Variação Linguística: Escrita do Século XIX
X
Norma Culta da Língua
Arlete Tavares Buchardt[1]
Resumo
A Edição de manuscritos constitui disciplina essencial para resgatar e comprovar a historicidade da língua acompanhando seu processo evolutivo, provendo material de pesquisa para que os linguistas possam se aprofundar e colocar à disposição da comunidade científica as teorias que se vão revelando por meio do estudo possibilitado pelos manuscritos. Também os historiadores podem e fazem uso de tal ciência, pois ao se fazer a edição do documento tem-se o cuidado de se fazer um registro fiel e genuíno do texto manuscrito o que possibilitará segurança ao historiador ao analisar os fatos que deseja estudar. Assim como a transformação é uma característica inerente a todas as coisas, a sociedade, a história, os costumes, as construções, as pessoas, etc., sofrem transformações constantes no decorrer do tempo e do processo de formação ou desenvolvimento humano. Algumas destas transformações são quase imperceptíveis, outras, no entanto são claras e facilmente perceptíveis, e ocorrem de forma rápida e dinâmica. As formas linguísticas também sofrem transformações com o passar dos anos. A essas alterações linguísticas chamamos de variações linguísticas. Essas variações foram observadas no estudo, ora apresentado. Fazendo uso da transcrição de partes de um documento de Queixa-crime datado do ano de 1882 e de partes de outro manuscrito do século XIX. Utilizando-se do método comparativo documental, observou-se a forma da escrita registrada no manuscrito confrontando-a com a escrita atual. Com estes procedimentos observamos as variações linguísticas presentes nos DOCUMENTOS DO século XIX E na forma linguística ATUAL concernentes à norma culta da Língua Portuguesa. A pesquisa serviu-se, portanto, dos fundamentados da Sociolinguística, buscando analisar as variáveis dependentes e independentes. O aporte teórico que embasou este trabalho foi Acioli, 1994, Fonseca, 1995, Gnerre, 1998, Hora, 1997, Ilari, 1996, Preti, 1997, Tarallo, 1996 dentre outros que respaldam a pesquisa sociolinguística e histórica da Língua Portuguesa.
Palavras-chave: Sociolinguística. Manuscrito. Variação.
Abstract
The editing of manuscripts is an essential discipline for rescue and prove the historicity of the language accompanying its evolutionary process, providing research material for those linguists can deepen and make available to the scientific community theories that will reveal through the study possible by manuscripts. And historians can make use of such a science, because by doing editing the document has been careful to make a true and genuine record of handwriting which will enable the historian to analyze safety facts you wish to study. As the transformation is an inherent characteristic of all things, society, history, customs, buildings, people, etc., undergo constant changes over time and training or human development process. Some of these changes are hardly noticeable; others however are clear and easily noticeable and occur rapidly and dynamically. Linguistic forms also undergo transformations over the years. To these linguistic changes, call linguistic variations. These variations were observed in the study presented here. Making use of the transcript of parts of a document-Crime Complaint dated 1882 and parts of another manuscript of the nineteenth century. Utilizing documentary comparative method, we observed a form of writing recorded in the manuscript comparing it with the actual writing. With these procedures observed linguistic variations present in the nineteenth century DOCUMENTS AND in linguistic form pertaining to the cultural norms of the Portuguese Language CURRENT. Therefore, the research is poured from the grounded Sociolinguistics, trying to analyze the dependent and independent variables. The theoretical contribution that this work was embasou Acioli, 1994 Fonseca, 1995 Gnerre, 1998 Hour, 1997, Ilari, 1996, Preti, 1997 Tarallo, 1996 and others that support the sociolinguistic and historical research of the Portuguese language.
Keywords: Sociolinguistics. Manuscript. Variation.
INTRODUÇÃO
Todas as coisas sofrem transformações no decorrer do tempo. Algumas são claras e facilmente perceptíveis, bem como rápidas. Outras, porém, não são muito nítidas e ocorrem lentamente. A língua também sofre transformações com o passar dos anos. A essas alterações linguísticas chamaremos de variações linguísticas. Estas variações deterão o foco de nossa atenção. Através da transcrição de partes de um documento de Queixa-Crime do ano de 1882 e de outro manuscrito do século XIX estaremos fazendo uma análise comparativa entre a escrita do manuscrito e a escrita atual no que se refere à norma culta da língua. Procuraremos observar quais foram as variações linguísticas ocorridas desde o Século XIX até os nossos dias.
EXEMPLOS DA ESCRITA REGISTRADOS EM DOCUMENTOS DO SÉCULO XIX
Primeiramente faremos um levantamento de alguns problemas mais marcantes encontrados nos manuscritos no que se refere à questão linguística. Abordaremos itens como: concordância no sintagma verbal, concordância no sintagma nominal, consoantes dobradas, utilização do “o” final em palavras como “meo”.
Para maior facilidade elencamos os itens numa tabela, indicando na mesma o assunto, o fólio (F.), recto (r.), verso (v.) e a linha (L.) para facilitar a localização dos exemplos, agilizando a leitura.
Concordância nominal |
“AoS primeiro dia...” F. 7 r. L. 2 |
Consoante dobrada |
“Anno” F. 7 r. L. 2; F. 226 r. L. 15 “proffissão” F. 7 v. L. 7; F. 8 r. L. 8 “annos” F.7 v. L. 11; F. 8 r. L. 11 “elle” F. 7 v. L. 27, 29; F. 8 r. L. 1, 24, 26, 31; F. 8 v. L. 1 “allegar” F. 8 r. L. 16 “marretta” F.8 r. L. 23, 27 “opposição” F. 226 r. L. 5 “Illustre” F. 227 r. L. 2 “collega” F. 227 r. L. 2 “Senntença” F. 227 r. L. 8, 17 “sufficientes” F. 227 v. L. 1 |
Utilização do “o” final em lugar de “u” |
“Compareceo” F. 7 r. L. 9 “prendeo” F. 7 r. L. 22 “recebeo” F. 7 v. L. 33 “cahio” F. 8 r. L. 30 “meo” F. 226 r. L. 1 “seos” F. 227 v. L. 1 |
Uso do H em palavras que não o exigem atualmente |
“A hi” F. 7 r. L. 9 “homtem” F. 7 r. L. 11, F. 7 v. L. 18; F. 8 r. L. 18 “huno” F. 7 r. L. 14 “cahindo” F. 7 v. L. 27 “ cahio” F. 8 r. L. 30 |
Utilização da terminação “ão” em lugar de “am” |
“achavão” F. 7 r. L. 14, 19 “acabarão” F. 7 v. L. 16 “trasião” F. 8 r. L. 3
|
Utilização da vogal “e” em lugar de “i” |
“feliação” F. 7 v. L. 6; F. 8 r. L. 6 “quaes” F. 227 r. l. 9 |
É interessante observar que tivemos, se não considerarmos a troca “am” por “ão”, apenas um caso de concordância nominal. Isto pode indicar que os escrivães eram pessoas cultas, com um grau de estudo considerável, pois como afirmou Fernando Tarallo em sua obra “A Pesquisa Sociolinguística”: “Por outro lado, em uma sociedade tão estratificada como a nossa, fatal será que o nível socioeconômico e de escolaridade do indivíduo tenha relevância sobre seu desempenho linguístico.”
Quanto às consoantes dobradas encontramos aproximadamente 23 casos entre as consoantes f, n, l, p, t. Como analisar isto? A que conclusões podemos chegar diante disso?
São 7 os casos do uso da letra “h” em palavras que atualmente não o solicitam, pelo contrário, excluem-no totalmente. Quanto ao vocábulo “huno” fica mais fácil entender, pois até pouco tempo atrás ainda se utilizava “hum” em lugar de “um” ao preencher cheques. Quanto às outras, talvez seja devido ao som nasal das palavras, mas é mera especulação, não tem força cientifica esta afirmativa.
Perfazendo um total de 4 vezes temos a utilização de “ão” em verbos que exigem, naquele contexto, a terminação “am”. Como podemos solucionar e clarear esta questão? Como entender isto? Como um caso em que a concordância verbal não foi realizada adequadamente? Como um erro do escrivão?
Por fim temos 3 casos em que se troca a vogal “i” por “e”. Será que o desejo de escrever o mais corretamente possível levou os escrivães a isto? Esperamos responder a estas e outras dúvidas que esta pesquisa tem despertado no próximo tópico deste trabalho.
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: ESCRITA DO SÉCULO XIX X NORMA CULTA DA LÍNGUA
A fim de prosseguirmos em nossas considerações primeiramente iremos “corrigir”, ou melhor, adequar os exemplos à norma culta da língua de acordo com a gramática normativa.
Concordância nominal |
“AoS primeiro dia...” |
Aos primeiros dias |
Consoante dobrada |
“anno” “proffissão” “annos” “elle” “allegar” “marretta” “opposição” “illustre” “collega” “senntença” “sufficientes” |
Ano Profissão anos ele alegar marreta oposição ilustre colega sentença suficientes |
Utilização do “o” final em lugar De “u” |
“Compareceo” “prendeo” “recebeo” “cahio” “meo” “seos” |
Compareceu prendeu recebeu caiu meu seus |
Uso do H em palavras que não o exigem atualmente |
“A hi” “homtem” “huno” “cahindo” “cahio” |
Aí ontem um caindo caiu |
Utilização da terminação “ão” em lugar de “am” |
“achavão” “acabarão” “trasião” |
achavam acabaram traziam |
Utilização da vogal “e” em lugar de “i” |
“feliação” “quaes” |
filiação quais |
Feitos os ajustes de acordo com a gramática normativa procederemos agora a algumas breves considerações.
Podemos considerar, como já dissemos, questão de conhecimento gramatical a má concordância do sintagma nominal “AoS primeiro dia...”, entretanto, o fato de ser a única concordância tão claramente fora dos parâmetros da norma culta da língua, nos leva a pensar que este foi apenas um caso de distração ou necessidade de rapidez na hora da redação que não permitiu ao escrivão avaliar o que havia escrito.
Vera Lúcia Acioli em sua obra “A Escrita no Brasil Colônia”[2] nos auxiliará a solucionar alguns questionamentos despertados por esta pesquisa.
Os escrivães utilizam com frequência as consoantes dobradas n, f, l, t, p. Nas palavras de Acioli, ao apresentar as características da escrita dos séculos XVIII e XIX no que se refere às diferenças ortográficas: “Verifica-se o uso mais generalizado de letras dobradas. Assim, além do r e do s, dobrava-se o f, o l, o n e o t”. Tais palavras clareiam grandemente a ortografia dos textos analisados, nos fazendo ver que era comum, uso generalizado entre os escrivães da época o emprego destas letras. Já o porquê disto e como ocorreu a variação do século XVIII para a época atual é uma questão para os próximos estudos. Uma coisa é certa, a mudança foi gradativa.
Quanto às trocas: “am” por “ão”, “u” final por “o”, “i” por “e”, nos esclarece Acioli “Há uma inversão de valores, em relação às formas atuais, nas regras ortográficas que definem as terminações “ão” e “am”. Nas palavras terminadas em “is”, colocava-se a terminação “es”, em “eu” usava-se “eo”. Por exemplo, como vimos no manuscrito “acharão”, “feliação”, “meo”. Esta informação facilita-nos o entendimento da análise da variação linguística que estamos fazendo e nos faz perceber que não é por falta de cultura, mas por uma tendência da época que os escrivães as empregam. Quanto à utilização do “h” em palavras que não o solicitam atualmente, nada mais podemos acrescentar além do que já foi dito.
Esta pesquisa só se tornou possível graças à gramática normativa que nos permitiu observar as palavras no seu contexto atual e verificar suas variações desde o século XIX até os dias de hoje; a língua, em nosso caso escrita, têm sofrido variações consideráveis. È marcante a diferença ocorrida em termos ortográficos. Entretanto, é interessante observar que, em termos de concordância do sintagma verbal e nominal há poucas variações. Isto nos leva a concluir que a língua escrita sofre maiores variações no que se refere à ortografia, ou seja, à palavra isolada de seu contexto. Isto se levarmos em consideração apenas os documentos analisados, apesar de haver uma quantidade muito mais significativa de manuscritos do século XIX, porém, a experiência que temos na área de Crítica Textual nos diz que os textos deste período não variam muito em suas características, isto é, são bastante semelhantes aos que analisamos.
COSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos, pois, que através dos manuscritos analisados pudemos compreender melhor a questão da variação linguística. Pudemos, ao confrontar a escrita do século XIX com a norma culta brasileira da língua, verificar quais foram as variações sofridas durante este período no que se refere, principalmente, à grafia das palavras. Julgamos ser importante continuar este trabalho numa próxima oportunidade, comparando os textos desta pesquisa com os de outros séculos. Isto, com certeza, nos levará a um maior domínio das variações linguísticas.
Referências
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BOURDIEU, Pierre. A economia das Trocas Linguísticas: o que falar quer dizer. (Trad. Sergui Miceli). São Paulo: Edusp.
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GNERRE, Maurizio. Linguagem, Escrita e Poder. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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ILARI, R. (Org.) Gramática do Português Falado: Níveis de Análise Linguística. Vol. 2. 3 ed. Campinas: Ed. Da UNICAMP, 1996.
KOCH, Ingedore Villaça. A Inter-Ação pela Linguagem. 5 ed. São Paulo: Contexto, 2000.
MAINGUENEAU, Dominique. Novas Tendências em Análise do Discurso. (Trad. Freda Indursky) 3 ed. Campinas – SP: Pontes, 1997.
ORLANDI, Eni Puccinelli. A Linguagem e seu Funcionamento. 4 ed. Campinas: Pontes, 1996
PRETI, Dino. Sociolinguística: Os Níveis de Fala: um estudo sociolinguístico do diálogo na Literatura Brasileira. 6 ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.
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SOUZA E SILVA, Maria Cecília Pérez de e KOCH, Ingedore grunfeld Vilaça. LINGÜÍSTICA aplicada ao Português: sintaxte. 8 ed. São Paulo: Cortez, 1998.
TARALLO, Fernando. A pesquisa Sociolinguística. 2 ed. São Paulo: Ática, 1986.
ANEXOS
Transcrições dos manuscritos
Anexo 1 – Transcrição dos Fólios 7 e 8 recto e verso
Anexo 2 – Transcrição dos Fólios 226 e 227 recto e verso
Anexo 1
Fólio 7 recto
Termo de informação do crime
Aos primeiro dia dos mez de Março, do an—
no do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo
de mil oito centos e oitenta e um, nesta heróica
05 Cidade da Cachoeira e caza da [...] do De
legado de Policia do termo, o Tenente Mario [...]
Xavier de Miranda, onde eu escivão de [...] car-
go abaixo [...] fui indo compare
cerão, digo, a hi compareceo o cabo de esquadra
10 Manoel Leopoldino de Sant’ Anna disendo
que homtem as nove horas da noite lhe foi ordena
do pelo Senhor Tenente Comandante do Destaca
mento que fosse para o lado do Caquende pren
der huno individuos que se achavão em des
15 ordem e efectivamente para lá seguindo com-
algumas praças soube que o facto se tinha
dado no principio da ladeira da terra
vermelha estando ferido o individuo de
nome Bernardino, e que os delinqüentes acha-
20 vão se em casa de Marcos na mesma ladei-
ra e sendo tudo isto em acto seguido ao
facto criminoso prendeo Joaquim Pinto
de Oliveira, Benedicto Pereira Bueno, e os
recolhendo a cadeia por [...] tarde e não
25 estar presente o Senhor Delegado os con-
dusia agora a presença deste juízo sem-
do acompanhado das praças que se [...]
[...]
enterrogando o Delegado a algumas
30 das praças, disse Justiniano Theles de Oli-
veira que era sordado o que acabara de
[...], o que foi também com-
Firmando pelas outras testemunhas João
Fólio 7 verso
João de Deus Diamantino, Faustino Fer-
reira de Carvalho, Antonio Cardoso
[...] e João Pantilho Cordial de Mou-
ra Passando o Delegado a interrogar o
05 comdusido Joaquim Pinto de Oliveira,
Perguntou-lhe qual o seu nome, feliação,
Idade, estado proffissão nacido na Cida-
de, [...] cidade e se sabia ler e escre
ver? Respondeu chamar-se Joaquim Pin-
10 to de Oliveira, de trinta e oito
annos de idade, Solteiro, Jornaleiro,
Brasileiro, natural e morador desta
freguesia não sabe ler nem escrever
15 Perguntou-lhe mais o Delegado se era verda-
de o que acabarão de dizer as pessoas pré-
sentes eo que tinha de alegar em sua
defeza. Respondeu que homtem as nove
horas da noite mais ou enos, subindo para
20 sua casa a ladeira da terra vermelha, levando
nas mãos uis remédios que tinha compra-
do para si e uma [...] foi assaltado por
Bernardino da Silva Reis que dirigindo-
lhe algumas palavras estando armado
25 de faca e cacete deu-lhe uma panca-
da na cabeça de que resultou um ferimen-
to, cahindo elle acusado com a pancada
que recebera, e neste ato Benedito Pereira
Bueno que vinha com elle comdusido, e
30 trasia uma marretta que recebeu em ca-
minho tratou de defendelo [...]
bem sobre Bernardino. Perguntado se
Bernardinho não recebeo uma facada e
Fólio 8 recto
e se esta não foi dada por elle comdusido
ou seu companheiro? Respondeu negativa-
mente, por que não trasião armas. Pas-
sando o Delegado a interrogar ao comdu-
05 sido Benedicto Pereira Bueno, perguntou
lhe qual o seu nome, feliação, idade,
estado naturalidade, nacio na Cida-
de, proffissão e se sabia ler e escreve?
Respondeu Benecdito Pereira Bueno,
10 filho natural da [...], da
Idade de vinte cinco annos mais ou
menos, Solteiro, Pedreiro, Brazileiro,
natural do Andara [...], sabe ler e es-
crever. Perguntou lhe mais o Delegado
15 se era verdade o que acabava de dizer
os guardas presentes e o que tinha a alle-
gar em sua defesa? Respondeu que era
verdade ter sido preso homtem a noite pelo
facto de que se trata, mas que em sua
20 defesa declarava que subindo a ladei-
ra com Joaquim Pinto desarmado e aju-
dando a levar umas coisas deste [...]
como uma marretta e tendo na descida
agredido Joaquim Pinto, e elle respondendo
25 por Bernardino que armado de faca
E cacete espancava a Joaquim Pinto, elle
respondente empregou a marretta que tra
sia em defesa de seu companheiro
Bernardinho que ao receber a pancada
30 pulou e cahio dentro da [...] seguindo
elle respondente e Joaquim Pinto pasou
casa de Marcão aonde [...]
foram presos pela policia [...]
Fólio 8 verso
Perguntado se elle respondente não trasia com-
sigo úma faca de ponta com que ferira
o Bernardino? Respondeu negativamente.
E por nada mais haver respondido nem lhe
05 ser perguntado, mandou o Juiz lavrar de tu-
do o presente termo, que vai [...]
pelo juiz, asignado pelo mesmo, condu-
[...], preso e testemunhas já de [...],
ou por não saber ler nem escrever o açu-
10 sado Joaquim Pinto de Oliveira, assigna
a seu rogo Francisco Cassiano da Sil-
va do que tudo soube. Eu Miguel Vi-
veira Muniz Barreto escrivão o escrevy.
[ Assinaturas]
Anexo 2
Fol. 226 r
Tenho de por meo clien-
Te o Do(uto)r Luis de Barros de
Almeida Calman impug-
nar os emb(ar)gos f(olha) 319, em resis-
05 tencia e opposição da jurídi-
ça Sentença de f(olha) 116 e mos-
trar que para ser confir-
mada, basta que o Meretis-
simo Senhor Doutor Julgador
10 lanse o primeiro golpe de
vista na Certidão de f(olha) 130
escrita em 21 de julho de 1847,
E na contagem dos autos a,
F(olha) 131 em 30 de julho do mes
15 mo mês e anno quando teve
lugar unir-se ao principal
os juros e custos que se tem
de executar sem o que não
podia ter lugar a requisi-
20 ção, que se quer metamos
[...] Ord(em) Lote 3º
Fólio 226 v.
no princ(ípio). Pereira e Sousa...
Primeiras linhas Sobre o Processo Civil
Tomo 3º Parágrafo 392, e por consequen-
cia sem requisição não pó-
05 de haver execução
Convem mostrar que a
Citação de f(olha) 130 para sciencia
dos julgados, e diversa da re-
quisição para em 24 horas
10 pagar ou manear bens: fal-
ta esta que se não pó de su-
prir-se por maneira al-
guma, por que tudo quan-
to vai de encontro a Lei
15 presumi-se nunca existira
Alvarás de 11 de Julho de 1765
e de 12 de Julho de 1800 parágrafo 3
Fólio 227 r.
Perguntarei aos Emb(ar)g(ador)es, ou
Ao meo Illustre Collega se-
póde haver requisição antes
de contarem-se os autos para
05 A parte vend(i)da saber o que
deve, e tem a pagar? Seja q(ua)l
for a resposta áde coicindir
com os fundamentos da S(e)nn(ten)ça
embargada com as quaes me
10 conformo sem recorrer a
Lei de 30 de Agosto de 1833 Art(igo)
2º e a Lei de 20 de Julho de 1774
Parágrafo 24. em favor do Emb(ar)g(a)do
Direi finalmente, que
15 a questão é tão obvia que
relata qual quer outra [...] e
darguição em abono da s(e)nn(ten)ça
Fólio 227 v
que sufficientes seos jurídicos
fundamentos; e toda a qual
quer circunlacução no Caso
em questão seria abusar da
05 paciência do Meretissimo
e Douto(r) Julgador que tem
por timbre fazer Justiça
Ita Speratur
[Assinatura Pública]
Antunez
[1] Professora Mestra em Crítica Textual pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), atualmente trabalha no Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica (CEFAPRO) do Estado de Mato Grosso na especificidade da Educação do Campo e na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Participa do Grupo de Pesquisa MULTIFOR, sendo este uma parceria entre a Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) e CEFAPRO.
[2] ACIOLI, Vera Lúcia Costa. A Escrita no Brasil Colônia: um guia para leitura de documentos manuscritos. Recife: Editora Universitária/Fundação Joaquim Nabuco/Editora Massangana, 1994. p. 63.