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O Papel do Professor Frente aos Transtornos Mentais na Aprendizagem

Carmelita Alves de Lima[1]

Cristiane da Silva Pinto[2]

Laura Beatriz da Silva Borges[3]

 

Resumo

Tendo em vista que a acepção do que se pondera como transtorno, dificuldade e/ou problema de aprendizagem é uma das problemáticas mais preocupantes para aqueles que se atuam no ramo psicopedagogia, onde se dá o diagnóstico, prevenção e reabilitação do processo de aprendizagem, uma vez que abrange uma vasta doutrina baseada em percepções nem sempre coincidentes ou convergentes. Pretende-se, portando, neste artigo, a partir de uma pesquisa bibliográfica, discutir-se determinadas perspectivas de diagnóstico sobre transtornos mentais que instigam “dificuldade de aprendizagem”, a fim de propor ao professor alternativas para melhoria da aprendizagem, e traçar o papel do profissional de educação nesses casos. Afinal, ensinar é fundamentalmente deixar aprender, ou deixar ser o que se possa, pois cada um aprende conforme o horizonte de suas possibilidades (FREIRE, 1987).

Palavras-Chave: Transtorno mental, psicopedagogia, aprendizagem.

 

 

Abstract

Given that the meaning of that ponders how disorder, difficulty and / or learning problem is one of the most worrying problems for those who work in educational psychology branch, where it gives the diagnosis, prevention and rehabilitation of the learning process, it covers a broad-based perceptions do not always coincide or converge doctrine. The intention is carrying this article, from a literature search, be certain to discuss prospects for diagnosis of mental disorders that instigate "learning disability" in order to propose alternatives for the improvement of teacher learning, and chart paper of professional education in these cases. After all, teaching is fundamentally fail to learn, or let it be what it may, as each learns as the horizon of possibilities (Freire, 1987).

Key words: mental disorder, educational psychology, learning.

INTRODUÇÃO

Este artigo tem o objetivo cooperar com a prática educacional apresentando ferramentas teóricas e estratégicas, através de um olhar psicopedagógico sobre o processo de transtornos de aprendizagem do aluno em sala de aula.

Nem sempre a escola e o professor estão preparados para lidar com alunos com dificuldades de aprendizagem, há falhas neste processo de inclusão escolar e faz-se necessário identificar tais falhas na relação escola e aluno, por isso é importante abordar como se processa a aprendizagem através do olhar psicopedagógico para que consequentemente se leve a uma reflexão sobre o problema de aprendizagem e as possíveis intervenções psicopedagógicas sobre o referido problema.

Assim sendo, é importante ser destacar quais os quadros específicos de Transtornos de Aprendizagem e seus sintomas periféricos, a fim de que seja possível a implementação de estratégias eficazes no ambiente escolar, garantindo o aprender.

 

DESENVOLVIMENTO

De acordo com a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da Classificação Internacional de Doenças (CID), a terminologia “transtorno” reentrante na literatura especializada Organização Mundial de Saúde é:

O termo “transtorno” é usado por toda a classificação, de forma a evitar problemas ainda maiores inerentes ao uso de termos tais como “doença” ou “enfermidade”. “Transtorno” não é um termo exato, porém é usado para indicar a existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos clinicamente reconhecível associado, na maioria dos casos, a sofrimento e interferência com funções pessoais (CID, 1992: 5).

De acordo com a CID, buscando evidenciar dos Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares, afirma-se que;

(...) são transtornos nos quais os padrões normais de aquisição de habilidades são perturbados desde os estágios iniciais do desenvolvimento. Eles não são simplesmente uma consequência de uma falta de oportunidade de aprender nem são decorrentes de qualquer forma de traumatismo ou de doença cerebral adquirida. Ao contrário, pensa-se que os transtornos originam-se de anormalidades no processo cognitivo, que derivam em grande parte de algum tipo de disfunção biológica (CID - 10, 1992: 236).

Conforme a Classificação Internacional de Doenças existe alguns preceitos e problemas para que o diagnóstico desse tipo de transtorno seja estabelecido, e o principal é a carência de caracterizar e diferenciar os transtornos de variações normais nas realizações escolares.

Moojen (1999) afirma que, há dois grupos de transtornos distintos, sendo que o primeiro é caracterizado por um pequeno grupo de crianças que apresenta Transtorno de Aprendizagem devido imaturidade do desenvolvimento e/ou disfunção psiconeurológica, em contrapartida existe um grupo muito maior de crianças que apresenta baixo rendimento escolar em consequência de fatores isolados ou em interação. Os transtornos apresentadas por esse contingente maior de alunos, segundo o autor, poderiam ser descrito como “dificuldades de aprendizagem”.

A avaliação de alunos com dificuldades de aprendizagem encontra-se diversas categorias de transtorno. Haverá aqueles que precisam da interferência psicológica ou psicopedagógica, ou ainda, aqueles que a dificuldade pode ser resolvida dentro do contexto escolar, por meio de recreação individualizada de ensino e práticas pedagógicas diferenciadas.

É comum que a comunidade preste mais atenção às dificuldades, pois elas são muito mais evidentes aos olhos do que as potencialidades. De acordo com o “DSM-IV: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais” (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA, 1995), desmoralização e baixa autoestima podem estar associadas às dificuldades de aprendizagem. Geralmente, a criança que possui dificuldades de aprendizagem é rotulada tanto pela sociedade quanto na escola, sendo chamada de “perturbada”, incapaz ou “retardada”.

Desse cenário, vale a pena refletir, qual o sentimento desta criança rotulada de “burra”, “incapaz”, “perturbada” ou “retardada”? Com certeza, nada bem. De acordo com Souza (1996) as emoções submergidas neste processo compreendem desde comiseração de inferioridade, frustração, e perturbação emocional, podendo se estender a problemas de autoestima e depressão. Tais problemas estão sujeitos a forma como suas dificuldades são vistas tanto pelos pais como professores.

Desta forma, o ambiente dominante no lar influencia diretamente a vida escolar das crianças, ou seja, se em casa existe um clima tenso, provavelmente o aluno, que já tem algumas dificuldades em relação a sua aprendizagem, também se tornará uma criança tensa (SOUZA, 1996).

Desta forma, adversamente se o clima afetivo do lar é acolhedor permitindo a livre expressão emocional da criança, ela pretenderá a reagir com seus sentimentos, positivos ou negativos, livremente, e estará mais apta a lidar com suas dificuldades, uma vez que irá encará-las com normalidade e como um obstáculo transitório a será vencido.

A sociedade escola, ao invés de rotular as dificuldades de aprendizagem dos alunos devem se concentrar as suas habilidades, desta forma, conhecendo alguns sucessos, pode-se abrir uma porta para a construção de um vínculo positivo com as demais áreas da aprendizagem que o aluno necessita aprimorar. O educador precisa se concentrar em descobrir os talentos dos nossos alunos e incentivar o seu desenvolvimento.

Esta forma positiva de lidar com os problemas da criança deve ser adotada também pelos professores, procurando sempre imaginar as dificuldades dentro de um aspecto de normalidade, e não de uma perspectiva “rotulante” que pouco colabora para a superação, mas sim, para a baixa autoestima, o desânimo e a desistência dos alunos.

Em se tratando de desânimo e desistência, além de aspectos emocionais, passamos também a abordar aspectos de conduta desta criança que apresenta um distúrbio de aprendizagem.

De acordo com Pacheco, 1996, o desânimo e desistência em muitos casos partem da sala de aula, onde as crianças, muitas vezes, são avaliadas como alunos que não objetam positivamente à demanda educativa. Não são alunos ideais. Mas, é importante salientar que a Educação deve sair do idealismo que a sustenta. Afinal, não há o aluno ideal, a escola ideal, o professor ideal, a aula ideal. Ou seja, não há a sociedade e o ser humano ideal.

Responsabilizar o aluno com transtorno como um fracasso escolar, devido ele não responder positivamente à processo escolar é recusar a condição da criança de ser em constituição no mundo. Ou seja, a dificuldade de aprendizagem, não é um problema somente do estudante é, também, um problema da escola e daqueles com quem a criança tem vínculos afetivos constantes, sua família.

Neste contexto, é possível traçar algumas medidas necessárias do professor para inclusão da criança com dificuldades na aprendizagem. A primeira medida a ser adotada é buscar olhar através dos comportamentos e sentimentos inadequados desta criança ou adolescente, na tentativa de identificar quais os aspectos que estão subjacentes a esta revolta.

Desta forma, é importante que o educador conheça as causas do transtorno de aprendizagem apresentada pelos alunos. Para Fernández (1991) as dificuldades de aprendizagem estariam relacionadas às seguintes causas:

1. Causas externas à estrutura familiar e individual: originariam o problema de aprendizagem reativo, o qual afeta o aprender, mas não aprisiona a inteligência e, geralmente, surge do confronto entre o aluno e a escola;

2. Causas internas à estrutura familiar e individual: originariam o problema considerado como sintoma e inibição, afetando a dinâmica de articulações necessárias entre organismo, corpo, inteligência e desejo, causando o desejo inconsciente de não conhecer e, portanto, de não aprender;

3. Modalidades de pensamento derivadas de uma estrutura psicótica, as quais ocorrem em menor número de casos;

4. Fatores de deficiência orgânica: em casos mais raros, são aqueles relacionados com aspectos do funcionamento anatômico, como o funcionamento dos órgãos dos sentidos e do sistema nervoso central;

E assim, uma vez encontrada a dificuldade de aprendizagem apresentada por esta criança que levou ao início do processo de Transtorno de Aprendizagem, é preciso culminar o tratamento e acompanhamento escolar adequado a cada caso.

Desta forma, sabendo que os principais problemas encontrados na crianças são aqueles que nascem dentro do ambiente familiar ou escola, a orientação é abrangente aos pais, como também um trabalho diferenciado e aperfeiçoado com a criança ou adolescente.

Neste contexto, algumas diretrizes podem ser dadas aos professores para implementar a aprendizagem de seus alunos. Tais diretrizes são globais, portanto cabe ao professor selecionar, dentre elas, aquelas que se apropriam melhor ao caso em questão, e que podem ser mais facilmente aplicadas.

Rochael (2009) descreve algumas diretrizes a serem utilizadas pelo professor no contato com crianças que apresentam transtornos de aprendizagem. Contudo, o autor indica que tais diretrizes, não compõem “receitas prontas”, ou seja, estão acessíveis à adaptação e reformulação por parte do professor, sempre de acordo ao conhecimento que tem da criança ou adolescente em questão, e de sua própria vivência em sala de aula. As estratégias apresentadas, que descreve as atitudes a serem evitas pelo professor são:

Ressaltar as dificuldades do aluno, diferenciando-o dos demais; Mostrar impaciência com a dificuldade expressada pela criança ou interrompê-la várias vezes ou mesmo tentar adivinhar o que ela quer dizer completando sua fala; - Corrigir o aluno frequentemente diante da turma, para não o expor; - Ignorar a criança em sua dificuldade (ROCHAEL, 2009).

Em contrapartida, as atitudes a serem adotadas pelo professor são:

Não forçar o aluno a fazer as lições quando estiver nervoso por não ter conseguido; Explique a ele suas dificuldades e diga que está ali para ajudá-lo sempre que precisar; Evitar que o aluno se sinta inferior; Considerar o problema de maneira serena e objetiva; Avaliar o desempenho do aluno pela qualidade de seu trabalho; Proponha jogos na sala; Não corrija as lições com canetas vermelhas ou lápis; Procure usar situações concretas, nos problemas (ROCHAEL, 2009).

A psicopedagogia emprega os termos “ensinantes e aprendentes” para nomear o par educativo que normalmente é conhecido por professor e aluno. A nossa tendência é imaginar que o ensinante é o professor e o aprendente é o aluno, mas para a psicopedagogia esses papéis mudam o tempo todo, afinal, o professo também aprende com o aluno.

Geralmente o querer de todo professor, é que seus alunos acertem sempre, por isso é importante adquirir um novo olhar sobre os erros na aprendizagem. O erro é um indicante de como o aluno está pensando e como ele compreendeu o que foi ensinado. Analisando com mais cuidado os erros dos alunos, pode-se preparar a reformulação e métodos docentes de modo que elas fiquem perto da necessidade dos alunos e assim atender a dificuldade que o mesmo apresenta.

O professor precisa refletir sobre as causas dos problemas de aprendizagem escolar não para se culpar, mas para se responsabilizar. Responsabilizar-se quer dizer abraçar a causa e procurar métodos para resolver o problema. O educador não pode se bastar com aprendizagens parciais, por isso, deve buscar compreender como ocorre o conhecimento, os fatores que intervêm na aprendizagem, seus distintos estágios e teorias que podem transformar o trabalho do professor em um processo científico e assim ele percorrerá o caminho prática-teoria-prática.

Portanto, também se recomenda que o professor, junto com toda a equipe da escola, medite sobre a estrutura curricular que está sendo proporcionada e a compatibilidade deste com a estrutura cognitiva, afetiva e social do aluno, afinal para a psicopedagogia a aprendizagem se baseia no equilíbrio dessas estruturas.

A adaptação da linguagem utilizada em sala de aula, e outro aspecto de mudanças para o educador, pois pode haver diferença de cultura entre professor e alunos, o que pode causar conflito e dificuldade de comunicação e consequentemente problema na aprendizagem. Para Vygotsky (1993) Todos os seres humanos são capazes de aprender, mas é necessário que adaptemos a nossa forma de ensinar.

 

Conclusão

O aspecto psicopedagógico dos problemas de aprendizagem compreende, portanto, os processos de desenvolvimento e os caminhos da aprendizagem. Envolve o aluno de maneira interdisciplinar, buscando apoio em várias áreas do conhecimento e considerando a aprendizagem no contexto escolar, familiar; e no aspecto afetivo, cognitivo e biológico.

Nesse contexto, compete então ao educador, com uma visão psicopedagógica, ser um investigante dos processos de aprendizagem de seus alunos, impedindo que o problema de aprendizagem leve a um fracasso escolar.

Para concluir, os problemas de aprendizagem é uma situação real presente nas instituições escolares. Portanto, é imprescindível que todos os abrangidos com assuntos educacionais desempenhem pesquisas que possibilitem conhecer cada vez melhor as relações entre os problemas de aprendizagem.

É relevante destacar que este breve estudo não procurou sanar todas as incertezas e angústias do professor à cerca de seu novo papel, mas encorajá-lo na busca de novas possibilidades a partir do não aprender, que este não seja visto como algo determinante, mas como um desafio, uma nova porta a ser aberta e que atenda às necessidades dos alunos com dificuldades, promovendo a autoestima do educador e do educando.

 

Referências

ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA. Manual de estatística e diagnóstico de transtornos mentais (DSM IV). 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

 

Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Organização Mundial de Saúde (Org.). Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

 

MOOJEN, S. Dificuldades ou transtornos de aprendizagem? In: Rubinstein, E. (Org.). Psicopedagogia: uma prática, diferentes estilos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.

 

PACHECO, Olandina M.C. de Assis. Sujeito e singularidade: ensaio sobre a construção da diferença. Rio de Janeiro: Zahar, 1996.

 

SOUZA, Evanira Maria de. Problemas de aprendizagem: crianças de 8 a 11 anos. Bauru: EDUSC, 1996.

 

VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

 

FERNÁNDEZ. A. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da criança e da família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.



[1] Pedagoga, atuante na Rede Municipal de Educação.

[2] Pedagoga, atuante na Rede Municipal de Educação.

[3] Pedagoga, atuante na Rede Municipal de Educação.