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A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Sirlei Spies1

Magali Regina Trevisol Antoniolli

Lecila Ghiraldi Rosa Veras

Marcia da Rocha Lourenço Olgado

Larissa Raiany Lira dos Santos Nogueira

 

RESUMO

 

A preocupação básica deste estudo é refletir sobre a importância do brincar no desenvolvimento e aprendizagem na educação infantil, pois quando está brincando a criança desenvolve a atenção, a memória, a autonomia, a capacidade de resolver problemas, de se socializar, desperta a curiosidade e a imaginação, de maneira prazerosa, sendo ingredientes favoráveis para desenvolver a aprendizagem. Se a criança está em processo de desenvolvimento, agindo e interagindo com o meio que a cerca, portanto é fundamental que lhe sejam proporcionados momentos em que possa brincar, pois é nesse brincar que se desenvolve sua maneira de pensar e de agir aprendendo a interagir com a realidade que a cerca. Neste contexto o professor de educação infantil é alguém capaz de ajudá-la a se comunicar, a expressar seus sentimentos, sempre partindo de momentos, nos quais, o brincar se faz presente, desenvolvendo assim suas habilidades. Portanto, para realização desse trabalho, utilizamos a pesquisa bibliográfica fundamentada na reflexão da leitura de livros, artigos, revistas e sites bem como de autores referente a esse tema. Dessa forma proporcionando uma leitura mais consciente acerca da importância do brincar na educação infantil.

 

Palavras-chave: Educação Infantil. Brincar. Professor. Aprendizagem.

 

Introdução

 

O presente trabalho tem como tema a importância do brincar na educação infantil. Pois é através do brincar que a criança se comunica reproduzindo o seu cotidiano num mundo de fantasia e imaginação, facilitando o processo de construção da reflexão, da autonomia e da criatividade. Compreender o conceito da educação infantil como espaço privilegiado de aprendizagem infantil, onde é possível assimilar o aprender com o brincar, mostrando que o lúdico é considerado um importante fator no processo.

A educação infantil tem como finalidade o desenvolvimento da criança até os cinco anos de idade e são nessas etapas que as crianças descobrem novos valores, sentimentos, costumes ocorrendo também o desenvolvimento da autonomia, da identidade e interações com outras pessoas. O brincar auxilia fazendo com que as crianças criem conceitos, ideias em que se possam construir, explorar e reinventar os saberes, refletir sobre sua realidade e a cultura em que vivem.

Dessa maneira faz-se necessário a conscientização de pais, educadores e sociedade em geral, sobre a ludicidade, que deve estar sendo vivenciada pela criança, de que o brincar faz parte de uma aprendizagem prazerosa, não sendo somente um lazer. É importante perceber e incentivar a capacidade criadora das crianças, pois esta se constitui numa das formas de relacionamento e recriação do mundo na perspectiva da lógica infantil.

 

Desenvolvimento

 

Desde o nascimento, a criança se depara com as circunstâncias geradas pelo mundo que a cerca e, a partir das próprias experiências, se relaciona com o mundo das coisas e o mundo das pessoas por meio do seu corpo, que as transforma no elo que permite a ligação do ser humano com o meio que a circunda. Tudo o que faz para conhecer, se relacionar, para aprender, o faz pelo corpo. Suas primeiras experiências vividas são essencialmente corporais, tatuando marcas em seu inconsciente corporal.

É através do corpo que a criança percebe suas satisfações, suas dores, as sensações visuais e auditivas. O corpo é o seu meio de ação para conhecer tudo a sua volta, interage por meio de dinâmicas de ações corporais.

Com Base no Referencial Curricular para Educação Infantil RCNEI Brasil (1998), a criança é um ser social que nasce com capacidades afetivas, emocionais e cognitivas. Tem desejos de estar próximo às pessoas e é capaz de interagir e aprender com elas de forma que possa compreender e influenciar o seu ambiente, ampliando suas relações sociais, interações e formas de comunicação, as crianças sentem-se cada vez mais seguras para se expressar.

Suas vivências e sentimentos respeitados fazem dela um ser único, singular caracterizando, assim, o seu eu interior, valorizando sua própria maneira de estar no mundo.

Dessa forma, a infância é uma etapa fundamental na vida da criança, para que ela aprenda a brincar. Essa etapa é considerada a idade das brincadeiras, com isso destaca-se o lúdico, pois é algo que faz com que a criança reflita e descubra sobre o mundo em que vive.

Brincar, segundo o dicionário Aurélio (2003), é “divertir-se, recrear-se, entreter-se, distrair-se, folgar”, também pode ser “entreter-se com jogos infantis”, ou seja, brincar é algo muito presente em nossas vidas, ou pelo menos deveria ser.

Segundo Oliveira (2000), o brincar não significa apenas o recrear, é muito mais, caracterizando-se como uma das formas mais complexas que a criança tem de comunicar-se consigo mesma e com o mundo, ou seja, o desenvolvimento acontece através de trocas recíprocas que se estabelecem durante toda a sua vida. Assim através do brincar a criança pode desenvolver capacidades importantes como a atenção, a memória, a imitação, a imaginação, ainda propiciando a criança o desenvolvimento de áreas da personalidade como a afetividade, motricidade, inteligência, sociabilidade e criatividade.

Para Oliveira (2002), “brincar de ser outra pessoa é coisa mágica”. O faz de conta é uma atividade de grande complexidade, que desencadeia o uso da imaginação criadora. Pelo faz-de-conta a criança pode reviver situações que lhe causam excitação, alegria, medo, tristeza, raiva e ansiedade. Ela pode nesse brinquedo mágico, expressar e trabalhar as fortes emoções, muitas vezes difíceis de suportar. E a partir de suas ações nas brincadeiras, explora as diferentes representações que tem destas situações difíceis, podendo melhor compreende-las ou organizá-las.

Vygostsky (1998), ao discutir o papel do brinquedo, refere-se especificamente à brincadeira de faz-de-conta, como brincar de casinha, brincar de escolinha, brincar com cabo de vassoura como se fosse um cavalo. Faz referência a outros tipos de brinquedos, mas a brincadeira faz-de-conta é privilegiada em sua discussão sobre o papel do brinquedo no desenvolvimento. A criança sempre se comporta além do comportamento habitual.

Vygotsky (1998), um dos representantes mais importantes da psicologia histórica cultural, partiu do princípio que o sujeito se constitui nas relações com o outro, por meio de atividades caracteristicamente humanas. Nessa perspectiva a brincadeira infantil assume um papel de grande importância para a análise do processo de constituição do sujeito. O autor se refere à brincadeira como uma maneira de expressão e apropriação do mundo das relações, das atividades e dos papéis dos adultos. A capacidade para imaginar, fazer planos, apropriar-se de novos conhecimentos, surge nas crianças, através do brincar. A criança por intermédio da brincadeira, das atividades lúdicas, atua, mesmo que simbolicamente, nas diferentes situações vividas pelo ser humano, reelaborando sentimentos, conhecimentos, significados e atitudes.

É brincando que a criança aprende a respeitar regras, ampliar o seu relacionamento social e a respeitar a si mesmo e ao outro. Por meio do universo lúdico que a criança começa a expressar-se com maior facilidade, ouvir, respeitar e discordar de opiniões, exercendo sua liderança, e sendo liderados, compartilhando sua alegria de brincar.

Zanluchi (2005, p.91), afirma que “A criança brinca daquilo que vive; extrai sua imaginação lúdica de seu dia-a-dia”, portanto, as crianças, tendo a oportunidade de brincar, estarão mais preparadas emocionalmente para controlar suas atitudes e emoções dentro do contexto social, obtendo assim melhores resultados no desenrolar de sua vida.

Reafirmando Zanluchi (2005, p. 89) que “Quando brinca, a criança prepara-se a vida, pois é através de sua atividade lúdica que ela vai tendo contato com o mundo físico e social, compreendendo como são e como funcionam as coisas”.

De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998, p.27, v.01):

O principal indicador da brincadeira, entre as crianças, é o papel que assume enquanto brincam. Ao adotar outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à realidade de maneira não-literal, transferindo e substituindo suas ações cotidianas pelas ações e características do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos.

Dessa maneira vemos a necessidade de enxergar a criança com múltiplos potenciais exigindo dos professores a pluralidade e a diversidade de propostas a serem oferecidas. O ambiente vivido no dia a dia da criança deve propiciar um diálogo com múltiplas linguagens, promovendo sempre novas experiências, aproximando a criança das possibilidades de criação.

De acordo com o Referencial Nacional da Educação Infantil (1998), a partir da importância da ludicidade que o professor deverá contemplar jogos, brinquedos e brincadeiras, como princípio norteador das atividades didático-pedagógicas, possibilitando à criança uma aprendizagem prazerosa.

Assim, Goés (2008, p 37), afirma ainda que:

(...) a atividade lúdica, o jogo, o brinquedo, a brincadeira, precisam ser melhorado, compreendidos e encontrar maior espaço para ser entendido como educação. Na medida em que os professores compreenderem toda sua capacidade potencial de contribuir no desenvolvimento infantil, grandes mudanças irão acontecer na educação e nos sujeitos que estão inseridos nesse processo.

Dessa forma, compreender a relevância do brincar possibilita aos professores intervir de maneira apropriada, não interferindo e descaracterizando o prazer que o lúdico proporciona. Portanto, o brincar utilizado como recurso pedagógico não deve ser dissociado da atividade lúdica que o compõe, fazendo do brincar na escola um brincar diferente das outras ocasiões. A incorporação de brincadeiras, jogos e brinquedos na prática pedagógica, podem desenvolver diferentes atividades que contribuem para inúmeras aprendizagens.

O brincar se torna importante no desenvolvimento da criança de maneira que as brincadeiras e jogos que vão surgindo gradativamente na vida da criança desde os mais funcionais até os de regras, são elementos elaborados que proporcionarão experiências, possibilitando a conquista e a formação da sua identidade.

Como podemos perceber, os brinquedos e as brincadeiras são fontes inesgotáveis de interação lúdica e afetiva. Para uma aprendizagem eficaz é preciso que o aluno construa o conhecimento, assimile os conteúdos.

Carvalho (1992 p. 28) afirma que:

[…] o ensino absorvido de maneira lúdica, passa a adquirir um aspecto significativo e afetivo no curso do desenvolvimento da inteligência da criança, já que ela se modifica de ato puramente transmissor a ato transformador em ludicidade, denotando-se, portanto em jogo”.

As ações com o jogo devem ser criadas e recriadas, para que sejam sempre uma nova descoberta e sempre se transformem em um novo jogo, em uma nova forma de jogar.

Contudo o desenvolvimento da criança e seu consequente aprendizado ocorrem quando participa ativamente, seja discutindo as regras do jogo, seja propondo soluções para resolvê-los. É de extrema importância que o professor também participe e que proponha desafios em busca de uma solução e de participação coletiva, o papel do educador neste caso será de incentivador da atividade. A intervenção do professor é necessária e convincente no processo de ensino-aprendizagem, além da interação social, ser indispensável para o desenvolvimento do conhecimento.

De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998, P. 23):

 

Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidado, brincadeiras e aprendizagem orientadas de forma integrada e que possam construir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural.

Por isso o educador é a peça fundamental nesse processo, devendo ser um elemento essencial. Educar não se limita em repassar informações ou mostrar apenas um caminho, mas ajudar a criança a tomar consciência de si mesmo, e da sociedade. É oferecer várias ferramentas para que a pessoa possa escolher caminhos, aquele que for compatível com seus valores, sua visão de mundo e com as circunstâncias adversas que cada um irá encontrar.

Nessa perspectiva, segundo o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998, P.30):

O professor é medidor entre as crianças e os objetos de conhecimento, organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagem que articulem os recursos e capacidades efetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança aos seus conhecimentos prévios e aos conteúdos referentes aos diferentes campos de conhecimento humano.

Assumindo a função lúdica e educativa, a brincadeira propicia diversão, prazer, potencializa a exploração, a criação, a imaginação e a construção do conhecimento. Dessa forma, a brincadeira já não deve ser mais atividade utilizada pelo professor apenas para recreação, mas como atividade que faça parte do plano de aula da escola.

 

Conclusão

 

Diante do exposto, concluiu-se que o brincar é a essência da infância e permite um trabalho pedagógico que possibilita a produção de conhecimento da criança. Constatamos que a ludicidade é uma necessidade do ser humano, principalmente na infância, na qual ela deve ser vivenciada, não apenas como diversão, mas com objetivo de desenvolver as potencialidades da criança, visto que o conhecimento é construído pelas relações interpessoais e trocas recíprocas que se estabelecem durante toda a formação integral da criança.

Portanto, a introdução de jogos e atividades lúdicas no cotidiano escolar é muito importante, devido a influência que os mesmos exercem frente aos alunos, pois quando eles estão envolvidos emocionalmente na ação, torna-se mais fácil e dinâmico o processo de ensino-aprendizagem.

Conclui-se que o desenvolvimento humano é resultado de uma diversidade de acontecimentos ao longo da vida influenciado pela família, escola, sociedade, amigos, ambiente em que vivem, neste contexto as crianças devem ser estimuladas a explorar suas ideias e seus interesses, é nas experiências vivenciadas, nas interações que ocorrem entre suas ações e observações, que o conhecimento é construído e edificado.

 

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998, volume: 1 e 2.

CARVALHO, A.M.C. et al. (Org.). Brincadeira e cultura: viajando pelo Brasil que brinca. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mine Aurélio Escolar Século XXI: o minidicionário da língua portuguesa. 4 ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2003.

GOÉS, M. C. A formação do individuo nas relações sociais: Contribuições teóricas de Lev Vygotsky e Pierre Janet. Educação e sociedade. Campinas, Unicamp, 2008.

OLIVEIRA, Vera Barros de (Org.). O brincar e a criança do nascimento aos seis anos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

OLIVEIRA, Z. M. et al. Creches: Crianças, Faz de conta & cia. 11. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

VYGOTSKY, L. S; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone: Editora da Universidade de São Paulo, 1998.

VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes Editora LTDA, 1998.

ZANLUCHI, Fernando Barroco. O brincar e o criar: as relações entre atividade lúdica, desenvolvimento da criatividade e Educação. Londrina: O autor, 2005.

1 Licenciada em Pedagogia – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) Sinop-MT.