Buscar artigo ou registro:

A TRANSIÇÃO DAS BRINCADEIRAS COMO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO PROCESSO ENSINO – APRENDIZAGEM


Magali Regina Trevisol Antoniolli

RESUMO

O lúdico na educação infantil tem sido um dos instrumentos que fomentam um aprendizado eficiente para os educandos, a partir das técnicas que promovem o desenvolvimento das habilidades fundamentais das crianças durante tal processo. Apesar da contribuição dos estudos que deram suporte a esses entendimentos, faz-se necessário avançar neste campo do conhecimento. Nesse sentido, esse artigo tem a finalidade de compreender o processo de transição das brincadeiras como práticas pedagógicas para o ensino-aprendizagem, inserção da criança e das atividades lúdicas no contexto da educação infantil e os reflexos dessa prática em seu desenvolvimento global. Para tanto, realizou-se pesquisa de natureza bibliográfica e elencou-se assuntos pertinentes para esse entendimento. Desse modo, foram expostos fatos históricos relacionados ao tema, o lúdico na educação infantil, a importância do brincar, dentre outros pontos importantes. A partir de tais analises bibliográficas foi possível concluir que as brincadeiras com objetivo pedagógico favorecem o processo de ensino-aprendizagem e tornam o sujeito mais consciente de seu papel na sociedade.

Palavras-chave: Jogos; Brincadeiras; Crianças; Ensino-aprendizagem.

ABSTRACT

The play in early childhood education has been one of the instruments that foster efficient learning for students, using techniques that promote the development of children's fundamental skills during such a process. Despite the contribution of the studies that supported these understandings, it is necessary to advance in this field of knowledge. In this sense, this article aims to understand the process of transition of play as pedagogical practices for teaching-learning, insertion of children and playful activities in the context of early childhood education and the reflexes of this practice in its global development. Therefore, a bibliographic research was conducted and relevant subjects for this understanding were listed. Thus, were exposed historical facts related to the theme, the playful in early childhood education, the importance of playing, among other important points. From these bibliographical analyzes it was possible to conclude that there were the games with pedagogical objective favor the teaching-learning process and make the subject more aware of their role in society.

Keywords: Games. Games. Children. Teaching-learning.

 

INTRODUÇÃO

Os espaços e tempos modernos constituíram-se pelas intensas mudanças na organização social, política, cultural e econômica da sociedade, desta forma, desenvolver discussões sobre a educação é uma tarefa complexa, uma vez que um grande número de variáveis está envolvido no processo (SOUZA et al., 2009).

Pesquisas relacionadas a educação infantil (espaço, tempo, gênero, culturas infantis, metodologias, brincadeiras, etc.), são consideradas recentes, pois, tiveram início na década de 1990 (ROCHA, 1999). Desta forma, se faz necessário desvendar novas proposições neste debate, bem como a emergência da análise de novas categorias de investigação do universo infantil com vistas à consolidação de uma pedagogia da infância (SOUZA et al., 2009).

As brincadeiras estão presentes em todas as manifestações sociais e pessoais do ser humano desde os tempos mais remotos. O momento da brincadeira possui grande importância na infância, contribuindo para o desenvolvimento do potencial integral da criança, proporcionando oportunidades de socialização, afetividade e um encontro com seu próprio mundo, descobrindo-o de maneira prazerosa (CADORIN; MORANDINI, 2014).

Esta temática vem sendo estudada por pedagogos, psicólogos, filósofos entre outros interessados nos benefícios desta atividade no processo de construção do conhecimento, buscando informações sobre atividades didáticas variadas que despertem e desenvolvem as crianças. Diferentes abordagens, às vezes até contraditórias, representam ferramentas importantes para uma melhor compreensão sobre o fenômeno, pois a multiplicidade de olhares, por sua vez, pode também ser complementar, contribuindo para uma visão da totalidade que envolve a singularidade do jogo, da brincadeira e do brinquedo (VOLPATO, 2018).

Apesar da contribuição dos estudos que deram suporte a esses entendimentos, faz-se necessário avançar neste campo do conhecimento (VOLPATO, 2018), levando em consideração que o jogo é uma forma de expressar e comunicar ao outro nossas emoções, sensações, objetivos e propósitos.

Com o exposto, este trabalho teve como objetivo analisar e compreender o processo de transição dos jogos e brincadeiras como práticas pedagógicas no processo ensino–aprendizagem, bem como verificar seus benefícios nesse período tão significativo e delicado que é a infância.

Para o cumprimento do objetivo da pesquisa foram realizados procedimentos bibliográficos e de levantamento (GIL, 2002). O presente trabalho consiste em um estudo de revisão bibliográfica, podendo ser classificado como qualitativo, descritivo explicativo, com base em dados secundários. Para a realização das pesquisas foram utilizados como critérios de inclusão: Artigos apresentados com texto na íntegra; escritos em português ou inglês, que contenham as palavras chaves: Jogos, brincadeiras, ludicidade, criança, educação e ensino-aprendizagem. Como critério de exclusão foram considerados: artigos repetidos, artigos não acessíveis em texto completo, resenhas e anais de congresso. Levando em consideração que o presente trabalho se trata de uma revisão bibliográfica que aborda fatos histórico, não foi considerado período de análise como critério de exclusão para a pesquisa.

 

DESENVOLVIMENTO

 

Evolução dos Jogos e Brincadeiras para o mundo infantil

Na sociedade antiga, o trabalho não tinha o valor que lhe atribuímos há pouco mais de um século. Não ocupava tanto tempo do dia, tampouco tinha tanta importância na opinião comum. Em contrapartida, os jogos e os divertimentos eram um dos principais meios de que dispunha a sociedade para estreitar seus laços coletivos e se sentir unida. Isso se aplicava a quase todos os jogos, e esse papel social era evidenciado principalmente em virtude da realização das grandes festas sazonais e tradicionais previstas em datas fixas no calendário. As crianças e os jovens participavam das atividades juntamente com os adultos e desempenhavam um papel reservado pela tradição (VOLPATO, 2018).

Adultos, jovens e crianças se misturavam em toda a atividade social, ou seja, nos jogos e nas brincadeiras, no exercício das profissões e nas tarefas diárias, no domínio das armas, dentre outras. Havia certa indeterminação em relação à idade. Essa confusão, que parecia passar despercebida, era um dos traços mais característicos da antiga sociedade (KISHIMOTO, 2017). Neste período os trabalhos eram comunitários com o intuito de suprir as necessidades momentâneas a fim de garantir a sobrevivência dos indivíduos. Desta forma, os trabalhos eram realizados com muita alegria e as atividades religiosas, culturais e artísticas tomavam a maior parte do tempo deste povo, como aponta Redim (1999, p.58):

 

O trabalho e o jogo tinham sempre caráter comunitário: todos trabalhavam, todos jogavam independentemente de idade sexo ou hierarquia. (...) Com a idade moderna, os espaços e os tempos começaram a ser divididos: em espaços específicos e tempos específicos.


A partir do aparecimento dos conceitos sobre classes sociais e diferenças de faixas etárias, os deveres e os lazeres passaram a ser divididos, os jogos comunitários foram reduzidos e os adultos e as crianças passam a realizar suas recreações separadamente. Straub (2003) afirma que os brinquedos passaram a fazer parte do mundo infantil ao serem abandonados pelos adultos, que anteriormente jogavam junto com as crianças. Passando a existir jogos para crianças e jogos para adultos, segundo seus diferentes significados sociais.

O jogo de adulto era visto, para alguns autores, como uma forma de descanso e laser, possibilitando uma distração e descanso das rotinas cotidianas, porém, nem sempre era animado (VOLPATO, 2018).

 

O trabalho provoca sempre esforço e cansaço. Aí está porque é necessário, quando se buscam os prazeres, atentar para o instante próprio para deles fazer uso, como se apenas se desejasse usá-los a título de remédio. O movimento que o exercício transmite ao espírito livra-o e descansa-o pelo prazer que lhe confere (ARISTÓTELES, 1966, p. 159).

 

Já o jogo para a criança era cheio de energias, com atividades espontâneas com regras escolhidas pelos jogadores, ou obstáculos que deveriam ser superados. A função era promover a quem jogava o enriquecimento da personalidade. Isso acontecia quando a criança firmava suas forças em uma determinada tarefa para obter êxito (DIAS, 2013).

Ao contextualizar historicamente os jogos e brincadeiras e sua relação com a criança, de acordo com Straub (2003), as mudanças ocorridas sobre a concepção da infância trouxeram consigo mudanças em relação aos jogos e brincadeiras que passaram a ser direcionados para a educação das crianças, sendo que as brincadeiras que não atingiam tal objetivo eram consideradas ruins e foram proibidas. Porém, as crianças ainda brincavam imitando o mundo adulto, assim notamos que a relação do mundo adulto e das brincadeiras continuam interligados.

 

Jogos e Brincadeiras como instrumento de educação

Antes da revolução romântica os jogos e brincadeiras eram vistos como um momento do tempo escolar que não é consagrado à educação, mas ao repouso necessário antes da retomada do trabalho (BROUGÈRE, 1998; WAJSKOP, 2007). O jogo era visto como uma atividade de relaxamento, não podia ter um valor próprio, era uma forma de espairecer para voltar ao trabalho, não tinha valor educativo.

Segundo Kishimoto (2008), no século XVI, um nobre militar passava a utilizar os jogos de forma educativa para auxiliar no ensino do seu exército. Os exercícios físicos foram reabilitados e os jogos como o baralho, por exemplo, adquiriram, nesta época, uma função educativa por serem adaptados para tal. No século XVII a expansão de jogos didáticos continuava passando a auxiliar na compreensão da matemática, geografia entre outros. Com o término da Revolução Francesa, no século XIX, multiplicaram-se os estabelecimentos responsáveis pela educação da criança. Desta forma os jogos passaram a fazer parte da história, vindo com a inovação pedagógica.

Dessa forma, os jogos educativos começaram a se multiplicar e, com os jesuítas, ganharam mais força, pois eles acreditavam que os jogos eram importantes para a educação, tanto para desenvolver o físico quanto a inteligência (VOLPATO, 2018).

Em tempos mais recentes foi encontrada uma relação entre jogos e educação, onde o jogo seria usado como meio atrativo para as crianças à aprendizagem, pois “o jogo é um meio, um suporte para seduzir a criança; deve-se evitar desencoraja-la com estudos inadaptados à sua idade” (BROUGÉRE; RAMOS, 1998, p. 55). Tratavam o jogo como uma maneira camuflada de ensinar, para que as crianças não entendessem o que estavam fazendo como uma obrigação ou trabalho, mas sim para que as mesmas se interessassem.

Junto com essas relações feitas do jogo com a educação surgiram críticas onde aparecia o medo de que essas atividades de jogos e brincadeiras influenciassem na vida dessas crianças de forma a induzi-las ao mundo dos jogos, do jogo por dinheiro.

A partir daí os professores passaram a propor a seus alunos exercícios divertidos mais próximos a realidade existente. As crianças não deixavam de jogar, mas como nos diz Bougère (1998, p. 56), “a criança jogará muito, mas seus jogos deverão, ao mesmo tempo, servir para exercitar sua inteligência e para facilitar seus estudos”. Então passaram a ver jogos como uma atividade lúdica educativa supervisionada pelos professores, que segundo Brougére (1998, p. 57):

 

Trata-se, para o educador, de controlar o conteúdo do jogo de modo que permita a criança adquirir conhecimentos relevantes neste ou naquele momento. O jogo não é senão uma forma, um continente necessário tendo em vista os interesses espontâneos da criança; porém não tem valor pedagógico em si mesmo. Tal valor está estritamente ao que passa ou não pelo jogo. Ao pedagogo cabe fornecer um conteúdo, dando-lhe a forma de um jogo, ou selecionar entre os jogos disponíveis na cultura lúdica infantil aqueles cujo conteúdo corresponde a objetivos pedagógicos identificáveis.

 

Neste contexto nota-se que o jogo passou a ser visto como uma atividade educativa, quando bem orientado por um professor, podendo ser utilizado para relaxamento, seguido de mais atividades intelectuais, entre outros. Esses olhares voltados para a criança possibilitaram uma nova visão sobre os jogos com relação professor e aluno, auxiliando no processo ensino-aprendizagem (HÜTHER, 2017).

Ludicidade: Seu Papel na Educação

A palavra lúdica vem do latim ludus e significa brincar. A atividade lúdica surgiu como nova forma de abordar os conhecimentos de diferentes formas e também uma atividade que favorece a interdisciplinaridade. O lúdico é reconhecido como elemento essencial para o desenvolvimento das várias habilidades em especial a percepção da criança. A ludicidade como ciência se fundamenta sobre os pilares de quatro eixos de diferentes naturezas, isto é, sociológica, psicológica, pedagógica e epistemológica (SANTOS, 2012).

Platão, um dos maiores pensadores da Grécia Antiga, assegurava que os primeiros anos da criança deveriam ser ocupados com jogos educativos, praticados em comum pelos dois sexos. O jogo e a cultura intelectual deveriam caminhar juntos na formação da personalidade, assim como, introduzir também uma prática matemática lúdica (VOLPATO,2018).

Freire (2006), nos adverte que boa parte das descrições sobre o desenvolvimento infantil referem-se aos atos de pegar, engatinhar, sugar, andar, correr, saltar, gritar, rolar e assim por diante, movimentos observados em quase todas as crianças. Dessa forma entende-se que o desenvolvimento infantil é resultado da própria atividade da criança, que não para de estruturar e reestruturar suas próprias experiências, de construir o mundo na medida em que o reconhece.

 

[...] por intermédio do jogo, que evidentemente se mobiliza a cognição, desenvolvem-se na criança inteligência e personalidade, proporcionando-lhe fundamentos para a construção do conhecimento (MIRANDA, 2001 p. 51).

 

Neste sentido, Bassedas et al. afirmaram que brincar ajuda a criança a ajustar-se não só no ambiente físico mais também ao meio social. Com base no exposto, é possível afirmar que as crianças constroem seu conhecimento através de sua interação com o meio físico e social, sendo que, cada nova aquisição serve de suporte para as aquisições subsequentes, segunda a teoria de aprendizagem significativa de Ausubel (apud SILVA, 2007).

A construção do sujeito consiste na prática da liberdade, como evidencia Freire (1991, p.12): “Estou convicto de que só é possível aprender no espaço da liberdade”. A criança aprende mais quando ensinada de forma que ela possa participar, de expor suas ideias, criticar, sugerir algo para ser investigado. Não se pode esquecer que o conceito de liberdade de Freire é um convite a uma aprendizagem cuja cultura permita a satisfação de existir no mundo e com o mundo. Segundo Freire (1991, p. 13), “[...] negar a cultura infantil é, no mínimo, mais uma cegueira do sistema escolar”, o corpo não deve ser interpretado como algo que atrapalha.

Levando em consideração que a maior parte da infância é gasta brincando, seja inventando, reproduzindo, imitando ou seguindo regras de brincadeiras prontas, o valor educativo dessas brincadeiras torna-se obvio, na medida em que elas ensinam as crianças a respeito do mundo em que vivem (KISHIMOTO, 2002, p. 99). A partir das brincadeiras as crianças aprendem e fixam na memória e em hábitos, muito mais do que se só assistissem as aulas e a vida de forma imóvel. Segundo a autora os jogos imitativos são muito importantes para que a criança passe a observar seu meio e os fatos relevantes para seu desenvolvimento (DIAS, 2013).

Devemos considerar que há algo de essencial no brincar para o desenvolvimento humano. Através dele, os sujeitos interagem uns com os outros, experimentam e ressignificam o mundo, criam e imaginam, exteriorizam seus afetos, constroem e integram valores e costumes às suas vidas, brincam de vir a ser (CINTRA, 2015, p.12).


Ainda segundo Cintra (2015), a característica interdisciplinar das atividades que envolvem a ludicidade (universo dos brinquedos, da música, dos livros, dos filmes/desenhos animados/vídeos infantis, do teatro etc.) represente um fator de suma importância para a formação cultural e o desenvolvimento do sujeito. Para o entendimento de tal questão é necessário compreender que durante a brincadeira as crianças estão pensando, refletindo, buscando, explorando, construindo e reconstruindo, simbolizando e dando outros sentidos ao mundo que a cerca (momento de experimentação, criação e significação dos costumes, crenças, valores). É tempo e espaço de troca, de partilhas com o grupo, sendo também, contudo, momento no qual o sujeito desempenha papel principal na peça que criou ou escolheu, protagoniza sua história imaginária.

Os jogos constroem regras, por sua vez, permitem a adaptação de ações individuais à coerência e as regras do grupo, bem como o respeito as diferenças que são pré-requisitos para a convivência harmoniosa entre indivíduos, despertando positivamente o sentimento moral e social da criança, tornando-a dinâmica, respeitando e entendendo regras assimilando a realidade (SILVA et al., 2019).

A existência de regras em todos os jogos é uma característica marcante. Há regras explícitas, como no xadrez ou amarelinha, regras implícitas como uma na brincadeira de faz de conta, em que a menina se faz passar pela mãe que cuida da filha. São regras internas, ocultas, que ordenam e conduzem a brincadeira. (KISHIMOTO, 1996, p. 24)

 

 

Ainda para Khishimoto (1996) as atividades lúdicas são também uma forma de socialização que prepara a criança para convivência na fase adulta. Jogando a criança prepara hipóteses para resolver problemas e tomar atitudes, comportando-se de acordo com sua idade, buscando alternativas para transformar a realidade, satisfazendo suas necessidades presentes. A partir das brincadeiras a criança constrói seus valores, desperta para a socialização e para que haja socialização é indispensável à convivência, e como este fato se dá com coleguinhas da mesma idade do mesmo nível intelectual é importante que o jogo tenha participação em situações escolares.

Straub (2010) relata que as crianças buscam a superação de si e dos colegas, este fato fica muito nítido nas atividades que envolvem brincadeiras, pois as crianças dão ideias, e tentam resolver problemas que elas mesmas criam de maneira criativa e divertida. Desta forma, percebe-se que a criança ao notar seu progresso, ou dar sentido para alguma atividade, passa a sentir prazer no ato de aprender, assim “a liberdade, permitida à criança dentro da forma ativa e educação, constitui um fator positivo para o desenvolvimento intelectual e moral da mesma” (KISHIMOTO, 2002, p. 102).

É possível aproximar as falas acima com o que nos diz Cória (2004), quando este ressalta a importância de considerar as crianças na individualidade, pois se um mesmo objeto ou jogo for dado para crianças em níveis intelectuais de desenvolvimento diferenciados cada uma vai explorá-los à sua maneira de acordo com as suas necessidades e curiosidades. Desta forma, nota-se a importância do lúdico como estratégia no processo ensino-aprendizagem, a partir do universo de experiências dos alunos para que seja significativa e que as crianças possam se envolver nas atividades de maneira autônoma.


Importância do Educador para a eficiência da ludicidade na educação


Educar não se limita a repassar informações ou mostrar apenas um caminho, aquele considerado o mais correto pelo professor, mas possibilitar a tomada de consciência de si mesmo, dos outros e da sociedade. É saber aceitar a si mesmo e o outro como pessoa, oferecendo várias ferramentas para que o ser humano possa escolher entre muitos caminhos, aquele que for compatível com seus valores, sua visão de mundo e com as circunstâncias adversas que cada um irá encontrar (MOURA, 2011).

Neste contexto, o professor, ao estudar a ludicidade em seus aspectos teóricos e práticos, terá a possibilidade de utiliza-la como ferramenta pedagógica voltada ao processo ensino-aprendizagem. Para que isso ocorra de forma eficaz, é necessário que a ludicidade, em suas funções lúdicas e educativas, seja repensada constantemente pelo educados, observando as necessidades e interesses de seu grupo de educandos, a reflexão sobre o que faz, por que faz e a relação com os diferentes instrumentos pedagógicos e as várias linguagens utilizadas (RAU, 2011).

Ainda segundo Rau (2011), a reflexão do educador poderá apontar caminhos que atendam às exigências das novas exigências perante o sistema de educação. O lúdico utilizado pelo professor dentro da sala de aula torna-se, então, um meio para a realização dos objetivos educacionais, e o aluno, ao pratica-lo, não se limita a sua ação livre, iniciada e mantida pelo prazer da brincadeira, mas participa ativamente do processo de construção do conhecimento.

Santos (2011) afirma que o professor representa a peça principal do processo ensino-aprendizagem envolvendo a ludicidade, devendo ser considerado como um elemento essencial e de fundamental importância. Quanto maior e mais rica for sua história de vida e profissional, maiores serão as possibilidades de desempenhar uma prática educacional consistente e significativa. Não se quer dizer, com isso, que o professor seja o único responsável pelo sucesso ou insucesso do processo educativo, o entanto, é de suma importância sua ação como pessoa e como profissional.

Ao brincar a criança não pensa na aquisição do conhecimento, o que realmente importa é a brincadeira em si. Desta maneira nota-se a importância dos estímulos externos que conduzirão a brincadeira e farão com que ela seja produtiva e proporcione aprendizagem (MIRANDA, 2001).

O educador tem função mediadora no processo de desenvolvimento infantil (psíquico e intelectual). Visto sob esse prisma, é possível pensar que a partir de brinquedos/jogos já existentes (atuais ou não), o adulto pode transformá-los, juntamente com a (s) criança (s), em outras formas de brincar. Através de propostas de diferentes brincadeiras e jogos, sem demarcações de papéis ou funções, possibilita-se um enriquecimento do universo lúdico da criança e também do adulto (JORGE, 2006, p.16).

Os jogos quando empregados com objetivos definidos possibilitam o aprendizado, de maneira prazerosa. Com a aprendizagem e do domínio das habilidades obtidas e o raciocínio utilizado a criança tem a possibilidade de redimensionar sua relação com as situações de aprendizagem com seu desejo de buscar novos conhecimentos. Aprende também a lidar com a frustração do não saber, a ganhar e a perder, restabelecendo confiança em si mesma, com desejo de aprender.

A criança aprende de acordo com o meio em que está inserida. Então, se o meio transmitir maus hábitos é mais difícil corrigir, pois através das brincadeiras a criança fixa com maior facilidade. Segundo a autora (KISHIMOTO, 2002, p. 99), o professor pode evitar esses hábitos indesejáveis, usando como parte do processo ensino-aprendizagem as mesmas brincadeiras que as crianças usam fora da escola, para isso é necessário que se tenha dialogo, desta forma vai ser possível oferecer para as crianças ideias corretas sobre a vida.

As atividades pensadas a partir da realidade da criança agregam maior aprendizagem se tratadas de maneira expressiva, para que se construa o conhecimento a criança deve compreender qual a utilidade do que se pratica para o mundo em que vive. Não cabe ao professor impor para as crianças uma forma de pensar e agir, mas sim proporcionar a elas boas influencias. No contexto escolar o jogo/brincadeira deve ser coordenado pelo professor que fará intervenções necessárias para desenvolver seu planejamento e concretizar a aprendizagem, ligada aos conhecimentos que se pretenda desenvolver, sejam cognitivos, motores ou afetivos (RAU, 2011).

Todas as atividades devem ser antecipadamente planejadas e vigiadas pelos professores para que faça parte do processo ensino-aprendizagem, aguçando o interesse das crianças, orientando-as a descobrir as soluções para os problemas que o jogo oferece. Cória (2004) defende a importância da cooperação do educador para o desenvolvimento dessas atividades, assim as interações caminham na direção correta.

Para utilizar jogos no dia-a-dia, é preciso que o educador seja criativo. Não é necessária a utilização de materiais caros que, muitas vezes, não tem muita utilidade pedagógica. A final, as relações de aprendizagem também dependem da maneira como os materiais são utilizados, do “espírito” do professor em contribuir para o processo ensino-aprendizagem. Penso, nessa medida, na existência do sujeito de Freire (2006, p. 47) quando diz que:

(...) ensinar não é transmitir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar aberto a indagações, a curiosidade, às perguntas dos alunos, as suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que a tenho de ensinar e não a de transferir conhecimento.

 

Entre outros objetivos, a escola tem o de socializar o aluno para que ele exerça seu papel na sociedade, neste contexto nota-se que a escola deveria proporcionar ao aluno uma educação mais liberal, com momentos de mobilidade e outros de imobilidade, fazendo com que as duas situações sejam prazerosas para a criança despertando o interesse da mesma, pois obrigá-la a ficar imóvel

 

[...] seria o mesmo que pegar um professor idoso que a muito deixou de praticar atividades físicas, a não ser as mais triviais, e obrigá-lo a correr por alguns quilômetros em ritmo acelerado [...] Não é a toa que os pequenos que entram na escola passam os primeiros tempos, até adaptarem-se cansados, dormem mais cedo, preocupados: Claro está acontecendo algo de muito estranho para eles (FREIRE, 1991, p. 12).

 

Neste contexto, Santos (2012) afirma que cabe ao educador criar um ambiente que reúna os elementos de motivação para as crianças, com atividades conceituais e lúdicas que proporcionam conceitos que preparam para a leitura, para os números, conceitos de lógica que envolve classificação, ordenação, dentre outros. Considerando a abrangência desses aspectos onde teoria e prática se encontra, fica claro de que o professor deve intervir usando a criatividade para obter bons resultados, lembrando sempre que a utilização do jogo requer uma organização prévia e avaliação constante (CÓRIA, 2004).


CONCLUSÃO


No transcorrer do presente trabalho foi realizada reflexões sobre a história, a ludicidade na prática docente e a sua influência na aprendizagem da criança, onde as pesquisas afirmam que existe grande importância da incorporação de atividades lúdicas para o desenvolvimento do educando, pois para estes brincar representa uma forma natural de interagir com o meio e aprender diferentes facetas multidisciplinares.

Os jogos e brincadeiras são ferramentas fundamentais no fazer didático do professor, porém, as relações de aprendizagem também dependem da maneira como os materiais são utilizados, do “espírito” do professor em contribuir para o processo ensino-aprendizagem. Pensar a ludicidade como ciência, é antes de tudo, adotar estratégias de intervenção pedagógica que possibilite não apenas oferecer e oportunizar momentos lúdicos, mas realizar interpretações do valor que os educandos atribuem a estes momentos.

Assim, é imprescindível que o educador se revele como um mediador, utilizando uma metodologia que contemple a brincadeira, a imaginação e o jogo como fator de aprendizagem, valorizando o tempo em que a criança se encontra, sob uma ótica que considera a análise da forma de como os homens se relacionam com os meios de produção e como a sociedade se organiza a partir de suas relações e contradições, pois não temos como analisar a criança descontextualizada do meio em que ela vive. Portanto, torna-se fundamental que sejam propostas as brincadeiras como forma de se conseguir tanto o aprendizado, como o desenvolvimento das crianças


REFERÊNCIAS

 

ARISTÓTELES. A política. Trad. Torrieri Guimarães. Rio de Janeiro: MEC, 1966.

BASSEDAS, Eulália; HUGUET, Teresa; SOLÉ, Isabel. Aprender e ensinar na educação infantil. Artmed Editora, 2016.

BROUGÉRE, Gilles. Jogo e educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

BROUGÉRE, Gilles; RAMOS, Patricia Chittoni. Jogo e educação. Porto Alegre: Artes Medicas, 1998.

CADORIN, Caroline Tonin; MORANDINI, Luciana Pandolfi. Olhar psicopedagógico na prática da ludicidade. Revista de Educação do IDEAU, v. 9, n. 20, p. 01-13, 2014.

CINTRA, Rosana Carla Gonçalves Gomes. Ludicidade e prática docente na educação da criança: estado da arte. REVISTA ELETRÔNICA PESQUISEDUCA, v. 6, n. 11, p. 84-96, 2015.

CÓRIA, Sabini, Maria Aparecida, LUCENA, Regina Ferreira. Jogos e Brincadeiras na Educação Infantil. Campinas-SP: Pipirus, 2004.

DIAS, Elaine. A importância do lúdico no processo de ensino-aprendizagem na educação infantil. Revista Educação e Linguagem, v. 7, n. 1, p. 1-16, 2013.

FREIRE, João Batista. Educação de Corpo Inteiro. São Pauldo: Scipione, 1991.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Editora Paz a Terra, 2006.

GIL, A. C. Como elaborar projeto de pesquisa. 4° ed. São Paulo, Atlas S/A, 2002.

HÜTHER, Sabrina Fabiola. Jogando com a história: diferentes possibilidades de aprendizagem. 2017. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em História), Centro Universitário Univates, Lageado, 2017.

JORGE, A. S. ludicidade e educação infantil. Revista Avesso do Avesso, vA. n.4, p.74 - 99, 2006.

KISHIMOTO, Tizuko M. O brincar suas teorias. São Paulo: Pioneira, 2002.

KISHIMOTO, Tizuko M. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 2008.

KISHIMOTO, Tizuko M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. Cortez editora, 2017.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 1996.

MIRANDA, Simão de. Do Fascínio do Jogo á Alegria do Aprender nas Séries Iniciais. Campinas-SP, Editora Papirus, 2001.

MOURA, Guiomar Reis. Jogos e o Lúdico na intervenção das" dificuldades de aprendizagem e aquisição da escrita na alfabetização”. Revista Eduf. tima, v. 2, n. 1, 2011.

RAU, M. C. T. D. A ludicidade na educação: uma atitude pedagógica. 1 ed. p.249. Curitiba: ibpex, 2011.

REDIM, Euclides. O espaço e o tempo da criança: se der tempo a gente brinca. Porto Alegre: Mediação, 1999.

ROCHA, E. A. C. A pesquisa em educação infantil: Trajetória recente de consolidação de uma pedagogia da educação infantil. Florianopois: UFSC. Centro de Ciencias da Educação, Núcleo de Publicações, 1999.

SANTOS, J. O. O lúdico na Educação Infantil. Campina Grande: Realize, 2011.

SANTOS, J. S. O lúdico na educação infantil. Fórum internacional de pedagogia. Campina Grande, REALIZE Editora, 2012.

SILVA, Antonia Pereira. A importância dos jogos / brincadeiras para a aprendizagem dos esportes nas aulas de educação física. 2007. Dissertação (Especialização em Esporte Escolar), Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte, São Luiz, MA, 2007.

SILVA, Francisco Sousa et al. As contribuições dos jogos e brincadeiras no processo de ensino-aprendizagem/The contributions of games and jobs in the teaching-learning process. Brazilian Journal of Development, v. 5, n. 5, p. 3820-3833, 2019.

SOUZA, A. F. L.; TUSSI, D.; BERTICELLI, I. A. Disciplina na educação infantil? um olhar sobre o espaço físico e o disciplinamento da criança. Revista Pedagógica, v. 11, n. 23, p. 226-251, 2009.

STRAUB, José Luiz. Infância e brincadeiras: reciprocidade produzida no contexto escolar e fora dele. Sinop: UNEMAT, 2003.

STRAUB, José Luiz. Infâncias e Brincadeiras: Culturas que Governam. Cáceres - MT: UNEMAT, 2010.

VOLPATO, Gildo. Jogo, brincadeira e brinquedo: usos e significados no contexto escolar e familiar. 2. ed., 231 p. São Paulo: Annablume, 2018.

WAJSKOP, Gisela. Brincar na pré-escola. 7. Ed. São Paulo: Cortez, 2007.