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LUDICIDADE COMO RECURSOS DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Luciana Moro

Solange Ferreira dos Santos

 

RESUMO

Este artigo pretende analisar a ludicidade, numa perspectiva pedagógica sob o questionamento de como os jogos, brinquedos e brincadeiras podem potencializar o desenvolvimento psíquico mais complexo da criança. O lúdico tem a possibilidade de integrar todos os meios pedagógicos para construir a relação entre brincar e aprender, promovendo: a imaginação e a fantasia, onde a criança observa, deseja, experimenta, aprende e constrói sentidos sobre significados, objetos, ações e o mundo em que vive, tomando decisões e expressando sentimentos e valores. Um olhar sobre a promoção da ludicidade como uma estratégia viável e que se adapta as exigências da cultura e da educação infantil na construção do conhecimento e desenvolvimento humano. Brincando a criança cria relações sociais, afetivas e cognitivas, e ela aprende.

Palavras chaves: Criança, Jogos, Brincadeiras, Desenvolvimento.

 

1. INTRODUÇÃO

Brincar na infância é criar ações livres e prazerosas, expressar diversas situações como a imaginação, a criatividade, expressar sentimentos e valores, conhecer a si mesma, as outras pessoas e o mundo em que vive expressando suas individualidades, explorando a natureza e objetos.

O brincar espontâneo abre a possibilidade de observar e escutar as crianças nas suas linguagens expressivas mais autênticas. Esse brincar incentiva a criatividade e constitui um dos meios essenciais de estimular o desenvolvimento infantil e as diversas aprendizagens. (FRIEDMANN, 2012 p.47).

Quando nos voltamos para a educação infantil, deparamos com um distanciamento entre o jogo e as brincadeiras na prática pedagógica com olhar para a promoção de aprendizagens, desenvolvimento humano e a educação institucional em si, assim busca-se a partir de autores e pesquisadores nas áreas do desenvolvimento humano e da ludicidade, quais as implicações da ludicidade no processo de desenvolvimento e aprendizagem do individuo desde a educação infantil. Na importância de inserir o lúdico na prática pedagógica, para que seja possível difundir e concretizar nas salas de aula como ferramenta de trabalho, sendo ela a propulsora no processo de ensino e aprendizagem infantil, acreditando que o jogo, brinquedo e as brincadeiras fazem parte da infância e são fundamentais ao desenvolvimento da criança.

O tema foi subdividido em duas partes. Na primeira intitulada: “O lúdico como agente do desenvolvimento infantil”, trata dos estímulos e modificações no potencial cognitivo e integral da criança através dos jogos e brincadeiras, afirmando a importância do brincar com o desenvolvimento infantil nas dimensões de estruturação cognitiva, afetiva e motora. A segunda parte: ‘A ludicidade como recurso pedagógico” traz à relevância do reconhecimento da ludicidade como pilar no ambiente pedagógico, nas relações professor-aluno e no processo de ensino e aprendizagem.

Resgatar a ludicidade e inserir nas instituições de ensino é considerar amplas possibilidades de avanços e espaço de aprendizagens para as crianças, “a atividade lúdica mobiliza o desejo inconsciente e transforma em desejo de saber, em curiosidade investigativa, em criatividade; elementos empregados na construção do conhecimento”, Sommerhalder & Alves (2011, p.28). Numa perspectiva educativa com ludicidade nos permite pensar num processo de ensino e aprendizagem com vínculos entre o pensar, o agir e sentir.

 

2. O LÚDICO COMO AGENTE DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

A teoria das inteligências múltiplas, Howard Gardner (1995) destaca que cada pessoa abriga diferentes potenciais biopsicológicos, múltiplas inteligências e competências, e estas são desenvolvidas segundo linhas de um projeto sistemático que respeita as faixas etárias e suas aberturas respectivas, sendo que os jogos (brincadeiras) constituem ferramentas adequadas para que estes estímulos transformem o potencial humano. Neste contexto não mais se pensa em brinquedo único, mas em múltiplos brinquedos educativos com finalidade linguística, lógico-matemático, visuo espaciais, sonoros, sinestésicos, naturalistas e também inter e intrapessoais, estruturalmente lúdico marcado por princípios modificadores, onde brincar é tão importante quanto aprender.

Dentro da psicologia do desenvolvimento, sócio interacionista – representada por Piaget, Vygotsky e seus respectivos seguidores, corrente teórica que defende a existência de uma relação recíproca entre o individuo e meio: ao mesmo tempo em que a criança modifica o meio ela é modificada por ele. A teoria piagetiana dá conta do modo de como as crianças apreendem o mundo, elas se apropriam dos conhecimentos e interagem com eles e com diferentes objetos e indivíduos. Esse desenvolvimento cognitivo ocorre em estágios, em cada um dos quais são desenvolvidas novas formas de pensar e de responder ao ambiente. Especificamente na área do brincar, Piaget analisa de forma minuciosa o processo de desenvolvimento do individuo, detalhando e explicando a função do brincar no desenvolvimento intelectual da criança e sua evolução nos diferentes estágios.

O enfoque de Vygotsky e de seus discípulos Elkonin e Leontiev, parte de uma análise social para se compreender como os indivíduos adquirem conhecimento. Graças às experiências sociais, as crianças têm acesso à cultura, aos valores e conhecimentos historicamente criados pelo homem, acrescentando sobre tudo ao contexto social que determina a atividade lúdica e a questão das interações sociais. Para Vygotsky a atividade lúdica é decisiva no desenvolvimento da criança porque as liberta das situações difíceis. No brincar as coisas e as ações não são o que aparentam ser, e em situações imaginarias, as crianças começam a agir independentemente do que veem e a ser orientadas pelo significado da situação. As brincadeiras das crianças pré-escolares permitem descobrir que às ações tem sua origem muito mais em ideias que em coisas. Quando isso acontece, a estrutura psicológica da criança com a realidade altera-se radicalmente, onde essa nova estrutura representa que o significado domina o objeto – significado/ação. Assim como em outras situações em que através da atividade lúdica também liberta as crianças de ação que devem ser completadas não pela ação em si mesma, mas pelo significado que ela carrega. Quando a criança faz de conta, o significado domina a ação – significado/ação.

Esses processos dão às crianças uma nova possibilidade de expressar seus desejos. A atividade lúdica é o nível mais alto do desenvolvimento infantil, podendo dizer que é por elas que as crianças se movem dando sentido as coisas e o meio em que vivem. Acreditando ser a atividade lúdica crucial para o desenvolvimento cognitivo, pois o processo de criar situações imaginárias leva ao desenvolvimento do pensamento abstrato, onde acontecem novos relacionamentos entre significados, objeto e ação que são criados durante o brincar.

 

2.1 A importância da brincadeira no processo de estruturação psicomotora da criança

A atividade lúdica esta diretamente ligada ao desenvolvimento do sistema nervoso, sensorial e motor em sua interligação nos esquemas corporal, lateralidade, interação espacial, orientação temporal, coordenação visual motora, desenvolvimento da linguagem e sensorial. Considerando o desenvolvimento psicomotor um aspecto fundamental no processo de ensino e aprendizagem, à prática pedagógica do lúdico tem nos jogos e brincadeiras a possibilidade de estimular além das possibilidades cognitivas e linguísticas da criança, as afetivas, motoras e sociais, sendo uma ampla possibilidade de promover a formação integral do sujeito.

Os termos denominados na atividade lúdica, jogos, brinquedos e brincadeiras apresentam diferenças conceituais e de estímulos psicomotores entre si. No jogo pressupõe características como existência de regras, tem sua realização em um tempo e espaço definido, colocando a imaginação, prazer e alegria, deve ser escolhido livre e espontaneamente pela criança, “o jogo só pode ser jogo quando selecionado livre e espontaneamente pela criança. Caso contrário é trabalho ou ensino”. (KISKIMOTO, 1998, p.6).

Já o brinquedo é entendido como um objeto apresentado com variadas texturas, formas, cores e tamanhos, suporte de uma brincadeira que por sua vez pode ser definida como uma atividade espontânea da criança sozinha ou em grupo em que constrói uma ponte entre a realidade e a fantasia como as vivências de papéis, solução de problemas por meio da imitação ou ainda ampliando possibilidades linguísticas, psicomotores, afetivos, sociais e cognitivos.

Objetos, sons, movimentos, espaços, cores, figuras, pessoas, tudo pode virar brinquedo através de um processo de interação entra as crianças, podemos considerá-lo como um alimento que nutre a atividade lúdica, assim quanto maior a variedade de materiais para subsidiar a criatividade e a vontade de inventar, melhor será.

Para Leontiev, Elkonin, Vygotsky, brincar não é uma atividade instintiva da criança, ela possui carácter objetivo e é a forma que a criança encontra de participar do mundo social, dentro das suas possibilidades cognitivas, físicas e emocionais que possuem para aquele momento do seu desenvolvimento. A fantasia e a imaginação presentes no momento da brincadeira são utilizadas como ponte pelas crianças a vivenciar o mundo, fazendo de conta que são adultos, sendo movidas pela realidade objetiva e não pela fantasia. A criança pode então extrapolar sua real condição, realizando ações impossíveis no mundo adulto para seu tamanho e idade.

A interação lúdica associa às significações preexistentes e aos estímulos inscritos no brinquedo uma produção de sentido e de ação que enanda da criança. É o momento em que a criança se apropria dos conteúdos disponíveis, tornando-os seus através de uma construção específica, quer ela seja ou não original. O que fazem as crianças das imagens e dos estímulos que lhes são fornecidos? Brougère apud Santos (2011, p. 172).

 

A criança aprende brincando, é no jogo e em suas regras que ela aprende a desejar, identificando seus desejos a um eu fictício, imaginário desenvolvendo suas potencialidades.

 

2.2. LUDICIDADE COMO RECURSO PEDAGÓGICO

O lúdico é uma ciência que precisa ser aprofundada na busca do conhecimento para auxiliar nas estratégias de desenvolvimento desde a infância, remete-se a ações de brincar que se manifestam por toda a evolução humana, modificando de gerações para gerações, refletindo as transformações sociais.

Ser lúdico é dar uma nova dimensão a existência humana, baseados em novos valores, crenças, valorizando a criatividade, afetividade, autoconhecimento, cooperação, imaginação. É preciso buscar novas abordagens e mudanças de paradigmas, tendo como a conexão que envolve o desenvolvimento humano em todas suas fases, em adotar estratégias que nos possibilite não apenas oferecer e oportunizar momentos lúdicos nos jogos e brincadeiras, mas extrair deles o valor que as pessoas atribuem a eles.

Um processo de ensino e aprendizagem embebido do espirito lúdico será muito mais significativo, portanto mais rico e fértil tanto para quem ensina quanto para quem aprende. Valorizando o jogo, a escola pode fomentar o enriquecimento das experiências da criança e ajudá-la a encontrar uma relação operante satisfatória com a cultura Winnicott apud Sommerhalder & Alves (2011 pg. 55).

 

Partindo da concepção sócio construtivista-interacionista do brincar, ou seja, pensando como meio de garantir a construção de conhecimento e a interação entre indivíduos, aponta-se para a possibilidade de trazer esta atividade para o ambiente escolar como uma forma de pensar a educação sob uma perspectiva criativa, autônoma e consciente, não somente se abre uma porta para o mundo social e para as culturas infantis, como uma rica possibilidade de incentivar o desenvolvimento, inserindo o caráter de prazer e a ludicidade que elas têm na vida e no desenvolvimento integral da criança.

 

2.3. O professor e a ludicidade em sala de aula

Aprender brincando, estabelecer significado ao lúdico às relações entre brincar e aprender, fazendo com que a criança se aproprie de maneira poderosa dos conhecimentos, enriquecendo suas personalidades, permitindo uma avaliação gradativa do conhecimento, diminuindo a distância entre a criança e o brincar, deixando de pensar exclusivamente no desenvolvimento cognitivo, mas em todas as dimensões: socioafetivo, cognitivo e motor, pois é brincando que o ser humano se torna apto a viver na sociedade e no mundo. Para Piaget:

O ensino deveria ser baseado em proposição de problemas que levasse o aluno da pré-escola a aprender a aprender... as crianças não aprendem a pensar, as crianças pensam. Quando pensam (...) desenvolvem mecanismos mais avançados do pensamento. Piaget apud Santos (2001. p.133).

 

Brincar exige concentração, desenvolve iniciativa, imaginação e o interesse, um completo processo educativo, influencia também o intelectual, o emocional e o corpo da criança. Entretanto a prática pedagógica não consegue desenvolver situações de aprendizagem lúdicas sem que o professor tenha oportunidade de vivenciar o brinquedo como um processo de desenvolvimento e aprendizagem. Ainda se vive hoje um reflexo de nossa cultura, em que brincar e trabalhar são consideradas atividades opostas. Na concepção que trabalhar é uma atividade séria e importante, e o brinquedo é lazer. Ainda aprendemos que na escola há tempo para trabalhar e tempo para brincar, transformando o brincar em jogo dirigido, não considerando o papel sério que o brincar desempenha na estruturação do pensamento, das emoções e do corpo da criança.

Podendo o educador manter uma postura de pesquisador que implica um envolvimento afetivo, portanto não sendo possível uma postura totalmente objetiva, de observação e escuta, mas de respeito às ressignificações que as crianças dão as regras das brincadeiras o que é fundamental para conhecer a realidade de cada grupo, a diversidade e a complexidade de comportamentos, atitudes e influências multiculturais, deixando sempre a atividade fluir entre as crianças.

Compreendendo a atividade lúdica como uma alavanca para o processo de desenvolvimento e aprendizagem infantil, prima por estabelecer vínculo entre a prática pedagógica desenvolvida e o conhecimento teórico, focalizados aspectos básicos em perspectivas antropológicas, psicanalíticas e psicopedagógicos, as vertentes da psicomotricidade e suas aplicações no âmbito educacional, que favoreçam o prazer do movimento, sensibilização e a comunicação corroborando com as relações professor – aluno, onde se experimenta, brinca, vivencia e reflete criticamente em meio as relações que os alunos estão inseridos.

alguns educadores não estão muitos seguros do modo como a criança aprende brincando e como o professor pode ensinar através das interações espontâneas, embora compreendam e apreciem as potencialidades do brinquedo. Bonamigo & Kude apud Santos (2001, p.81).

 

Neste sentido é importante oportunizar experiências lúdicas e reflexões sobre inserção de jogos junto à comprovação da sua importância, da forma como a criança brinca e ainda sobre os objetos que poderiam contribuir na atividade construtiva das brincadeiras. Assim enriquecer e criar repertórios lúdicos que atendam as singularidades de cada criança ou grupo e que promovam a inclusão, interação e desenvolvimento humano.

 

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Jogos, brinquedo e brincadeiras nos remetem as crianças, porém reconhecer como ferramenta de formação humana ainda perpassa por longos caminhos, numa trajetória onde o lúdico seja visto como agente de transformação humana, considerado com uma atividade importante e séria.

Esta pesquisa surge a partir de investigações com diversos autores, cabe mencionar as abordagens teóricas que serviram de aporte apontando para papel fundamental da ludicidade no desenvolvimento integral da criança, nos aspectos físicos, intelectual, afetivo e motor. Isso porque ao jogar ou brincar a criança recebe estímulos, assimilando-os para transformar o que foi percebido ao seu redor progressivamente conforme suas potencialidades em aprendizagens efetivas e duradouras.

Portanto observar as crianças nas suas linguagens expressivas e oferecer estímulos necessários para trabalhar todos os sentidos sensório-motor, está corroborando para transformar objetos e ações em novos relacionamentos e significados dentro do processo de ensino e aprendizagem.

O professor precisa ter clareza na aplicação dos jogos, brincadeiras e brinquedos nas diferentes situações educacionais e de que se trata de um processo dinâmico sujeito a mudanças nos métodos, readaptações, avaliações aprendizagens que atendam os educandos de forma integral.

Contudo, não existe teoria ou prática pronta e acabada para serem reproduzidas em sala de aula, sendo necessária à flexibilização e disponibilização de recursos para se utilizar o lúdico de forma prazerosa e significativa, da necessidade de se investir em mais pesquisas, treinamentos e experimentações e na qualificação profissional, atendendo as necessidades da criança na formação infantil e devolvendo a ela o seu tempo de brincar inerente e essencial ao seu desenvolvimento integral, sua personalidade e respeitando-as nas suas individualidades.

 

4. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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GARDNER, Howard. trad. Maria Adriana Veríssimo Veronese - Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, disponível em http://pt.slideshare.net/gabrielsoares08/howard-gardner-teoria-das-inteligncias-mltiplas. Consultado em 29/08/2016.

 

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