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PSICOMOTRICIDADE E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL NA PRIMEIRA INFÂNCIA

 

Carla Cristina Meyer
Edite do Amaral Caon da Silva
Maria José Gonçalves da Silva


RESUMO

O presente estudo visa estabelecer relações entre a psicomotricidade e o desenvolvimento infantil. A psicomotricidade como uma ciência de grande relevância no desenvolvimento de aptidões apresenta-se, conforme muito autores, como uma ferramenta essencial para o desenvolvimento infantil. Neste sentido, objetivou-se neste trabalho estabelecer relações entre o desenvolvimento infantil na primeira infância e o papel da psicomotricidade neste período. O estudo foi caraterizado como uma pesquisa bibliográfica e descritiva, onde buscou-se através da literatura já existente elaborar uma revisão dos diversos conceitos já existentes relacionados ao tema. Ao findar o trabalho concluiu-se a psicomotricidade age de forma efetiva e imprescindível na evolução da aprendizagem na primeira infância através de ações, atividades, movimentos, jogos e brincadeiras entre outros momentos, que estão presentes na constituição dos pilares do desenvolvimento infantil, que são o desenvolvimento motor, afetivo-social e cognitivo. É através deles que a criança se molda e vai se desenvolvendo ao longo da vida, construindo e se constituindo assim como um ser integral e integrante da sociedade onde vive.

Palavras-chave: Psicomotricidade, Primeira Infância, Aprendizagem.


  1. INTRODUÇÃO

Em uma vida harmoniosa, no âmbito pessoal tanto quanto como na vida social e profissional, assim como no campo educacional é necessário que o homem seja avaliado em seu conjunto, com suas múltiplas inteligências e que seja capaz de atuar no meio com ética e sensibilidade.

Neste caminho, educar significa utilizar pedagogias que desenvolvam concomitantemente razão, sensação, sentimento e intuição que estimulem a integração intercultural, construindo o saber. Portanto, as experiências educacionais devem ser múltiplas uma vez que envolvem uma gama muito grande de tarefas. Os alunos precisam ter domínio do processo de aprendizagem para que suas competências sejam desenvolvidas de forma adequada, e não somente absorver o conteúdo. Faz-se necessária uma educação contínua, dinâmica e desafiadora que vise o desenvolvimento de habilidades para a aquisição e utilização das informações.

Neste caminho a psicomotricidade é uma ciência que engloba a tripolaridade do homem, ou seja, o desenvolvimento intelectual, o motor e o emocional e percebe que através do corpo e da relação dele com o mundo, a criança se desenvolve e amplia os seus conhecimentos.

Assim, é um campo que destaca a importância do corpo para desenvolver os conhecimentos do mundo e naturalmente a aprendizagem, sendo considerado como uma das formas mais poderosas de união do indivíduo com o mundo, desenvolvendo-o como homem em sua totalidade.

Neste sentido, o domínio do corpo, seus movimentos e o equilíbrio são de grande importância para a criança, pois a mesma o usa utiliza como referência para suas diversas aprendizagens e relações.

Segundo autores da área educacional, a psicomotricidade influencia o desenvolvimento geral da criança, principalmente pela ligação do comportamento motor, emocional e intelectual.

Diante do exposto anteriormente, surge como uma problemática do tema, conforme alguns autores, a continua existência de uma porcentagem significativa de crianças que tem se deparado com obstáculos para acompanhar o desempenho acadêmico e as exigências escolares. São crianças que apresentam dificuldades em leitura e escrita sem apresentarem outros problemas de aprendizagem ou déficit sensorial ou de adaptação, entretanto, com essas dificuldades, normalmente apresentam dificuldades nas áreas psicomotoras.

Independente da época, cultura e classe social, segundo os estudiosos, os jogos e brinquedos integram a vida da criança, do jovem e do adulto, pois em determinados momentos da nossa vida devemos nos permitir viver num mundo da fantasia. O jogo faz parte da origem do pensamento, da própria descoberta e das inúmeras possibilidades de experimentar, de criar, e de transformar o mundo.

Conforme um coletivo de autores, a psicomotricidade se apresenta como uma forma de combate a inadaptação psicomotora, pois tem como finalidade reorganizar os processos de aprendizagem de gestos motores e como um embasamento sensório-perceptivo-motor imprescindível na contribuição do processo de educação e reeducação psicomotoras, pois opera diretamente na organização das sensações, das percepções e nas cognições, com o objetivo de utiliza-las em respostas adaptativas antecipadamente planificadas e programadas.

Sendo assim, partindo das considerações já elaboradas, este trabalho monográfico visa estabelecer relações entre a psicomotricidade e o desenvolvimento infantil, mas para tal objetivo, emerge o seguinte questionamento: Como a psicomotricidade age na evolução da aprendizagem no período da primeira infância?

A pesquisa realizada foi do tipo bibliográfico e descritivo. Os dados serão coletados por meio da observação direta de documentos e pela aquisição de livros, levantamentos em bibliotecas e consulta a sítios especializados da internet.

O método de comprovação será pela leitura prévia, fichamento e organização do material para composição do relatório. Os instrumentos de coletas de dados serão através de fichamento, catalogação, resenha e anotações e os procedimentos para a análise dos dados seguirá o agrupamento do material obtido, com comparação das informações obtidas com as proposituras e hipóteses, a reportagem dos resultados na forma de dissertação.

 

  1. REFERENCIAL TEÓRICO


    1. Psicomotricidade e suas definições


A definição de Psicomotricidade é muito extensa no sentido que muitos autores têm visões diferentes sobre o assunto. Para Negrine (1995), “a Psicomotricidade é originária de termo phyché, que significa alma e o verbo latino moto, que significa agitar fortemente”.

Para Vayer (1986), “a educação psicomotora é uma atuação pedagógica e psicológica que emprega os meios da Educação Física com a finalidade de normalizar ou melhorar o comportamento da criança”.

Já Coste (1978), diz que a Psicomotricidade é a ciência encruzilhada, no qual há um cruzamento de informações que se encontram em múltiplos pontos de vista biológicos, psicológicos, psicanalíticos, sociológicos e linguísticos.

Para a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, conforme Otoni (2007, p.1), a Psicomotricidade é uma ciência que analisa o homem através do seu movimento nas distintas relações, tendo como elemento de estudo o corpo e a sua expressão dinâmica. A Psicomotricidade é estabelecida a partir da articulação movimento/ corpo/ relação e perante a união de um grande número de forças que agem no corpo, entre eles, choros, medos, alegrias, tristezas, entre outros, a criança constrói suas marcas, busca qualificar seus afetos e elabora as suas ideias.

Saboya (1995) coloca que a psicomotricidade é uma ciência que objetiva o estudar do homem, através do seu corpo em ação, das suas relações com seu mundo interno e seu mundo externo.

Valladão (2005) aponta que a Psicomotricidade é uma ciência que estuda o homem em sua totalidade, ou seja, que compreendam sua cognição, afetividade e motricidade.

Já Barreto (2000) afirma que a psicomotricidade é a conexão do indivíduo, através do movimento considerando “os aspectos relacionais ou afetivos, cognitivos e motrizes. É a educação pelo movimento consciente que visa aprimorar a eficiência e atenuar o gasto energético”.

Observando as definições acima nota-se que todos os autores diferem em suas definições apenas concordando que para haver uma boa educação psicomotora é necessário que haja o estudo através do movimento. Os autores veem o desenvolvimento psicomotor diretamente ligado ao movimento o que aumenta a importância da boa orientação e observação das ações realizadas com as relações sociais destas crianças, seja na escola, na rua ou em casa.

Lima e Barbosa (2007) expõem que o enfoque da Psicomotricidade permite compreender a forma como a criança elabora a consciência do seu corpo e das diversas possibilidades de se expressar através dele. Conforme os autores, ao se trabalhar a educação psicomotora é necessário que sejam empregadas às funções motoras, perceptivas, cognitivas, afetivas e sócio motoras, pois assim, a criança tem a possibilidade de explorar o ambiente, realizar experiências concretas e é capacitada para tomar consciência de si mesma e do mundo a sua volta.

Ainda segundo Lima e Barbosa (2007), por meio das atividades, as crianças, se divertem, criam, interpretam e relacionam-se com o mundo em que convivem. Diante disso, tem-se notado a frequência cada vez maior de recomendações a respeito dos jogos e as brincadeiras na Educação Infantil, para que ocupem um lugar de destaque no programa escolar especialmente nesta faixa etária.

Já Ajuriagerra, 1990; Oliveira, 1998; Chazaud, 1997, são mais enfáticos quando analisam a psicomotricidade. Para eles, o estudo da Psicomotricidade não pode ser apenas restringido ao plano motor, já que o seu significado entrelaça o movimento e o pensamento. Para os autores é importante destacar que a psicomotricidade quer entrelaçar a relação que existe entre a motricidade, a mente e a afetividade e facilitar a aprendizagem global da criança através de uma técnica.

Enfim, segundo este grupo de autores, a psicomotricidade é uma técnica que pelo exercício do corpo e do movimento se dirige ao ser em sua totalidade, mirando não à reeducação funcional por setores e menos ainda uma supervalorização do músculo, mas sim, a fluidez do corpo no ambiente.


    1. Desenvolvimento Infantil


Segundo Duarte e Batista (2015), o desenvolvimento infantil esta moderado na interação com o meio.

Quando trata-se de escola, Duarte e Batista (2015) colocam que se trata de âmbito mais aprofundado, pois, para que haja a transmissão do conhecimento acumulado, todo o processo de transmissão necessita de uma organização, de modo que, todas as atividades realizadas pela escola e seus profissionais precisam e devem ser pensadas, refletidas, discutidas e planejadas, visando proporcionar aos alunos ações com intencionalidade e finalidade.

Na Educação Infantil este procedimento não pode ser alterado e modificado, pois o período dos 0 ao 5 anos é de grande influencia para o desenvolvimento futuro, sendo a base para o desenvolvimento posterior. Deste modo, Duarte e Batista (2015) expõe que a escola deve ser vista como local para além dos cuidados na Educação Infantil, pois é nela que deve ocorrer o envolvimento, interação e a ação com o meio, com o outro e com si mesma para apreender com mundo que a cerca e ir além, apreendendo não somente com imagens mas também os significados por trás delas.

Advogamos o princípio segundo o qual a escola, independentemente da faixa estaria que atenda, cumpra a função de transmitir 294 conhecimentos, isto é, de ensinar como lócus privilegiado de socialização para além das esferas cotidianas e dos limites inerentes à cultura do senso comum. (MARTINS, 2009, p.94)

 

Neste sentido, Duarte e Batista (2015) afirmam que a escola de Educação Infantil não pode se isentar do ato intencional de educar, presando apenas pelo cuidar, mas sim, deve buscar um equilíbrio entre cuidar e educar buscando novas possibilidades onde as crianças possam aprender e desenvolver todas as suas possibilidades e habilidades da forma mais absoluta possível.

[...] a base para as aprendizagens humanas está na primeira infância. Entre o primeiro e o terceiro ano de idade a qualidade de vida de uma criança tem muita influência em seu desenvolvimento futuro e ainda pode ser determinante em relação às contribuições que, quando adulta, oferecerá à sociedade. Caso esta fase ainda inclua suporte para os demais desenvolvimentos, como habilidades motoras, adaptativas, crescimento cognitivo, aspectos sócioemocionais e desenvolvimento da linguagem, as relações sociais e a vida escolar da criança serão bem sucedidas e fortalecidas. (PICCININ, 2012, p. 38)

 

Conforme Duarte e Batista 92015), a criança no início da primeira infância está condicionada a mãe, as proibições e limites impostos por ela que originam na criança reações de oposição, reações estas compreensíveis durante este período tendo em vista que a criança não entende e não aceita, suscitando uma dualidade de sentimentos, o amor e ódio.

Todavia, quando um adulto demonstra satisfação e aprovação em relação ao que a criança realiza, ela se sente satisfeita e motivada a realizar coisas novas. Santos (1999) argumenta que mesmo que a criança não compreenda as atitudes, ela deve vivenciar situações de satisfação e sofrimento, para que desvende quais as ações podem satisfazer a ela e ao outro.

Santos (1999) acrescenta que a criança precisa desenvolver o autoconceito, pois em muitos momentos se vê separada das pessoas e, logo entende que o adulto “vai e volta”, assim como, observa e percebe que os objetos vão continuar no mesmo lugar, mesmo que não os veja com frequência. É preciso que a criança se visualize como algo contínuo no tempo e espaço.

Duarte e Batista (2015) dizem ainda que a partir dos dois anos a criança adquire uma maior independência e autoconfiança, porém tende a ser mais individualista, cabendo nesse momento à interferência de um adulto orientando a criança quanto a sua relação com os outros, estimulando esta relação através de atividades cooperativas.

Ainda conforme Duarte e Batista (2015), durante o período da primeira infância, a visão, o tato e a audição são os elementos pelos quais a criança utiliza para descobrir o mundo, sendo que neste período ela não demonstra ter medo de ver, ouvir e sentir. Esses sentidos possibilitam que a criança perceba as coisas que fazem parte do meio. O tato possibilita a sensação de diferentes texturas, agradáveis ou não. A audição nesta fase é a mais aguçada, onde a criança escuta tudo e se dispersa facilmente, porém, sons muito altos tendem a assustar as crianças.

Em relação ao desenvolvimento motor, Duarte e Batista (2015) colocam que aos dois anos a criança possui os músculos do corpo melhor definidos e o controle motor mais aprimorado, facilitando o desenvolvimento de atividades manipulativas como modelar massinha e rabiscar com giz. Estas situações são de grande importância para o desenvolvimento visual e tátil, estando diretamente relacionadas aos sentidos e as sensações.

Nesta idade, continuam os autores, a criança está inserida no mundo dos sons, e a função do adulto neste momento é instigar a criança para novas possibilidades, desenvolvendo os sentidos de forma que a criança possa ter uma expressão própria, como aponta Martins (2009):

Em suma, desenvolvimento se produz por meio de aprendizagens e esse é o pressuposto vigotskiano, segundo o qual o bom ensino, presente em processos interpessoais, deve se antecipar ao desenvolvimento para poder conduzí-lo. Portanto não há que se esperar desenvolvimento para que se ensine; há que se ensinar para que haja desenvolvimento. (MARTINS, 2009.p.100).

 

Duarte e Batista (2015) expõem ainda que ao findar a primeira infância nascem novas alternativas de atividade que são o jogo e as formas produtivas de ação. Neste momento é importante lembrar que os jogos aqui relacionados não são de imitação de animais ou quaisquer outros que são instintivos, pelo contrário, os jogos devem buscar que as crianças reproduzam o conteúdo de seus jogos a partir da sua percepção da relação que teve com o adulto.

Antigamente, séculos atrás, não existia distinção entre jogo e trabalho. A criança assimilava na prática a maneira de obter sustento. Com o passar do tempo e devido à necessidade da sociedade as formas de produção e instrumentos de trabalho já não estavam mais ao alcance das crianças, passando a ter como característica uma sociedade preocupada com uma infância disposta a inserir-se no mercado de trabalho futuramente (DUARTE E BATISTA, 2015).

A partir disso, Duarte e Batista (2015) destacam o surgimento dos jogos-exercícios com a supervisão de adultos. Com a participação dos adultos novas formas de jogos e brincadeiras surgem entre elas o brinquedo figurativo, momento em que ocorre o afastamento da criança com as relações sociais, o jogo dramático, momento este onde a criança passa a reproduzir descrições da sociedade adulta e suas relações sociais. De acordo com os autores, é neste momento, através do jogo dramático, que a criança se contenta com a necessidade de fazer parte do “mundo adulto”, fato que ocorre por meio dos brinquedos.

Duarte e Batista (2015) colocam ainda neste caminho que os jogos a princípio tendem a representar atitudes das crianças sob suas visões do adulto, imitando o adulto, tal como eles fazem com uma criança, porém, somente com o passar do tempo e da vivência dos jogos ocorrerá recriações do real. E assim, sucessivamente a criança vai avançando na apropriação das ações praticadas, aproveitando-se de vários tipos de objetos e substituindo outros que não possui, porém ainda não nomeando os jogos. Após esta fase, irá nomear os objetos conforme o papel que desempenha no jogo, que compreende o significado do objeto dentro do jogo e ao poucos vai se elaborando as premissas para a criação do jogo com papéis.

 

    1. A relação entre os jogos e a Psicomotricidade


Para Costa (2009), “dentro da escola o brincar tem sofrido transformações, sendo que a brincadeira associa um espaço de trabalho: a brincadeira livre não apresenta objetivo e nem significado, sendo considerada uma atividade não produtiva.

Ainda segundo a autora, com a transformação do brincar e com o avanço da tecnologia e o crescimento desordenado das cidades, é perceptível a dificuldade cada vez maior de encontrar espaços para brincar, e que esta falta de espaço tem contribuído consideravelmente para que as crianças se prendam a jogos eletrônicos, que restringem a aprendizagem motora. A escola por sua vez, tende a trabalhar em seus currículos conteúdos direcionados ao mercado de trabalho e a prestação de vestibulares e deixando em segundo plano a necessidade da criança brincar.

Para Assis, Lima e Silva (2008), a psicomotricidade é um enfoque educacional que objetiva promover o desenvolvimento dos alunos auxiliando-os no processo de alfabetização.

Neto (2001), explica que o brincar proporciona a criança um desenvolvimento de diversas dimensões tornando-o um ser criativo, aspirando à autonomia, à liberdade e capaz a viver e relacionar-se com a comunidade a que pertence, sendo de competência do professor proporcionar atividades que tolerem o brincar livre e o brincar dirigido de acordo com objetivos previamente propostos.

Monteiro (2007), destaca a relevância do brincar e da Educação Física para o desenvolvimento de diversas habilidades. Para ele a Educação Física Escolar nos dias atuais vem sendo refletida como ação educativa que integraliza o ser humano, da mesma maneira como a psicomotricidade que relaciona o indivíduo como um ser completo e único preparado e capacitado para pensar e agir, abandonando as características de dualidade de corpo e mente, e sim como um indivíduo capaz de agregar-se com si próprio e com o meio.

Neto (2001) também explica a importância da Educação Física escolar na relação da Psicomotricidade e os jogos. Segundo o autor, as escolas estão muito preocupadas com aprendizagens formais e adotando dimensões direcionadas para uma “excelência acadêmica” em espaços restritos.

Segundo Freire e Scaglia (2012), a Educação Física deve avalizar que as ações físicas e as noções lógico-matemáticas que a criança utilizará nas atividades escolares e fora da escola estejam estruturalmente adequadas. Os autores destacam ainda que a Educação Física e o jogo não são as únicas soluções para as dificuldades pedagógicas, mas perante as características da criança na primeira infância, elas devem ser valorizadas. Se o assunto for significativo para a criança, o jogo, como qualquer outra alternativa ou ação pedagógica, apresentará consequências relevantes em seu desenvolvimento.

Já Glickman (1980) apud Silva (2003) diz que os a inclusão ou exclusão de jogos lúdicos nos currículos escolares está relacionado à concepção sobre aprendizagem e sobre o que pode ser incluído no currículo escolar, de acordo com interesses sociais e políticos.

 

    1. A importância do jogo no desenvolvimento motor


Para Miranda (2010), o comportamento motor do ser humano é permeado por inúmeras modificações, e estas têm permanecido como questões centrais para os muitos sentidos e conceitos de aprendizagem motora e desenvolvimento motor. Neste sentido, o desenvolvimento motor é aceito como um método que se baseia nas mudanças observadas no comportamento.

Sendo assim, Murcia (2005), descreve que do aspecto da vida da criança ela não pode ser concebida e nem imaginada sem a presença do jogo ou as brincadeiras, pois são as atividades básicas da infância, especialmente por suprirem as necessidades que as crianças têm de tornar suas o mundo em que estão inseridas.

Segundo Veiga ao se trabalhar os jogos de forma recreativa possibilita-se a criança evoluir no domínio de seu corpo, desenvolvendo e aprimorando suas capacidades de movimentos, vencendo dificuldades, conquistando novos espaços, conseguindo superar novos desafios motores, cognitivos e afetivos. Os jogos fazem parte da educação e não dispor ao aluno a possibilidade de brincar, é deixar uma lacuna em seu desenvolvimento, é causar dificuldades na sua capacidade de suportar e lidar com seus impulsos e logo não saber como controlá-los ou avaliá-los de acordo com as situações.

Bittencourt e Ferreira (2002) pronunciam que as brincadeiras e jogos apresentam diversos benefícios para as crianças, entre eles os benefícios físicos, onde o lúdico atende as necessidades de crescimento e de competitividade da criança, carecendo ser a base dos exercícios físicos atribuídos às crianças pelo menos durante o período escolar.

Segundo Bittencourt (2002), “com as atividades lúdicas, a criança desenvolve a coordenação motora, a atenção, o movimento ritmado, noção quanto a posição do seu corpo, direção a seguir e outros, fazendo parte do desenvolvimento em seus aspectos biopsicológicos e sociais: ampla livremente a expressão corporal que beneficia a criatividade.

Como melhoramento físico, a ludicidade contenta as necessidades de crescimento e de concorrência das crianças.

 

    1. A importância do jogo no desenvolvimento afetivo-social

Para Bertoldi (2004), “a criança que não tem a oportunidade de brincar e construir relacionamentos criativos com o ambiente através de desafios, apresentará dificuldades no seu desenvolvimento. Diante desta constatação, é importante que os profissionais que trabalham na área da psicomotricidade proporcionem e desenvolvam o maior número possível de atividades lúdicas, desafiadoras, que abordem e proporcionem a solução de problemas, para promover o desenvolvimento psicomotor da criança.

Segundo Vygotsky (1991), “quando uma criança realiza algo sozinha é possível verificar que a criança apresenta um nível de desempenho, entretanto, esse nível se modifica a medida que a complexidade se eleva, se ela trabalha com um adulto ou com outra criança mais experiente”.

Assim, conforme Nascimento e Iurk (2008), “a escola é um local muito especial, é uma instituição que objetiva possibilitar ao educando a aquisição do conhecimento formal e o desenvolvimento dos métodos do pensamento. Para eles, é na escola que a criança estabelece um relacionamento contínuo e concreto com o próprio conhecimento”.

Na escola, brincar ou jogar, não é precisamente igual a brincar em outras ocasiões, isto porque na escola existem normas que regulamentam as ações das pessoas e as interações entre elas e, naturalmente, estas normas fazem parte, também, das atividades diárias da criança. Assim, as brincadeiras e os jogos apresentam caraterísticas especificas quando acontecem na escola, pois, são na maioria das vezes mediadas pelas normas institucionais (NASCIMENTO E IURK, 2008).

Já, Alves e Inez (2012), dizem que a brincadeira é um ambiente de socialização, de construção de todos os sentidos da criança. Conforme os autores, brincar não é apenas um ato pedagógico para a criança, mas também um momento de aquisição de experiências e de elaboração das vivencias da realidade na construção do ser. Através da brincadeira a criança demonstra e representa muito mais do que o ato de brincar, pois através da brincadeira ela se comunica com o mundo e também se expressa.

Weisse, (1992) p.65, por sua vez, diz que “através do brinquedo, a criança inicia sua integração social, aprende a conviver com os outros, a situar-se frente ao mundo que a cerca. Ela se exercita brincando.” No ambiente escolar, com as disciplinas como Artes, Matemática, Ciências e, até mesmo Religião, temos jogos sérios. Conforme o autor, através do jogo pode-se abandonar o mundo de nossas necessidades e de nossas técnicas e inventar mundos de utopias. Através do jogo os indivíduos se realizam e se entregam plenamente. Para a criança, quase toda atividade é um jogo e através dele desenvolve capacidades que o tornam importantes, pois através dele consegue adivinhar e antecipar as condutas superiores. Jogar, brincar e representar são atitudes muito próximas, cujos contornos é impossível delimitar.

Segundo Ramos(2012), participando da atividade lúdica e do jogo, a criança elabora conceitos, seleciona ideias, constrói relações lógicas, integra percepções, faz estimativas compatíveis com o seu crescimento físico e desenvolvimento e, o que é mais relevante, socializa-se com o meio.


    1. A importância do jogo no desenvolvimento cognitivo


Segundo Nascimento e Iurk (2008), tanto os jogos como às brincadeiras inseridas na escola contribuem na formação do educando, que se desenvolve conforme os estímulos recebidos da realidade vivenciada. Sendo assim, brincar é um excelente instrumento de aprendizagem e indispensável à saúde física, emocional e intelectual de qualquer criança.

Conforme os autores, a importância pedagógica dos jogos é indiscutível, sendo elas atividades preponderantes para o desenvolvimento da criança. É através do brincar que ela estimula seu pensar e reorganiza as situações cognitivas que vivencia. O jogo, portanto, mesmo sendo utilizado pelo professor de forma espontânea ou dirigido, a fim de propiciar a aprendizagem, propõe necessariamente uma reflexão por parte de todos os sujeitos envolvidos, seja antes, durante ou depois da sua realização.

Segundo Ramos (2012), depois da necessidade de afeto, nenhum outro sentimento ou necessidade é tão intenso como a necessidade do jogo. Através a criança desenvolve a espontaneidade, a inteligência, a linguagem, a coordenação, o autocontrole, o prazer de realizar algo, a autoconfiança. É um caminho para a criança conhecer, sentir, organizar suas experiências, estruturar a inteligência para construir a sua personalidade na medida em que vai se desenvolvendo.

Ainda de acordo com o autor, para a criança o jogo estabelece um mundo à parte, que não faz mais parte do mundo dos adultos, é outro universo. A criança ao brincar e jogar esquece o real e se torna um personagem imaginário e as pessoas à sua volta apagam-se, dando lugar, apenas, ao objeto lúdico.

Francisco (2008) expõe também que Piaget e Vygotsky definiram o desenvolvimento cognitivo de formas distintas, abordando áreas diferentes, mas focando o desenvolvimento das capacidades intelectuais. Enquanto Vygotsky valoriza as experiências sociais da criança, aquilo que ela absorve em suas experiências habituais com a sua família, Piaget buscou estudar como o conhecimento era constituído ou estabelecido através do fator biológico e não social como Vygotsky.


  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Partindo dos questionamentos anteriormente elaborados e das considerações já elaboradas pode-se inferir a respeito da influência da psicomotricidade na evolução da aprendizagem na primeira infância que a mesma tem papel preponderante nos primeiros anos de vida da criança.

Conforme verificado ao longo do texto, diversos autores corroboram que a psicomotricidade apresenta inúmeros benefícios na evolução e desenvolvimento dos aspectos motor, cognitivo e afetivo social, principalmente quando aliado a fatores externos, como a intervenção de professores ou adultos e a utilização de materiais ou objetos.

Pode-se inferir também que a psicomotricidade ao longo da primeira infância desenvolve não somente a parte física, motora, como também o cognitivo e o afetivo social. Ao se analisar a influência sobre o desenvolvimento cognitivo a psicomotricidade auxilia e promove à criatividade, a autonomia, o pensamento crítico, estabelece normas e auxilia na construção da personalidade.

Conforme Ramos (2012) e Antunes (2004) a psicomotricidade ao ser trabalhada pelos jogos e brincadeira promove, desenvolve e estimula uma série de ações que ao longo do período vão fomentando suas experiências pessoais e com o meio em que vivem, tornando-os cada vez mais preparados para os próximos passos da vida.

Em relação ao desenvolvimento afetivo-social, a psicomotricidade estabelece através da participação de jogos, brincadeiras e brinquedos relações e sentimentos onde a criança forma e estabelece interações com todos os envolvidos, aprendendo neste sentido a estabelecer relações de respeito, socialização, tomada de decisões, elabora conceitos, adquire novas experiências e seleciona ideias de acordo com as suas percepções.

Por fim, considera-se que a psicomotricidade age de forma efetiva e imprescindível na evolução da aprendizagem na primeira infância através de ações, atividades, movimentos, jogos e brincadeiras entre outros momentos que estão presentes na constituição dos pilares do desenvolvimento infantil, que são o desenvolvimento motor, afetivo-social e cognitivo. É através deles que a criança se molda e vai se desenvolvendo ao longo da vida, construindo e se constituindo assim como um ser integral e integrante da sociedade onde vive.

 

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