Buscar artigo ou registro:

Um Olhar Reflexivo Sobre a Produção Textual de Alunos da EJA a Respeito do Atual Contexto da Amazônia Legal

Cristiane Edinéia Zahler[1]

 

RESUMO

O presente estudo teve como propósito investigar como se dá a construção discursiva dos estudantes do Centro de Educação de Jovens e Adultos Benedito Sant’Ana da Silva Freire (CEJA) de Sinop – MT. Este artigo propõe uma reflexão sobre os processos de (re) significação deste sujeito com o espaço e a formação cultural da região denominada Amazônia Legal, como se produzem e mostram-se os sentidos nas falas dos estudantes inseridos na Educação de Jovens e Adultos, o que se propôs é uma análise da memória reconstruída na enunciação. O corpus da pesquisa por sua vez, compõe-se de recortes dos textos produzidos pelos estudantes a partir de oficinas pedagógicas. Procurou-se abordar os sentidos que se mostram nos textos e o seu funcionamento, através dos pressupostos teóricos da Análise de Discurso de linha francesa (AD), esse procedimento de análise se deu com base nos conceitos, defendidos por Michel Pêcheux e Eni Pucinelli Orlandi entre outros teóricos.

Palavras-chave: Análise de Discurso. Construção Discursiva. Produção Textual. Alunos.

 

Abstract

The present study aimed to investigate how the discursive construction of the students of the Center for Education of Youth and Adults Anne Benedito da Silva Freire (CEJA) of Sinop - MT. This paper proposes a reflection on the processes of (re) signification of this subject with the space and the cultural background of the region called Amazon, as they produce and show up directions on the speech of students entered in Youth and Adult Education, it is proposed analysis memory rebuilt in enunciation. The research corpus in turn, consists of clippings of texts produced by students from educational workshops. Sought to address the senses show us that texts and their operation through the theoretical assumptions of the analysis of the French Discourse (AD), this procedure of analysis was based on the concepts advocated by Michel Pecheux and Eni Orlandi Pucinelli among other theorists.

Keywords: Discourse Analysis. Discursive construction. Textual production. Students.

 

Introdução

Este artigo propõe uma análise discursiva do sujeito aluno, do CEJA, frente ao atual contexto vivenciado na região chamada Amazônia Legal. Em busca de proporcionar uma reflexão crítica e uma maior dinamização do processo ensino-aprendizagem, foram desenvolvidas oficinas pedagógicas, nas aulas de língua portuguesa, com alunos do ensino médio da educação de jovens e adultos.

Para aproximar as competências e os saberes prévios dos estudantes e o ensino sistematizado da escola, visou-se em primeira instância, proporcionar, através de oficinas, uma reflexão a respeito da visão que esses sujeitos têm, das estruturas sociais as quais os mesmos fazem parte. Posteriormente o que se propôs foi compreender a produção social de sentidos, realizada por sujeitos históricos através da materialidade discursiva.

É preciso frisar que, a análise do discurso (AD) é um campo do saber, descritivo, analítico e reflexivo, que oferece ferramentas conceituais para a análise desses acontecimentos discursivos, na medida em que considera a língua como fato, como acontecimento e toma como objeto de estudos a produção de efeitos de sentido, realizada por sujeitos sociais, que usam a materialidade da linguagem e estão inseridos na história. Pois a linguagem está na história, na ideologia e na organização social de um povo.

Para compreender como se constrói a materialidade discursiva (texto) ou o discurso revestido dessa forma material e quais sentidos se manifestam e significam na compreensão entre sujeito, história e ideologia. Buscou-se a concepção de interpretação e compreensão na própria teoria;

a) não há sentido sem interpretação; b) a interpretação está presente em dois níveis: o de quem fala e o de quem analisa, e c) a finalidade do analista de discurso não é interpretar, mas compreender como um texto funciona, ou seja, como um texto produz sentidos. ORLANDI (2001, p. 19)

A partir da materialização do dizer em escrita é possível observar o trabalho da ideologia e da história na construção do discurso. Para Hashiguti (2009, p.21) “Nos discursos podemos reconhecer o sujeito marcando e sendo marcado pela relação interconstitutiva da linguagem com a história, com as condições de produção”. Para inscrever no discurso uma memória, é necessário recorrer a outros dizeres, ao já-dito, de forma que ao se apropriar da linguagem e produzir certos sentidos os sujeitos ajudam a construir a memória da língua uma vez que ela vai continuar existindo mesmo depois de da existência destes.

 

2. A APROPRIAÇÃO DA TEORIA NA CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS

É necessário, ater-se sobre a proposta intelectual em que se situa a Análise de Discurso, para que se defina o objeto de estudo, e desta forma, se possa fazer uma análise mais significativa dos sentidos produzidos, a partir da leitura e produção textual, e assim enquanto analista do discurso, construir uma hipótese de interpretação baseada em pistas fornecidas pelo dizer dos alunos, os sujeitos da presente pesquisa.

A escola de Análise de Discurso francesa (desconstrucionista) teve sua origem no fim dos anos 60 do século XX, dentro de um debate filosófico que buscava estabelecer as bases materialistas para as práticas da linguagem. Constituiu-se da relação de três linhas disciplinares; a Linguística, o Marxismo (linguagem em sua materialidade) e a Psicanálise. Segundo Orlandi, (2007, p. 15) a AD “[...] não trata da língua, não trata da gramática, embora todas essas coisas lhe interessem. Ela trata do discurso. [...] concebe a linguagem como mediação necessária entre o homem e a realidade natural e social”.

Partiu-se então da concepção de leitura, pois, através do processo de interação sujeito/linguagem o sujeito automaticamente se filia a uma formação discursiva. Conforme Orlandi (Idem, p. 27) para a Análise de Discurso “[...] a noção de leitura é posta em suspenso. Tendo como fundamental a questão do sentido” isso porque o que ocorre é uma convergência entre as principais linhas de estudo do conhecimento, a citar; Teoria da Enunciação, Teoria da ideologia e Teoria do Discurso; que segundo Orlandi (2007) “é a determinação histórica dos processos de significação” que se entrecruzaram com a Teoria do Sujeito de Natureza Psicanalítica. Portanto, dessa confluência haveria resultado a “posição crítica” da Análise de Discurso, a respeito da noção de leitura x interpretação e sujeito x sentido e ainda língua x história.

Dentre tantos apontamentos a respeito da Teoria da Análise de Discurso, alguns se fazem indispensáveis, pois, grandes teóricos já conceituaram e demonstraram o funcionamento da linguagem na sociedade, trazendo contribuições para estudantes e pesquisadores. Considerar-se-á para o presente trabalho as definições de: sujeito do discurso, formação discursiva, sentido, ideologia, memória enquanto interdiscurso e formações imaginárias.

Para Orlandi (Idem, p. 49) o sujeito é atravessado pela linguagem e pela história. “ele é sujeito à língua e à história, pois para se constituir para (se) produzir sentidos ele é afetado por elas”. Assim o sujeito do discurso busca sua completude, ele fica assujeitado às condições de produção do discurso. Sujeito e sentido se constituem mutuamente, na articulação entre história, ideologia e língua, materializando-se no discurso. De acordo com Pêcheux (1988, p.163) “A interpelação do indivíduo em sujeito de seu discurso se efetua pela identificação (do sujeito) com a formação discursiva que o domina (isto é na qual ele é constituído como sujeito)”, é possível aceitar então, que a incompletude é própria ao sujeito.

Segundo Furlan e Megid (2009, p.11) “[...] a incompletude é característica da linguagem. Os sentidos não estão completos nem são dados a priori. São sempre constituídos no momento da enunciação, dadas as suas condições de produção.” É possível tomar a memória enquanto interdiscurso, como aqueles conceitos reservados sobre determinados dizeres que se encontram arquivados na memória sobre o assunto x ou y. Para Orlandi (Idem. p.31) “A memória [...] quando pensada em relação ao discurso. E nessa perspectiva, ela é tratada como interdiscurso. Este é definido como aquilo que fala antes, em outro lugar independente. Ou seja, é o que chamamos memória discursiva”. O interdiscurso refere-se ao curso do discurso, é a linguagem em movimento, os sujeitos utilizam as palavras dos outros em seu contexto.

A língua não pertence a alguém, ela se constrói nas condições de produção, se alguém de outra geração for questionado sobre o significado de uma palavra, esta pode adquirir sentido diferente do atual. Orlandi (2001, p. 59) estabelece a relação entre memória discursiva e interdiscurso:

O interdiscurso é o conjunto de dizeres já ditos e esquecidos que determinam o que dizemos, sustentando a possibilidade mínima do dizer. Para que nossas palavras tenham sentido é preciso que já tenham sentido. Esse efeito é produzido pela relação com o interdiscurso, a memória discursiva: algo fala antes, em outro lugar, independentemente.

O interdiscurso é interconexão entre diferentes formações discursivas, quando há, por exemplo, o cruzamento entre o campo do saber linguístico com a psicanálise ou a psicologia, quando o professor dá um conselho a um aluno, está presente nesse discurso do professor também o discurso do amigo, o de pai, várias formações discursivas que se juntam no mesmo dizer.

Ainda Orlandi, aponta a respeito do interdiscurso; “[...] é todo o conjunto de formulações feitas e já esquecidas que determinam o que dizemos. Para que minhas palavras tenham sentido é preciso que elas já façam sentido”. A linguagem já existe e continuará existindo depois da existência do falante. Usam-se as mesmas palavras dos antepassados, para prover sentidos distintos, porém, os velhos sentidos são recuperáveis, isso é a memória discursiva, ela não pertence ao indivíduo e sim é social.

 

3. O TECER DOS SENTIDOS PELA INTERPELAÇÃO DO INDIVÍDUO

Sabe-se que o sentido, afeta diferentemente os sujeitos de acordo com a sua possibilidade de construção e de interpretação. Nas palavras de Orlandi (2007, p. 47) “O sentido é assim uma relação determinada do sujeito – afetado pela língua – com a história. É o gesto de interpretação que realiza essa relação do sujeito com a língua, com a história, com os sentidos”. A dificuldade de leitura de um texto, por exemplo, é um efeito discursivo.

Quem se encontra numa formação discursiva X não irá concordar com o efeito discursivo de quem está numa posição discursiva Y, só compartilhando da ideologia e da formação discursiva do mesmo grupo é que o sujeito conseguirá chegar a uma interpretação similar.

Aquilo que convencionamos chamar sentido é na verdade efeito de nossa interação com os textos mediada pela ideologia. Para Pêcheux (1988, p. 160) “O sentido de uma palavra [...] é determinado pelas posições ideológicas que estão em jogo no processo sócio-histórico no qual as palavras, expressões e proposições são produzidas (isto é reproduzidas)”. O texto não é difícil para todos; ele afeta ao sujeito como algo difícil, talvez por uma questão histórica, de público alvo etc.

A ideologia por sua vez, dá uma nuance ao sentido ela não o modifica totalmente, conforme Orlandi (Idem. p. 46) “a ideologia [...] é a condição para a constituição do sujeito e dos sentidos. O indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia para que se produza o dizer”. Esse é o aspecto refratário da ideologia sobre os sentidos estes últimos passam por um processo que Orlandi chama ‘refração’, na ideologia são afetados e se convertem em efeito de sentido. Segundo Orlandi (op. Cit. p. 47) “a ideologia não é ocultação, mas função da relação necessária entre linguagem e mundo. Linguagem e mundo se refletem no sentido da refração, do efeito imaginário de um sobre o outro”.

No discurso é possível observar o movimento da linguagem, da história e da própria ideologia. De acordo com Pêcheux (Idem, p. 160):

É a ideologia que fornece as evidências pelas quais “todo mundo sabe” o que é um soldado, um operário, um patrão, uma fábrica, uma greve, etc., evidências que fazem com que uma palavra ou um enunciado “queiram dizer o que realmente dizem” e que mascaram, assim sob a “transparência da linguagem”, aquilo que chamaremos o caráter material do sentido das palavras e dos enunciados.

Alguns discursos são proibidos para certos sujeitos e autorizados para outros (Foucault), se o sujeito pertence à formação discursiva X, então está autorizado para o discurso X. Orlandi (2007, p. 47) aduz a respeito da formação discursiva “As palavras mudam de sentido segundo as posições daqueles que as empregam. Elas “tiram” seu sentido dessas posições, isto é, em relação às formações ideológicas nas quais essas posições se inscrevem”. Dentro de uma formação discursiva há regulações do que pode ou não fazer/dizer, existe um protótipo do sujeito que está inserido dentro do que é proposto para ele.

Para enunciar o sujeito tem que se inserir em uma formação discursiva, ou seja, é afetado por uma coleção de discursos organizados, fica assujeitado a possíveis dizeres, a possíveis saberes. Pêcheux (Idem, p. 160) afirma que “a interpelação do indivíduo em sujeito de seu discurso se efetua pela identificação (do sujeito) com a formação discursiva que o domina”. e que “o sujeito se constitui pelo esquecimento” quanto a este último Pêcheux define dois tipos de esquecimento; o esquecimento ideológico e o esquecimento da ordem da enunciação.

Aquilo que o sujeito disse pode ser dito de tantos outros modos e desta forma silenciar outro sentido. Orlandi (Idem, p. 35) salienta que o esquecimento ideológico “[...] é da instância do inconsciente e resulta do modo pelo qual somos afetados pela ideologia. Por esse esquecimento temos a ilusão de ser a origem do que dizemos quando, na realidade, retomamos sentidos preexistentes”. Ou seja, esse primeiro esquecimento está relacionado ao aspecto polissêmico da linguagem.

O sujeito do discurso esquece que a linguagem é polissêmica, que possui muitas formas de produzir sentido ou uma só forma pode produzir vários sentidos. Pode-se dizer que esquece a outra forma de dizer o mesmo. O esquecimento da ordem da enunciação para Orlandi (Idem, p. 35) produz em nós a impressão da realidade do pensamento “ao falarmos o fazemos de uma maneira e não de outra, e, ao longo de nosso dizer formam-se famílias parafrásticas que indicam que o dizer sempre poderia ser outro”. A linguagem é parafrástica, o sujeito diz redizendo o já-dito, somente reorganiza, não dá origem aquele dizer, mas as pessoas questionam a quem fala, de quem ouvem, portanto os esquecimentos são constitutivos da linguagem.

 

4. A CONSTRUÇÃO DISCURSIVA INTERPELADA PELA IDEOLOGIA E A MATERIALIZAÇÃO EM LINGUAGEM ESCRITA

Para tornar possível a análise material dos discursos de estudantes da modalidade EJA, mais precisamente do Centro de Educação de Jovens e Adultos Benedito Sant’Ana da Silva Freire (CEJA) de Sinop – MT, foram desenvolvidas oficinas pedagógicas voltadas à temática; “A realidade da Amazônia no contexto do século XXI”. Foi proposto que cada estudante, a partir das várias leituras e discussões realizadas durante as oficinas, produzisse um texto relatando o seu ponto de vista a respeito do atual contexto social em relação à Amazônia Legal.

No quadro abaixo há uma explanação de algumas características de cada estudante pesquisado, como o sexo, a cidade de origem, idade, e há quanto tempo reside na região Norte do Estado de Mato Grosso, que faz parte da Amazônia Legal. Optou-se por não identificar os sujeitos com os seus nomes reais, portanto, serão utilizadas as letras do alfabeto (A, B, C, etc.) para identificação da ordem dos estudantes.

Tabela 01 – descrição dos sujeitos pesquisados

Informante

Sexo

Cidade de origem

Ida-de

Residente na região

Sujeito A (SJA)

Masc.

Sinop (MT)

26

26 anos

Sujeito B (SJB)

Fem.

São Miguel do Oeste (SC)

54

32 anos

Sujeito C (SJC)

Fem.

Cruz Alta (RS)

57

21 anos

Sujeito D (SJD)

Fem.

 (SC)

35

16 anos

 

Sujeito E (SJE)

 

Masc.

Frederico Westphalen (RS)

 

67

 

29 anos

Fonte: Elaborada pela autora, 2014.

Para as análises, foram utilizadas apenas algumas sequências discursivas, pois se acredita que de forma concisa já é possível compreender os sentidos, estes que apontarão para qual formação discursiva estão inscritos os sujeitos-enunciadores e qual formação imaginária lhes ocorre em relação à Amazônia Legal, posteriormente apresentamos algumas contribuições reflexivas apoiadas pela linha teórica da AD.

Sujeito A (SJA): “Se cada um fazer seu papel, podemos reverter sim essa situação, cada um contribuindo, com sua parte, cuidando das árvores, não comprando madeira e nem derivados ilegais, parece pouco, mas surtiria grande efeito”.

Sujeito B (SJB): “Nossa região tem muitas espécies de animais que encantam nossos olhos e o mundo, por isso temos que cuidar da nossa parte da floresta”.

Sujeito C (SJC): “Bom a Mídia costuma falar muito da nossa Amazônia e de suas belezas naturais, a fauna e a flora, mas isso não é tudo, pois eles esquecem de mostrar o enorme desmatamento que acontece, mesmo existindo o manejo florestal”.

Sujeito D (SJD): “Como será a vida de nossos filhos, quando chegarem a vida adulta? O que os nossos netos terão daqui a muitos anos? Será que terão água potável e qualidade de vida?

Sujeito E (SJE): “Preservar árvores e animais é uma necessidade mundial. A sobrevivência do ser humano, no planeta Terra está ligada a preservação do meio ambiente, portanto, vamos cuidar para que a nossa Amazônia seja o nosso futuro”.

Sujeito F (SJF): “precisamos ser os primeiros a cuidar e a preservar o lugar em que vivemos, através de campanhas de preservação e conscientização. Portanto, somos chamados a sair às ruas em defesa da Amazônia. Não vamos deixar para amanhã o que podemos fazer hoje, para que no futuro outras gerações também usufruam desse patrimônio que é a Amazônia”.

Estamos sempre reproduzindo / resinificando dizeres anteriores ao nosso. Os novos sentidos não advêm das palavras em si, mas de suas condições (contexto). Nos recortes analisados é possível observar o que a AD denomina; Paráfrase/polissemia, o discurso que se repete de diferentes sujeitos, porém se inscrevem em uma mesma formação discursiva. (SJA): “Se cada um fazer seu papel,  (SJB):temos que cuidar, (SJE):vamos cuidar, (SJF): precisamos ser os primeiros a cuidar e a preservar". Por outro lado tudo que é produzido em termos de sentido não é garantido. A interpretação é primordial para a comunicação. As palavras não são particulares, mas sociais, uma vez que a linguagem não é transparente o sentido também não o é.

Na relação presente/futuro é possível identificar marcas de preocupação próprias de um imaginário afetado pelo discurso da preservação ambiental: (SJD): “Como será a vida de nossos filhos, quando chegarem a vida adulta? O que os nossos netos terão daqui a muitos anos?” (SJF): “Não vamos deixar para amanhã o que podemos fazer hoje”. Para Oliveira (2007, p.50) “É fundamental para se compreender o funcionamento do discurso e a sua relação com os sujeitos e com a ideologia o fato de que há um já-dito que sustenta a possibilidade de todo dizer”.

Se o analista atentar-se um pouco às campanhas publicitárias disseminadas pela mídia, essas abordam muitas vezes exatamente esses mesmos questionamentos, com a intenção de que o interlocutor reflita sobre essas questões, até mesmo o sujeito da pesquisa cita a mídia como lugar de movimento do discurso: (SJC) “Bom a Mídia costuma falar muito da nossa Amazônia”. Portanto esses sujeitos afetados pela memória se apropriam desse pensamento tomam para si esse discurso, se filiam a essa formação discursiva.

Em uma região que a agricultura é extremamente forte, se constituído como principal atividade econômica, não se evidenciou nenhuma marca discursiva em defesa do desbravamento para plantação e expansão econômica, estaria esse discurso silenciado pelo discurso fundador que se impõe através da mídia como o mais forte, o correto, portanto, legítimo. Discurso fundador aqui foi tomado como um “dizer que transfigura o sem-sentido em sentido”, ou seja, atribui determinado sentido pelo qual passa a ser interpretado. De acordo com Fedatto (2009, p.49) “Essa irrupção de significados se dá pelas relações de força entre o já-dito, já-nomeado, já-interpretado”. Lembrando sempre que o deslocamento de interpretação está ligado ao fato que determinados sentidos se inscrevem ou não em determinado dizer.

 

Conclusão

O objetivo deste estudo foi analisar por meio da exposição de práticas de sala de aula e da descrição de textos o funcionamento do discurso ambientalista preservacionista e seu atravessamento pela memória expansionista que dominou a região da Amazônia Legal desde a década de 70 do século XX.

A abordagem foi realizada a partir da perspectiva da AD que não é tão intervencionista, não quer produzir deslocamentos práticos, está mais preocupada em se voltar para o material linguístico, a entender como o discurso se constrói, como se materializa na sociedade, como falantes da língua utilizam a linguagem, sem querer intervir na história nas condições de produção, não cabe ao analista de discurso fazer intervenções, pois, o que se espera é que, a partir da reflexão interna aconteça a (re) significação.

Dado o exposto acredita-se ter contribuído para uma autorreflexão por parte dos estudantes, pois no decorrer da pesquisa foram utilizadas técnicas metodológicas, que permitiram aos mesmos pensar a constituição dos sentidos, materializados em seus textos através das oficinas pedagógicas, as quais facilitaram a análise e compreensão dos discursos escolhidos. O trabalho realizado relativo à análise dos métodos foi de natureza teórica e a parte prática está diretamente relacionada à utilização de metodologias participativas na construção de identidades no âmbito escolar.

 

 

 

REFERÊNCIAS

FEDATTO, Carolina Padilha. Uma história de leitura no Brasil. In: BOLOGNINI, Carmen Zink; PFEIFFER, Claudia; LAGAZZI, Suzy (Orgs.). Discurso e Ensino: Práticas de Linguagem na Escola. Campinas: Mercado das Letras, 2009. p. 47- 53.

 

FURLAN, Cássia Cristina, MEGID, Cristiane Maria. Língua e linguagem em movimento na sala de aula. In: BOLOGNINI, Carmen Zink; PFEIFFER, Claudia; LAGAZZI, Suzy (Orgs.). Discurso e Ensino: Práticas de Linguagem na Escola. Campinas: Mercado das Letras, 2009. p. 09-18.

 

HASHIGUTI, Simone T. Nas teias da leitura. In: BOLOGNINI, Carmen Zink; PFEIFFER, Claudia; LAGAZZI, Suzy (Orgs.). Discurso e Ensino: Práticas de Linguagem na Escola. Campinas: Mercado das Letras, 2009. p. 19-29.

 

OLIVEIRA-Pitombo, Tânia. Fronteira Discursiva: O paralelo 13º e os sentidos da exclusão. Cáceres/MT: Editora Unemat, 2007.

 

ORLANDI, Eni P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 2007.

 

______. Discurso e Texto: formulação e circulação dos sentidos. Campinas: Pontes, 2001.

 

PÊCHEUX, Michel. Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Campinas: Ed. da UNICAMP, 1988.



[1]Professora da Escola CEJA Silva Freire, Licenciada em Letras, com habilitação em Língua Portuguesa pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) Campus de Marechal Cândido Rondon, PR e Língua Espanhola pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Campus de Sinop, MT.