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FOLCLORE COMO RECURSO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Telma Andrade Mendonça de Moura
Márcia Ferraz da Rosa

 

  1. RESUMO

O folclore é de valor integral e representa a cultura brasileira é a identidade de um povo. Merece ser valorizado sobre todos os aspectos, intelectuais, artísticos, educacionais, técnicos e recreativos. O folclore brasileiro é considerado um dos mais ricos do mundo, por causa de sua diversidade, junção de etnias e culturas. Ele nos é ensinado desde crianças, como um conjunto de tradições e manifestações culturais. Possui lendas e mitos, festas populares, danças e cantigas de roda e desenvolvemos esse tema com muita ludicidade com interações e brincadeiras na educação infantil.


2. INTRODUÇÃO

 

O folclore é um gênero de cultura normalmente de origem popular. Folclore também designa a ciência etnográfica que estuda o conjunto de produções coletivas surgidas de um povo letrado e que são transmitidas oralmente ou por exemplificação. O folclore faz parte da ida de todos nós. Está onde estamos. Surge, adapta-se, modifica-se, adquirindo novas funções em um processo dinâmico.

Desta maneira não se pode deixar que as manifestações folclóricas, que fazem parte da cultura, morram. Cabe aos educadores resgatá-las e transmití-las às crianças usando-as de forma prazerosa como instrumento de aprendizagem. O conhecimento do trabalho pedagógico baseado nas manifestações do folclore considera sua contribuição de forma significativa, pois os educadores podem enriquecer a sua práxis diária.

 

3.JUSTIFICATIVA


O folclore pode ser considerado, além de uma forma de divertimento, um instrumento enriquecedor das práticas pedagógico na construção da aprendizagem. Com ações lúdicas que exigem movimentos e concentração, desenvolvendo a coordenação motora e cognitiva. As manifestações folclóricas estão intimamente ligadas à infância, momento da vida que, se bem aproveitado, podem contribuir para que as crianças sejam adultos físicos e emocionalmente equilibrados, capazes de viver de bem com a vida, para não se esquecer de quem são. O conhecimento do trabalho pedagógico baseado nas manifestações do folclore considera sua contribuição de forma significativa, pois os educadores precisam resgatar as manifestações folclóricas na forma prazerosa de aprendizagem. Assim, objetiva-se evidenciar aspectos do folclore relacionados a linguagem, ao lúdico, a música, entre outros, enfocando o folclore principalmente na educação infantil

 

4. REVISÃO CONCEITUAL

 

 

O folclore é uma das formas de representar e expressar a identidade de uma comunidade é através da interação com esse tipo de conhecimento que ampliamos e enriquecemos a cada um, individualmente.

A sociedade globalizada, com seus meios de comunicação de massa, diminui as diferenças de peculiaridade entre as sociedades. Por isso, vê-se a necessidade de estudar o folclore não somente para preservá-lo, mas também divulgar aquilo que é a forma de pensar, peculiaridades da vida, valores e a visão do mundo, haja vista que isso faz parte do inconsciente coletivo e individual humano.

Dessa maneira, a criança que tem contato com a cultura de seu país, o enxerga com outro olhar, ela percebe que a história de sua nação não é a oficial, contada pelos livros, mas a social, feita de indivíduos anônimos cidadão que desenvolveram valores universais, como a tolerância, o respeito, as diferenças, a solidariedade, a democracia, a alegria, a generosidade e a igualdade (RIBEIRO, 1980, p. 32).

 

Mas como saber se um fato é folclórico? Segundo RIBEIRO (1980, p. 35): “o fato folclórico tem uma série de características próprias”.

Segundo RIBEIRO (1980), a primeira característica é o anonimato, isto é, não tem um autor, foi feito por alguém, pela primeira vez, mas o nome desse alguém, desse autor, se perdeu através dos tempos, despersonalizando-se assim a autoria da estória de Dona Baratinha que se considerou muito rica ao encontrar um vintém e por isso saiu à procura de quem com ela desejasse casar-se. Parece, pelos seus elementos, ser essencialmente brasileira, pois o noivo é o nosso conhecido João Ratão, que no dia do casório, por gula, morre num caldeirão que continha nossa feijoada. Mas, já havia sido registrada em uma coleção de estórias na Índia, há quase dois mil anos. Quem foi o seu autor? Ninguém sabe. E quem inventou os brinquedos de roda com suas cantigas, as danças, as adivinhas, as trovas, os ditados? Quem disse pela primeira vez: quem quer vai quem não quer manda?

A segunda característica é a aceitação coletiva. É a aceitação do fato pelo povo e, é essa aceitação que despersonaliza o autor. O povo aceitando o fato toma-o para si, considerando-o como seu, e o modifica e o transforma dando origem a inúmeras variantes. Assim, esta estória é contada de várias maneiras. Uma cantiga pode ter diversos trechos diferentes na melodia, os acontecimentos são alterados e o próprio povo diz quem conta um conto acrescenta um ponto.

A mesma coisa acontece com as danças. Elas não têm regulamento, não são codificadas, tanto pode o conjunto de dançadores dar três voltas completas, como apenas uma, a indumentária tanto pode ser rica e colorida, como simples e ingênua.

A terceira característica é a transmissão oral, isto é, a que se faz de boca em boca, pois os antigos não dispunham de outros meios de comunicação. Não havia imprensa, portanto, não havia livros e jornais. Todos os acontecimentos eram transmitidos oralmente. A forma de transmissão oral, ainda persiste em meios primitivos e no interior de nosso país. Nos povoados distantes, nos vilarejos esquecidos, nos bairros longínquos, só se aprende, através da oralidade e da observação. No que se refere à técnica, produção de aparelhos rudimentares, de tendas, de trançados, se aprende também por imitação, dispensando, muitas vezes, o ensinamento oral.

Na transmissão oral vive toda a história daquele grupo, daquele povo, e, em qualquer modalidade particular (lendas, contos com preceitos morais e normas de procedimentos, narrativas imaginárias sobre a natureza e o sobrenatural, cantos, provérbios, parlendas, adivinhas, brinquedos, poesias, etc.), facilitando a apreensão e a conservação. A aquisição de conhecimento dá a cada individuo a possibilidade de difundi-lo e propagá-lo, cabendo, evidentemente, aos interessados, a responsabilidade maior nas cantorias, nas danças e nas técnicas que se fixam pela prática freqüente em comunicação e pelo exemplo e imitação espontânea.

A quarta característica é a tradicional idade, não no sentido de um tradicional acabado, perimido, coisa passada, sem vida, mas de uma força de coesão interna que define o modelo do conglomerado, da região, do povo e lhe dá uma unidade. Sem poder se valer de outros expedientes, como professores, escolas, imprensa, as pessoas do povo se valem da tradição, veiculada pela transmissão oral, a fim de resolver suas situações, buscando na lição vinda do passado o que precisam saber no presente, já que suas possibilidades as endereçam mais à sabedoria constituída que a inventiva.

A tradição, que é o modo vivo e atual pelo qual se transmitem os acontecimentos, não ensinados na escola, rege todo o saber popular, seja o desenvolvimento de um jogo, de uma dança, de uma técnica, seja uma atitude ante qualquer agente que exija definição de comportamento. Essa força, que age no sentido de garantir a permanência dos valores de uma cultura, não serve seu destino nem cumpre sua missão sem lutas, sem empecilhos. Elementos de outras culturas a submetem a pressão, e isto provêm de não ser absolutamente fechado o campo da cultura, antes é um campo aberto onde se agitam as influências do próprio meio e as externas. Somente a inércia poderia retardar essas modificações, mas a cultura é viva, é dinâmica, e sofre, evidentemente, impactos em todos os setores.

A quinta característica é a funcionalidade, tudo quanto o povo faz tem uma razão, um destino, uma função. O povo nada realiza sem motivo, sem determinante estritamente ligada a um comportamento, a uma norma psico-religioso-social-social, cujas origens talvez se perdesse nos tempos.

A dança, por exemplo, não é apenas uma repetição de gestos com feição harmoniosa. Inicialmente teria tido um destino, seja decorrente de rito religioso, seja de cerimônia do grupo e, assim, deve ser vista como parte integrante de um todo, da cultura do povo, e uma expressão a ser analisada como integrante de um contexto histórico.

Por que o povo canta? Segundo RIBEIRO (1980) canta para rezar, para adormecer uma criança, para trabalhar, para festejar as colheitas e os acontecimentos, canta para ajudar a morrer e para enterrar seus mortos. Mas, não dá concertos, recitais, audições, como os eruditos. As suas festas têm épocas marcadas, com seus cantos e danças próprias. Assim, o natal é comemorado com grupos de pastorinhos, bailes pastoris e Folias de Reis. O Bumba-meu-boi aparece em datas distintas, variando conforme a região, Congadas e Moçambique louvam a Senhora do Rosário e São Benedito, e ainda, as danças de São Gonçalo e de Santa Cruz, com destino certo.

De todas as características, a mais importante é a funcionalidade. O fato folclórico sempre é precedido por alguma necessidade, mesmo que seja lúdica. Quando esta necessidade cessa, este fato folclórico específico passa a ser visto como memória folclórica.

O lúdico é transmitido de geração em geração, e os mais populares nas décadas de 50 a 80, realizados tanto pelos meninos como pelas meninas era a mímica, rimas, cobras-cegas, esconde-esconde, cara ou coroa e outros.

As brincadeiras que compõem o repertório infantil e que variam conforme a cultura regional apresenta-se como oportunidades privilegiadas para desenvolver habilidades no plano motor, como empinar pipas, jogar bolinhas de gude, pular amarelinhas, brincadeiras de roda, jogo da forca e outros. É também através das brincadeiras que a criança compartilha com o outro o sentimento de adversário e o de parceria. Esta relação afeta as emoções e põe a prova às habilidades e aptidões testando os limites da criança, WAJSKOP (1999, p. 32), afirma que "do ponto de vista do desenvolvimento da criança, a brincadeira traz vantagens sociais, cognitivas e afetiva".

Brincando e jogando que a criança terá oportunidade de desenvolver capacidades como atenção, afetividade, concentração e outras habilidades. É como afirma PIAGET (1998, p. 69), “o jogo constitui-se em expressão e condição para o desenvolvimento infantil, já que as crianças quando jogam assimilam e podem transformar a realidade”.

Brincar é fonte de prazer e descoberta para criança, uma realidade cotidiana em suas vidas. E, para que brinquem, é suficiente que não sejam impedidas de exercitar a imaginação simbólica instrumento que lhes fornece os meios de assimilar o real aos seus desejos e aos seus interesses.

A brincadeira é um meio privilegiado de inserção na realidade: expressa a forma com a criança reflete, ordena, organiza, destrói e reconstrói o mundo a sua maneira e são também uns espaços onde pode expressar, de modo simbólico, suas fantasias, desejos, medos, sentimentos e os conhecimentos construídos a partir da experiência vivida (NEGRINI, 2001, p. 23).

 

As atividades lúdicas são indispensáveis para apreensão dos conhecimentos artísticos e estéticos, pois possibilitam o desenvolvimento da percepção, da imaginação, da fantasia e dos sentimentos. A prática artística é vivenciada pela criança como atividade lúdica onde o fazer se identifica com o brincar, o imaginar com a experiência da linguagem ou da representação.

Com relação ao jogo, PIAGET (1998) acredita que ele é essencial na vida da criança.  De início tem-se o jogo de exercício que é aquele em que a criança repete uma determinada situação por puro prazer, por ter apreciado seus efeitos. Em torno dos 2-3  e 5-6 anos nota-se a ocorrência dos jogos simbólicos, que satisfazem à necessidade da criança de não somente relembrar mentalmente o acontecido, mas de executar a sua representação.

Em período posterior surgem os jogos de regras, que são transmitidos socialmente de criança para criança e por conseqüência vão aumentando de importância de acordo com o progresso de seu desenvolvimento social.

Dentre as modalidades de jogos e brincadeiras encontram-se, neste período, os jogos de exploração e transformação dos objetos e materiais, os de movimentos e os jogos de ficção ou faz-de-conta.

Nos jogos simbólicos, as crianças podem assumir diferentes papéis, introduzir objetos ausentes (simular que está dando comidinha), pretender a presença de bichos (Olha o lobo!), pessoas e objetos sem algo que os indique. Elas podem, ainda, dar vida a objetos inanimados (o cachorro de pelúcia late) e simular fenômenos naturais (chuva, sol, tempestade etc.), atividades cotidianas e de lazer (passeios), tarefas domésticas, profissões dos adultos e outros.

O poder do jogo, de criar situações imaginárias permite à criança ir além do real, o que colabora para o seu desenvolvimento. No jogo a criança não é mais do que é na realidade, permitindo-lhe o aproveitamento de todo o seu potencial. Nele a criança toma iniciativa, planeja, executa, avalia. Enfim, ela aprende a tomar decisões, a introjetar o seu contexto social na temática do faz de conta. Ela aprende e se desenvolve. O poder simbólico do jogo do faz-de-conta abre um espaço para a apreensão de significados de seu contexto e oferece alternativas para novas conquistas no seu mundo imaginário (KISHIMOTO, 1993, p. 43).

 

Nos jogos de exploração e transformação dos objetos e materiais percebe-se a mesma essência da descoberta e criação de significados. Nesta atividade, tida por alguns teóricos como jogo de construção ou de fabricação, a criança vai explorar, utilizando todos os seus sentidos, materiais industrializados ou não, inteiros ou quebrados, novos ou velhos (das mais diversas ordens, tais como tintas, lápis, papéis, linhas, sucatas, embalagens, cacos de telha, cerâmicas etc.), elementos da natureza (paus, galhos, pedras, conchas) e produtos da cultura. Esta exploração é acompanhada pela verbalização: a criança "narra" o que está fazendo. Construir, destruir, transformar objetos leva a criança a conhecer as propriedades dos materiais, constituindo conceitos de peso, textura e tamanho (altura, largura e espessura). Uma vez constituídos estes conceitos, a ação da criança no meio será modificada.

Os jogos de movimentos são resultantes da transformação do papel do movimento no desenvolvimento infantil. O movimento tem uma função muito importante e predominante nos primeiros anos de vida. Esta predominância vai cedendo lugar à linguagem verbal, que passa a regular a ação da criança, mas o movimento não desaparece e se mantém por muito tempo ainda como função primordial no processo de construção do conhecimento.

Dentre os jogos de movimento que predominam na ação coletiva da criança, também existem as brincadeiras de roda, de bola, lenço-atrás, amarelinha, caracol, coelho-na-toca, pega-pega, competições entre dois times (queimada, barra-manteiga, bandeira e outros).

Segundo KISHIMOTO (1993), os jogos de ficção ou faz-de-conta são atividades que a criança pode exercer sozinha, ou em grupos de três ou mais crianças. Ele pode organizar-se tanto em função de brinquedos, objetos presentes no cotidiano (guarda-chuva, bolsa), objetos não-estruturados (pedaços de madeira, sabugo, retalhos), como em função de expressões e ações corporais. A organização e a duração do faz-de-conta podem variar de acordo com a quantidade de objetos e a sua possível partilha entre os parceiros, com os espaços e sua divisão, com a presença ou não de adultos.

Embora se fale muito da espontaneidade da criança, a complexidade do brincar de faz-de-conta depende, na verdade, das experiências pelas quais ela passa que enriquecem seu repertório e nutre seu imaginário (do qual depende, em última análise, a atividade de brincar de faz-de-conta).

Esta diversidade de formas e funções que o brincar assume na infância em primeiro lugar, mostra a sua complexidade e, em segundo, sugere que compreender sua importância na infância deve passar necessariamente pela compreensão da importância que a atividade lúdica tem para o ser humano em qualquer idade e para o desenvolvimento cultural de um povo.

 

5. METODOLOGIA

 

 

Optou-se pela pesquisa bibliográfica que é desenvolvida com base em fontes bibliográficas, jornais e impressos diversos. Seu delineamento considera as seguintes fases: determinação dos objetivos, elaboração do plano de trabalho, identificação das fontes, leitura do material e redação do trabalho.

 

6. CONSIDERAÇÕES FINAL

 

A tradição, que é o modo vivo e atual pelo qual se transmite os acontecimentos, não ensinados na escola e com ele explicamos as características sociais que são encontradas na escola, rege todo o saber popular, seja o desenvolvimento de um jogo, de uma dança, de uma técnica, seja uma atitude ante qualquer agente que exija definição de comportamento, visto que a instituição faz parte e reflete o encontrado na sociedade.

O caminho para o ensino lúdico folclórico já tem um percurso longo percorrido, pois reconhece que é necessário um aprofundamento dos conteúdos a serem estudados e que é muito amplo a totalidade de suas respectivas totalidades, explorando uma diversidade de novas experiências no fazer pedagógico. Sendo assim a criança que aprende a cultura folclóricas, como lendas, músicas entre outras formas está conhecendo a cultura de um povo.

 

REFERÊNCIA


KISHIMOTO, Tisuko. Jogos tradicionais infantis. São Paulo: Vozes, 1993.

 

NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento infantil. Porto Alegre: Prodil, 2001.

 

PIAGET, J. A psicologia da criança. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

 

RIBEIRO, Maria de Lourdes Borges. Folclore. Rio de Janeiro: Biblioteca Educação e Cultura, 1980.

 

WAJSKOP, Gisela. Brincar na pré-escola. São Paulo: Cortez, 1999.