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O bairro Celídio Marques em Colíder



BARBOZA, Nayara Rodrigues Madruga




Resumo

O presente trabalho tem a finalidade de apresentar as observações e as conclusões sobre a segregação socioespacial na cidade de Colíder- MT, tomando como exemplo o bairro popular Celídio Marques. A segregação socioespacial urbana é um fenômeno que ocorre de forma a separar espacialmente a população com rendimento diferente. Para analisar esse fenômeno na citada cidade utilizou-se de pesquisa de campo, pesquisa descritiva e pesquisa bibliográfica. O bairro apresenta população com rendimento baixo e também não é assistido pelas autoridades do município fazendo com que o bairro não seja assistido com uma infraestrutura de qualidade, configurando um espaço de segregação.

 

Palavras-chave: Classes sociais; segregação; espaço urbano; bairro popular.




  1. Introdução

 

O espaço urbano é composto por um complexo de usos da terra, próximos entre si, ficando fragmentados em áreas como:

 

[...]centro da cidade, áreas industriais e áreas residenciais. Esses fragmentos são articulados, pois entre eles ocorrem relações espaciais: fluxo de veículos e de pessoas, circulação de investimentos, operações de carga e descarga de mercadorias, deslocamentos cotidianos e deslocamentos menos frequentes (CORRÊA, 1995, p.17).

 

O autor supracitado explica que o espaço urbano é um reflexo da sociedade. Um exemplo são as áreas residenciais, pois essas são segregadas, refletindo a estrutura social em classes, resultado da desigualdade social. Tal desigualdade é uma característica intrínseca à sociedade capitalista. 

O espaço urbano, segundo Mendonça (2010, p.10) é mutável e ao mesmo tempo em que é resultado também é condicionante da sociedade, “esse condicionamento se dá através de obras estruturais”. O mesmo autor completa explicitando que a existência de estabelecimentos industriais e comerciais, por exemplo, são fatores que contribuem para o desenvolvimento da economia de uma sociedade; mas, alerta para o fato de que “o homem, não se resume a esses aspectos, ele também é um ser simbólico, isso porque tem crenças, valores, mitos e a capacidade de atribuir símbolos”. 

Oliveira Neto e Carmo (2015) entendem que estas dinâmicas socioespaciais não estão restritas às metrópoles e aos grandes centros urbanos, que os processos de fragmentação e segregação socioespacial ocorrem também em cidades pequenas, exemplificando com o caso de Colíder (MT).

Os autores referenciados identificaram três bairros que ilustram a segregação socioespacial em Colíder (MT): os bairros Bom Jesus, Maria Antônia e Celídio Marques, onde reside uma população de baixa renda.

Seguindo a mesma linha de pensamento de Oliveira Neto e Carmo (2015) a intenção deste texto é apresentar o resultado da   análise mais detalhada sobre o processo de segregação evidenciada no bairro popular Celídio Marques da cidade de Colíder (MT), localizada ao norte de Mato Grosso que de acordo com o IBGE (2016) apresenta uma população estimada para 2015 de 31.895 habitantes.

 




















  1. Metodologia



Para a realização da pesquisa utilizou-se de pesquisa bibliográfica, que foi fundamental para o embasamento teórico e metodologicamente da análise empreendida. Segundo Ruiz (1993, p. 58):

 

As produções humanas foram comemoradas e estão guardadas em livros, artigos e documentos. Bibliografia é o conjunto dos livros escritos sobre determinado assunto, por autores conhecidos e identificados ou anônimos, pertencentes as correntes de pensamento diversas entre si, ao longo da evolução da Humanidade. E a pesquisa bibliográfica consiste no exame desse manancial, para levantamento e análise do que já se produziu sobre determinado assunto que assumimos como tema de pesquisa científica.

 

Marconi e Lakatos (2009, p. 185) informam que a pesquisa bibliográfica tem a finalidade de: “[...] colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto [...]”.

Foi realizada pesquisa de campo para proceder a descrição da área de estudo e aplicar questionários aos moradores do bairro.  De acordo com Marconi e Lakatos (1996), a pesquisa de campo é etapa que se realiza após a pesquisa bibliográfica, pois após essa fase o pesquisador definirá a hipótese, bem como qual a melhor forma de coletar dados a metodologia aplicada.

Segundo Gil (1999), as pesquisas descritivas têm como finalidade principal descrever características de determinados fenômenos, população, estabelecimento de relações entre variáveis. 

Foram aplicados um total de 31 questionários, cuja seleção de moradores foi efetuada aleatoriamente, sendo satisfatório o número por entender que há certa homogeneidade nas caraterísticas socioeconômica dos mesmos. O objetivo da aplicação do questionário foi para identificar o rendimento salarial.

Por fim, para completar a análise realizou-se entrevista com autoridades públicas, que atuaram na gestão de 2002, ano em que foram feitas as doações dos lotes para os moradores do bairro Celídio Marques. Para a análise dos dados levantados seguiu-se uma abordagem qualitativa.




  1. Resultados e Discussão



Para compreender o que é bairro, Vasconcelos (2006,p23) utilizou a definição apresentada por Brunet et al  (1993, p.18), qual seja: uma categoria particular de ser geográfico, que provém do ‘espaço vivido’ de certa comunidade de pertencimento e de uma representação dela”  e a definição elaborada por Grupo Adua (2000,p.30) que entende bairro como sendo “parte do núcleo urbano relativamente homogêneo, com limites mais ou menos imprecisos, que constitui uma unidade básica na percepção da vida urbana”.

O bairro popular é uma forma espacial resultante das desigualdades socioeconômicas e dos interesses atendidos pelos planejadores e pelos gestores públicos.  A manutenção e expansão deste tipo de bairros evidenciam as contradições sociais e contribuem para que haja a intensificação e a reprodução da segregação socioespacial. Ou seja, o bairro popular é um conjunto de habitações humanas em uma área afastada da cidade.

O bairro popular Celídio Marques contém por volta de duas mil habitações estando localizado próximo a uma Estação Compacta para Tratamento de esgoto. Em entrevista realizada com o Ex-prefeito e um dos Ex-vereadores, obteve-se a informação de que o bairro Celídio Marques foi criado no ano de 2002. 

Naquela gestão, a prefeitura comprou um pequeno espaço de terra com o tamanho de um alqueire, procedeu ao loteamento e doou os lotes para pessoas de baixa renda, as doações das casas foram por meio de inscrições, as primeiras casas foram através do número de suas inscrições, na segunda remessa foram por meio de sorteios pois ouve muitas inscrições. No que se refere às famílias mais carentes ainda, a própria prefeitura, na época, arcou com as despesas da construção das residências. 

Por meio da pesquisa de campo no bairro, verificou-se que o mesmo foi construído sem planejamento adequado. As ruas são estreitas, o asfaltamento foi realizado recentemente, no ano de 2015, porém se mostra de baixa qualidade, pois já apresenta buracos, estes sendo agravados nas ruas em que foi realizada a pavimentação sem a construção do meio fio, com a chuva há o solapamento nas margens, iniciando o processo de erosão.

As casas são pequenas e muito próximas umas das outras em razão da metragem dos lotes, que possui mais ou menos cinco metros, as calçadas são pequenas, as ruas e avenidas do bairro encontram-se em estado precário, bem como as vias que dão acesso à ele, dificultando a circulação de automóveis de grande e médio porte. No que se refere ao saneamento básico observou-se a existência de fossa séptica, algumas casas possuem escoamento da água de cozinha a céu aberto, lixos deixados nas ruas, desta forma, os moradores, especialmente as crianças que brincam pelas ruas, ficam expostos a possíveis contaminações.  

Como já mencionado anteriormente foram aplicados 31 questionários junto aos moradores do bairro; por meio deste instrumento várias indagações foram elaboradas em relação ao acesso à rede de esgoto e de água, coleta de lixo, quantidade de cômodo da residência e de residentes na mesma; e sobre a renda familiar. 

Os dados coletados por meio de questionário foram apresentados através de gráfico, para uma melhor e mais fácil observação dos mesmos. Os moradores por meio do questionário informaram que se sentem “chateados” com a discriminação que sofrem por parte da população residente em outros bairros da cidade. Isto porque há uma visão de que no bairro só residem “marginais”, o que não condiz com a realidade segundo os questionados, que afirmam que as pessoas que lá residem, em maioria, são trabalhadores honestos.  

A uniformidade no que se refere à classe social que se apropria desse espaço, permite a afirmação de que este bairro é fruto da segregação socioespacial no espaço urbano de Colíder, visto que “a população com o menor rendimento é segregada ocupando áreas com deficiências em infraestrutura urbana básica” (OLIVEIRA NETO e CARMO, 2015), localizando-se mais afastadas do centro, assim este bairro pode ser considerado como a periferia da cidade. 

Para Lojkine (1997), segundo Oliveira Neto e Carmo (2015), a segregação é uma “manifestação da renda fundiária urbana, produzida pelos mecanismos de formação dos preços do solo, esses, por sua vez, determinados pela nova divisão social e espacial do trabalho”.  Sobre os fatores que levam à segregação socioespacial , Gottschalg (2012, apud MARQUES, 2005, p. 9) elenca os seguintes: “a dinâmica econômica; o mercado de trabalho e a estrutura social em si; a dinâmica do mercado de terras; as ações dos produtores do espaço urbano e da produção de moradia; Estado e as políticas públicas”. 

Gottschalg (2012, p. 9) utilizando-se do referencial de Liberato (2009) e Maricato (2003) explica que a conjunção dos fatores acima elencados pode levar a segregação socioespacial, implicando na divisão do espaço entre a “cidade formal”; aquela dos incluídos, que são beneficiários dos serviços urbanos; e a “cidade informal”, a dos excluídos

Segundo Oliveira Neto e Carmo (2015, p. 4) Esse quadro gera uma desigualdade socioespacial marcante que parece imperceptível ao poder público que pouco intervém. A identificação desses processos é de suma importância para entender como o espaço local é produzido através da intersecção entre material e social, abrindo um leque de debates e estudos que possam ser feitos sobre a realidade de cidade de pequeno e médio porte.

No que se refere à quantidade de cômodos da casa os dados obtidos encontram-se na figura 1 que segue.

 

Figura 1 – quantidade de cômodos na casa

Fonte: Pesquisa Direta Organizada pelos autores

 

Ao serem questionados sobre coleta de lixo, os moradores informaram que ela é realizada no bairro. Desta forma todas as residências são atendidas quanto a esse serviço urbano. Entretanto reclamaram da quantidade de lixo encontrada pelas ruas, evidenciando que não é por falta de coleta por tanto a responsabilidade dos moradores fica em falta.

O questionário contemplou também indagação sobre o acesso à rede de esgoto. Em análise as respostas verificaram-se que 74% dos questionados não tem acesso a rede de esgoto. os moradores que dizem não ter a ligação de esgoto em casa, mas a rede de afastamento foi implantada no bairro. 

Outra questão apresentada aos moradores foi sobre os abastecimentos de água encanada. Obteve-se que 91% dos questionados tem acesso água encanada, enquanto o restante obtém água por intermédio de poço semiartesiano.

No que se refere à quantidade de pessoas residindo na moradia, as respostas obtidas encontram-se na figura 2 abaixo.

 

Figura 2- moradores da casa

Fonte: Pesquisa Organizada pelos autores



Como pode ser observado na figura 2 em relação ao rendimento salarial da família, em análise às respostas, chegou-se ao resultado que está exposto na figura 3 que segue a maioria dos entrevistados recebem de 1 a 2 salários mínimos.

 

Figura -3 rendimento salárial

Fonte: Pesquisa Direta Organizada pelos autores

 

Em análise às respostas, verificou-se que sendo um bairro popular, a maioria tem seu rendimento familiar, com condições de moradias precárias, além de serem obrigados a morar em lugares distantes a população ainda sofre com a dificuldade de acesso a equipamentos  públicos de lazer ou administrativo, tais como parques ou áreas verdes, hospitais, escolas, praças dentre outras coisas.

A segregação socio espacial está ligada ao uso e ao preço do solo urbano fazendo com que a população de baixa renda more em lugares longínquos do centro. Assim, existe dificuldade de acesso aos bens e serviços do espaço urbano.

 

  1. Considerações Finais

 

O trabalho, teve como objetivo analisar o bairro Celídio Marques para verificar o processo de segregação socioespacial urbana em Colíder. A pesquisa evidenciou que o bairro tem uma infraestrutura insuficiente, com asfalto de qualidade inferior e sem o meio proporcionando o surgimento de erosão por solapamento falta de ligação do sistema de esgoto á rede geral do bairro, há o abastecimento das casas com água encanada, porém algumas se utilizam de poços artesianos. Verificou-se em campo a irresponsabilidade dos moradores que mesmo a coleta sendo realizada regularmente ainda possuem o hábito de jogar lixos nos cantos das ruas.

 O bairro é visto pela sociedade com um olhar pejorativo é visto como um lugar cheio de violência e  tem uma dinâmica própria, fundada em concepções e políticas social e racialmente discriminatórias, é inevitável que pessoas comuns, inocentes sejam objeto da brutalidade, que não se justifica mesmo contra os chamados “marginais”. 

E ainda, com base no bairro habitado as pessoas são simples trabalhadores felizes que conseguiram de forma honesta um lugar para viver feliz com sua família. Mas, o que se torna um cenário má visto, pela forma que se enxerga o local, por contar, algumas pessoas de má influência, os “marginais”, os lixos e esgotos à céu aberto.









  1. Referências bibliográficas



GOTTSCHALG, M de F, S. Segregação Sócio-Espacial Urbana e Intervenção Estatal: Uma abordagem geográfico-social. local de publicação: editora, 2012.

MARICATO, E. O impasse da política urbana no Brasil. Petrópolis: Rio de Janeiro: Vozes 2011.

 

MACHADO, E, P; NORONHA C, V; A polícia dos pobres: violência policial em classes populares urbanas, São Paulo,2002.

 

MENDONÇA, T; Introdução à Geografia. Tiberiogeo, .  Geotextos.  vol. 4, N. 1 e 2, 2008, p.145-163 Disponível em:  <https://portalseer.ufba.br acesso em 01 de out de 2019.

 

NETO, V P de O; CARMO, J de A do; O Espaço Urbano Fragmentado: Um Olhar Sobre Colíder (MT), Anais do GEOCOMP, Universidade do Estado de Mato Grosso, Colíder, 2015. Página incial e final do artigo.

 

OLIVEIRA, M, F de; metodologia científica: um manual para a realização de pesquisas em administração.  São Paulo Editora Revista Dos Tribunais2011.

 

RIZZO, P, V:Fossa Séptica Biodigesta.  Rio de Janeiro 2016.

 

VASCONCELOS, P de A; Pobreza Urbana e a Formação de Bairros Populares em Salvador na Longa Duração. Salvador, 2006.