A DISCIPLINA DE ARTE E O PAPEL DO PROFESSOR NO COTIDIANO ESCOLAR INCLUSIVO
Aline Borrego Soares[1]
Angela Maria Barbão [2]
RESUMO
A Constituição Cidadã de 1988 reza através do Artigo 205 que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, e será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. O presente trabalho versa a reflexão de uma das questões mais discutidas atualmente na Educação Inclusiva; o papel do professor da disciplina de Arte na práxis diária da inclusão e promoção da cidadania na vivência escolar.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Inclusiva. Arte. Escola.
1. INTRODUÇÃO
A Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB; Lei nº 9394/96) estabelecem que a educação seja direito de todos, garantindo atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência. Nesta perspectiva inclusiva da educação e sabendo que cerca de dez por cento da população brasileira apresenta algum tipo de deficiência, torna-se imprescindível que nossa escola esteja preparada para lidar, no seu âmbito escolar, com as diferenças.
As necessidades sociais, a opinião pública e o interesse governamental deverão despertar para várias prioridades que permitam efetivar em termos
legais, os pressupostos básicos da escola inclusiva: a aceitação, a compreensão, a educação e reabilitação de seres humanos diferentes com necessidades especiais. No cenário educacional surge a inclusão como grande perspectiva no envolvimento do que pode ser compreendido como respeito, ensino e a aprendizagem. Ainda nesta visão, muitos questionamentos sobre o papel de direcionamento do professor da disciplina de Arte, suas ações diárias, seus posicionamento e suas limitações. É levado ao pensamento sobre os saberes e de que forma podem estar agregados ao trabalho com a inclusão. Partindo desse pressuposto, trabalhar com a inclusão não é apenas um desafio para os docentes da disciplina de Arte, é um desafio para toda a comunidade escolar e o professor necessita estar inserido neste papel como verdadeiro mediador de conhecimento.
2 DESENVOLVIMENTO
È notório que os aspectos facilitadores do processo de inclusão, estão diretamente ligados ao envolvimento dos profissionais da escola, das famílias e da comunidade. Quando as ações desses são compostas em rede, as chances de sucesso aumentam indiscutivelmente. A importância do elo da escola com a comunidade é indispensável neste processo de mudança, pois pessoas esclarecidas da comunidade têm menos resistência às mudanças e podem contribuir para a transformação do meio social. Se o que pretendemos é que a escola seja inclusiva, é urgente que seus planos se redefinam para uma educação voltada para a cidadania global, plena, livre de preconceitos e que reconhece e valoriza as diferenças. A inclusão também se legitima, porque a escola para muitos alunos é o único espaço de acesso aos conhecimentos. É o lugar que vai lhes proporcionar condições de desenvolvimento e de tornarem-se cidadãos, alguém com identidade social e cultural que lhes confere oportunidades de ser e de viver dignamente. Incluir é necessário, primordialmente, para melhorar as condições da escola de modo que nela se possam formar gerações mais preparadas para viver a vida na sua plenitude, livremente, sem preconceitos, sem barreiras.
Confirmam-se ainda, mais uma razão de ser da inclusão um motivo para que a educação se atualize e para que os professores aperfeiçoem as suas práticas e para que escolas públicas se obriguem a um esforço de modernização e de reestruturação de suas condições atuais a fim de responderem às necessidades de cada um de seus alunos, em suas especificidades, sem cair nas nos ditames da educação especial e suas modalidades de exclusão.
Romanowski (2007) refere-se ao professor da disciplina como um profissional que tem um papel indispensável no ambiente escolar, pois é o articulador do trabalho educativo e de descoberta de talentos desenvolvido pela escola. Ainda segundo o autor, a função do professor de Arte é definir o trabalho pedagógico para caminhar no sentido de efetivar uma educação de qualidade que valorize todos os alunos, independentemente de suas características. Dessa forma, o trabalho realizado, é o de propiciar uma organização da escola em que seja possível modificar, transformar e construir juntamente com a equipe escolar estratégias, metodologias de ensino, definição de conteúdos, instrumentos de avaliação, entre outros, responsabilizando-se por articular todos esses elementos. Diante da inclusão o papel do professor dessa disciplina é desenvolver práticas pedagógicas diárias que estejam diretamente associadas à acessibilidade como facilitadora da democracia para uma educação qualitativa.
O professor deve considerar a inclusão como uma ação de toda a comunidade escolar, para que o processo de ensino e aprendizagem se torne efetivo e ocorra de forma harmoniosa e social, nos parâmetros de reconhecimento de todos como cidadãos, independentemente das diferenças apresentadas. Uma das maiores ações em relação à educação inclusiva, com certeza é a interlocução com os profissionais de outras áreas. É fundamental que essa relação transcorra de modo que o entendimento entre as partes se faça sem danos aos alunos. Essa mediação é necessária para que sejam buscados e efetivados instrumentos e formas de agir que possibilitem a interação social dos alunos. Cabe ao professor executar toda e qualquer busca necessária como recurso de aprendizagem para que a educação inclusiva se torne de fato a educação esperada por todos.
É extremamente importante que o professor consiga reafirmar sua função de colaborar na formação dos alunos através da cidadania. Tanto o professor quanto os outros docentes através da interdisciplinaridade precisam estar preparados para atender com qualidade qualquer tipo de diversidade existente nas escolas. Necessita ser um profissional flexível, que causa empatia e transforma a diversidade em oportunidade de motivação do trabalho e prática pedagógica diária.
CARVALHO (2010, p. 44) ressalta que a proposta de educação inclusiva como remoção de barreiras para a aprendizagem e para a participação tem como pressuposto que todos são capazes de aprender. Segundo estudos, as pessoas com deficiência são mesmo capazes de aprender, mas para que todo esse processo de aprendizado ocorra, é imprescindível que haja uma efetiva colaboração da família, dos profissionais envolvidos com este trabalho dedicado à educação especial, bem como do próprio aluno.
Essa afirmação só vem a esclarecer o fato de que, a educação inclusiva deve ser antes de tudo uma educação social e é função do professor agregar todos os participantes da comunidade escolar em prol da educação de qualidade e cidadã.
Ensinar artes é especificar as diferenças das outras áreas do conhecimento, uma vez que trabalha não apenas com o desenvolvimento cognitivo das crianças, mas principalmente com a sensibilidade, intuição, expressão que é movida pela intuição individualizada e principalmente por exteriorizar os pensamentos através do papel. De acordo com os PCN’s (1983)
... a arte na escola tem uma função importante a cumprir. Ela situa o fazer artístico dos alunos como fator humanizador, cultural e histórico, no qual as características da arte podem ser percebidas nos pontos de interação entre o fazer artístico dos alunos e o fazer dos artistas de todos os tempos, que sempre inauguram formas de tornar presente o inexistente. Não se trata de copiar a realidade ou a obra de arte, mas sim de gerar e construir sentidos. (BRASIL, PCN, 1998, p.35)
A arte consegue proporcionar as crianças a construção de sua própria identidade social que segundo Hoffnagel (1999, pg.91) como a identidade de um individuo particular é composta por múltiplos elementos ou atributos que emergem na interação social..
O autor ressalta que a identidade não deve e nem pode ser definida como uma sub categoria ou como tendo uma definição fixa, e justifica essa afirmativa ressaltando que “tendo em vista que um individuo, dependendo do que está fazendo (a intenção) e de com quem está interagindo, pode destacar aspectos diferentes relacionados à faixa etária, à classe social, ao sexo, à profissão, etc., numa dada situação.”.
Além da formação cultural da identidade pode auxiliar a concepção de ideias e conscientização de pessoas para uma série de assuntos, possuindo um potencial mobilizador, abordando temas que conseguem tocar as pessoas de uma maneira mais profunda, tornando-se assim um meio facilitador de ensino. Baseando-nos em tais considerações, veremos que a arte nos permite permear e levantar considerações importantes sobre a inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais. (GLETER, 2006, p. 19).
Partindo dessa ideia, pode-se observar que ela oferece às crianças a capacidade de se expressar livremente, criar e proporcionar a experimentação de possibilidades e construção de significações para a contextualização de seu cotidiano, proporcionando aos mesmos uma atividade prazerosa e um campo rico para o desenvolvimento expressivo e social.
A arte se mostra importante tanto no currículo como na vida, pois resgata e trabalha no afloramento e qualificação da sensibilidade no ser humano, sendo assim uma condutora da humanização do mesmo, e isso pode ser constatado principalmente no viés da Educação Inclusiva. (RUTZ, 2010, pg.8)
O ensino de artes sempre procurou desenvolver os sentidos e o potencial de criação das crianças. No que tange o cotidiano diário da disciplina, é possível certificar as possibilidades de exteriorização dos sentimentos que cada aluno consegue transpor para os desenhos, as pinturas, os trabalhos
corporais, exercícios de expressão, que se tornam ícones facilitadores para que o professor perceba o talento de cada criança.
Consegue também desenvolver o sentido de igualdade social e cidadania que são essenciais para que o processo inclusivo ocorra com harmonia. A disciplina de Arte é totalmente voltada para as ações cognitivas e é a única no currículo que pode proporcionar o conhecimento da beleza estética através da criação que é advinda da imaginação do mundo na visão de cada um. A Educação Inclusiva voltada para as artes deve ser pensada como facilitadora nas relações sociais, principalmente na inserção das crianças com necessidades especiais. Nesse contexto Selau (2007, pg.19) afirma em seu texto que “(...) manter as pessoas com necessidades especiais isoladas das ditas normais não parece que seja uma prática positiva”, e justifica esta afirmativa dizendo que: “(...) ao se viver isolado, passa-se, não só, a não se envolver com as situações sociais que estão em constante transformação, como também a conviver demasiadamente num ambiente que muitas vezes não propõe desafios que possam levar ao desenvolvimento. Está entranhado em nossa cultura acreditar que o único papel da escola é o de repassar conteúdos específicos de cada disciplina. Deve-se levar em conta o fator socializador que a escola proporciona, onde a mesma promove a interação entre os membros que a constituem, e entre seus principais objetivos ela almeja prepará-los para o exercício da cidadania”.
A escola além de se ocupar com o ensino, compreende-se como ambiente social da infância e adolescência por excelência, momento da vida de uma pessoa em formação, em que se ganha grande parte dos saberes informais importantíssimos para a vida toda, como respeito, amizade, amor, enfim momento de relacionamento humano, então a inclusão ganha sentido, e os alunos, todos, devem participar da mesma aula, realizando aquilo que podem. (SELAU, 2007, P.62-63)
A inclusão escolar é deve ser entendida como um modo de organizar o sistema educacional para que se possa promover a inserção integral de todos os alunos de modo geral, incumbindo à escola a tarefa de reformular-se a fim de considerar de forma eficaz as necessidades de seus alunos em sua totalidade.
3. Inclusão: Representando um avanço em relação ao movimento de integração escolar, que pressupunha o ajustamento da pessoa com deficiência para sua participação no processo educativo desenvolvido nas escolas comuns, a inclusão postula uma reestruturação do sistema educacional, ou seja, uma mudança estrutural no ensino regular, cujo objetivo é fazer com que a escola se torne inclusiva, um espaço democrático e competente para trabalhar com todos os educandos, sem distinção de raça, classe, gênero ou características pessoais, baseando-se no princípio de que a diversidade deve não só ser aceita como desejada (BRASIL, 2001)
O grande desafio da escola na contemporaneidade é fazer igualar os alunos de forma que os conteúdos administrados pelos professores sejam desenvolvidos através de mecanismos que possam auxiliar os alunos a principalmente viver em sociedade.
A Arte considera como fundamental o respeito à personalidade e individualidade de cada um, pois participamos de um grupo, uma comunidade ou sociedade. Desse modo, se espera que a escola não seja uma instituição formadora de guetos ou de espaços de atendimento diferenciados, mas sim seja promotora de desenvolvimento e acolhimento das diversidades, de todas as formas possíveis. (RUTZ, 2010, Pg.7)
.
É através deste ambiente harmonioso e diverso chamado escola que a disciplina de Arte encontra sua maior afirmação e motivo para sua colaboração frente a Educação Inclusiva.
3 . CONCLUSÃO
A realização deste trabalho possibilitou uma compreensão muito mais abrangente em relação à Educação Inclusiva e o papel do Professor da disciplina de Arte. Foi possível perceber que não basta apenas estar à frente de uma sala de aula, é necessário um grande envolvimento profissional e porque não dizer emocional e emotivo. As instituições de ensino e os profissionais nela estabelecidos precisam estar dispostas a conceber uma reestruturação nos currículos no desenvolvimento de novas ações juntamente com toda a comunidade escolar. As práticas pedagógicas têm a necessidade
de serem sistematizadas para que ocorra alternativas no processo inclusivo. .
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. 2008, p. 9 apud MAGALHÃES, Rita de Cássia Barbosa Paiva. In Educação Inclusiva e Escolarização: política e formação docente, Liber Livro, Brasília.
CARVALHO, Rosita Edler. A educação inclusiva como a que remove barreiras para a aprendizagem e para a participação de todos. In: Gomes, M. Construindo as trilhas para a inclusão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
ÉGLER, M. T. Inclusão Escolar: O que é? Por que? Como Fazer? São Paulo: Moderna, 2003, 2006.
ROMANOWSKI, J. P. Formação e Profissionalização Docente. Curitiba: IBPEX, 2007.
RUTZ, Tais B. Educação Inclusiva e Ensino de Arte, Percalços entre teoria e prática. 2010. 27f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação: Licenciatura em Artes Visuais) - Instituto de Artes Visuais, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.
SELAU, Bento. Inclusão na sala de aula. Porto Alegre: Evangraf, 2007.
[1] Aline Borrego Soares. Licenciada em Pedagogia. Atua na área da Educação.
[2] Angela Maria Barbão. Licenciada em Pedagogia. Atua na área da Educação.