Buscar artigo ou registro:

As Aulas de História, Geografia e Arte no Ensino Fundamental I: Espaços para a Construção de Diálogos Interculturais e Compreensão do Contexto Escolar

Josiane Fátima Zamignan[1]

Virgínia Caetano do Nascimento [2]

 

Resumo

A educação no Ensino Fundamental constitui-se em uma importante fase da formação do aluno, que a partir desta começa a compreender mais sobre os temas que norteiam a existência humana e que vem a contribuir para o seu desenvolvimento, a partir de uma expectativa educacional que objetiva integrar conhecimentos com base na diversidade cultural presente nas salas de aula. Tal condição abre espaço para o estudo pautado na interculturalidade “interação social na sala de aula” (Araújo, 2010, pg. 73), que a partir dos conteúdos abordados nas aulas de Geografia, História e Arte, disciplinas estas voltadas à compreensão do homem e o seu papel na sociedade, considerando aspectos culturais, permitem aos alunos obter conhecimentos a partir de diálogos interculturais que os influenciam na formação da sua identidade, e também possibilitam compreender o contexto escolar no qual estão inseridos, como forma de respeitar a singularidade de cada um.

Palavras-chave: Aulas. Ensino Fundamental. Intercultural. Contexto Escolar.

 

Abstract

Education in elementary education constitutes an important phase of the student's education, that from this beginning to understand more about the issues that drive human existence and coming to contribute to its development, from an educational expectation aims to integrate knowledge based on cultural diversity present in the classroom. Such a condition makes room for study grounded in intercultural "social interaction in the classroom" (Araujo, 2010, pg. 73), that from the content covered in the lessons of geography, history and art, these disciplines aimed at understanding the man and its role in society, considering cultural aspects, allow students to gain knowledge from intercultural dialogues that influence the formation of their identity, and also enable the school to understand the context in which they live, in order to respect the uniqueness of each one.

Keywords: Classes. Elementary school. Intercultural. School Context.

 

Introdução

A partir de uma abordagem intercultural, o presente trabalho objetiva contextualizar o ensino pautado sobre esta perspectiva, bem como tratar sobre as práticas pedagógicas empregadas nas aulas de História, Geografia e Arte considerando a diversidade cultural na sala de aula, para turmas do Ensino Fundamental, com base em um estudo acerca das suas especificidades. A realização desta produção de aprendizado contribuirá para a formação das suas executoras como futuras profissionais da educação, servindo de norteadora para a sua prática pedagógica, uma vez que vem tratar de um assunto de extrema importância na realidade do contexto escolar.

Para tanto a realização deste estudo será embasado em uma pesquisa teórica em livros e artigos da Internet acerca do assunto, bem como dos conhecimentos adquiridos no decorrer das aulas das disciplinas cursadas de Metodologia do Ensino de História, Metodologia do Ensino de Geografia, Metodologia do Ensino de Artes e Pesquisa e Prática Profissional – A Aula.

Em suma, no presente trabalho serão abordados assuntos acerca da interculturalidade e sua relação nas disciplinas de História, Geografia e Arte no Ensino Fundamental, considerando seus aspectos históricos e metodológicos, bem como aspectos da diversidade cultural na sala de aula e a sua influência no ensino destas disciplinas.

                                                                                                          

2.0 – As Aulas de História, Geografia e Arte no Ensino Fundamental I: Espaços para a Construção de Diálogos Interculturais

 e compreensão do Contexto Escolar:

Considerada como um espaço para a “construção do conhecimento” (Araújo, 2010, pg. 74) a escola é tida como um lugar onde diferentes indivíduos com diferentes percepções de mundo se encontram, e é de acordo com as práticas culturais desenvolvidas neste espaço, que o ensino toma a sua forma, ampliando os seus conceitos de mundo, com vistas a produção do saber.

Sob esta perspectiva, o termo da interculturalidade vem tratar da interação/comunicação dentro da sala de aula, onde, nas palavras de Araújo, 2010, pg. 73, cada pessoa ou grupo possui saberes experimentados em diferentes espaços de socialização, os quais levam para a escola sua cultura de referência, e em comunicação em sala, os diferentes sujeitos culturais apropriam-se dos saberes dos outros e na interação entre as culturas produzem novos sentidos. Neste contexto, a aula tornasse resultado da interação de diferentes culturas, onde aluno e professor interagem e formam a sua identidade cultural.

Com base no conceito da interculturalidade, o educador passa a obter uma leitura dos alunos, e a partir desta tornasse capaz de elaborar sua prática educativa, que deve estimular os alunos a expor e trocar informações com vistas à formação de novos conhecimentos. Prática esta que deve ser planejada de forma flexível aja visto que o conhecimento ocorre a partir da interação e troca de informação no decorrer da aula, não devendo ser esta tratada de forma mecânica, sendo considerada como um meio e não um fim.

Neste contexto, a interculturalidade pode ser tratada como fator indispensável para a prática educativa, em todas as áreas pertinentes ao Ensino Fundamental, especialmente nas aulas de História, Geografia e Arte dadas as suas características, as quais serão tratadas a seguir.

 

2.1         A DISCIPLINA DE HISTÓRIA NO ENSINO FUNDAMENTAL

O ensino de História, enquanto área do conhecimento propicia uma investigação dos fatos ao longo do tempo. Segundo Vasconcelos, 2007, pg. 24, “esta visa descobrir como viviam as pessoas no passado, procurando identificar mudanças e permanências nas instituições políticas, na religião, na economia, nas ideias, nos costumes, etc.” A compreensão dessas transformações, no entanto, só é possível através da memória (individual, coletiva ou histórica), que nos permite lembrar de acontecimentos registrados no tempo, sendo estes pontuais e marcados por “datas organizadas em uma longa e infinita linha numérica” (PCNs), dando a ideia de sucessão de fatos.        Este estudo contribui para o processo educativo dos alunos em todos os níveis da educação, especialmente no Ensino Fundamental, pois através deste, estes aprendem a “pensar historicamente”, bem como “ler e compreender sua realidade posicionar-se, fazer escolhas e agir criteriosamente” (Vasconcelos, 2007, pg. 66) formando sua identidade. Estas perspectivas, no entanto, são resultado das diferentes concepções que o ensino da História obteve ao longo dos anos. Considerada como conteúdo do currículo da educação básica desde a constituição do estado brasileiro, esta baseava-se inicialmente no método tradicional de ensinar, com conteúdos voltados a política e a moral cristã, onde os alunos, segundo os PCNs, deveriam memorizar e repetir oralmente os textos escritos, através da figura do professor, que desenvolvia suas atividades de acordo com as condições apresentadas pelas escolas que na sua maioria eram precárias. O ensino de História no nível fundamental sempre esteve voltado à formação dos alunos como cidadãos, para tanto além de conteúdos voltados a política e a religião, a História era também tratada sobre o âmbito econômico, social e cultural, com vistas aos acontecimentos da época e também da antiguidade. Ao longo dos anos, diferentes abordagens foram dadas para os seus conteúdos, com um ensino voltado a fatos que não faziam parte da realidade dos alunos, que deveriam em uma escala do tempo desmitificar cada um destes.

 No entanto, com vistas ao estudo de uma História crítica, considerando aspectos contemporâneos, pretende-se desenvolver novos métodos de ensino, que segundo os PCNs, devem estar voltados a “identidade nacional”, bem como para o “desenvolvimento dos alunos como sujeitos conscientes, capazes de entender a História como conhecimento, experiência e prática de cidadania”. Sendo assim, este deve estar fundamentado em uma metodologia de ensino que possibilite realizar trabalhos com a realidade, relacionando-a e comparando-a com momentos significativos do passado (PCNs), com base em uma abordagem inovadora, mas com aspectos da tradicional, aja visto que, segundo Vasconcelos, 2007, pg. 50, esta é muitas vezes pré-condição para compreensão da outra.

 

2.2 - A Disciplina de Geografia no Ensino Fundamental

Considerada como área do saber que busca oferecer subsídios para auxiliar o aluno na compreensão do mundo, em sua relação com o espaço geográfico, considerado por Santos (Fantin, Tauschek e Neves, 2010, pg. 22) como “sistemas de objetos mais sistemas de ações, sendo os objetos a materialidade de tudo que existe na superfície da terra, toda a herança histórica natural e da ação humana que se objetivou”, a Geografia, enquanto área do conhecimento vem estudar a ação do ser humano ao longo do tempo na sua relação com a natureza considerando aspectos políticos, econômicos e sociais.

“cada cidadão, ao conhecer as características sociais, culturais e naturais do lugar onde vive, bem como as de outros lugares, pode comparar, explicar, compreender e especializar as múltiplas relações que diferentes sociedades em épocas variadas estabeleceram e estabelecem com a natureza na construção de seu espaço geográfico.” (PCNs)

Este conceito voltasse para uma educação inovadora e crítica que visa “explicar para compreender” (PCN), e que acaba superando os traços de uma educação tradicional, característica dos primeiros anos do ensino da disciplina, a qual por muito tempo esteve pautada em descrever e relacionar os fatos sociais e naturais por meio da memorização dos conteúdos que não tinham nenhuma ligação com a realidade da época. Tal conceito, data do século XX, quando a Geografia tornou-se disciplina obrigatória do conteúdo curricular em uma escola do Ensino Fundamental da época e que desde então integra a grade curricular das escolas deste nível de ensino. No entanto, verificada as dificuldades apresentadas pelas instituições de ensino atualmente, que não se adaptaram as mudanças do novo método de ensinar, muitas se utilizam das duas práticas de ensino, com traços de uma educação tradicional e inovadora.

Neste contexto, tais educadores buscam empregar metodologias de ensino que permitam aos alunos desenvolver a sua capacidade de identificar e refletir sobre diferentes aspectos da realidade, compreendendo a relação sociedade/natureza trazendo para o interior da sala de aula, com a ajuda do professor, a sua experiência. E que a partir destas, possam aprender a explicar, compreender e representar os processos de construção do espaço geográfico (PCNs), com noções de lugar, tempo, clima e recursos naturais, bem como aprender acerca da sua relação com a sociedade e o Estado, considerando fatores de desenvolvimento em uma perspectiva teórico-politica, permitindo a este obter conhecimentos acerca dos acontecimentos históricos políticos em diferentes contextos e espaços geográficos ocorridos ao longo do tempo, que são resultado dessas mudanças e que servem de norteadores para o desenvolvimento atual, garantindo maior compreensão dos fatos passados e principalmente da sua realidade, auxiliando na tomada de decisões.

 

2.2         A Disciplina de Arte no Ensino Fundamental

Considerada área do conhecimento que permite ao indivíduo conhecer sobre a sua cultura e as demais culturas existentes, com vistas a adquirir conhecimento acerca da sua história e sua relação com o mundo, a partir das suas experiências, para formar a sua identidade, a Arte segundo os PCNs, vem “ensinar que nossas experiências geram um movimento de transformação permanente, que é preciso reordenar referências a cada momento, ser flexível”.

Neste contexto, o ensino da Arte deve possibilitar ao aluno “descobrir as suas potencialidades, desenvolver sua criatividade, interpretar, ter olhar crítico, analisar a história e resgatar valores” (Santos, 2006, p. 28). Para tanto, esta pode ser expressa por meio de linguagens artísticas voltadas as artes visuais, a dança, a música e ao teatro, manifestações estas, que desenvolvem no aluno a capacidade de interpretar, improvisar, criar, expressar, imaginar, através dos seus sentimentos, emoções e pensamentos, utilizando-se do seu corpo, do seu olhar e da sua fala, para desenvolver as suas potencialidades motoras, cognitivas e afetivas. Sendo assim, todo conhecimento artístico, segundo Martins (1988, p. 41) pode ser considerado como “um modo singular de o homem refletir – reflexão/reflexo – seu estar-no-mundo”, bem como compreender o sentido do fazer artístico, resultado das diferentes culturas durante a história, que para os PCNs, os alunos devem “compreender o que fazem e o que os outros fazem, pelo desenvolvimento da percepção estética, no contato com o fenômeno artístico visto como objeto de cultura na história humana e como conjunto de relações”.

No entanto, este conceito atribuído ao ensino da Arte é resultado de grandes transformações no decorrer dos anos, características do século XX. Segundo os PCNs “a aprendizagem e o ensino da Arte sempre existiram e se transformaram, ao longo da história, de acordo com normas e valores estabelecidos, nos diferentes ambientes culturais”. Considerada no início como um “acessório cultural” (Santos, 2006, pg. 15), o ensino de artes retratava uma educação tradicional, onde os alunos deveriam reproduzir modelos prontos e acabados, baseados na figura do professor. Este modo de ensinar, manteve-se por um longo período, que findou-se com a realização de movimentos que visavam a valorização e profissionalização dos professores, e também com a promulgação da Lei 9.394/96 pela LDB, que institui o seu ensino como obrigatório na educação básica. A partir desse fato, novas propostas para a melhoria do ensino das artes foram desenvolvidas, com vistas a conteúdos voltados a cultura artística, e a capacitação dos professores.

 

2.4 Diversidade Cultural na Sala de Aula: Reflexões sobre Práticas Pedagógicas no Ensino de História, Geografia e Arte

Considerada a diversidade cultural presente em sala de aula, o educador enquanto interceptor do processo do conhecimento deve realizar um planejamento prévio das atividades a serem desenvolvidas durante a aula, de forma a despertar a interação dos alunos, considerando as suas percepções individuais, que a partir da troca de informação, vem a criar novos saberes. Considera-se então, a afirmação de Araújo, 2010, pg. 148, para o qual “o conteúdo ensinado e aprendido somente se concretiza na comunicação, no diálogo intercultural”. Sendo assim, o educador tornasse mediador do processo educativo, devendo elaborar atividades que despertem os alunos para um aprendizado contínuo, em um processo de adaptações constante.

Neste contexto, disciplinas voltadas ao ensino de História, Geografia e Artes, podem ser trabalhadas com base nesta dinâmica, haja visto que são áreas do conhecimento pertinentes ao fator humano. Desta forma, o ensino da História em si, leva o aluno a pensar a história do homem ao longo dos anos e também a pensar a sua história pessoal, reflexo da sua condição de vida, diante disso, os alunos podem expor sua concepção de vida, seus valores e sua cultura, com vistas a provocar uma interação em sala, considerando os aspectos históricos que influenciam na sua realidade.  Da mesma forma, a Geografia que vem explicar a relação do indivíduo com o meio onde está inserido, as mudanças que ocorreram e que afetam a sua existência e caracterizam diferentes formação e ambientes, contribui para os alunos trocarem conhecimentos acerca das suas condições geográficas. A Arte, em si, através da representação de diferentes formas artísticas também retratar a cultura de cada aluno, que ao observar e criar demonstra a sua concepção de vida, baseados nos valores dos diferentes povos, que através de representações artísticas, como música, o teatro, dança, pode integrar diferentes culturas a partir da interação dos alunos em diferentes contextos.

Sendo assim, considerando aspectos próprios de cada um desses saberes, o educador pode despertar a comunicação a partir de diálogos interculturais em sala de aula, a partir de conteúdos e atividades que levem os alunos a pensar e expressar sobre a sua cultura individual, aja visto que cada qual possui uma realidade distinta e buscam através desta expressar conhecimentos históricos, geográficos e artísticos.

 

3.0 Conclusão

O ensino no Brasil, em todos os seus níveis de formação, é reflexo do processo de globalização pelo qual este vem passando. As transformações no âmbito social, político e econômico estão levando as instituições de ensino a repensarem seu modo de ensinar, e a considerarem uma educação pautada na interculturalidade, considerada a diversidade cultural existente nas salas de aula.

A partir da diversidade cultural, motivada pelo diálogo em sala de aula, o aluno tornasse capaz tomar conhecimento do “outro”, e com base neste acaba por aumentar o conhecimento sobre si mesmo. Conforme toma conhecimento de outras formas de vida e suas histórias ao longo dos tempos, tornasse possível fazer uma comparação e relacionar com fatos que contribuíram para formação da identidade do aluno. Os saberes históricos, geográficos e artísticos, têm contribuído para a compreensão dessa diversidade. A partir de conteúdos trabalhos nestas áreas do saber, os alunos se reportam a dados e informações que caracterizam culturas distintas, em tempos e espaços diferentes.

Tais áreas do conhecimento foram de grande importância para a formação escolar dos alunos ao longo dos anos. Sob diferentes perspectivas de ensino em diferentes contextos, as instituições de ensino sempre se voltaram para a formação do aluno. O ensino da História, Geografia e da Arte, sempre foram tratados como forma de representação de fatos ocorridos em uma determinada época, e na atualidade vem contribuir para que os alunos possam a partir de conhecimentos passados, conhecerem melhor sobre eles e ao mesmo tempo, entender melhor fatos da sua realidade.  Neste contexto, cabe ao educador instigar o diálogo entre os alunos, motivando-os a expor seus conhecimentos prévios, de maneira a constituir uma aula interativa, haja visto, que segundo Araújo, 2010, pg. 74:

 

BIBLIOGRAFIA

ARAUJO, Márcia Baiersdorf. Ensaios sobre a aula: narrativas e reflexões da docência. Curitiba: IBPEX, 2010.

 

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: arte. Brasília MEC/SEF, 1997 a. Disponível em: HTTP://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro06.pdf. Acesso em 07 nov. 2010.

 

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: história, geografia. Brasília MEC/SEF, 1997b. Disponível em: HTTP://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro051.pdf. Acesso em 09 nov. 2010.

 

FANTIN, Maria Eneida; TAUSCHECK, Neusa Maria; NEVES, Diogo Labiak. Metodologia do Ensino de Geografia. 2 ed. Curitiba: IBPEX, 2010.

MARTINS, Miriam Seleste, Didática do Ensino de Arte, FTD, 1988.

 

SANTOS, Gisele do Rocio Cordeiro Mugnol. Metodologia do Ensino Artes. Curitiba:IBPEX, 2006.

VASCONCELOS, José Antônio. Metodologia do Ensino de História. Curitiba: IBPEX, 2007.



[1] Graduada em Pedagogia pela UNINTER - Centro Universitário de Curitiba-PR e Pós Graduanda em Alfabetização e Letramento pela Universidade Candido Mendes. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

[2] Graduada em Pedagogia e Pós Graduanda em Alfabetização e Letramento pela Universidade Candido Mendes.