DEFICIÊNCIA VISUAL NO CONTEXTO DA INCLUSÃO ESCOLAR
Jéssica Simplício de Sousa
Marla Danuzi Valente
Marcia da Rocha Lourenço Olgado
Geysiane Alexandre Araujo da Silva
RESUMO
Atualmente as pessoas com deficiência ainda encontram dificuldades no convívio em sociedade devido a exclusão social. Essa temática é recente na história da educação do Brasil, mesmo porque a inclusão escolar é uma prática relativamente nova e quando postas em discussão as práticas inclusivas provocam o surgimento de várias questões. A escolarização de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular é um campo de pesquisa em expansão devido às leis existentes sobre a educação inclusiva. Esse estudo trata da deficiência visual no contexto na inclusão escolar, evidenciando que apesar da inclusão de alunos com necessidades especiais existir, infelizmente ainda encontra barreiras no que diz respeito a qualificação dos professores da sala regular, a falta de um maior contato e diálogo entre o professor da sala regular e professor de apoio para promoverem ações conjuntas à esses alunos, bem como melhores condições físicas e uma melhor adequação dos materiais didáticos essa relação tende a melhorar, refletindo no desenvolvimento desses alunos.
Palavras Chave: Escolarização, Deficiente Visual, Professores, Inclusão.
INTRODUÇÃO
O mundo muda constantemente. São notórias as diferenças culturais, sociais, étnicas, de gênero, econômicas, enfim a diversidade é visível e é importante saber como aprendemos e a forma como entendemos a nós mesmos e o ambiente que nos rodeia. Porém o que se nota é que “[...] a escola se entupiu do formalismo da racionalidade e cindiu-se em modalidades de ensino, tipos de serviços, grades curriculares, burocracia” (MANTOAN, 1997, p.11). A inclusão propõe que haja uma ruptura na base dessa estrutura organizacional para que esta escola possa realmente fluir. O que acontece fora da escola não deve ser ignorado no ambiente escolar, afinal é o que aluno vivencia fora dela. Mantoan (1997, p.120) defende:
A inclusão é, pois, um motivo para que a escola se modernize e os professores aperfeiçoem suas práticas e, assim sendo, a inclusão escolar de pessoas deficientes torna-se uma conseqüência natural de modo um esforço de atualização e de reestruturação das condições atuais do ensino básico.
A palavra inclusão é definida por Ferreira (2004, p.758) como a [...] “relação entre dois termos, um dos quais faz parte ou da compreensão ou da extensão do outro” (GALVÃO, 2005, p.45.) Normalmente não conseguimos desassociar o conceito de inclusão do conceito de exclusão, sendo que é necessário conhecer um para conhecer o outro. A palavra exclusão é utilizada para traduzir “[...] diferentes qualidades, desde a concepção de desigualdade como resultante de deficiência ou inadaptação individual, um sinônimo [...] de injustiça e exploração social” (SAWAIA, 2001, p.7 apud GALVÃO, 2005, p.45). Esse mesmo autor ainda nos diz que:
A sociedade exclui para incluir e esta transmutação é condição da ordem social desigual, o que implica o caráter ilusório da inclusão. Todos estamos inseridos de algum modo, nem sempre decente e digno, no circuito reprodutivo das atividades econômicas, sendo a grande maioria da humanidade inserida através da insuficiência e das privações, que se desdobram para fora do econômico.
A inclusão é um assunto muito discutido atualmente e normalmente relacionamos seu significado diretamente com as expressões de “inclusão social”, “inclusão escolar”, entre outras. Sassaki (1997, p.41) conceitua a inclusão social como “[...] o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade.”
DESENVOLVIMENTO
E escola é responsável por passar as normas que estruturam e sustentam a sociedade. Mas o que seria uma educação inclusiva?
A educação inclusiva é uma educação democrática, comunitária, pois supõe que o professor saia de sua solidão, arrogância, falso domínio e tenha a coragem de dizer não sei, tenho medo, nojo, vergonha, pena, não respeito, quero aprender ou rever minhas estratégias pedagógicas, pois não consigo ensinar para certos tipos de criança, não sei controlar o tempo, não sei ajudar – não no sentido da co-dependência, mas no sentido da interdependência (MACEDO, 2004, p.1 apud GALVÃO, 2005, p.57).
A educação acaba por sofrer algumas modificações com as ideias da escola inclusiva, pois esta modifica tanto de forma coletiva como individual. A esse respeito Sassaki (2004, p.11) nos fala que:
Na vida educacional o que vai mudar daqui pra frente é o paradigma pelo qual deverá ser vista a inserção escolar de pessoas com deficiência nos níveis pré-escolar, infantil, fundamental, médio e superior. Esse paradigma é o da inclusão social – as escolas (tanto as comuns como as especiais) precisam ser reestruturadas para acolherem todo o espectro da diversidade humana representada pelo alunado em potencial, ou seja, pessoas com deficiências físicas, mentais, sensoriais ou múltiplas e com qualquer grau de severidade dessas deficiências, pessoas sem deficiências e pessoas com outras características atípicas etc. É o sistema educacional adaptando-se às necessidades de seus alunos (escolas inclusivas), mais do que os alunos adaptando-se ao sistema educacional (escolas integradas).
É uma realidade diferente, mas que a escola tem que se adaptar e trabalhar dentro desse paradigma, porém é necessária uma preparação por parte do professor para lidar com as diferenças dentro da sala de aula, afinal: “A inclusão atinge a todos de forma generalizada e cada um na sua própria identidade” (GALVÃO, 2005, p.57). Cabe ao professor viabilizar esse convívio de forma respeitosa e solidária com as diferenças, sabendo da existência dos inúmeros preconceitos que baterão de frente com essa realidade. Porém não cabe somente a escola a participação em um processo tão importante, ela precisa buscar meios de envolver a comunidade e a sociedade nessa luta, para que juntos façam com que essa ação inclusiva aconteça de fato. Não é difícil de perceber que nem todas as escolas estão preparadas para a adoção da prática inclusiva, visto que ainda trabalha de acordo com um paradigma que reproduz as desigualdades sociais e dessa forma “[...] fica difícil falar uma ‘educação inclusiva’ sem uma crítica e uma transformação radical deste modelo padronizante, o qual não suporta as diferenças” (GALVÃO FILHO, 2004, p. 51, grifo do autor, apud GALVÃO, 2005, p.59).
Algo que pode interferir na escolarização da pessoa com deficiência é o conhecimento que a comunidade sabe sobre suas reais necessidades. Como já foi tratado anteriormente, a concepção que se tinha era o que aluno cego não precisava de nenhum estímulo visual. Essa “verdade” foi mudada a partir dos estudos de Natalie Barraga ao verificar que pessoas cegas com algum resíduo visual quando estimuladas de maneira correta poderiam melhorar essa visão residual que possuíam. Essa constatação foi muito importante, pois possibilitou organizar novas formas de intervenção pedagógica. A importância desse estudo foi tão significativa que até mesmo modificou o conceito que se tinha sobre deficiência visual que segundo Dall’Acqua (2002, p.77) “[...] passou a não mais se referir a um conjunto indistinto de pessoas genericamente educadas como cegas, mas sim àquelas, que por diferentes razões apresentavam restrição total ou diminuição da capacidade visual”.
As seguintes modalidades podem ser utilizadas no atendimento educacional da pessoa com deficiência visual, conforme Bruno (1997) traz em seu livro “Deficiência Visual: Reflexão sobre a Prática Pedagógica” (GALVÃO, 2005):
- Sala de recursos: o professor com especialização na área da deficiência oferece apoio suplementar ao que o aluno vivencia na sala regular com o auxílio de material pedagógico adequado ao processo de ensino-aprendizagem e de recursos específicos à deficiência visual, tudo isto realizado em uma sala diferenciada, porém dentro da escola regular.
- Formas combinadas: atendimento e/ou orientações a alunos com deficiência visual matriculados em classes especiais de deficiência mental leve, deficiência auditiva e/ou física.
- Projetos especiais: organizado em local na comunidade onde não seja a escola da criança para atender não só o aluno, mas a família, professores e comunidade em geral.
- Centro de referência de baixa visão: conta com oftalmologista, pedagogo e ortoptista especializado em baixa visão para contemplar o desenvolvimento da eficiência visual e adaptação de recursos ópticos para esse aluno através de avaliações e programas educacionais.
- Centro de Apoio Pedagógico (CAP): é uma “[...] proposta para o desenvolvimento qualitativo da educação e inclusão do portador de deficiência visual no sistema escolar e comunitário” (BRUNO, 1997, p.23 apud GALVÃO, 2005, p.59). Esta proposta tem o objetivo de melhorar o atendimento especializado disponibilizando-o as cidades que possuam demanda para este, sejam elas grandes ou pequenas.
As formas de atuação pedagógica que foram descritas acima se baseiam no conhecimento atual sobre a capacidade dessas pessoas que apresentam a deficiência que busca a superação de limites através da eficiência e do resgate das potencialidades existentes. Nesse processo o trabalho deve ser conjunto, os estudos e as discussões que envolvam a comunidade escolar, as famílias e as instituições são de suma importância para que a sociedade entenda que [...] a inclusão não obriga todos os cidadãos a seguirem o mesmo rumo, mas, sim, garante a eles a oportunidade de que tenham acesso a todos os recursos da comunidade que quiserem e puderem utilizar” (SCHMIDT, 1998, p. 116 apud GALVÃO, 2005, p.61).
Uma sociedade inclusiva garante seus espaços a todas as pessoas, sem prejudicar aquelas que conseguem ocupá-los só por méritos próprios. [...] Vai bem além de garantir apenas espaços adequados para todos. Ela fortalece as atitudes de aceitação das diferenças individuais e de valorização da diversidade humana e enfatiza a importância do pertencer, da convivência, da cooperação e da contribuição que todas as pessoas podem das para construírem vidas comunitárias mais justas, mais saudáveis e mais satisfatórias (SASSAKI, 1997, p.164-165).
Ainda segundo o autor citado acima, uma nova sociedade está sendo construída através de transformações, sejam elas significativas ou não dentro de ambientes físicos e no próprio pensamento das pessoas, até mesmo nas pessoas que apresentam necessidades especiais, e a inclusão social é o processo que contribui para que tudo isso aconteça.
CONCLUSÃO
O que se percebe é que de fato a inclusão está acontecendo, porém de maneira lenta e ainda com muitas dificuldades. As leis existem e as escolas buscam cumpri-las, mas ainda é preciso mais. Infelizmente ainda existe a alegação de que a inclusão não acontece de fato, devido à falta de formação específica dos professores para trabalhar com alunos com necessidades especiais, o que não deixa de ser uma verdade, o corpo docente ainda não está totalmente preparado para atender esses alunos. Fato que não é de se admirar, pois nosso próprio curso de graduação ainda deixa a desejar nesse aspecto. A educação inclusiva existe e faz parte da realidade escolar, mas será que sabemos de fato o que isto significa? Este é um processo que exige um constante aperfeiçoamento, porém, e quando estivermos do outro lado da história, buscaremos esse aperfeiçoamento?
São questões como esta que nos fazem refletir a respeito de nossa prática para que possamos garantir que nossos esses alunos recebam uma educação de qualidade. Percebemos com esse estudo que a inclusão ainda está “engatinhando”. Ainda falta informação, uma formação de qualidade e mais preparação e “[...] principalmente falta a conscientização de que educar é muito mais do que transmitir conhecimento, é muito mais do que treinar pessoas. Educar é contribuir na formação de um cidadão com direitos e deveres” (KURZ, 2008, p. 78).
Somente quando houver um real comprometimento da sociedade em geral, envolvendo desde o contexto familiar até as ações do poder público, a educação inclusiva de fato acontecerá e com êxito, pois se torna inviável leis que existem, mas que não são possíveis de serem executadas na prática.
REFERÊNCIAS
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COLL, C.; MARCHESI, A.; PALACIOS, J. Desenvolvimento psicológico e educação: Transtornos do desenvolvimento e necessidades educativas especiais. 2ª. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
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FALCÃO, Gérson Marinho. Psicologia da Aprendizagem. São Paulo: Ática, 2003.
GALVÃO, Nelma de Cássia Silva Sandes. Inclusão de crianças com deficiência visual na educação infantil. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Educação, 2005. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.ufba.br/tde_arquivos/12/TDE-2006-03-31T125601Z-202/Publico/Galvao,%20Nelma_%20Dissertacao.pdf>. Acessado em: 20/02/2010.
KURZ, Catiéle Scheidt. Inclusão e o processo de ensino-aprendizagem na matemática: Uma experiência com aluno cego em escola do ensino regular no município de Sinop – MT. Monografia, Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus Universitário de Sinop, Departamento de Matemática, Sinop, 2008.
MANTOAN, Maria Teresa Égler. A integração de pessoas com deficiência: Contribuições para uma reflexão sobre o tema. São Paulo: SENAC, 1997.
___________________________. Inclusão escolar: Pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2006.
SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro, RJ: WVA, 1997.
SOUZA, Araci Martins de. Fundamentos teórico-metodológicos na área de deficiência visual. Sinop: UNEMAT EDITORA, 2006.
TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.