estímulo para o desenvolvimento da criatividade, comunicação, coordenação motora, habilidade de adaptação etc.

A importância de falarmos desse assunto, se reflete no objetivo de compre- endermos o lúdico como uma ferramenta extra, porém de extrema relevância, e não como apenas brincadeiras que saem do contexto educacional. Segundo Ribeiro (2013), o lúdico é parte integrante do mundo infantil da vida de todo ser humano. Assim, o olhar sobre o lúdico não deve ser visto apenas como diversão, mas sim, de grande importância no processo de ensino e aprendizagem na fase da infância.

Uma das funções fundamentais do professor para garantir um bom ensino,    é estar sempre atento e observando o desenvolvimento dos seus educandos, para então, trabalhar as habilidades pouco desenvolvidas por eles, ou aprimorar ainda mais as habilidades integralmente desenvolvidas, trazendo assim uma qualidade maior ao processo de adaptação às fases escolares. E para obter esse resultado, os autores e demais profissionais da área, ressaltam a necessidade de adequar o conteúdo teórico, unindo-o ao lúdico.

Diante disto, este estudo tem como proposito apresentar, através de uma pes- quisa bibliográfica e documental, o entendimento teórico de diversos autores, como Kishimoto, Piaget, Friedman, Vygotsky e entre outros que respaldam o assunto, sobre a importância do lúdico nas etapas de aprendizagem e desenvolvimento da criança na educação básica, refletindo em uma boa qualidade educacional.

 

 

  • O Lúdico

 

 

A palavra lúdico vem do latim “ludos”, que remete a ideia de jogos ou o ato de jogar/brincar. Os jogos lúdicos são atividades que proporcionam entretenimento e lazer de forma didática, correlacionando o aprendizado com brincadeiras descontraídas.

De acordo com os estudos de Ribeiro e Souza (2011), os jogos educativos são aqueles que contribuem para a formação das crianças e geralmente são direcionados para a educação infantil.

A ideia do lúdico é criar um conforto para que os pequenos consigam entender que aprender também pode ser divertido, criando um conceito de que é possível estudar e brincar ao mesmo tempo, concretizando as duas coisas mais importantes para os seres humanos em sua fase inicial.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo nº 205, diz que: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da



pessoa [. . .].” Ainda em seu artigo nº 277, diz que: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer [. . .]”.

Para que seja possível garantir essa premissa em sua totalidade, é necessário que seja implementado procedimentos que a assegurem, e um dos principais, é exata- mente a educação através dos jogos lúdicos, dando ênfase no bem-estar, educação e lazer da criança e adolescente.

 

 

  • O lúdico na educação infantil

 

 

A partir do momento que a criança começa a ter o primeiro contato social, o apreço pelo lúdico já começa a se manifestar, pois é algo natural e importante na formação das relações pessoais e sociais para o desenvolvimento do indivíduo.

Sousa (2012) diz que: “A atividade lúdica é a primeira forma que a criança encon- tra de descobrir o mundo, afinal ela não nasce sabendo brincar ou jogar, ela aprende com a mãe e os familiares na medida em que eles utilizam o lúdico como suporte para o desenvolvimento físico e para as construções mentais do bebe. Normalmente as primeiras atividades lúdicas dos bebês tem como característica a repetição de ações apenas por prazer. É desse primeiro contato com o lúdico que começa a ser gerado o raciocínio, e sua contínua utilização propicia a ampliação dos conhecimentos”.

Assim, percebemos que através da atividade lúdica a criança passa a reproduzir o aspecto comportamental de quem está a sua volta, utilizando para isso mecanismos naturais importantes, como a atenção, imaginação, linguagem e desta forma ressalta-se a importância que o lúdico tem como ferramenta de aprendizagem na infância, seja no ambiente social de forma geral, como também no ambiente escolar.

O lúdico não é apenas um jogo comum, é uma estratégia metodológica, bem estruturada e aperfeiçoada por grandes profissionais da área, que deve associar a brincadeira com o conteúdo teórico, com a intenção de facilitar e tornar mais dinâmico o método de ensino escolar nos anos iniciais.

De acordo com Fantacholi ([s/d], p.3), principalmente na educação infantil os jogos e brincadeiras são um potente veículo de aprendizagem experiencial, visto que permite, através do lúdico, vivenciar a aprendizagem como processo social.

Ainda, segundo Santos (2002) o lúdico facilita a aprendizagem, o desenvol- vimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental. Que é um fator determinante para o bem-estar da criança ou adolescente que está em fase de desenvolvimento, físico, mental, escolar e social.



 

  • O lúdico e as etapas de desenvolvimento infantil

 

 

O desenvolvimento infantil é o processo que as crianças passam desde o nascimento até o início da fase juvenil, sendo mais enfatizado nos primeiros anos da infância, onde a criança começa a apresentar marcos de desenvolvimento significativos e quando então o indivíduo começa a ser moldado, de acordo com as características sociais do meio em que convive.

O processo de ensino e aprendizagem é realizado em etapas, de acordo com a faixa etária da criança, buscando explorar, naquele momento, a fase em que a criança se encontra.

É comum que encontremos diversos entendimentos quando tratamos das etapas do desenvolvimento infantil, mas de forma geral, todos partem dos mesmos princípios:

  • A primeira é a fase sensório motor: vai  desde o primeiro dia de vida até 2 anos. É considerada a primeira etapa de aprendizado das crianças e de extrema importância para seu desenvolvimento cognitivo, pois é quando surgem as primeiras formas de expressões. Segundo Freud, é nessa fase onde a criança direciona todo seu prazer para o paladar (como resultado da amamentação), começa a desenvolver reflexos, expressões, conhecer os objetos, descobre a coordenação, começa a desenvolver memorias, imaginação etc. Diante disto, é a fase onde a criança tem o primeiro contato com seus sentidos, justificando o valor imensurável dessa fase de conhecimento.
  • A segunda é a fase de pré-operatório ou simbólico: compreende a faixa dos 2 anos a 6-7 anos, é nessa fase que a linguagem começa a fazer parte da realidade, e a criança passa a falar, explicar e perguntar, o que antes só conseguia fazer por gestos. É também a fase de imitação, ela passa a reproduzir os gestos dos adultos, de forma criativa e fantasiosa, como por exemplo, uma criança vê a mãe fazendo um bolo e o reproduz brincando de massinha, ou começa a dar vida a objetos, como desenho de um sol com boca e olhos. O egocentrismo é muito presente nessa fase nos primeiros anos, com o tempo acaba se tornando menos frequente, até que a criança começa a entender algumas coisas, deixando essa característica de lado. Também é a primeira fase escolar, onde a ludicidade se torna mais presente e eficaz, os jogos vêm com o objetivo de aprimorar a capacidade motora, fazendo o aluno refletir e raciocinar. Nessa etapa é muito importante o contato com o meio escolar, o papel do educador aqui é incentivar as descobertas e criações, trabalhar com os jogos que influenciem o equilíbrio, movimentos e coordenação motora, as atividades mais utilizadas nessa fase são as colagens, pinturas, dobraduras, atividades físicas que trabalhem o equilíbrio e direção, entre outras.
  • Já a terceira fase é o estágio operatório concreto: vai dos 7 até os 12



anos, é a fase onde realmente se dá início a escolarização concreta, que seria o ensino fundamental, é aqui que o egocentrismo de fato deixa de ser visível, pois a criança começa a entender melhor a sociedade como um conjunto, começa a aprender sobre raciocínio logico, resolução de problemas, aprende números e relações matemáticas, a linguagem acaba se tornando mais socializada, a criança passa a explorar melhor as relações pessoais, começa desenvolver valores morais e cria uma independência maior dos adultos. A atividade lúdica nessa etapa é observada principalmente em trabalhos ou dinâmicas em grupo, trabalhando o coletivo.

  • A quarta fase é a de estágio formal: inicia-se aos 12 anos e vai  até a fase adulta, é nessa fase onde a criança passa para a etapa da adolescência, desenvolve de forma mais concreta o raciocínio logico e sistemático, não limita-se mais a formar raciocínio de uma situação física, a partir daqui começa a trabalhar   as situações abstratas, buscando hipóteses além das observações reais. Entende de forma mais ampla o aspecto social, cultural e o coletivo, consegue refletir e formular pensamentos críticos sobre a sociedade. É a fase mais completa de desenvolvimento, aqui o lúdico como explorado nas demais fases, dá espaço a uma ludicidade mais complexa, com jogos sofisticados, tecnologia, hobbies como ver filmes, series e ler livros, aqui o educador pode visualizar um plano mais formal, com propostas criativas mas que fogem do infantil, pois os adolescentes já se sentem mais preparados para lidar com obstáculos da vida social e escolar.

Ao analisarmos as etapas para o desenvolvimento e as características de cada uma delas, fica ainda mais evidente a importância e necessidade de aliar as atividades lúdicas ao processo de aprendizagem, seja na primeira infância ou principalmente, na idade escolar.

Como expressou Malaquias; Ribeiro (2013), a introdução do lúdico na vida escolar do educando torna-se uma forma eficaz de repassar pelo universo infantil para imprimir-lhe o universo adulto. Promover uma alfabetização significativa a prática educacional e interação social.

 

 

  • A importância do lúdico para o desenvolvimento social

 

Piaget defende que a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança. Essas atividades não são apenas uma forma de desafogo ou algum entretenimento para gastar energia das crianças, mas são meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual e social.

Ele afirma: “O jogo é, portanto, sob as suas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação do real à atividade própria, forne- cendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessida-



des múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil” (Piaget 1976).

Para Fromberg (1987), o jogo infantil apresenta algumas características como: Simbolismo, que representa a realidade e atitudes; Significado, que permite relacionar ou expressar experiências; Atividade, onde a criança faz coisas; Voluntário ou intrinse- camente motivado, na qual incorpora motivos e interesses; Regrado, onde fica sujeito a regras implícitas ou explícitas; E episódico, que expressa as metas desenvolvidas espontaneamente.

A ludicidade é muito importante para a saúde mental do ser humano e deve ser muito bem compreendida, pois é o espaço para a expressão mais genuína do ser, é o espaço do exercício de relação efetiva com o mundo, com as pessoas e com os objetos.

No brincar a criança está sempre acima de sua idade média, acima de seu comportamento diário. Assim, na brincadeira de faz-de-conta, as crianças manifestam certas habilidades que não seriam esperadas para sua idade. Nesse sentido, a apren- dizagem cria a zona de desenvolvimento proximal, ou seja, a aprendizagem desperta vários processos internos de desenvolvimento. Deste ponto de vista, aprendizagem não é desenvolvimento; entretanto o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvi- mento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer sem esses estímulos (VYGOTSKY apud OLIVEIRA, 2002, p. 132).

Nesta perspectiva, o jogo não é o fim, mas o eixo que conduz a um conteúdo didático específico, resultando em um empréstimo da ação lúdica para a aquisição de informações e formação do intelecto (Kishimoto,1996).

Segundo Miranda (2001), mediante o jogo didático, vários objetivos podem ser atingidos, relacionados à cognição (desenvolvimento da inteligência e da personalidade, fundamentais para a construção de conhecimentos); afeição (desenvolvimento da sensibilidade e da estima e atuação no sentido de estreitar laços de amizade e afetividade); socialização (simulação de vida em grupo); motivação (envolvimento da ação, do desfio e mobilização da curiosidade) e criatividade.

Desta forma, ressaltamos que o lúdico é tão importante para o desenvolvimento das crianças e adolescentes, que merece atenção e carinho dos pais, familiares e educadores, pois a importância que damos a essas fases, é o que resulta na formação de um indivíduo adulto saudável mentalmente, que sabe lidar com o convívio em sociedade, resultando em uma melhor qualidade de vida populacional e agregando valor ao desenvolvimento social dos outros indivíduos que compartilham do mesmo



ambiente.

 

 

  • Considerações finais

 

 

O objetivo deste estudo foi analisar e ressaltar a relevância da utilização do método de ensino através dos jogos e brincadeiras para o desenvolvimento infantil. Para isto, foi realizado uma pesquisa documental e bibliográfica acerca dos estudos feitos por diversos profissionais da área.

Ao analisarmos este apanhado teórico, concluímos que a ludicidade é uma ferramenta importante para auxiliar nas etapas de desenvolvimento, uma vez que o individuo (criança ou adolescente) reage de acordo com estímulos presentes no meio em que convive.

Os jogos são uma parte fundamental na vida de todo ser humano, pois é através deles que a criança começa a desenvolver habilidades físicas e mentais, indispensáveis para um bom desenvolvimento social.

Segundo Vygotsky (1991), “o lúdico influencia enormemente o desenvolvimento da criança. É através do jogo que a criança aprende a agir, sua curiosidade é estimulada, adquire iniciativa e autoconfiança, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração”.

Analisando a posição de Vygotsky (1979), na sua fala: “[...] o jogo traz oportunidade para preenchimento de necessidades irrealizáveis e a possibilidade para se exercitar no domínio do simbolismo”. Ainda, de acordo com Piaget (1975) “a atividade lúdica consiste em satisfazer o eu por meio de uma transformação do real em função dos desejos”, podemos afirmar que a aplicação dos jogos lúdicos é uma maneira importante de fazer com que as crianças e adolescentes, aprendam a se expressar, entender a si mesmo, criando uma autoconfiança e autonomia, que é essencial para o desenvolvimento humano. 

Desta forma, fica evidente a necessidade de aplicar cada vez mais a ludicidade como método de ensino escolar e social. 








Referências Bibliográficas



BAQUERO, Ricardo. Vygotsky e a aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

 

PALANGANA, I. C. (1994) – “Desenvolvimento & aprendizagem em Piaget e Vygotsky (a relevância do social)” – São Paulo: Plexos. 

 

Vygotsky, L. S. (1979) – Pensamento e linguagem. Lisboa: Edições Antídoto. 

 

KISHIMOTO, T. M. (Org) Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 3ª Ed. São Paulo: Cortez 1998. 

 

FRIEDMANN, Adriana. Brincar, crescer e aprender: o resgate do jogo infantil. São Paulo: Moderna, 1996. 

 

VYGOTSKY, L. 1989. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes.

 

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogos, brinquedos, brincadeiras e educação. São Paulo, SP - 6ª ed., (org.): Cortez, 2002.

 

PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: Imitação, jogo e sonho, imagem e representação. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

 

PIAGET (1975) – A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar Editores.

PASSERINO, Liliana Maria. Repensando a prática educativa. Ed. Opet, 3º edição, 1996.

VYGOTSKY, H. Do Ato ao Pensamento. Lisboa: Morais, 1979.


VANZELLA, C. M.; BATISTA, F. C. R. M.; Importância de jogos e brincadeiras na educação infantil. R. Eletr. Cient. Inov. Tecnol., Medianeira, v. 8, n .15, 2017. E – 4781. Disponível em: Acesso em: 09/09/2019.