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A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL


Sandra Sackser Antunes da Silva

Leonice Eduardo Martins

Cleonice Eduardo Martins


Resumo

O tema “A importância da contação de história na Educação Infantil” levanta várias questões como: Qual a origem da contação de histórias? Quem são os contadores de história? Qual a importância de contar histórias na educação infantil (ou na escola)? Qual a diferença entre ler e contar uma história. Existem outras formas de se contar histórias? Inventar uma história é fato natural e espontâneo na criança, criá-la é uma forma muito completa de expressar sentimentos e ideias, é preciso, porém toda uma atitude positiva e criativa por parte do contador, de forma a ampliar esse poder de imaginação infantil. O principal nesta arte é saber despertar emoções, pois as forças da fantasia, sonho, magia, mistério e da intuição ainda atraem espontaneamente as crianças. Contar histórias em sala de aula é extremamente necessário, pois mexer com o imaginário infantil é uma influência muito benéfica na formação da personalidade da criança, principalmente no primeiro ciclo de sua infância, porque através da assimilação dos conteúdos da história há uma fusão entre o real e o imaginário, isto porque a criança se identifica com os personagens e “vive” o drama que ali é apresentado de uma forma simples, porém impactante, ao mesmo tempo em que distrai a criança lhe apresenta virtudes e defeitos, seu aparente entretenimento disfarça a proposta didática existente através da junção do lúdico e do pedagógico. As histórias apresentadas aos educando, agem em seu inconsciente, através do prazer e emoções, devido ao o simbolismo implícito nas tramas e personagens, facilitando à criança certa compreensão de valores básicos da conduta humana e de convívio social, pois é através dos significados simbólicos dos contos, que a criança incorporará os valores que regem a vida humana, uma vez que a escola tem em sua proposta pedagógica a função de tornar o aluno um indivíduo, participativo e critico.


Palavras-chave: Contação de História, Educação Infantil, Prática Pedagógica


Introdução

Desde há muito tempo, a transmissão oral, ou seja, a contação de histórias é passada de geração em geração, esta foi uma das soluções encontradas pelas comunidades que não conheciam a escrita, para informar às gerações mais novas os seus conhecimentos, valores e crenças, que eram considerados fundamentais para a sobrevivência geral da respectiva comunidade.
O surgimento das creches e pré-escolas ocorreu devido o fato das mulheres começarem a trabalhar fora de casa, necessitando de um local adequado para cuidar de seus filhos enquanto estas estiverem ausentes. Com isso, as creches e pré-escolas passaram a desempenhar dois papéis fundamentais junto às crianças, o de cuidar e educar.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. RCNEI (BRASIL, 1998) é através das instituições de educação infantil que se abrem ambientes propícios para a criança desenvolver-se integralmente. Assim, a educação infantil não pode ser vista, apenas, como um lugar de aprendizado sistematizado, mas como um ambiente que promove o desenvolvimento de habilidades e a socialização da criança, na medida em que possibilita o convívio com outras crianças e, também, com adultos com origens e hábitos culturais diversos.
Para TORRES & TETTAMANZY (2008). É função da escola, estimular no aluno, o gosto e o prazer pela leitura, que deve ser disponibilizada em sala de aula de maneira atraente, prazerosa e significativa, devendo estar desvinculada da obrigatoriedade.
Assim, é possível afirmar que a arte de contar histórias passa a ser reconhecida como prática oral de um patrimônio cultural capaz de proporcionar prazer e lazer e que por meio deste processo as crianças aprendem a falar melhor, usam a imaginação e se desenvolvem muito mais. A partir dos contos, das histórias e da motivação do professor, a criança tem a oportunidade de exercitar a imaginação, criando imagens a partir do contexto social na qual se encontra inserida. Sendo então o uso da literatura infantil e do processo de contação de histórias de fundamental importância para o desenvolvimento intelectual e emocional da criança.
Com isso se torna inevitável para a compreensão deste trabalho obter informações sobre: Qual a importância da contação de histórias na educação infantil? Que tipo de livros literários se utiliza? Que materiais a escola disponibiliza para apoiar a leitura? Como esta influencia no processo de aprendizagem da criança? Qual o futuro da literatura e da contação de histórias em tempos em que surgem novos gêneros digitais, distanciando a interação entre autores, textos e leitores?


CAPITULO I – A TRAJETÓRIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA SOCIEDADE

    1. A origem da contação de histórias


O ato de contar histórias, ou a contação de histórias, tem sua origem desde os primórdios da Grécia antiga, juntamente com o Império Árabe e uma de suas famosas histórias conhecidas por todo o mundo “As mil e uma noites”, contada por Sherazade.

A arte de contar história compõe papel de suma importância dentro do contexto literário, trabalhando assim o desenvolvimento da criança, através de práticas orais, construção do saber reflexivo, estimulando o interesse e a imaginação, que supostamente irá trabalhar seu processo cognitivo, possibilitando a construção de ser um leitor, ouvinte e possibilitando em si, sua própria criação.

A prática de contar história contribui em diversos desenvolvimentos no indivíduo, seja ela intelectual, social, cultural e de descobrimento de seu próprio eu, pois é no mundo imaginário que a criança desperta seus interesses, seja no momento em que está ouvindo ou narrando uma história. Influenciando juntamente com o processo artístico a interação social, o dialogar, conhecimentos e gosto pela leitura.

Não apenas as crianças, mas também adultos podem descobrir numa história a solução de algum problema e guardo depoimentos valiosos que confirmam isso.” (Betty Coelho, 2004, p. 52).

Os professores/educadores devem inserir em seus objetivos de aprendizados, o processo de contar história com o intuito de ajudar e enriquecer o desenvolvimento das crianças, sendo de suma importância desenvolver desde as séries iniciais, esse mundo de imaginação, formação e promoção ao conhecimento.

As histórias promovem valores e conceitos onde cada um na sua subjetividade, se descobre juntamente com o mundo real, seja a história ficção, aventura, drama e todos os gêneros já conhecidos, inseridos nos inúmeros livros literários, que dentro de uma sociedade de diversas culturas, crenças, visões políticas, etnias, moralidade, prevê uma aprendizagem reveladora e significativa para cada indivíduo.

Segundo Vanda (2005), “contar mitos, em muitos lugares da África, faz parte do jeito de educar a criança que, mesmo antes de ir à escola, aprende as histórias de sua comunidade, os acontecimentos passados, valorizando-os como novidade”.

A comunicação, a vivência, a interpretação e valor que cada obra tem, atinge todo indivíduo, independente de sua idade ou formação social, porque a leitura e a arte de ouvir e contar história, está presente na nossa história, seja ela na formação da cidadania e todos os paradigmas que a sociedade percorre através do tempo, sendo assim, dentro de nosso próprio contexto individual e coletivo.

A história nada mais é do que a formação e a compreensão da cidadania e do próprio conhecimento, o que para sua prática requer o entendimento do seu processo e dos caminhos que ela percorre, seja no mundo imaginário, transportando-se para a realidade e o desenvolvimento social, crítico e cultural.

A força da história é tamanha que narrador e ouvintes caminham juntos na trilha do enredo e ocorre uma vibração recíproca de sensibilidades, a ponto de diluir-se o ambiente real ante a magia da palavra que comove e enleva. A ação se desenvolve e nós participamos dela, ficando magicamente envolvidos com os personagens, mas sem perder o senso crítico, que é estimulado pelos enredos.” (Betty Coelho, 2004, p. 11).

Existem muitas maneiras de enxergar o mundo. Existem algumas maneiras de se conhecer o mundo. Mas não há como escapar, o mundo é uma grande história que se lê diariamente. De olhos abertos, podemos perceber que cada um faz parte desse grande livro. Às vezes nos colocamos na história como personagem nem tão principal, mas que está sempre ao lado do “mocinho” e é seu amigo inseparável. Ou, quem sabe, a princesa que na aula de Matemática, fica sonhando com o príncipe qualquer dia desses para salva-la das garras da rotina. Mas, por outro lado, o melhor mesmo é ser bicho solto com comportamento humano! Ou, quem sabe, apenas alguém que observa e vai dando sentido ás coisas.


Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir
muitas, muitas histórias.... Escutá-las é o início da aprendizagem
para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente
infinito de descoberta e de compreensão do mundo...
Fanny Abramovich

 

Os primeiros impressos para crianças não tinham nenhuma intenção mais amena. Páginas coladas a um suporte, que a primeira vista podiam servir também de palmatória. Começam a ser usadas em 1440 e continuam a aparecer até 1850. Além do ABC incluíam orações, ensinamentos morais ou políticos.

Mas logo a criança descobre as anedotas, contos maravilhosos, episódios de cavalaria. E se apossam dessas narrativas populares, que não foram escritas especialmente para elas.

O impulso de contar histórias deve ter nascido no homem, no momento em que ele sentiu necessidade de comunicar aos outros alguma experiência sua, que poderia ter significação para todos.

A célula máter da Literatura Infantil, hoje conhecida como “clássica”, encontra-se na Novelística Popular Medieval que tem suas origens na Índia. Descobriu-se que desde essa época a palavra impôs-se ao homem como algo mágico, como um poder misterioso, que tanto poderia proteger, como ameaçar, construir ou destruir. É, também, de caráter mágico ou fantasioso, as narrativas conhecidas, hoje, como literatura primordial. Nela foi descoberto o fundo fabuloso das narrativas orientais, que se forjaram durante séculos antes de Cristo, e se difundiram por todo o mundo, através da tradição oral. 
A Literatura Infantil apareceu durante o século XVII, época em que as mudanças na estrutura da sociedade desencadearam repercussões no âmbito 
artístico, que persistem até os dias atuais. O aparecimento da Literatura Infantil tem características próprias, pois decorre da ascensão da família burguesa, do novo “status” concedido à infância na sociedade e da reorganização da escola. Sua emergência deveu-se, antes de tudo, à sua associação com a Pedagogia, já que as histórias eram elaboradas para se converterem em instrumento dela.

É a partir do século XVIII que a criança passa a ser considerado um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias, pelo que deveria distanciar-se da vida dos mais velhos e receber uma educação especial, que a preparasse para a vida adulta.

O caminho para a redescoberta da Literatura Infantil, em nosso século, foi aberto pela Psicologia Experimental que, revelando a Inteligência como um elemento estruturador do universo que cada indivíduo constrói dentro de si, chama a atenção para os diferentes estágios de seu desenvolvimento (da infância à adolescência) e sua importância fundamental para a evolução e formação da personalidade do futuro adulto. A sucessão das fases evolutivas da inteligência (ou estruturas mentais) é constante e igual para todos. As idades correspondentes a cada uma delas podem mudar, dependendo da criança, ou do meio em que ela vive.

Fábulas (do latim- fari - falar e do grego - Phao - contar algo), Narrativa (de natureza simbólica) de uma situação vivida por animais, que alude a uma situação humana e tem por objetivo transmitir certa moralidade.

Nascida no Oriente vai ser reinventada no Ocidente pelo grego Esopo (Séc. VI A.C.) e aperfeiçoada, séculos mais tarde, pelo escravo romano Fedro (Séc. I A.C.) que a enriqueceu estilisticamente. Entretanto, somente no século X, começaram a serem conhecidas às fábulas latinas de Fedro.


    1. Porque e para que contar histórias?


As histórias despertam a imaginação e resgatam um pouco de nossas vidas, tornando possível idealizar o nosso futuro e compreender o passado e até mesmo dar sentido a determinados acontecimentos que não podem ser mudados. Segundo (Piza 2006) as histórias possibilitam compreender um pouco de nossa existência. Elas fazem parte de nossas vidas, despertam a capacidade e o gosto pela criação, alimentam as nossas almas e nos ajudam a fazer uma leitura de mundo, permitindo sermos capazes de sonhar e pensar nos nossos antepassados e nossa existência.

Sem as histórias nossas vidas não teriam sentido, pois elas humanizam e nos torna sábios para o reconhecimento de nossa própria historicidade. Uma história puxa outra, e elas vão se multiplicando na teia da vida. (Piza 2006).

Os dias estão cada vez mais difíceis, pois o ato de contar história está em extinção, devido o esfalecimento de vários conceitos em nossas vidas, como os laços familiares, a falta de tempo dos profissionais docentes, os afazeres da vida cotidiana e vários outros aspectos tecnológicos que agravam diretamente esta perda.

Estamos perdendo nossa essência, nossa imaginação e inteligência, devido a tantas informações prontas sem nexo, sem significações, deixando escassos os espaços livres para a criação de novos saberes. A nossa criatividade está meramente ameaçada, no qual as imagens já chegam para nós manipuladas, no qual não precisamos pensar, pois os avanços tecnológicos não nos permitem criar e sim copiar, por isso estamos perdendo nossa essência.

Estamos vivendo em mundo globalizado em que tudo se padroniza, não somente os objetos de consumo, mas a nossa maneira de expressar, de sentir, de imaginar e agir, ou seja, deixando para traz as nossas memórias e raízes, deixando de lado a nossa própria história.

Precisamos de antídotos, contra a padronização que nos uniformiza e nos faz amorfos”. (Piza, 2006, p.)

A autora relata que “o papel do professor a todo o momento é introduzir um assunto, contextualizá-lo, criar um cenário imaginário, discorrer sobre o mesmo e finalizar sua exposição, dando sentido à fala anterior sintetizando-a”. Afirma que estas experiências educativas servem para melhorar ainda mais as habilidades de narrar.

Assim diz (Piza 2006), a história está no embrião de cada um de nós e por isso é preciso nos encontrar, dialogar e descobrir com o contador de histórias interior, colocando para fora todo o efeito mágico para despertar na criança o lado imaginário que ela possui dentro de si.

A narrativa faz parte de nossas vidas desde bebê, através da voz encantadora de nossa mãe, no qual já demonstram interesse pelas histórias, por isso que a narrativa deve ser combinada com a voz e movimentos faciais, ou seja, o contador deve se entregar por inteiro, dando emoção ao personagem, fazendo combinações entre olhar, fala e movimentos, prendendo a atenção do ouvinte para que possam compreender e descobrir novos horizontes.

Piza aborda ainda que o narrador que conta uma história, buscando na memória o momento que ouviu de outro contador, ou até mesmo que de um livro antigo que leu, consegue demonstrar a satisfação e o prazer do ouvinte, pois ele passa toda emoção vivenciada do momento em que ouviu, trazendo sua própria recordação com o agora, cultivando as raízes do contador, transformando estas intervenções e memorizações para a mudança de conduta e do conhecimento humano.

O contador de histórias ensina,envolve,emociona”. Depois de milênios, uma história suscita espanto e reflexão. (Piza 2006 p.34)

A autora afirma que os contadores de história são como os arqueólogos que cavam a terra em camadas e vão descobrindo a história da humanidade, por vezes a própria história. Muitas coisas em nossas vidas passam e vão embora sem retorno, como as amizades, convivências, pessoas queridas que nos deixassem para viver em outra vida, a nossa infância, mas todas estas lembranças estão guardadas em cada um de nós, fazendo parte da nossa historia de vida, que nunca se apagarão de nossa memória.

Busco as histórias guardadas em minha memória, mas não é uma invenção criadora desta contadora, é um aprendizado que passou de povos para povos. Mesmo quando narro um conto de fadas, essa história já foi modificada por outros contadores” (Piza 2006 pg.44).

O educador por sua vez deve incentivar o aluno a se tornar cidadãos críticos, autônomos e independentes, despertando no educando a descoberta da realidade atual. Pois a maior virtude de um mestre não é dar respostas prontas e sim estimular a pensar e a questionar possibilitando-o a fazer uma autoanálise e reflexão.

Muitos professores ficam desanimados em contar histórias por não conseguir prender a atenção dos alunos, lembrando que o sucesso da história está no narrador que deve ter entusiasmo e conhecer a história antes de ser contada. Um dos fracassos na contação de história acontece devido à falta de conhecimento do narrador, achando que é somente pegar um livro na biblioteca e lê-lo, no qual não existe nenhum significado e nenhuma interação com a história contada.

Nos quatro anos de convivência com as crianças e com os professores, descobri que para conhecermos e contarmos histórias devemos: enamorar, apaixonar, casar com ela e viver feliz para sempre”.(Piza 2006 pg.61).

Percebe-se, então, quanto é importante que o professor esteja atento às reações infantis, perante as histórias contadas, podendo ser de grande ajuda para compreensão da realidade de cada uma das crianças.

O compromisso do narrador é com a história, enquanto fonte da satisfação de necessidades básicas das crianças”. (Betty Coellho, 1991).

Um dos principais objetivos de se contar histórias é o da recreação.

Mas a importância de contar histórias vai muito alem. Por meio delas podemos enriquecer as experiências infantis desenvolvendo diversas formas de linguagem, ampliando o vocabulário, formando o caráter, desenvolvendo a confiança na força do bem, proporcionando a ela viver o imaginário.

Além disso, as histórias estimulam o desenvolvimento de funções cognitivas importantes para o pensamento, tais como a comparação (entre as figuras e o texto ou narrado) o pensamento hipotético, o raciocínio lógico, pensamento divergente ou convergente, as relações espaciais e temporais (toda história tem principio, meio e fim). Os enredos geralmente são organizados de forma que um conteúdo moral possa ser inferido das ações dos personagens e isso colabora para a construção da ética e da cidadania em nossas crianças.


1.3. Quem são os contadores de histórias?


Contar histórias é uma arte, por conseguinte requer certa tendência inata, uma predisposição, latente, aliás, em todo educador, em toda pessoa que se propõe a lidar com crianças. Além do conjunto de técnicas que a Didática ensina, há determinadas qualidades que contribuem para a eclosão desse talento e podem ser estimuladas, desenvolvidas. Em primeiro lugar, o contador precisa estar consciente de que a história é que é importante. Ele é apenas o transmissor, conta o que aconteceu e o faz com naturalidade, sem afetação, deixando as palavras fluírem.” (Betty Coelho, 2004, P. 50).

Antigamente, o contador de histórias era um tipo necessário para a população que não contava com a televisão e seus recursos. Desempenhava ele um dos papéis mais importantes na educação das crianças: dava-lhes os elementos necessários para a compreensão da realidade, que muitas vezes parecia-lhes adversa, medonha, sombria. Através de suas histórias, seus "causos", fábulas, lendas, etc., o contador apresentava uma visão de mundo, com seus conflitos humanos e sociais, com suas lições de vida, as quais o ouvinte iria recorrer em algum momento de sua vida.

Originalmente, os "contos" eram narrados na Idade Média, durante as noites invernosas nos castelos "mal-assombrados", nas fazendas isoladas, nas aldeias espalhadas pelos campos, com a finalidade de trocar experiências e afastar os temores e Aflições pela corrente de força criada pelo grupo quando reunidos ao redor do "contador". A luz bruxuleante das fogueiras ou das lareiras acesas projetava sombras fantasmagóricas ao redor do grupo e abicava-lhes a, já fértil, imaginação. O mundo de então era povoado de monstros, dragões, demônios, magos e feiticeiros, por seres encantados e encantadores. A magia pairava no ar, espalhava-se nas fumaças das fogueiras e chaminés, escondia-se nas sombras, despertava no crepitar do fogo. É nesse ambiente que surge a importante figura do Contador de Histórias.

Além de repetir estórias, o contador também às criava, à medida que observava as reações de seus ouvintes. A educadora Bárbara Freitag, num excelente artigo para o "Jornal da Alfabetizadora" intitulado "O Conto de fadas na sala de aula" (nº 13. 1991 17-19) atesta que o narrador "era ao mesmo tempo inventor e repetidor de ‘estórias’. E acrescenta: ” elas são verdadeiras formações arqueológicas, compostas de camadas e camadas de saber popular, em que dificilmente se distingue o que cada narrador posterior acrescentou, omitiu ou distorceu do conto ‘original’." Trocando em miúdos, isso quer dizer que quem conta um conto aumenta um ponto.

A narração tem o poder da palavra, do som e suas inflexões, aliada ao gestual simbólico do narrador.

A narração não é uma declamação, é uma prosa, e sofre modificações conforme o ambiente, a ocasião, a plateia. Um "contador" conhece e utiliza, mesmo que intuitivamente, quase todas as figuras de linguagem (como metáforas e catacreses), figuras de sintaxe (ênfase no pleonasmo) e figuras de pensamento (principalmente a hipérbole e a prosopopeia). Dessa forma, a narração de uma história, de um conto, lenda ou mito, ganha um enorme poder, podemos até mesmo dizer, hipnótico, capaz de transformar a fantasia em realidade, de evocar emoções, de fazer o ouvinte "viajar" nas asas da imaginação. E a criança acostumada a ouvir histórias desenvolve e estimula a imaginação, além de também desenvolver o gosto pela leitura e pelas pesquisas.

A leitura deve servir para que se possam ampliar os referenciais de mundo, e não para um acúmulo de informações. Para acumular informações existem os computadores. E para abrir caminho à leitura, nada é melhor do que ouvir histórias contadas pelos antigos, pelos avós; os ‘causos’ sucedidos com os mais velhos, as novelas míticas tão cheias de magia e encantamento. Contar histórias não é só uma arte que guarda as tradições culturais de um povo, é compartilhar informações de caráter social, lições de moral e costumes, além de fornecer subsídios para uma educação informal.

"Essas narrativas são formas muito especiais de interpretar, analisar e superar os dramas fundamentais da existência humana: a experiência do bem e do mal, da justiça e da injustiça, do amor e do ódio; a existência de normas e proibições; as questões em torno do enigma da vida, de nossa origem, de nossa morte”.

Antes do advento da televisão era o rádio quem contava histórias, e reunia ao seu derredor corações e mentes mergulhadas na fantasia. Uma prova disso é a célebre novela radiofonizada por Orson Wells, em 1940.

Wells transmitiu a "invasão da Terra por marcianos" como se ele a estivesse assistindo e a transmissão fosse ao vivo. Usava pobres e improvisados recursos de sonoplastia, contudo criativos, e os efeitos sobre os ouvintes foram de tal realismo que provocou pânico geral na população... E entrou para a história!

Pelo final da década de 50, início de 60, havia um programa numa emissora de rádio do Rio de Janeiro que, se não me falha a memória, chamava-se "Histórias de Trancoso". Antigamente, muita gente se referia as "histórias de Trancoso". Gonçalo Fernandes Trancoso foi o primeiro cronista português (pelos idos do séc. XVI). Naquela época também se falava das “histórias do Arco da Velha" ou "da Carochinha". Havia ainda o hábito, gostoso, de ouvir histórias infantis "do tempo em que os bichos falavam", como dizia a (o) narrador (a).

A coqueluche, porém, eram as radionovelas, como a quilométrica “O Direito de Nascer”; e as minhas preferidas: “Gerônimo, o Herói do Sertão”, novela de Moisés Weltman (1957-1965);” O Anjo” (1959), personagem criado por Álvaro Aguiar (talvez inspirado no herói norte americano "O Santo"); "Radar, o Homem do Espaço", no estilo Flash Gordon.

Com a chegada da televisão, o rádio perdeu muito de seu encanto, seu feitiço e magia, e ouvir histórias ao pé do rádio deixou de ser o programa da família. O Contador de Histórias, que vivia por detrás das válvulas e alto-falantes, abandonou a desconfortável moradia e mudou-se para a nova mídia: foi ser autor de novelas televisivas.

E o brasileiro adquiriu o hábito de comentar as novelas exibida s na TV; contar para um (a) amigo (a) os capítulos perdidos e, principalmente, se deixar envolver pelos personagens e pela trama, ao ponto de confundir o ator ou atriz com a personagem. Isso revela como a fantasia exerce uma força muito grande sobre as pessoas, e que o homem contemporâneo, que convive com a avançada tecnologia, ainda guarda uma porção significativa do homem medieval: basta ver o aumento da crença em patuás, amuletos, videntes, etc.

Hoje as emissoras de rádio já não apresentam mais novelas radiofônicas, o que a meu ver é uma bobeira de seus diretores, pois público com certeza existe.

Toda criança gosta de ouvir histórias. A fantasia lhes é saudável e necessária como o ato de brincar.

Para elas brincar é exercitar a imaginação. Mesmo que a criança tenha acesso a discos e fitas, ou aos livros, a TV, ao vídeo, ao computador, não dispensa a participação de um adulto como narrador "ao vivo", aspergindo a magia da oralidade, na hora de dormir.

É claro que sempre houve quem contasse histórias! A professora, sobre tudo nas escolas de Educação Infantil, sempre contaram histórias! As avós sempre estiveram aí para provar que muito do encantamento da infância está ligado às sessões espontâneas de narração de histórias, bem ao pé do ouvido e nas noites de maior intimidade e revelações.

Mas o contador, informal e tradicional, levantou o corpo, pôs-se de pé foi para o centro da audiência e começou a usar o corpo inteiro para contar; modulou a sua voz para criar toda espécie de clima necessário à melhor recepção da história; passou a preocupar-se com a sua dicção e linguagem; aprendeu a surgir com os gestos os elementos constituintes da ação, da construção de personagens e cenários; exercícios o controle de emoções e a sua necessária dosagem; entregou-se a plateias mais numerosas que a familiar ou a da sala de aula; desafiou os aparatos da informação rápida e digestiva do nosso final de século. Enfim, conquistou a noção técnica e o status de artista. Aprendeu a preparar-se para o ato de contar ensaiando e elaborando previamente suas performances. O que antes era só espontâneo passou a ser mais bem previsto, repetido, ensaiado, testado, até a aquisição da naturalidade e o mínimo domínio para a apresentação pública. A hora do conto virou sessão de contos!

É no mínimo estranho que num país como o Brasil, fértil em misturas culturais, as pessoas tenham dificuldade em atender o que fazem os contadores de histórias.

Se pinçarmos da nossa história a contribuição cultural, principalmente dos índios e negros, com certeza não será difícil lembrar que os índios se reuniam em ritual de circulo, para socializarem suas experiências cotidianas contadas em forma narrativa.

Se formos buscar no passado negro pelas duas vias: a da raça e sua participação na nossa formação cultura; e a da vergonha pela exploração escravagista – vamos fatalmente dar de cara com toda uma rede de histórias, para preservar e para entreter. A história como defesa de suas raízes era uma maneira de não se entregar. A história, como elemento lúdico, por Exemplo, era um artifício das escravas, das amas de leite, para tranquilizarem as crianças deixadas sob sua guarda. A história, como elemento sagrado, proferida pelo reconhecimento do valor das palavras, como força ritualística e congregadora que sempre foi “arma” dos negros e dos índios.


1.4. A diferença entre ler e contar uma história?


São duas coisas muito diferentes, porém ambas muito importantes, um texto escrito segue as normas da língua escrita, que são completamente diferentes daquelas da linguagem falada. Quando uma criança ouve a leitura de uma história introjeta funções sintática da língua, além de aumentar seu vocabulário e seu campo semântico. Porém, aquele que lê a história deve dominar a arte de contá-la, estar preparado suficientemente para fazê-lo apoiando - se no texto, sabendo utilizar o livro como acessório integrado à técnica da voz e do gosto.

Estudar a história é ainda escolher a melhor forma ou recurso mais adequado de apresentá-la. Os recursos mais utilizados são: a simples narrativa, a narrativa com auxílio do livro, o uso de gravuras, de flanelógrafos, de desenhos e a narrativa com interferências do narrador e dos ouvintes.” (Betty Coelho, 2004, P.31).

Além disso, quem lê para uma criança não lhe transmite apenas o conteúdo da história, promove seu encontro com a leitura possibilitando-lhe adquirir um modelo de leitor e desenvolvendo nela o prazer de ler e o sentido do valor de um livro.

Há opiniões divergentes neste campo: alguns autores consideram que o contador sem o livro, tenha mais liberdade de acentuar emoções, modificar o enredo segundo as reações da criança e, portanto, melhor comunicação com o público infantil. Teria ainda mais disponibilidade para trabalhar sua voz e seu gesto.

Somos partidárias, neste aspecto de que o importante é como ler e como contar, porque é precioso que se tenha técnica e preparo para despertar o desejo e o prazer das crianças.

Segundo Ana Lucia Antunes Bresciane ao contar uma história, podemos usar nossas próprias palavras, interpretá-las de diversas maneiras, utilizando os mais diversos recursos, podemos inclusive recriá-las, acrescentando-lhes novos elementos, provenientes de nossa imaginação ou do contexto em que estamos inseridos. Mais próxima da oralidade, a história que se conta é mais flexível, depende da pessoa que conta. Ler uma história, por sua vez, utilizamos palavras que estão escritas. Embora seja possível interpretar de formas diferentes, modificar a entonação, a altura ou o timbre de voz, na leitura o texto é sempre o mesmo, independente do leitor. Traz consigo marcas especificas da língua escrita e que não utilizamos cotidianamente ao falar.

A infância é parte da construção da sociedade, apresentando diversos contextos e realidades, contribuindo com seu desenvolvimento e mudanças, ao longo do tempo. A importância que a infância tem dentro da sociedade, nos remete a indagações e reflexões de seu papel ativo e efetivo na construção de sua própria história.

Com o passar do tempo, dos séculos e dos caminhos percorridos pela sociedade, a infância nos trouxe diversos meios e concepções de sua própria jornada. Antigamente, a criança era vista como uma miniatura de adulto, onde era responsabilidade da família, principalmente da mãe, o cuidado e a educação. Crianças menos favorecidas, tinham poucas alternativas, porém, existiam “instituições” ou meios onde os pais da classe operária buscavam para deixar seus filhos, como por exemplo, em casas de outras famílias, com pessoas que se responsabilizavam por “cuidar” das crianças, de maneira informal, visto ainda hoje.

A partir do século XIII, a infância obteve um olhar diferente, frente aos paradigmas de sua existência, sendo o seu desenvolvimento e progresso, acompanhado em campos como os das artes e o surgimento de símbolos, imagens e novos caminhos no decorrer dos séculos XV e XVI.

O sentimento em relação à infância no passado era inexistente, segundo Áries (1981):

Mais ou menos por volta do século XVI, não existia a particularidade da consciência sobre o universo infantil, a concepção e infância, até então, baseava-se no abandono, pobreza, favor e caridade, desta forma era oferecido atendimento precário as crianças, havia ainda grande número de mortalidade infantil, devido ao grande risco de morte pós-natal e às péssimas condições de saúde e higiene da população em geral, e das crianças em particular. Em decorrência destas condições, uma criança morta era substituída por outros e sucessivos nascimentos, pois ainda não havia, conforme hoje existe, o sentimento de cuidado, ou paparicarão, pois as famílias naquela época entendiam que a criança que morresse não faria falta e qualquer outra poderia ocupar o seu lugar.

Após vários acontecimentos sobre essas situações, começam a surgir às primeiras instituições que visavam o cuidado e atendimento as crianças, sendo esse primeiro passo, destinados as crianças abandonadas, frutos de guerras, movimentos de migração e da miséria. As primeiras instituições de Educação Infantil surgiram no século XIX em diversos países da Europa e no Brasil, a partir dos anos de 1870.

No decorrer do século XX, com o aparecimento de novas concepções pedagógicas e educacionais, a educação infantil foi evoluindo em diversos patamares, com uma forte influência Froebel, reconhecido como o fundador dos jardins de infância, conhecido também pela criação dos kindergarten, que visava à importância de jogos e brincadeiras no processo do desenvolvimento infantil, dando ênfase a uma pedagogia diferenciada que atendia diversos níveis de faixa etária.

Em 1875, o Brasil começa a apresentar sua importância, no que diz respeito à educação infantil, sendo os primeiros jardins de infância surgidos em estados como São Paulo e Rio de Janeiro, através das propostas de Froebel, sendo essas instituições de caráter privativo, atendendo crianças da classe industrial do país. A partir de 1930, as pré-escolas passam a ter o setor público envolvido nesse processo de construção e novas reformas jurídicas educacional, devido à grande pressão por direitos trabalhistas, decorrente de sindicatos e da classe operária, que lutava por uma educação pública, gratuita e de qualidade para todos.

Com o surgimento desses novos aspectos sociais trabalhistas, a sociedade civil e órgãos governamentais, implantam dentro da Constituição de 1988, o reconhecimento da Educação Infantil como direito da criança, sendo a educação formal, responsabilidade não somente de pais trabalhadores, sendo as instituições receptivas de crianças a partir de zero a seis anos de idade (artigo 208, inciso IV).

A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, lei número 9394/96, a Educação Infantil ganha espaço e reconhecimento como sendo a base inicial da educação básica. Transformando-se em escolas infantis e não mais como assistencialismo, com a responsabilidade de cuidar e educar as crianças atendidas.

A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até os seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (LDB 9394/96, art. 29).

Com base neste artigo, expresso na LDB, a responsabilidade da escola é também integrar a responsabilidade da família no processo do desenvolvimento integral da criança. A Educação Infantil visa através das propostas pedagógicas, transformar, promover e desenvolver atividades interativas, ampliando assim, a reflexão sobre o mundo físico e social, levando em consideração as origens culturais, os conhecimentos prévios das crianças, seus contexto social e sua subjetivação.

Dentro do espaço escolar, existem diversas etnias e paradigmas sociais, sendo esses aspectos de suma importância para o respeito mútuo caracterizado pelo desenvolvimento da criança, como seus meios intelectual, físico, emocional e vários instrumentos que prioriza e constrói a educação infantil e seus diferentes contextos.


CAPITULO II – EDUCAÇÃO INFANTIL


2.1. Concepção da criança.

Para pensar a literatura infantil, é necessário pensar no seu leitor: a criança.

Até o século XVII, as crianças conviviam igualmente com os adultos, não havia um mundo infantil, diferente e separado, ou uma visão especial da infância. Não se escrevia, portanto, para as crianças.

Segundo Regina Zilberman, [...] a concepção de uma faixa etária diferenciada, com interesses próprios e necessitando de uma formação específica, só acontece em meio à Idade Moderna. Esta mudança se deveu a outro acontecimento da época: a emergência de uma nova noção de família, centrada não mais em amplas relações de parentesco, mas num núcleo unicelular, preocupado em manter sua privacidade (impedindo a intervenção dos parentes em seus negócios internos) e estimular o afeto entre seus membros. (1985, p.13)

Sabe-se que, até este século, as crianças não eram percebidas socialmente como seres diferentes dos adultos, compartilhavam o mesmo tipo de roupa, ambientes caseiros e sociais como também o trabalho.

A partir do século XVIII, a criança passa a ser considerado um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias, havendo então o distanciamento da vida “adulta” e recebendo uma educação diferenciada, que a preparasse para essa vida.

Nesse momento, a criança é vista como um indivíduo que precisa de atenção especial que é demarcada pela idade. O adulto passa a idealizar a infância. A criança é o indivíduo inocente e dependente do adulto devido à sua falta de experiência com o mundo real. Até hoje, muitos ainda têm essa concepção da infância como o espaço da alegria, da inocência e da falta de domínio da realidade.

Os livros que trazem essa concepção são escritos, então, com o objetivo de educar e ajudar as crianças no enfrentamento da realidade. Já com a Psicologia da Aprendizagem, a infância é tratada como uma etapa de reparação do pensamento para a vida adulta. O pensamento infantil não tem ainda uma lógica racional. A literatura infantil é, nesta concepção, adequada às fases do raciocínio infantil, entendido como idade cronológica.

Essas concepções convivem, até a nossa atualidade, possíveis de serem percebidas até no modo como os livros são selecionados e catalogados pelas editoras. No entanto, outra concepção de infância tem sido defendida e, com ela, uma nova postura da literatura infantil.

É preciso entender que a criança é também cheia de conflitos, medos, dúvidas e contradições, não por desconhecer a realidade, mas por trazer em si a imagem projetada do adulto: Se a imagem da criança é contraditória, é precisamente porque o adulto e a sociedade nela projetam, ao mesmo tempo, suas aspirações e repulsas.

A imagem da criança é, assim, o reflexo do que o adulto e a sociedade pensam de si mesmos. Mas este reflexo não é ilusão; tende, ao contrário, a tornar-se realidade. Com efeito, a apresentação da criança assim elaborada transforma-se, pouco a pouco, em realidade da criança. Esta dirige certas exigências ao adulto e à sociedade, em função de suas necessidades essenciais. (ZILBERMAN, 1985, p. 18).

2.2.concepção de infância.  

A concepção de infância dos dias atuais é bem diferente de alguns séculos atrás. É importante salientar que a visão que se tem da criança é algo historicamente construído, por isso é que se podem perceber os grandes contrastes em relação ao sentimento de infância no decorrer dos tempos. O que hoje pode parecer uma aberração, como a indiferença destinada à criança pequena, há séculos atrás era algo absolutamente normal. Por maior estranheza que se cause a humanidade nem sempre viu a criança como um ser em particular, e por muito tempo a tratou como um adulto em miniatura. De um ser sem importância, quase imperceptível, a criança num processo secular ocupa um maior destaque na sociedade, e a humanidade lhe lança um novo olhar. Para entender melhor essa questão é preciso fazer um levantamento histórico sobre o sentimento de infância, procurar defini-lo, registrar o seu surgimento e a sua evolução. Segundo Áries: 

   O sentimento de infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem (Áries, 1978: 99). 

Nessa perspectiva o sentimento de infância é algo que caracteriza a criança, a sua essência enquanto ser, o seu modo de agir e pensar, que se diferencia da do adulto, e, portanto merece um olhar mais específico.

Na Idade Média não havia clareza em relação ao período que caracterizava a infância, muitos se baseavam pela questão física e determinava a infância como o período que vai do nascimento dos dentes até os sete anos de idade, como mostra a citação da descrição feita por Le Grand Propriétaire (Ariès, 1978 : 6 ) :

 A primeira idade é a infância que planta os dentes, e essa idade começam quando a criança nasce e dura até os sete anos, e nessa idade aquilo que nasce é chamado de enfant (criança), que quer dizer não falante, pois nessa idade a pessoa não pode falar bem nem tomar perfeitamente as palavras, pois ainda não tem seus dentes bem ordenados nem firmes... 

Até o século XVII a sociedade não dava muita atenção às crianças. Devido às más condições sanitárias, a mortalidade infantil alcançava níveis alarmantes, por isso a criança era vista como um ser ao qual não se podia apegar, pois a qualquer momento ela poderia deixar de existir. Muitas não conseguiam ultrapassar a primeira infância. O índice de natalidade também era alto, o que ocasionava uma espécie de substituição das crianças mortas. A perda era vista como algo natural e que não merecia ser lamentada por muito tempo, como pode ser constatado no comentário de Áries “... as pessoas não podiam se apegar muito a algo que era considerado uma perda eventual...” (1978: 22). 

Na Idade Média a criança era vista como um ser em miniatura, assim que pudesse realizar algumas tarefas, esta era inserida no mundo adulto, sem nenhuma preocupação em relação à sua formação enquanto um ser específico, sendo exposta a todo tipo de experiência. Segundo Áries, até o século XVII, a socialização da criança e a transmissão de valores e de conhecimentos não eram asseguradas pelas famílias. A criança era afastada cedo de seus pais e passava a conviver com outros adultos, ajudando-os em suas tarefas. A partir daí, não se distinguia mais desses. Nesse contato, a criança passava dessa fase direta para a vida adulta. (Áries, 1978). 

A duração da infância não era bem definida e o termo “infância” era empregado indiscriminadamente, sendo utilizado, inclusive, para se referir a jovens com dezoito anos ou mais de idade (Áries, 1989 ). Dessa forma, a infância tinha uma longa duração, e a criança acabava por assumir funções de responsabilidade, queimando etapas do seu desenvolvimento. Até a sua vestimenta era a cópia fiel da de um adulto. Essa situação começa a mudar, caracterizando um marco importante no despertar do sentimento de infância: 

No século XVII, entretanto, a criança, ou ao menos a criança de boa família, quer fosse nobre ou burguesa, não era mais vestida como os adultos. Ela agora tinha um traje reservado à sua idade, que a distinguia dos adultos. Esse fato essencial aparece logo ao primeiro olhar lançado às numerosas  representações de criança do início do século XVII (Áries, 1978: 33).

As grandes transformações sociais ocorridas no século XVII contribuíram decisivamente para a construção de um sentimento de infância. As mais importantes foram as reformas religiosas católicas e protestantes, que trouxeram um novo olhar sobre a criança e sua aprendizagem. Outro aspecto importante é a afetividade, que ganhou mais importância no seio na família.

Essa afetividade era demonstrada, principalmente, por meio da valorização que a educação passou a ter. A aprendizagem das crianças, que antes se dava na convivência das crianças com os adultos em suas tarefas cotidianas, passou a dar-se na escola. O trabalho com fins educativos foi substituído pela escola, que passou a ser responsável pelo processo deformação. As crianças foram então separadas dos adultos e mantidas em escolas até estarem “prontas” para a vida em sociedade. (Aries, 1978). 

Surge uma preocupação com a formação moral da criança e a igreja se encarrega em direcionar a aprendizagem, visando corrigir os desvios da criança, acreditava-se que ela era fruto do pecado, e deveria ser guiada para o caminho do bem. Entre os moralistas e os educadores do século XVII, formou-se o sentimento de infância que viria inspirar toda a educação do século XX (Áries, 1989). Daí vem a explicação dos tipos de atendimento destinados às crianças, de caráter repressor e compensatório.

De um lado a criança é vista como um ser inocente que precisa de cuidados, do outro como um ser fruto do pecado. Segundo kramer : 

Nesse momento, o sentimento de infância corresponde a duas atitudes contraditórias: uma considera a criança ingênua, inocente e graciosa e é traduzida pela paparicação dos adultos, e a outra surge simultaneamente à primeira, mas se contrapõe a ela, tornando a criança um ser imperfeito e incompleto, que necessita da “moralização” e da educação feita pelo adulto (kramer, 2003:18 ).  

Esses dois sentimentos são originados por uma nova postura da família em relação à criança, que passa a assumir mais efetivamente a sua função, a família começa a perceber a criança como um investimento futuro, que precisa ser preservado, e, portanto deve ser afastada de maus físicos e morais. Para Kramer ( 2003 : 18 ) “não é a família que é nova, mas, sim o sentimento de família que surge nos séculos XVI e XVII, inseparável do sentimento de infância.” 

A vida  familiar ganha um caráter mais privado, e aos poucos a família assume o papel que antes era destinado à comunidade. É importante salientar que esse sentimento de infância e de família representa um padrão burguês, que se transformou em universal.  Segundo Kramer: 

...a ideia de infância (...) aparece com a sociedade capitalista, urbano-industrial, na medida em que mudam a sua inserção e o papel social da criança na comunidade. Se, na sociedade feudal, a criança exercia um papel produtivo direto (“de adulto”) assim que ultrapassava o período de alta mortalidade, na sociedade burguesa ela passa a ser alguém que precisa ser cuidada, escolarizada e preparada para uma função futura. Este conceito de infância  é, pois, determinado historicamente pela modificação das formas de organização da sociedade (2003: 19).  

No século XVIII, além da educação a família passou a se interessar pelas questões relacionadas à higiene e à saúde da criança, o que levou a uma considerável diminuição dos índices de mortalidade.

As mudanças beneficiaram as crianças da burguesia, pois as crianças do povo continuaram a não ter acesso aos ganhos representados pela nova concepção de infância, como o direito à educação e a cuidados mais específicos, sendo direcionadas para o trabalho.  

A criança sai do anonimato e lentamente ocupa um espaço de maior destaque na sociedade. Essa evolução traz modificações profundas em relação à educação, esta teve que procurar atender as novas demandas que foram desencadeadas pela valorização da criança, pois a aprendizagem além da questão religiosa passou a ser um dos pilares no atendimento à criança. Segundo Loureiro:

...nesse período começa a existir uma preocupação em conhecer a mentalidade das crianças a fim de adaptar os métodos de educação a elas, facilitando o processo de aprendizagem. Surge uma ênfase na imagem da criança como um anjo, “testemunho da inocência batismal” e, por isso, próximo de Cristo (2005: 36). 

Percebe-se o caráter cristão ao qual a educação das crianças foi ancorada. Com o surgimento do interesse nas crianças, começou a preocupação em ajudá-las a adquirir o princípio da razão e a fazer delas adultos cristãos e racionais. Esse paradigma norteou a educação do século XIX e XX. Hoje, a criança é vista como um sujeito de direitos, situado historicamente e que precisa ter as suas necessidades físicas, cognitivas, psicológicas, emocionais e sociais supridas, caracterizando um atendimento integral e integrado da criança. Ela deve ter todas as suas dimensões respeitadas. Segundo Zabalza ao citar Fraboni: 

A etapa histórica que estamos vivendo, fortemente marcada pela “transformação” tecnológico-científica e pela mudança ético-social, cumpre todos os requisitos para tornar efetiva a conquista do salto na educação da criança, legitimando-a finalmente como figura social, como sujeito de direitos enquanto sujeito social” (1998:68). 

Assim, a concepção da criança como um ser particular, com características bem diferentes das dos adultos, e contemporaneamente como portador de direitos enquanto cidadão, é que vai gerar as maiores mudanças na Educação Infantil, tornando o atendimento às crianças de 0 a 6 anos ainda mais específico, exigindo do educador uma postura consciente de como deve ser realizado o trabalho com as crianças pequenas, quais as suas necessidades enquanto criança e enquanto cidadão.

2.3 Concepções de tempo e espaço na Educação Infantil

A temática referente à organização do tempo e do espaço na educação infantil tem sido objeto de muitas investigações nas ultimas décadas (Bondioli, 2004; Zabalza, 1998; Barbosa, 2006). As organizações dos espaços físicos assim como a influência desses espaços e ambientes na interação entre as crianças e as diversas formas de se estabelecer uma rotina são temas tratados por esses autores. Segundo Zabalza (1998), os termos espaço e ambiente têm conotações diferentes, visto que o primeiro refere - se ao espaço físico propriamente dito, e o segundo, mais amplo, seria o resultado da articulação de quatro dimensões – física, temporal, funcional e relacional. Complementando essa ideia, Lima (1989) trabalha com a noção da inseparabilidade entre o espaço e o ambiente:

 

As observações sugerem, portanto, que o espaço físico isolado do ambiente só existe na cabeça dos adultos para medi-lo, para vendê-lo, para guardá-lo. Para a criança existe o espaço alegria, o espaço medo, o espaço proteção, o espaço mistério, o espaço descoberta, enfim, os espaços de liberdade ou de opressão (LIMA, 1989, p.30).”

 

Bondioli (2004), em sua pesquisa realizada com foco na observação, registrou a sequência de acontecimentos ao longo de um dia procurando analisar como ocorre a organização do dia de uma escola de educação infantil. Barbosa (2006) relaciona as dimensões temporal e física em suas investigações, ressaltando a importância do entrelaçamento entre o espaço físico estruturado e a rotina dinâmica.

 

As dimensões citadas acima estão inter-relacionadas, partindo do pressuposto de que em um ambiente o espaço físico influencia as relações, favorecendo ou desfavorecendo a interação espaço-criança e criança-criança. Dessa forma o contexto do ambiente está em constante transformação, visto que cada sujeito se relaciona com ele de determinada maneira.

 

Como aponta Zabalza (1998):

Poderíamos definir o ambiente como um todo indissociável de objetos, odores, formas, cores, sons e pessoas que habitam e se relacionam dentro de uma estrutura física determinada que contenha tudo e que, ao mesmo tempo, é contida por todos esses elementos que pulsam dentro dele como se tivessem vida. “Por isso, dizemos que o ambiente “fala”, transmite-nos sensações, evoca recordações, passa-nos segurança ou inquietação, mas nunca nos deixa indiferentes (ZABALZA, 1998,233)”.

 

A dimensão física abarca o espaço físico e suas formas de organização espacial, como por exemplo, em uma sala de aula. Compreende condições estruturais que dizem respeito a aspectos como o tipo de piso ou a pintura de uma sala; e os objetos do espaço, como as peças do mobiliário. A organização refere-se ao modo como se dá a distribuição do mobiliário nesse espaço.

 

Sobre dimensão funcional pode-se entender o modo como o espaço é utilizado, sua polivalência e o tipo de atividade que pode ser nele realizada, enquanto que a dimensão relacional diz respeito a quem utiliza determinado ambiente, e como. Por fim, a dimensão temporal faz referência direta a quando e como esse espaço é utilizado.

 

Pode-se perceber, conforme aponta Zabalza (1998), que a ideia de espaço como elemento curricular se modificou ao longo da história da educação. Em um primeiro momento o espaço era visto apenas como um lugar onde se ensinava. Numa segunda acepção, o espaço é reconhecido como um componente instrumental e visto como um elemento facilitador. Por fim, em uma terceira abordagem, o espaço passa a ser considerado um fator de aprendizagem, determinante para uma aprendizagem significativa, cuja organização influencia as ações das crianças. O educador passa a considerar que o espaço, quando bem organizado, pode auxiliar nas atividades, possibilitando aprendizagens. A respeito do espaço Zabalza (1998) diz:

 

As disposições ambientais facilitam ou inibem as atividades de aprendizagem, apoiam e fortalecem o desejo de aprender, estimulam o envolvimento profundo ou superficial convidam as crianças a apressarem-se ou a movimentarem-se lentamente. Com ou sem conhecimento do professor, o ambiente envia me mensagens e os que aprendem respondem (ZABALZA, 1998, ).”

 

A questão da organização dos espaços está intimamente ligada à otimização do tempo na educação infantil que se configura na forma como os educadores estabelecem rotinas em suas práticas educativas cotidianas. Ou seja, pensar no ambiente em seus aspectos estruturais depende também do dinamismo temporal em que as atividades se desenvolvem.

 

A construção de uma rotina na escola para crianças pequenas deve considerar a organização do dia-a-dia, o ritmo e a distribuição das situações ocorridas ao longo do tempo como questões primordiais. Como aponta Bondioli (2004), é imprescindível considerar o tempo subjetivo dos indivíduos que convivem na escola para organizar a rotina, pois é por meio dele que as crianças vivenciam e experimentam a questão da temporalização num contexto social fora da família. Por fim, a autora também define as situações de rotina como situações costumeiras que se desenvolvem cotidianamente e possuem uma estrutura pré - ordenada.

 

Segundo Barbosa (2006), estudos realizados na área da Psicologia apontam a importância de um ambiente organizado para a adaptação e o reconhecimento do indivíduo no espaço em que vai se inserir. A questão da temporalização da vida das crianças também é um fator importante, principalmente se estruturar o tempo coletivo sem deixar de respeitar os tempos pessoais. É importante salientar que grande parte das instituições infantis continuam com o tempo rígido, mecânico e absoluto, desrespeitando muitas vezes os tempos subjetivos das crianças pequenas.

 

Portanto, partindo da ideia de que um ambiente de educação infantil resulta da interação de algumas dimensões (interacional, física,funcional e temporal), (Oliveira, 2012), o foco deste trabalho estará nas dimensões temporal e espacial, sem desconsiderar as outras dimensões integradas nessa relação.


CAPITULO III A IMPORTÂNCIA DE CONTAR HISTORIA NA EDUCAÇAO INFANTIL

3.1. Porque é importante contar histórias para crianças?

As crianças têm um mundo próprio, cheio de sonhos e fantasias e é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas histórias, pois têm como valor específico o desenvolvimento das ideias, e cada vez que elas são contadas acrescentam às crianças novos conhecimentos.

O primeiro contato que as crianças têm com as histórias é normalmente feito oralmente, através da voz da mãe, do pai ou dos avôs quando contam pequenas histórias, contos de fada, tendo sempre a criança ou os pais como personagem, para a autora, “ler histórias para crianças, é você poder sorrir, rir, gargalhar com as situações vividas pelos personagens [...]”. (ABRAMOVICH, 2008, p.17).

Ao contar uma história um universo é criado, fadas, dragões, animais, bandidos, mocinhas, enfim, as crianças precisam deste momento, pois é através disso que ela vai sentir importantes emoções, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem estar, o medo à alegria, a tranquilidade, e tantas outras, tudo isso quando as ouvem.

As histórias são fontes maravilhosas de experiências, tanto para os pais como para as crianças. São meios preciosos de ampliar horizontes da criança e aumentar seu conhecimento em relação ao mundo que a cerca, contudo, o principal elemento a ser alcançado ao contar uma história é o poder de “imaginação” que tira a criança do seu ambiente e lhe permite trabalhar a imaginação, viajar, conhecer lugares encantados. De acordo com Dohme (2000, p.16), “as histórias aumentam o horizonte das crianças, através da imaginação elas conhecem a china, pisam na lua, estimulando assim suas emoções e criatividade”.

Ao ouvir histórias a criança se identifica com os personagens, se incorpora à trama da história como parte dela, pois elas agem, pensa, sentem, sofrem, alegram-se como se elas próprias fossem os personagens. As histórias assim vividas provocam nas crianças novos sentimentos e aperfeiçoam outros. Além disso, as histórias estimulam o desenvolvimento de funções cognitivas importantes para o pensamento, tais como a comparação (entre as figuras e o texto lido ou narrado), raciocínio lógico, as relações espaciais e temporais.

As histórias levam o ouvinte a conhecer pessoas, lugares, valores e, principalmente, conduzi-lo a seu mundo interno e ensiná-lo a resolver conflitos e a se fortalecer. Enfim, histórias desempenham papéis importantes à vida da criança, aspectos tais como: caráter; raciocínio; imaginação; criatividade; senso crítico; disciplina, entre outros.

A história é muito importante para o desenvolvimento da criança. Então porque contá-las?

Para desenvolver a imaginação;

Para desenvolver o poder de observação;

Desenvolver a capacidade de dar sequência lógica aos fatos;

Esclarecem o pensamento;

Educam a atenção;

Estimulam o interesse pela leitura;

Ampliam o vocabulário;

Desenvolvem a linguagem oral e escrita.


3.2. A contribuição do contar história no desenvolvimento da criança.

No decorrer da história da Educação Infantil, podemos observar os diversos meios e instrumentos que fizeram parte e ainda farão no que diz respeito à construção do conhecimento da criança e seu importante papel dentro do contexto educacional e social.

As diferentes formas de ensinar, aprender, observar e constituir uma educação que visa o contínuo crescimento e absorção dos aspectos físicos, cognitivos, psicológicos e de ordens sociais e culturais. O papel importante do brincar, do fazer na prática, do ouvir, refletir e questionar.

Sendo assim, dentre várias fontes e habilidades lúdicas, para o conhecimento, a partir da Educação Infantil, primeiro contato da criança com o mundo social, fora de seu âmbito familiar, os educadores propõe elementos que estimulem esse processo rico e didático, envolvendo grandes formas de ensinar e contribuir para educação. Com isso, podemos a partir das diversas atividades, englobar a importância da contação de histórias, nesse contexto de descobrimento e imaginação do mundo.

O papel do professor de intervir e observar tais avanços permite a ele, trabalhar de maneira natural, supervisionando o interesse da criança e sua forma subjetiva de olhar o mundo ao seu redor. Uma história muda toda uma visão a partir da própria história lida, ouvida e interpretada, dando suporte a novas dimensões, construindo características e posturas de avaliar a criança e o trabalho docente.

A tomada de decisões do professor, gira em torno da observação e da supervisão de suas tarefas, utilizando materiais e criando assim, situações em que as crianças possam e devam participar. Uma história pode ser modificada, dramatizada, refeita, respeitando os personagens e a ideia que a história visa apresentar, porém, ao ouvir, sejam contos de fadas, aventuras, ficções, entre outros gêneros, a criança em seu mundo, reflete, cria, indaga e faz a partir do seu olhar e imaginação, a extração de seu senso crítico, mesmo esta, sendo uma criança ainda inserida na Educação Infantil, pois é nesta estrutura educacional, que preparamos o cidadão para as seguintes etapas perante a sociedade. (KISHIMOTO, 1993).

Os projetos didáticos, a organização dos currículos e as atividades relacionadas ao processo de construção do conhecimento, são reconhecidos desde cedo, através deste trabalho infantil, não podemos nos esquecer de atividades como cantar, manipular instrumentos, brincar, modelar, compor, observar e contar histórias, são experiências com objetivos culturais e sociais, que geram a integração e a participação ativa da criança.

Elaborar é projetar e constituir a integração de diversas propostas, seja ela na hora do escrever, lerem, representar um desenho, construir uma história, ou a sua história, são bases que possibilitam a compreensão e as relações coletivas e individuais.

Desde cedo à criança desenvolve modos de observar o mundo, através de habilidades e conceitos, sejam eles realizados em grupos ou individualmente, descobrindo os significados e as hipóteses do ambiente ou atividade proposta.

Sendo a partir desses paradigmas que um projeto didático pedagógico visa construir, oferecendo às crianças a oportunidade de explorar seus conhecimentos prévios e sua criatividade. Interagindo com o professor e com os colegas, a utilização de ferramentas que buscam esse desenvolvimento, colaboram também para formação do raciocínio abstrato e lógico, analisando e observando seus projetos e projeções.

Em certa pré-escola, as crianças ouviram histórias que tratavam de elementos da cultura medieval, da qual as bruxas eram partes importantes. Por causa do interesse que o tema “bruxas” despertou, ele foi escolhido para nortear um projeto didático para todas as turmas de crianças de 4 a 5 anos. Com base no que já haviam lido, as crianças elaboraram com a professora cartazes com bruxas, aranhas, fantasmas, bicho-papão e uma série de outros elementos dos quais tinham medo. O tema, na percepção das crianças, associou-se à noção de escuro e aos sentimentos – culturalmente transmitidos – que essa noção lhes despertava. (OLIVEIRA, p. 241).

Contudo, observamos que os mais variados temas e sugestões visam a curiosidade e relação afetiva da criança com o tema proposto, onde elas possam investigar e assim elaborar seus próprios projetos, a partir do projeto didático do professor, sendo este, possibilitado através de uma contação de história. O projeto didático possibilita não somente ao professor expor suas experiências, mas especialmente às crianças, promoverem suas experiências prévias na interação uma com as outras, sendo através deste trabalho o surgimento e construção social e histórica, tendo suas representações reelaboradas e pensadas, desde o passado, passando pelo presente e pelas mudanças continuas do processo de construção do conhecimento, onde a infância é parte primordial deste processo.


3.3 A arte de contar histórias.


Eis aí a difícil função do educador: priorizar o conhecimento sem projetar em seus alunos a sua individualidade como algo semelhante ou maior do que seu conhecimento”. (RIBEIRO, 2000, p.18).

As histórias que são apresentadas às crianças têm uma importância considerável no seu desenvolvimento, é uma forma lúdica que atua na imaginação, uma linguagem prazerosa e educativa, a ação de contar e ouvir historia possibilita o resgate da memória cultural e afetiva.

Valloto (...) relata que nos velhos tempos, o povo reunia-se ao redor do fogo para se esquentar alegrar, dialogar, narrar acontecimentos, as pessoas assim reunidas contavam e repetiam histórias, para guardar suas tradições e sua língua e assim transmitiam a história e o conhecimento acumulado pelas gerações, às crenças, os mitos, os costumes e os valores a serem resguardados pela comunidade.

Ressalta também a importância em lembrarmos que Cristo, nas pregações, usava a parábola, uma forma narrativa alegórica, uma história, para passar sua mensagem aos homens, suas palavras iam do concreto ao simbólico e todos as entendiam.

Contar história é um exercício que pode auxiliar o professor a promover debates referentes a importantes acontecimentos no cotidiano escolar, e também uma forma de ensinar temas éticos, de cidadania e de propiciar um mundo imaginário que encanta a criança, pois esta necessita ouvir histórias para desenvolver sua criatividade, imaginação, observação, a linguagem oral, assim como o prazer pela arte.

O ato de contar histórias promove um relacionamento cordial entre a pessoa que conta e os que ouvem, estabelecendo uma interação que aproxima os sujeitos envolvidos, o professor fornece aos seus alunos momentos de contato prazeroso com a literatura, tais momentos fazem com que os alunos desenvolvam a concentração, percepção e argumentação.

O educador com sua criatividade, inteligência e imaginação, deverá saber dar toques de entusiasmo às histórias, ouvir as vozes dos personagens da história a qual está narrando e ao mesmo tempo as vozes que seus ouvintes esperam ouvir naquele momento, penetrando assim no mundo da fantasia que esses alunos possuem.

O contador perspicaz nem pensa em passar por cima dos lábios dourados de uma história, pois ele sabe que, procedendo dessa maneira insana, ele perderá o privilégio de ter ouvidos dourados para entendê-la”. (Ribeiro, 2000, p.19)

Ao contar histórias, o educador deve deixá-los os mais próximos possíveis de si, permitir que vejam as ilustrações e utilizar uma linguagem de fácil entendimento sabendo utilizá-la de forma simples e clara. Todos esses aspectos são necessários para que o educador consiga narrar bem uma história mantendo assim um auditório atento e curioso.

A voz carrega mensagens muito mais amplas que a própria palavra, que ela pode até desmentir, dando-lhe novo significado. (…) A voz espreme, exprime e expressa o individuo.” (PEDRO BLOCH, CITADO POR RIBEIRO, 2000, p.107).

Existem várias formas de apresentar uma história, a mais tradicional e antiga continua sendo a simples narrativa, onde se usa somente a voz, essa ferramenta é muito preciosa e deve ser utilizada com muita habilidade, deve-se modificar a entonação da mesma e utilizar onomatopeias, mudar as expressões faciais, que juntamente com os gestos, são tão importantes quanto o tom e o som da voz, é importante viver a história, para se conseguir prender a atenção dos alunos, fazendo-os mergulhar no mundo da imaginação.

Contar histórias é a transmissão de eventos através de palavras, imagens, e sons muitas vezes pela improvisação ou embelezamento, não é apenas ler conteúdos de algum livro infantil, é também o professor soltar a imaginação e inventar coisas maravilhosas e ricas de conteúdo, que naquele momento pode ser muito importante para a criança se ela estiver passando por momentos tristes, “trabalhar com a literatura infantil representa, simultaneamente, contribuir para a formação integral da criança, [...]”. (COSTA, 2007, p.33).

A linguagem oral é a mais importante figura de comunicação entre as pessoas, portanto, as histórias têm um papel respeitável no desenvolvimento das crianças, assim diz Coelho (1995, p.50), “contar histórias é uma arte, por conseguinte requer certa tendência inata, uma predisposição, latente, aliás, em todo educador, em toda pessoa que se propõe a lidar com crianças [...]”.

As pessoas se reuniam, contavam e repetiam histórias, guardavam suas tradições e assim transmitiam as histórias e o conhecimento acumulado para suas gerações.


3.4 Formas e materiais para a contação de histórias.

Diversas formas e materiais estão disponíveis para o ato de contar histórias, pois conhecendo os expectadores, sabe-se de suas preferências e assim podem-se adaptar cada história a uma forma de contá-la. Os recursos mais utilizados são:

A simples narrativa;

A narrativa com o auxílio do livro;

O uso de gravuras, de flanelógrafo, de desenhos, de fantoches e dedoches;

Coelho acredita que, “cada recurso tem suas vantagens específicas e requer uma técnica especial.” (1995, p.31). É bom conhecer cada um deles, para que sejam apresentados de forma correta para as crianças. Seguem os principais:

Simples narrativa:

A mais antiga mais tradicional e autêntica expressão do contador de histórias, contudo, a mais fascinante de todas as formas. Não requer nenhum acessório e se processa por meio da voz do narrador, de sua postura, que por sua vez, com as mãos livres, concentram toda sua força na expressão corporal.

Lendas, fábulas e histórias recolhidas da tradição oral são mais bem transmitidas sob a forma de simples narrativa e ainda é a maneira que mais contribui para estimular a criatividade. A atenção do ouvinte se concentra somente no narrador.

A narrativa com o auxílio do livro

Certos textos requerem a apresentação do livro, pois a ilustração os complementa. Essa apresentação, além de incentivar o gosto pela leitura, mesmo no caso dos bebês e dos ainda não alfabetizados, contribui para resolver a sequencia lógica do pensamento infantil.

Deve-se mostrar o livro para as crianças com muita delicadeza, virando lentamente suas páginas. Narrar com o livro não é propriamente ler a história. O narrador já a conhece, já a estudou e vai contando com suas próprias palavras, sem vacilações ou consultas ao texto, podendo até mudar algum vocabulário que seja complicado para cada idade que se esteja trabalhando.

Uso de gravuras

As gravuras favorecem as crianças pequenas, pois permitem que elas observem os pequenos detalhes e contribuem para a organização do pensamento infantil. Isso lhes facilitará mais tarde a identificação da idéia central, fatos principais, fatos secundários, etc. A organização deve estar presente nesse momento.

Antes da narrativa, empilham-se as gravuras em ordem viradas para baixo. À medida que se vai contando, o narrador as coloca uma a uma em um suporte próprio, para que uma gravura seja substituída pela outra sem atropelos.

É importante que as gravuras sejam colocadas em papel resistente, como cartolina ou papel cartão, pois é inevitável que acabem na mão das crianças e isso é ótimo, afinal quer dizer que houve interesse por parte delas.

O uso de flanelógrafos:

O flanelógrafo consiste em uma prancha rija (compensada ou Eucatex) que tem um lado revestido de flanela ou feltro onde são aplicados elementos recortados em cartolina e com pequenos pedaços de lixa colados na parte posterior para garantir a aderência. Nesse recurso, os personagens são colocados, individualmente, ocupando seu lugar no quadro num movimento constante, diferente das gravuras, onde se reproduz a cena. Flanelógrafo é muito útil se a sequencia, movimento e relacionamentos são importantes na história.

O uso de desenhos

Esse recurso aguça a curiosidade dos ouvintes e é atraente no caso de histórias com poucos personagens e traços rápidos. Pode ser desenhada na lousa ou em papel de metro, de forma que todos vejam e possam participar, dando suas opiniões para o desfecho da história.

O uso de fantoches:

O fantoche é uma espécie de boneco animado por uma pessoa e manipulado internamente com o movimento das mãos, geralmente confeccionados em tecido ou feltro. Deve ter uma face bem expressiva, como olhos e boca grandes, ou nariz enorme para as bruxas, para conquistar a atenção das crianças. A contação de histórias com o uso de fantoches é um recurso que permite o desenvolvimento da socialização e da aprendizagem das crianças, na medida em que possibilita criar inúmeras situações que auxiliam a criança na construção de uma visão mais positiva de si mesma e consequentemente a uma visão mais positiva desta aprendizagem.

Durante a história, os personagens surgem com suas vozes engraçadas, movimentando-se conforme a necessidade do enredo.

O uso de dedoches:

Os dedoches são pequenos fantoches para serem usados nos dedos, dessa forma, o contador de histórias pode reunir vários personagens na mesma mão.

Podem ser confeccionados em tecido, EVA ou feltro, desde que estejam bem justinhos nos dedos, para não cair durante a história.

Contar histórias é uma arte e é bom saber fazer certo e direito. Não se deve narrar um livro sem antes lê-lo, sem conhecer o seu conteúdo, sem elaborar o roteiro e sem planejar recursos que favoreçam o sucesso da narrativa.

Ao escolher livros para crianças é preciso, antes de tudo, considerar a própria criança e suas necessidades, verificando: idade; interesse; sexo; série ou grau de escolaridade; nível geral de desenvolvimento”. (CASASSANTA, 1974, p. 25).

Enfim, temos que ficar atentos sobre essa “necessidade”, pois não adianta ler uma história para criança de dois anos se o livro for adequado para uma de seis anos. Isso causa um desinteresse total do ouvinte que e desanimador para quem conta.

Depois que achou o nome para seu boneco, Gepeto começou a trabalhar com muita disposição, e lhe fez logo os cabelos, depois a testa, depois os olhos. Feito os olhos, imaginem só a surpresa quando percebeu que os olhos se mexiam e o olhavam fixamente”. (CARLO COLLODI, apud RIBEIRO, 2000 p.47).

De acordo com Ribeiro (2000), os fantoches foram trazidos para a América pelos colonizadores, entretanto os nativos já confeccionavam bonecos articulados, supõe-se que o teatro de bonecos tenha entrado no Brasil por volta do século XVI, sob forma de presépio. O teatro de Fantoches teve suas origens na mais antiga época medieval, quando a devoção produzia santos para a veneração, existiam severas leis contrárias à representação de Cristo, da Virgem e dos santos por pessoas vivas, a necessidade de encenar os mistérios religiosos para a compreensão popular.

Os homens começaram a modelar bonecos no barro, mas sem movimentos e aos poucos foram aprimorando esses bonecos, conseguindo mais tarde a articulação da cabeça e membros para fazer representações com eles.

Na Grécia Antiga, os bonecos não só tinham uma importância cultural, mas religiosa também. A cultura grega do teatro de bonecos foi assimilada pelo Império Romano e se espalhou por toda a Europa.

O Teatro de Bonecos é uma forma antiga de expressão artística originada por volta de três mil anos atrás, desde então, os bonecos foram usados para animar, comunicar ideias, trabalhando o imaginário da criança.

A tradição do teatro de bonecos permanece até os dias de hoje no Nordeste, principalmente em Pernambuco. Somente em meados do século XX é que o teatro de bonecos se consolidou fortemente em nosso país. É possível também utilizar as mãos como fantoches, não necessitando de um material elaborado. Basta desenhá-lo na própria mão com caneta esferográfica, carvão, tintas especiais, etc. O uso de várias cores tornará os bonecos mais alegres. Pode-se acrescentar acessórios às figuras enfeitando as mãos e os dedinhos das crianças. Como exemplo, lã, chapéu, meias, penas, etc.

Outros tipos também são muito utilizados como mãos com luvas, costas das mãos, fantoches de copinhos, de meias, de garrafas e até mesmo de galhos de árvores e flores, é interessante utilizar materiais diversos, para caracterizar um personagem, à medida que a história é contada. O professor deve incentivar os alunos a explorar todos os movimentos dos dedos, mãos e braços, criando uma atmosfera do conhecimento do próprio corpo. Para isso, a utilização de músicas populares, folclóricas ou clássicas são fundamentais para que o trabalho com o fantoche seja desenvolvido, além do diálogo, que ocorre entre os participantes. Assim, de acordo com Freire (1996), “A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria, capacidade científica, domínio técnico a serviço da mudança...”.

Para Valloto (...) é muito importante o cultivo da imaginação através das atividades lúdicas e aqui apresenta alguns métodos que ressalta a arte de contar história na educação infantil como um ótimo recurso que permite o desenvolvimento da capacidade de comunicação, expressão e interação do educando, na amplitude de seu desenvolvimento.

A narração quando história tem um enredo simples e elementos familiares.

Histórias caracterizadas; teatro, fantasias ou um único boneco, o envolvimento com o teatro ajuda a enfatizar a mensagem da historia ou facilita a expressão de sentimentos e pensamentos interiores.

Dramatização; quando se quer ilustrar uma aplicação da mensagem ou se tem muitos personagens de igual importância.

Coros, cantos e histórias com eco; o professor combina com as crianças uma frase ou atitude a qual elas devem responder com uma palavra ou gestos específicos, ou faz com que as crianças criem efeitos sonoros de acordo com a história, sempre que ele indicar.

Teatralizando após contar rápida e resumidamente a história, deixa-se as crianças reproduzirem o conteúdo ouvido.

Histórias em sequencia; acontecem à medida que a história evolui, use uma série de figuras para ilustrá-la, os livros de colorir são boas fontes de material; cuidado com temporização, para que a figura não seja apresentada antes do fato, controle o grupo e não distraía a atenção deles dos pontos importantes.

Figuras misteriosas à medida que a história é contada vão desenhando uma série de linhas e formas sem sentido, até que as linhas se formem objetos reconhecidos que dão ênfase a partes da história. Simplifique o trabalho fazendo o traço a lápis, bem claro, antes se certifique que o quadro e o desenho são grandes o suficiente para ser vistos por todos. Falar e desenhar ao mesmo tempo são mais complicados do que parece; conheça bem a historia e pratique antes.

Métodos visuais são especialmente importantes se objetos desconhecidos são parte da história. Às vezes é melhor apresentar os objetos antes da história para evitar confusão durante a narrativa.

Pode-se também fazer entrevistas onde o educador entrevista um personagem convidado, o que requer duas pessoas ou você e um boneco.

É de suma importância que se leia a história algumas vezes para conhecer a ideia central, precisa-se conhecê-la, estudá-la e assim ter domínio do que se irá apresentar ao ler para os alunos deve-se ser com animação e entusiasmo, deve-se ler devagar e olhar sempre nos olhos das crianças.

3.5 Rotinas na Educação Infantil – os fazeres na creche

Muitas mães precisam trabalhar e deixam seus filhos num berçário ou numa creche. Lá, as crianças recebem os cuidados de higiene, alimentação, sono, brincadeiras, jogos, interatividade com outras crianças, com isso, fazem a entrada no mundo simbólico de uma forma interativa e sociável. Ou seja, conhecem outras pessoas, atividades variadas e uma rotina peculiar a creche: de brincadeiras, cantigas, jogos, alimentação, sono, banho.

As crianças precisam também ter contato com os livros, materiais impressos, revistas. Pode haver um espaço compartilhado por todos, como uma biblioteca, e outro espaço reservado aos nas salas dos berçários. Ambos os espaços são importantes: o coletivo( a biblioteca) e o mais intimo(cantinho de livros). Também pode haver um espaço no refeitório ou no pátio de recreação. Quanto mais contato com os livros, maior será a familiaridade da criança. Os livros devem estar em todos os espaços da educação infantil, com especial atenção a biblioteca, que é o espaço sagrado do livro e da leitura. Pode ter ainda um espaço para os cuidadores, educadores das crianças, com livros para adultos e livros para pequenos leitores. De todo modo, importa que o espaço para os livros de crianças pequenas e de bebês seja adequado as necessidades delas, sem trazer risco de machuca-las. Que os livros sejam acondicionados em cestas ou caixas sem ponta, sem objetos cortantes e que não estejam em caixas em locais inapropriados, de onde possam cair na cabeça das crianças.

Já com os pais das crianças o que funciona bem é a realização de uma leitura de um livro anterior ou posteriormente a uma reunião. Pode ser um livro em que haja a prevalência da fantasia, sem intenções de trabalhar um ponto especifico, como o medo, o desmame e a insegurança. O importante é o contato com a leitura e a imaginação presente na historia e no poema.

Se a escola dirige a leitura a uma questão a ser analisada, rompe com o encanto da leitura. Será como um livro a ser lido com fins didáticos. A escola pode escolher um livro de historia para ler para/ com os pais e estabelecer um bate – papo sobre o que leram. Não direcionar a conversa, mas deixar fluir a associação de ideias e os comentários. Isso faz com que os pais se divirtam também com a leitura e que se interessem a fazer o mesmo com os filhos.

É importante integrar os pais no trabalho desenvolvido pela creche ou pela escola. Então, pode-se criar uma hora de leitura de histórias por semana ou por mês, para um familiar ir à escola e ler uma historia ou poema. Se não souber ler, pode contar uma história, contar um caso. Quem não sabe um caso interessante? Nossa vida é cheia de “causos”. Antes de as histórias serem histórias, algo pode ter motivado sua criação. Os responsáveis pelas crianças também podem ser convidados para ouvir, contarem ou lerem histórias. A escuta é uma das coisas mais importantes na vida de uma criança, que será transmitida por nós adultos.

A rotina é algo de extrema necessidade na vida do bebê: dormir e acordar; comer e beber; brincar, se divertir, passear, encontrar outras pessoas; tomar banho de sol; manusear livros; ouvir cantigas e histórias; ter contato com os diferentes turnos do dia: manhã, tarde e noite. A criança se acostuma as atividades organizadas para ela e passa a contar com isso.

Crianças com dois anos podem se acostumar com um horário em que haverá leitura de histórias na creche. Para isso, organize um tapete, com algumas almofadas, crie um ambiente acolhedor. É essencial que elas se sintam num colo gostoso. Se vocês, adultos, não têm colo suficiente para todas as crianças, criem um clima de acolhimento: uma voz suave e tranquila; os olhos atentos aos movimentos; um ambiente que seja aconchegante, claro, arejado, gostoso de ficar.

Ponha uma musica introdutória, um toque de uma campainha ou um sininho, enfim, um ruído que marque o começo da hora da história. Será como o inicio de um espetáculo no teatro: luzes se apagam; uma campainha toca; outra campainha; a cortina; o aviso pra os celulares serem desligados e o silêncio. Com os bebês, uma atividade que seja rotineira vai ser respeitada e curtida por eles, e eles farão o silêncio necessário para a voz começar a ler ou contar a história. Qualquer sinal da hora da história vai sensibiliza-los para esse momento tão mágico e acolhedor, o que podemos acompanhar pelos olhinhos de admiração e contentamento. No decorrer da atividade, tenha a atenção ao desconforto, ao choro. Muitas vezes, interrompemos uma leitura porque uma criança começa a chorar ou quando algum objeto cai. Quem trabalha com os pequenos deve se acostumar com os imprevistos.

Espaços de espera para pais na creche, como uma sala, um hall, podem ser aproveitados para o oferecimento de livros, jornais e revistas aos adultos. Tanto melhor se forem publicações dedicadas ao universo dos filhos pequenos: revistas sobre a infância, livros de crianças e livro sobre crianças para adultos. Em cestas, em caixas, sobre as mesas, esses materiais poderão atrair a atenção daquela pessoa que espera e não esta habituada a folhear uma revista. Da próxima vez, ela pode se interessar por outras publicações e assim sucessivamente. Com isso, a creche cria um espaço acolhedor e convidativo à leitura.

Silenciosamente, sem campanhas nem panfletos, a instituição mostra aos pais a importância da leitura e contação de história na vida da criança. Como algo simples, que não precisa de palco, fantasias ou shows. Algo que faça parte da rotina das crianças. Está ali, sobre mesas, em cestas, em estantes, e pode ser folheado e lido.

Se a escola valoriza o livro e a leitura para os educadores, para as crianças, para os funcionários, mostra às famílias, na prática, o que se faz em prol da leitura.

A rotina, segundo Mantagute (2008), pode ser definida como uma categoria pedagógica utilizada nas instituições educativas para auxiliar o trabalho do educador, sobretudo, para garantir um atendimento de qualidade para as crianças. A autora complementa que a rotina também pode ser considerada uma forma de assegurar a tranquilidade do ambiente, uma vez que a repetição das ações cotidianas sinaliza às crianças cada situação do dia. Ou seja, a repetição de determinadas práticas dá estabilidade e segurança aos sujeitos. Saber que depois de determinada tarefa ocorrerá outra, diminui a ansiedade das pessoas, sejam elas grandes ou pequenas. (MANTAGUTE, 2008). Nas instituições de Educação Infantil, a rotina torna-se um fator de segurança, pois orienta as ações das crianças e dos professores favorecendo a previsão de situações que possam vir acontecer. Assim, entendemos as atividades de rotina como aquelas que devem ser realizadas diariamente. Isso não significa que devemos transformar o dia-a-dia escolar em uma planilha com atividades rígidas e inflexíveis, mas sim adequar as atividades diárias ao ritmo da instituição, das crianças e do professor. Portanto, a rotina pode e deve sofrer modificações e inovações quantas vezes forem necessárias durante o ano letivo. Barbosa afirma que: A rotina é compreendida como uma categoria pedagógica da Educação Infantil que opera como uma estrutura básica organizadora da vida cotidiana diária em certo tipo de espaço social, creches ou pré-escola. Devem fazer parte da rotina todas as atividades recorrentes ou reiterativas na vida cotidiana coletiva, mas nem por isso precisam ser repetitivas. (BARBOSA, 2006, p. 201). As ações que ocorrem na Educação Infantil, segundo Massena (2011), devem estar entrelaçadas, articulando o educar e o cuidar. Por isso, a rotina é a “mola mestra” dessas instituições de ensino.

Dessa forma, podemos dizer que a rotina é uma prática com diferentes ações que ocorrem em nosso cotidiano. Ela possibilita que a criança oriente-se na relação espaço/tempo, reconhecendo seu andamento, dando sugestões e propondo mudanças. Levando em consideração as necessidades da criança, é fundamental que dentre os elementos que compõem a rotina façam parte os horários de alimentação, higiene, escovação de dentes, 6 calendário, chamada, roda de música, oração, momento da novidade, ajudante do dia, hora do conto, repouso, atividades lúdicas e significativas, jogos diversificados como faz-de-conta, exploração de diversos materiais, ou seja, atividades que estimulem o desenvolvimento da criança. (MASSENA, 2011). As diferentes atividades que compõem a rotina na Educação Infantil possuem suas finalidades e formas de organização. A seguir abordaremos algumas delas: Hora da Roda: é um dos momentos mais importantes, pois ao receber as crianças o professor proporciona segurança após a chegada, conversando com as crianças sobre as atividades que serão realizadas naquele dia, estimulando-as a contarem as suas vivências, trabalhando o calendário, a chamada e escolhendo o ajudante do dia. Hora das Atividades: é o momento em que é proposto para toda sala o conteúdo preparado pelo professor. Essas atividades podem ser realizadas de forma coletiva ou individual, podendo ser desenvolvidas em diferentes locais, dentro e fora da instituição de ensino. Hora do Lanche: momento essencial para desenvolvimento saudável da criança, além de fazer parte do processo educativo. Durante as refeições, a criança tem a oportunidade de relacionar-se com o outro, adquirir muitos conhecimentos e ao mesmo tempo desenvolver sua autonomia. Comer não é apenas uma necessidade do organismo, mas também uma necessidade psicológica e social. Por isso, a hora do lanche deve ser proporcionada com prazer e alegria, buscando partilhar e trocar informações entre colegas, aprender a preparar e cuidar do alimento com independência, bem como, aprender a ter boas maneiras durante as refeições. Hora da Higiene: Essa é a hora utilizada pelo professor para trabalhar os hábitos de higiene que preservam a boa saúde. Por isso, o professor deve realizá-la diariamente, visando ressaltar a necessidade de escovar os dentes após as refeições, lavar as mãos após utilizar o banheiro e antes das refeições, etc.

Hora da Brincadeira: A brincadeira é para a criança a mais valiosa oportunidade de aprender a conviver com pessoas muito diferentes entre si, de compartilhar ideias, regras, objetos e brinquedos. Na Educação Infantil, as brincadeiras devem fazer parte da rotina diária dessas instituições e devem ser utilizadas em diferentes momentos do dia. Trabalhar com o movimento e expressão corporal significa proporcionar à criança o conhecimento do próprio corpo, experimentando as possibilidades que ele oferece. Para isso, o professor deve proporcionar atividades, fora e dentro da sala de aula, onde a criança possa se movimentar. Hora das Atividades Extraclasse: O professor deve estar atento à vida da comunidade e da cidade onde atua, buscando oportunidades interessantes, que se relacionem com os projetos desenvolvidos na turma, ou que possam ser o início de novos projetos. Isto certamente enriquecerá e ampliará o projeto político-pedagógico da instituição, que não precisa ser confinado à área da escola. Assim, o professor pode programar passeios ao zoológico, cinema, teatro, hortas, circo, no bairro, na biblioteca, etc. Podemos perceber que existem inúmeras atividades que podem ser incluídas na rotina da Educação Infantil. Cada atividade e tempo deverão ser adequados à realidade das crianças e ao trabalho desenvolvido pelo professor. Desse modo, uma rotina que contemple o entrelaçamento das ações fundamentais que configuram a Educação Infantil necessita de uma consciência crítica do educador em compreender que a rotina é responsável pela organização e cumprimento das metas pré-estabelecidas no dia-a-dia escolar visando, principalmente, o desenvolvimento integral da criança. As instituições de ensino que não possuem uma rotina adequada dificultam o trabalho do professor, bem como, a adaptação e autonomia das crianças.

Para que o professor possa alcançar os seus objetivos e desenvolver as atividades de forma organizada proporcionado segurança e autonomia às crianças é preciso que a rotina da instituição de ensino considere as necessidades do professor, das crianças e da própria escola.


IV. METODOLOGIA

Através deste trabalho concluímos que a ação de contar e ouvir histórias possibilita o resgate da memória cultural e afetiva, pois contar histórias é a mais antiga das artes e a mesma abre espaço para alegria e o prazer de ler, compreender, interpretar a si próprio e à realidade do mundo. Nesta arte o principal é gostar de contar história, ter domínio sobre seu conteúdo, ter autonomia para improvisar se necessária e agindo com amor o narrador conseguirá despertar emoções, atuando no imaginário infantil, e isso se faz necessário porque sem imaginação o mundo se tornaria vazio e triste.

A Contação de História deve ser introduzida na vida das crianças desde muito cedo, tanto no âmbito familiar quanto no escolar, pois ela propicia um aprendizado global, atuando na área afetiva, psíquica e social, pois é nesta fase que a criança desenvolve maneiras de observar o mundo.

Na sala de aula ela auxiliará de forma significativa no processo de aprendizagem, interagindo com o professor e com os colegas, as crianças têm a oportunidade de explorar seus conhecimentos prévios e sua criatividade, o que colabora também para formação do raciocínio abstrato e lógico, pois elas estarão observando e analisando.

Segundo Lev Vygotsky (1896-1934) Henri Wallon (1879-1962), o conhecimento da vivência e da troca de experiências se dá através do conteúdo absorvido na vida do indivíduo e do meio em que se vive, onde cada um irá aprender e evoluir com o outro, de acordo com suas diferentes formas de pensar, agir, sentir e ser ativo na sociedade.

Portanto é preciso que os professores se reconheçam como sujeitos mediadores de cultura dentro do processo educativo e que levem em conta a importância do aprendizado das artes no desenvolvimento e formação das crianças como indivíduos produtores e reprodutores de cultura. Só assim poderão procurar e reconhecer todos os meios que têm em mãos para criar, à sua maneira, situações de aprendizagem que deem condições às crianças de construírem conhecimento sobre seu mundo real.

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