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CIÊNCIAS HUMANAS NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

Wilma Angélica da Silva

Resumo


O ensino de ciências humanas no ciclo de alfabetização tem uma visão de pôr em prática estudos de histórias e geografias orientados pela busca de sentido nas relações que se articulam entre tempos, pessoas e espaços, ou seja, trata sobre os aspectos relativos ao ser humano como ser social. A compreensão da fisicalidade do espaço onde vivemos, como uma extensão do mundo. E o reconhecimento dos fatos delimitados no tempo cronológico em um certo ambiente. Onde o ser são os elementos construtivo da história. Como as pessoas vivem, e se organizam no mundo, compartilhando saberes, e suas experiências envolve mas que espaço e tempo. Assim, pela leitura de mundo a história e a geografia é solicitada no ciclo de alfabetização. Onde o espaço é vivido onde as experiências são possíveis sendo e fazendo história a qual pertencemos e nos ocupamos.


Palavras-chave: Ensino. História. Alfabetização. Tempo. Espaço. Mundo.


Introdução

A perspectiva, é desejável na História que o ensino seja norteado pela constituição das identidades do sujeito e do pensar historicamente construindo sua relação com a natureza e as culturas. Espera-se também que a ação pedagógica tenha como finalidade auxiliar na constituição da identidade individual e social da criança, no entendimento da sua historicidade, auxiliando-a a compreender-se como ser histórico que atua no mundo em determinado tempo e espaço. As ciências humanas no ciclo de alfabetização veio como mais uma forma de contribuir com o processo de letramento dos alunos.

Até pouco tempo propor o ensino de ciências humanas para crianças que se quer sabem ler, ou que ainda não dominam a leitura parecia esquisito, mas os tempos mudaram, as sociedades tornaram mais complexas, as tecnologias avançaram, as crianças passaram a perceber mais cedo o mundo ao seu redor e foram se tornando mais atentas às imagens, aos acontecimentos atuais, sociais, culturais e educativos, aos modos de vida. Compreendem narrativas diversas e novos modos de narrar.

As crianças hoje já não brincam mais por horas com carrinhos e bonecas, mas passam tempos manuseando celulares, computadores, tabletes, acessando redes sociais, estando conectados em tempo real com o mundo e os acontecimentos, percorrendo virtualmente lugares antes inimagináveis, viajar no tempo. Tempo esse que se apresenta diferente, talvez apresenta mais veloz. Tempo esse em que os ritmos da vida são outros em que tudo acontece de forma muito acelerada e natural.

Parecem acontecer grandes progressos mais pouca ordem, as famílias e as escolas assumem as mais diversas configurações e se entrelaçam de diversas formas, fazendo com que a identificação de um núcleo familiar ou escolar seja cada vez mais difícil. Onde deveria não ser. Diante um equipamento tecnológico hoje de fácil acesso com apenas um clique podemos passar de um lado a outro do Planeta e adentrar nos mais diversos espaços físicos e afetivos. Onde o volume de informações adentra as mentes e os sentidos de crianças, jovens, e adultos, fazendo com que a educação do olhar e do ter, se converta em uma necessidade inquestionável, porém onde se há um controle educacional e preparo as vantagens de ir além do que lhe é proporcionado é maior quando a estímulos são positivos e preestabelecidos do que é correto e benéfico para determinadas práticas sociais e culturais, aí a sociedade só tem a crescer e a ganhar.

Para isso a vivência de práticas escolares precisa estar pautadas na reflexão, na problematização, na interpretação e na localização de acontecimentos, na construção de conhecimentos de narrativas espacial e temporariamente, já nos três primeiros anos do ciclo de alfabetização para que as crianças possa ter uma compreensão de mundo social e construção de um modo de ser, sentir e agir com princípios éticos. Respeitando o outro e a si próprio com valores, é uma proposta inovadora, mas é a partir da formação de novas gerações que nascem pessoas críticas, criativas, solidarias, afetivas, sobretudo comprometidas com a mudança social. E essas pessoas só podem conseguir tal proposta te serem formadas em meio as práticas educativas que busquem a formação do ser na sua inteireza.

Estudando, analisando o que ensinar e como ensinar sobre o ensino das Ciências humanas é possível que algumas dificuldades estejam nos conteúdos e nas metodologias de ensino a serem adotadas com crianças que ainda não leem ou que leem com dificuldades. Talvez dando prioridade para o ensino e leitura alfabética, ou propondo as mesmas atividades mais de maneiras diferenciadas. Os demais percorrem livremente uma leitura clara e de fácil interpretação quando ocorre troca de conhecimentos e mediações feitas pelo professor.

Ainda mais que o concelho nacional de educação (CNE) ao definir as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para Educação Básica, reafirma o texto da resolução nº 4, com um acréscimo que são integrantes da base comum nacional do currículo da educação básica o conhecimento do mundo físico, natural, da realidade social e política, especialmente do Brasil, incluindo-se o estudo da História e das Culturas Afro-Brasileira e Indígena. Esse dispositivo reforça a permanência de oferecer as crianças o direito que elas tem de aprender sobre o mundo social, político e cultural. Além disso oferece ao professor a clareza no entendimento daquilo que se espera ver contemplado nos currículos escolares, onde a política curricular deve dialogar junto a gestão da escola como devem ser desenvolvidas as práticas pedagógicas. Quais os conteúdos que estariam compondo as experiências de ensino e de aprendizagem dos conhecimentos das ciências humanas e que contemplaria melhor as crianças de acordo com a fase de escolaridade que se encontra e os conhecimentos a serem ensinados originaria das culturas locais, regionais, nacionais e globais, entre as quais o diálogo seja permanente possibilitando as crianças as condições para ler e interpretar o mundo. E ainda dando uma maior flexibilidade para os conhecimentos que adentram a sala de aula, em razão do conhecimento da relevância de sua proximidade com o cotidiano das crianças e com a cultura escolar. Onde sairemos de uma listagem estável de conteúdo, predefinida para ser ministrada em um período fixo de tempo, para conviver com a possibilidade de incluir conhecimentos a serem ensinados em decorrência das necessidades de aprendizagem dos alunos. E por fim avaliando o aluno em sala de aula visando seu aprendizado, sua participação e evolução no processo educacional.

Assim podemos pensar nos conceitos e nas práticas das ciências humanas no ciclo de alfabetização. Por exemplo, que a construção de um determinado espaço corresponde a um tempo em que as relações sócias, entre indivíduos e entre grupos, assumem uma configuração própria das culturas em uma sociedade e as relações sociais são elementos da cultura, e ao mesmo tempo a produzem. A cultura por sua vez, corresponde a um tempo e espaço de sua existência. Assim, o espaço geográfico que ocupamos para morar e no qual nos organizamos em sociedade constitui uma dimensão da realidade, cuja inteligibilidade depende da compreensão sobre as relações sociais e culturais que se desenvolvem em um tempo que é histórico. Nessa perspectiva, entendemos os conceitos como um instrumento necessário à compreensão da vida em sociedade, ao mesmo tempo em que defendemos a necessidade de sua apropriação nos primeiros anos da escolaridade, como forma de favorecer as condições de análise, de avaliação e intervenção das crianças na resolução de problemas cotidianos.

A relação tempo e espaço no ensino de história.

Esse entendimento sugere que o ensino das Ciências humanas no Ciclo de Alfabetização esteja de ancorado na compreensão de que a relação tempo e espaço é mediada pela cultura e que esta se constitui como processo histórico de criação dos modos de vida em sociedade. A cultura representa o conjunto dos sentidos e significados atribuídos pelas pessoas às suas práticas sociais, às crenças, aos eventos, aos comportamentos, aos modos de convivências e relacionamentos entre pessoas, aos símbolos e entre outros elementos que fazem parte da vida cotidiana de um grupo social e comunidade. As culturas são históricas, ou seja, se inscrevem em uma dimensão espaço-temporal, e não são estáticas, mudam no contato com outras culturas, ao mesmo tempo. São dinâmicas e representativas de um grupo social ao qual oferecem uma identidade cultural, proporcionando as pessoas um sentimento de pertença.

As primeiras noções sobre cultura podem ser desenvolvidas pelas crianças no Ciclo de Alfabetização através de práticas pedagógicas que priorizem a observação a análise e a sistematização de estudos sobre diferentes modos de vida social, manifestações culturais como linguística, econômica, religiosas, comemorativas, familiares e entre outras, vivenciadas na família e na comunidade. Práticas pedagógicas que problematizem as diferenças culturais sobretudos considerando os saberes que as crianças trazem de suas comunidades como saberes de uma cultura legítima.

Nesse sentido, a aprendizagem sobre as relações sociais no ciclo de alfabetização supõe aproveitamento das situações próprias dos processos de socialização que as crianças vivenciam na escola através das relações que estabelecem com os colegas, professores, serventes, zeladores, merendeiras, guardas enfim toda comunidade escolar, e por meio dessas vivencias, torna se possível ensinar as crianças pequenas os valores que devem fazer parte das relações sociais e humanas, tais como: respeito, cordialidade, solidariedade, lealdade, justiça, cuidado com os outros, atenção com os idosos, pessoas com deficiências, combate ao preconceito e à discriminação, além do zelo pelo patrimônio público e pelo meio ambiente e em especial o cuidado com o patrimônio escolar. Nesse sentido as crianças já conseguem construir conhecimentos necessários para identificar relações sociais nos grupos das quais faz parte, e em outros com os quais convive, reconhecendo que essas relações não são as mesmas em outros tempos e em outros espaços.

Em relação ao tempo, quando ensinamos aos alunos a compreensão do mesmo, embora sua presença possa parecer algo natural na vida das sociedades podemos dizer que ele constitui um conjunto de acordos humano, uma construção sociocultural que se apresenta de diferentes formas em sociedades distintas e organiza a vida das pessoas de diferentes maneiras, ou seja, não uma homogeneidade no modo como diferentes grupos sociais vivenciam o tempo, mesmo quando esses compartilham uma simultaneidade temporal.

Mesmo quando alguns estudos nos ajudam a compreender que para as crianças pequenas o conceito de tempo mostra se complexo e desafiador, uma vez que desde muito cedo elas vivenciam o tempo, lidam com o tempo vivido, mas não tem consciência da sua existência. Nesse sentido, entendemos que a escola está entre os ambientes mais propício para a aprendizagem das crianças sobre o tempo. Podendo ser marcado por rotinas, como por exemplo: hora da entrada e saída da escola, hora do lanche, das atividades, hora da recreação etc. Isso faz com que o tempo escolar passa a ser constituído como referência para a vida das crianças dentro e fora da escola. No entanto, precisamos considerar que a aprendizagem sobre as noções de tempo se dá de forma processual. Para isso é essencial a elaboração de propostas didáticas que propiciem o entendimento sobre algumas relações temporais, tais como: a ordem ou sucessão, a duração e a simultaneidade, bem como a relação entre presente, passado e futuro, cuja aprendizagem inclui o diálogo com as experiências cotidianas das crianças. Sua compreensão favorece o desenvolvimento da ideia de cronologia e contribui para o entendimento sobre o tempo histórico.

Explicando que a duração representa o intervalo de tempo entre os acontecimentos, por exemplo: O tempo de realização de uma tarefa e o tempo de uma brincadeira no recreio, perceber a duração do tempo, diz a respeito a capacidade de perceber que dois acontecimentos ou mais podem acontecer ao mesmo tempo em diferentes espaços, próximos ou distantes e as crianças podem observar e aprender que ao mesmo tempo que estão na escola, em suas casas acontecem outras coisas e as pessoas fazem outras atividades. A aprendizagem dessas noções é fundamental para a compreensão a respeito da continuidade do tempo, do entendimento que o tempo segue um curso que independente da nossa vontade e de que o tempo é uma construção histórica e cultural. Essa relação temporal permite ainda perceber a multiplicidade de sentidos do tempo. Ainda ensinando os as crianças a refletir sobre as dimensões do tempo, ou seja: o tempo da natureza; da chuva, do sol, do dia, da noite, das estações do ano, das fases da lua, do ciclo de vida etc. E o tempo cronológico, o do relógio, do calendário com os dias da semana e dos meses do ano. E o tempo subjetivo, que é individual que envolve os sonhos, os desejos e os sentimentos. O tempo social, que é também o tempo das diferentes culturas e envolve as experiências individuais e coletivas. Essas dimensões do tempo são constitutivas do tempo histórico no qual se inscrevem as experiências humanas dispostas nas relações entre presente, passado e futuro.

Nesse sentido, convém destacar que a forma como os conceitos de tempo é ensinado, requer uma prática pedagógica bem elaborada, coma efetivação de atividades de aprendizagens significativas dos conhecimentos de ciências humanas, tendo como ponto de partida o conhecimento que a criança já detém sobre o que se quer ensinar, considerando a etapa de desenvolvimento na qual se encontra, onde a compreensão desses conceitos de tempo requer um período longo e acontece por etapas e as crianças não fazem necessariamente os mesmos percursos para aprender, nem aprendem no mesmo ritmo uma da outra.

O importante é o professor saber que é de fundamental importância para o aprendizado do aluno um planejamento adequado, pesquisando bem o tema a ser ensinado, pois problemas podem acontecer durante as aulas, porém se a aula tiver um planejamento bem estruturado, apresentando informações sobre as necessidades e a importância de aprender o tema a turma, as dificuldades que surgirem serão resolvias com intervenções e com segurança.

Enfim, o Ensino de Ciências Humanas é de suma importâncias para o ciclo de alfabetização nos anos iniciais, pois não apenas faz sentido para as crianças como se mostra fundamental para a sua formação cidadã, o desenvolvimento do sentimento de pertença, a ampliação das possibilidades de leitura e a compreensão de mundo social.

Ainda que aprender a ler e escrever também significa aprender a ler o mundo e essa leitura está perpassada pelo conhecimento da construção de identidade nas múltiplas relações sociais estabelecidas em diferentes tempos e espaços. Dessa forma, no percurso do letramento, a escrita e a leitura estão inscritas nos sentidos que damos ao mundo e estes são construídos em consonância com as leituras mobilizadas pelos conhecimentos históricos, portanto não é preciso primeiro aprender a ler, escrever e contar para só então aprender os conhecimentos das áreas que denominamos Ciências Humanas: estes são necessários no percurso do letramento e podem ser mobilizados por meio de uma diversidade de estratégias metodológicas, e nos alertam para a importância de provocar uma postura investigativa, mobilizando nos alunos o desejo e o interesse de pesquisar vários registros já escritos sobre determinados assuntos que os levam a aprender. Tecendo relações e fazendo comparações do passado com o presente.




Conclusão

Em relação aos conhecimento do mundo social, cultural e histórico, nem sempre o ensino das ciências humanas se revelou tão significativo, era tratado de forma descontextualizada e sem relação com a realidade social e cultural das crianças, e a esse respeito, somente a pouco tempo o ensino de ciências humanas passou a fazer parte das preocupações daqueles que pensam as políticas e práticas curriculares para um bom desenvolvimento do ensino onde permite que as crianças formulem hipótese, avaliem, sustentem ideias com argumento, ouçam os outros e reconheçam que, às vezes, não há respostas certas, um currículo no qual as práticas pedagógicas favoreçam a emergência de vozes culturais silenciadas; identifiquem as origens históricas do preconceito, evidenciando as relações de poder envolvidas na construção da diferença; promovam o respeito às diferenças presentes no cotidiano da escola e criem condições para o sucesso escolar de todas as crianças. Isto significa que no diálogo entre as crianças cada uma delas se valoriza, se enriquece através das relações de troca positivas que entre elas se estabelecem. Onde a necessidade de compreender que a identidade não se constituem como essência, mas como processo, que constroem-se ao longo da vida com as práticas sociais e culturais, proporcionando experiências e ajudando as crianças.


Referências

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