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PROCESSO DE ADAPTAÇÃO NAS CRECHES E PRÉ-ESCOLAS

Daiane Jéssica da Silva

Luzia Oliveira de Araújo

Suzana Nagadori Mizote

 

 

RESUMO:

Começar a frequentar uma creche, mudar de turma ou de educador(a) responsável dentro dela, são situações que impõem um processo de adaptação muitas vezes difícil tanto para a criança como para a família e para o(a) próprio(a) educador(a). As reações da criança pequena a indivíduos e situações novas são muito influenciadas pela relação que a mãe, o pai e outros familiares estabelecem com essa novidade. Na medida em que estes conhecem o ambiente e a rotina da creche, têm maior oportunidade de adquirir confiança e estabelecer um vínculo afetivo com as pessoas que cuidam da criança. A partir de várias experiências em creche, trabalhando com a questão da adaptação junto aos educadores e às famílias, temos verificado que essas situações delicadas e complexas exigem preparo, conhecimento e experiência por parte dos profissionais envolvidos. Por outro lado, acreditamos que para prover um serviço educacional de qualidade, adequado à faixa etária que atende, a creche tem de incluir em sua proposta pedagógica um trabalho frente aos processos de adaptação, que pode ser mais ou menos sofisticado, conforme os recursos de que dispõe.

 

PALAVRAS-CHAVE: Adaptação. Criança. Família. Creche. Interação.

 

INTRODUÇÃO:

O ingresso da criança na escola envolve mudanças e desenvolvimento, sendo fundamental que nós, adultos, estejamos atentos às novas necessidades dos pequenos. No período de adaptação dá-se a oportunidade para a criança ter experiências sociais diferentes da experiência familiar, fazendo contato com outras crianças em um ambiente estimulante, seguro e acolhedor.

É nesse espaço, vivenciando experiências prazerosas com a brincadeira, o contato com seu próprio corpo, com as coisas de seu ambiente, e a interação com outras crianças e adultos, que nossos pequenos poderão desenvolver capacidades relativas à autoestima, ao raciocínio, ao pensamento e à linguagem.

No decorrer do artigo será explicado o quão delicado e difícil é o processo de adaptação para a criança que inicia a vida escolar, bem como, qual a importância do acolhimento diante desse processo e como esta acolhida deve se realizar em prol de uma adaptação mais rápida e mais tranquila, levando-se em consideração ainda, o sentimento de insegurança e de ansiedade dos pais, ao estarem deixando seus filhos nas mãos de pessoas estranhas.

 

DESENVOLVIMENTO:

O ingresso da criança na Educação Infantil, ocasionado geralmente, segundo Ladwig, Goi e Souza (2013), pela necessidade da mãe ingressar no mercado de trabalho, impõe consequentemente, que haja a separação entre mãe e filho. De maneira que os cuidados dedicados a este, serão delegados a outros, fazendo assim com que a criança tenha que passar pelo processo de adaptação ao ser inserida na instituição de Educação Infantil, onde se deparará com pessoas desconhecidas com as quais terá que com conviver a partir de então. Nesse sentido, para dar continuidade a nossa discussão sobre o processo de adaptação da criança a Educação Infantil, faz-se necessário entender o que significa a palavra adaptação. Segundo Seabra e Sousa (2010),o termo “adaptação”, significa uma acomodação ou um ajustamento, subtendendo-se uma submissão a uma determinada situação, seja ela favorável ou não. Dando assim, uma impressão de conformismo que permite a vários autores sugerir a substituição do termo “adaptação” por “inserção e acolhimento”, que trará de fato conotação do que deve acontecer com a criança neste processo.

Nessa perspectiva, percebe-se assim que adaptação não é o termo mais adequado a se usar para nos referirmos ao ingresso da criança na instituição escolar. Porém, como na prática o termo que mais se encontra ainda na maioria das instituições é adaptação, utilizaremos este no decorrer de nosso estudo. Pode-se dizer que a criança pode perceber esse processo de diferentes maneiras. Enquanto algumas podem perceber a escola como um lugar divertido e seguro, estabelecendo rapidamente, vínculos afetivos com a professora e as outras crianças, outras podem enxergar a separação da família como um momento de muita angústia e sofrimento, fazendo da adaptação, como afirmam Ladwing, Goi e Souza (2013), um processo bastante doloroso para criança, de ansiedade para os pais e desafiante para os professores.

Durante o processo de adaptação, a reação das crianças com relação a separação dos pais pode acontecer de diferentes formas para expressar o que sentem: chorar, ou ficar muito caladas; adoecer; recusar-se a brincar, a comer, a dormir. De acordo com RCNEI (1998):

Algumas crianças podem apresentar comportamentos diferentes

daqueles que normalmente revelam em seu ambiente familiar, como

alterações no apetite; retorno às fases anteriores do desenvolvimento

(voltar a urinar ou evacuar na roupa, por exemplo). Podem, também,

adoecer; isolar-se dos demais e criar dependências de um brinquedo,

da chupeta ou de um paninho. (RCNEI, 1998, p.80).

 

Contudo, o choro geralmente é a reação mais marcante, frequente e comum ao longo do processo de adaptação. De acordo com os referenciais curriculares nacionais para a Educação Infantil (1998), há quem pense que se a criança insistir em chorar, não se deve pegar no colo, para evitar a manha, porém, o caminho a seguir é o inverso, acalentar a criança, acalmar sua insatisfação e mostrá-la algo agradável, para que ela se distraia. O choro da criança, durante o processo de inserção, parece ser o fator que mais provoca ansiedade tanto nos pais quanto nos professores. Mas parece haver, também, uma crença de que o choro é inevitável e que a criança acabará se acostumando, vencida pelo esgotamento físico e emocional, parando de chorar. Alguns acreditam que, se derem muita atenção e as pegarem no colo, as crianças se tornarão manhosas, deixando-as chorar. Essa experiência deve ser evitada. Deve ser dada uma atenção especial às crianças, nesses momentos de choro, pegando no colo ou sugerindo-lhes atividades interessantes. (RCNEI, 1998, p. 82).

Porém, apesar da maioria das crianças reagirem à separação dos pais no período de adaptação de forma estressante, há casos em que as crianças conseguem vivenciar esse momento com tranquilidade e diversão, pois, podem ter sido preparadas pela família para esse momento, ou tem irmão que já frequenta a escola e por isso aguardava com ansiedade viver essa experiência, ou ainda, é uma criança que tem facilidade em se adaptar a novos ambientes e consegue lidar melhor com a separação. É como afirma Reda e Ujiie (2009, p.10092), “o tipo de adaptação adequado varia muito de criança para criança, segundo suas características afetivo-emocionais e bastante em relação à idade da criança de ingresso na instituição de educacional”.

Outro ponto importante a ser levantada nesta discussão sobre o processo de adaptação das crianças a instituição de educação infantil, é o de que a ansiedade no momento de separação dos pais, não é um problema que acontece apenas com as crianças que estão indo a escola pela primeira vez. Esta é uma dificuldade que pode aparecer também para as crianças que já frequentam a escola e já é considerada como adaptada. E, sobre isso Goldschmied e Jackson (2006) esclarecem que a criança:

De repente, ela expressa seu sentimento de perda por meio de gritos desesperados. Mais uma vez, a analogia com a questão da perda é esclarecedora. Os adultos que perderam alguém que amavam, muitas vezes relatam surtos inesperados de aflição e desamparo, que ocorrem muito tempo depois do momento em que acharam que haviam resolvido sua perda. As educadoras precisam perceber que essa atitude da criança não significa que ela a está rejeitando e o cuidado que ela oferece. A criança pode ter se divertido com seu brincar até o momento em que gritou e, uma vez reconfortada, voltar a se divertir. (GOLDSCHMIED e JACKSON, 2006, p. 66).

 

O que de fato se percebe sobre o processo de adaptação é que este pode apresentar variantes de tempos e reações ocasionadas pelas situações recorrentes às particularidades de cada criança, que se sensibilizam perante a delicadeza do momento de seu ingresso na instituição escolar, sendo visto pela criança como uma grande transformação na sua rotina e convivência familiar. Ao ingressar na Educação Infantil as crianças e suas famílias precisam de ajuda para enfrentar esse momento, tornando-o o menos difícil possível e para isso contará com os profissionais e a instituição escolar que devem planejar e se preparar bem para a situação. Nesse sentido, o apoio pedagógico e psicológico escolar deve cumprir o seu papel de acompanhar os pais que estão com seus filhos tendo acesso a Educação Infantil e se sentem inseguros quanto às carências e necessidades dos seus filhos.

Desse modo, o planejamento e a organização do processo de adaptação a partir do ingresso das crianças e suas famílias na educação infantil, de modo que estes possam ser recebidos bem e adequadamente, é de suma importância, pois, a maneira como o acolhimento se dará no momento em que a criança é inserida na instituição é o que fará toda a diferença durante o seu processo de adaptação.

Planejamento é algo necessário e que deve estar baseado nos Parâmetros Curriculares da Educação Infantil. “Traçar um roteiro de como acontecerá à chegada dos alunos nos primeiros dias, pensar em tempos, espaços, materiais e atribuições de cada profissional da escola são aspectos fundamentais para garantir a qualidade da adaptação”. (LADWING, GOI e SOUZA, 2013, p.9). Lembram ainda, da opção da escola fazer reunião com os pais dos alunos novatos, sendo importante para que lhes sejam explicado sobre o funcionamento da escola, o PPP, a rotina da instituição e os espaços da mesma, podendo também ser esclarecidas as dúvidas. A maneira como as crianças são acolhidas na educação infantil pode ser algo marcante em toda a sua vida, tornando-se importante por esse motivo, que o acolhimento aconteça de forma agradável. Por isso, para Ladwing, Goi e Souza (2013),

A educação infantil pode representar na vida de uma criança uma experiência rica que trará sempre lembranças agradáveis, como também pode ser geradora de muitos problemas, Por esta razão, a necessidade de acolher bem a criança no ingresso à escola. Ela chega á escola com medos, angústias, inseguranças, pois é um ambiente novo. Enfim, todo um processo novo de adaptação que terá

que ter um ambiente acolhedor e prazeroso para que, aos poucos, vá

superando esses sentimentos. Também para a escola, professores e pais é um período de adaptação. Nesse sentido, os vínculos afetivos entre família e escola precisam ser construídos para que a criança sinta que a família tem uma relação de confiança em relação aos seus novos cuidadores. (LADWING, GOI e SOUZA, 2013, p.12-13).

A afetividade no acolhimento é algo que contribui muito para o processo de adaptação, mas para isso é preciso se aproximar da criança, sentir sua emoção e interagir com ela, facilitando a convivência a partir da qual, consequentemente, a criança acaba se adaptando. Sobre esse aspecto, Reda e Ujiie (2009) afirmam:

Criar um clima propício de aproximação não é tão simples. É preciso um olhar cuidadoso e atento para perceber o que aproxima as crianças. Esse tipo de ação contribui para a consolidação de vínculos afetivos e de vivência. Nesses casos, o que está em jogo é o exercício da convivência, são as pequenas ações que fazem prevalecer à comunhão de uns com os outros, a socialização, enfim a

efetivação do processo de adaptação de sucesso. (REDA e UJIIE, 2009, p.10087).

 

De acordo com o RCNEI (1998), a organização das atividades e da rotina também deve fazer parte do planejamento da acolhida dos alunos, objetivando agradar as crianças, diante de seus desejos e necessidades.

O professor pode planejar a melhor forma de organizar o ambiente nestes primeiros dias, levando em consideração os gostos e preferências das crianças, repensando a rotina em função de sua chegada e oferecendo-lhes atividades atrativas. Ambientes organizados com material de pintura, desenho e modelagem, brinquedos de casinha, baldes, pás, areia e água etc., são boas estratégias. (RCNEI, 1998, p.82).

Para suavizar a tensão do processo de adaptação, Ortiz (2000) diz ser preciso, permitir e respeitar que a criança mantenha seu jeito de ser, seus rituais e sua rotina individualizada e que aos poucos vá se ajustando ao grupo, proporcionando assim, suavidade à adaptação sem rupturas bruscas e maior controle do adulto sobre o processo. Entende-se dessa maneira, a necessidade de que a crianças sejam bem acolhidas, pois assim terão grandes chances de adaptar-se melhor e mais facilmente.

No entanto, ao falar-se do acolhimento nos primeiros dias de aula das crianças, vale ressaltar que esse acolhimento não deve ser algo que aconteça apenas quando a criança ingressa na escola. A acolhida é algo que deve fazer parte do dia-a-dia da instituição de educação infantil. É o que explica Gisele Ortiz (2000):

O acolhimento traz em si a dimensão do cotidiano, acolhimento todo dia na entrada, acolhimento após uma temporada sem vir à escola, acolhimento quando algum imprevisto acontece e a criança sai mais tarde, quando as outras já saíram, acolhimento após um período de doença, acolhimento por que é bom ser bem recebida e sentir-se importante para alguém. (ORTIZ, 2000, p.4).

O acolhimento nada mais é que fazer a criança se sentir bem, segura, cuidada, querida e protegida, diante de toda e qualquer situação dentro do ambiente escolar em que se encontra e, principalmente, ser acolhida quando chega à escola pela primeira vez e começa seu processo de adaptação.

 

CONCLUSÃO:

Entendemos que o planejamento seja parte fundamental, que prepare as atividades, os materiais que serão utilizados, além da preparação do professor e de toda a instituição, a forma mais adequada e essencial para receber as crianças e fazer com que elas se sintam bem e o mais a vontade possível, no seu novo ambiente de convívio, e que não deve ser algo feito apenas no início do ano letivo ou quando uma nova criança chega à escola, coloca-se como algo fundamental no trabalho realizado na educação infantil, pois, uma boa acolhida, deve acontecer diariamente, permitindo que a criança possa se sentir bem e de fato acolhida, a todo o momento e em toda e qualquer situação que lhe ocorra.

 

REFERENCIAS:

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil (RCNEI). Brasília: MEC/SEF, 1998. V.: 1.

 

ORTIZ, Gisele. Adaptação e Acolhimento: Um cuidado inerente ao projeto educativo da instituição e um indicador de qualidade do serviço prestado pela instituição. 2000. Disponível em: < http://revistaescola.abril.com.br/gestaoescolar/acolhida-cisele-ortiz.pdf > Acesso em: 05 de abr. 2016.

 

REDA, Maysaa Ghassan; UJIIE, Nájela Tavares. A Educação Infantil e o Processo de Adaptação: as concepções de educadoras da infância. IX Congresso Nacional de Educação – EDUCERE. III Encontro Sul Brasileiro de Psicopedagogia. 2009. Disponível em: <http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/2496_1090.pdf >Acesso em: 05 de abr. 2016.

 

LADWING, Vânia Kunzler; GOI, Rosalina Elizete Pires, SOUZA, Jânia Loines Gonçalves de. Adaptação e acolhimento na Educação Infantil, 2013. Disponível em:<http://unicruz.edu.br/mercosul/pagina/anais/2013/EDUCACAO%20E%20DESENVOLVIMENTO% 20HUMANO/ARTIGOS/ADAPTACAO%20E%20ACOLHIMENTO%20NA%20EDUCACAO%20 INFANTIL.PDF> Acesso em: 27 de mar. 2006

 

GOLDSCHIMED, Elinor; JACKSON, Sonia. Educação de 0 a 3 anos: o atendimento em creche; tradução: Marlon Xavier. – 2.ed. – Porto Alegre: Grupo A, 2006.