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O PAPEL DO INTÉRPRETE NO DESENVOLVIMENTO DO SURDO


Rosimeire Pereira de Oliveira1

 

Quanto mais se reflete sobre a presença do intérprete de Libras, mais se compreende a complexidade de seu papel, as dimensões e a profundidade de sua atuação [...]” (PERLIN, 2006, p. 02).


RESUMO:

A pesquisa apresenta um estudo significativo sobre a atuação do TILS – Tradutor e Intérprete da Língua de Sinais, através de uma abordagem significativa do papel do intérprete no desenvolvimento do surdo. O objetivo geral compõe-se de analisar como se dá o processo de inclusão e desenvolvimento educacional do aluno surdo e as ações vivenciadas pelo TILS no âmbito escolar. Já os específicos, tratam-se de analisar o processo educacional destinado aos alunos surdos e considerações sobre do TILS e o exercício de sua profissão. Tal pesquisa intui chegar a resultados sólidos e fundamentados, afim de demonstrar como ocorre a inclusão de surdos e se os profissionais estão devidamente habilitados para atuarem nessa área. A pesquisa desenvolveu-se através de obras de autores renomados, evidenciando as principais características do papel do TILS e da escolarização dos surdos. A partir de fundamentos teóricos obteve-se como resultado, informações importantes sobre a essencialidade de técnicas gestuais e metodologias bem elaboradas para a utilização da Libras e da Língua Portuguesa em sala de aula.

 

Palavras-chave: aluno surdo, intérprete, língua de sinais, inclusão.


1. INTRODUÇÃO

O objetivo geral deste trabalho consiste em refletir sobre a inclusão do aluno surdo e seu desenvolvimento escolar e a atuação ativa do intérprete. Para alcançar os resultados esperados, objetivos específicos foram delimitados e postos em práticas, tais como: escolarização do surdo, considerações sobre o profissional de TILS – Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais e inclusão escolar.

O estudo foi realizado, sob a justificativa de conhecer melhor todo o círculo escolar que engloba a vida do aluno surdo. Pondo em primeiro plano sua relação com o intérprete. Objetiva também, entender a essencialidade da relação existente entre o a pessoa surda, o TILS, o professor, os alunos ouvintes, gestores e demais funcionários da escola, sempre levando em conta que a inclusão escolar para ter resultados positivos, deve ser bem desenvolvida e estruturada.

Para tal, foi realizado um estudo minucioso sobre o assunto em questão. Para chegar aos resultados, pesquisas bibliográficas foram desenvolvidas, objetivando embasar teoricamente o trabalho.

Com intuito de estruturar a pesquisa, tópicos foram organizados. O primeiro trata-se da Escolarização dos Surdos e expõe sobre como acontece esse processo e os pormenores existentes. Já o segundo momento, Considerações sobre o TILS - Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais, traz abordagens sobre esse profissional e os pontos críticos dessa profissão.

O terceiro tópico, O Profissional Intérprete de Língua de Sinais e sua Atuação na Escolarização de Surdos, expõe sobre a essencialidade desse profissional no âmbito escolar para acompanhar e auxiliar no desenvolvimento do aluno surdo. O quarto tópico, Inclusão dos Surdos, expõe como acontece o processo de inclusão e esclarece os pontos positivos e negativos existentes. Para concluir o trabalho, as considerações finais, expõem de forma clara e objetiva o resultado final de todo o estudo.

Enfim, no decorrer da pesquisa são expostas informações contundentes sobre os fatores na atuação do intérprete, o processo educacional de alunos surdos, o contato com o ambiente escolar, a aplicação de metodologias bem estruturadas, técnicas gestuais - Libras e o processo de interação escolar. Tais elementos somados construíram tanto a parte referencial quanto a reflexiva do trabalho.

 

ESCOLARIZAÇÃO DOS SURDOS

De acordo com estudos literários, observa-se que durante a Idade Moderna não havia informações sobre estudos realizados com crianças surdas. De acordo com Lacerda (1998), o surdo era visto como um ser irracional, primitivo, não educável, sem capacidade de ser instruído. O autor ainda aponta que perante a lei, devido sua condição, o surdo não tinha direitos.

No entanto, entre 1712-1789 foi instaurada na França a primeira escola para surdos. Ato que abriu portas para o surgimento e utilização da língua de sinais. Sacks (1999), descreve a língua de sinais utilizada naquele momento, como uma combinação de sinais utilizados pela comunidade surda local com a gramática francesa, intuindo ensinar a escrever, ler, transmitir cultura e dar acesso à educação.

Em decorrência do processo educacional desenvolvido para os surdos, foram realizados congressos, sendo em especial, o Congresso de Milão, em 1980. Em tal evento, como a maioria dos interessados eram oralistas opositores a utilização da língua de sinais, ficou definido a não utilização da linguagem gestual, conforme aponta Lacerda (1998, p. 01), a língua de sinais foi “[...] praticamente banida como forma de comunicação a ser utilizada por pessoas surdas no trabalho educacional”. Dessa forma, mais uma vez, foi suspendido o processo educacional para as pessoas surdas.


Posterior a tal período, houve um novo avanço referente à linguagem gestual. Em 1960, segundo Lacerda (1998), iniciou-se a divulgação de novos estudos sobre as línguas de sinais utilizadas pela comunidade surda. Após isso, houve significativas mudanças no processo de ensino/aprendizagem de pessoas com deficiência auditiva, já que novas pesquisas foram realizadas e novos meios educacionais implantados.

Com o desenvolvimento contínuo das línguas de sinais, Lacerda (2006) expõe que a proposta de educação para surdos, deve ir além da implantação da Libras – Linguagem Brasileira de Sinais. Torna-se essencial condições específicas necessárias para o desenvolvimento linguístico, social e cultural de todos os envolvidos no processo.

Pereira (2009), conceitua que para que haja o desenvolvimento efetivo da criança surda, é de grande importância que ela seja bilíngue, aprenda duas línguas: “[...] a primeira deve ser a língua de sinais, que dará o arcabouço para a aprendizagem de uma segunda língua, que pode ser escrita ou oral, dependendo do modelo seguido (p.45). Seguindo tal conceito, a pessoa surda se encontrará em um ambiente linguístico, no qual os sujeitos se comunicam da mesma forma natural.

Conforme aponta Uiara Vaz Jordão, em sua dissertação de mestrado intitulada “O que dizem os intérpretes de libras do sudeste Goiano sobre formação e atuação” (2013):

 

[...] uma escola inclusiva deve agir não apenas no sentido de colocar o surdo entre os ouvintes, mas no sentido de garantir o exercício da cidadania do surdo como brasileiro, garantindo assim, que o surdo tenha acesso a Libras a utilize com seus pares garantindo, ainda, acesso ao ensino em sua língua; acesso ao ensino do português como segunda língua e acesso aos conhecimentos curriculares. Desse modo, sendo a condição linguística do surdo respeitada, crescem as chances de ele se desenvolver e construir novos conhecimentos [...] (JORDÃO, 2013, p. 14)


Diante disso, analisa-se então, que é essencial que ao ser inserido no ambiente educacional, a pessoa surda tenha todas as suas necessidades supridas, para que assim possa construir seu conhecimento. O ato de inclusão não deve simplesmente proporcionar a entrada da pessoa com deficiência auditiva no âmbito escolar, mas sim proporcionar a ela tudo que for necessário para seu bom desenvolvimento.


PROFISSÃO: Tradutor e Intérprete de Linguagem de Sinais

 

Como forma de respeito ao aluno com deficiência auditiva, é essencial que haja um TILS – Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – no Brasil tal profissão foi reconhecida dia 12 de setembro de 2010 - em todos os ambientes sociais, possibilitando assim, que a pessoa surda possa se comunicar e ter supridas as necessidades que a levaram ao determinado ambiente. O CNE - Conselho Nacional de Educação, 2001, ressalta que:


[...] deve ser assegurada, no processo educativo de alunos que apresentam dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais educandos, a acessibilidade dos conteúdos curriculares, mediante a utilização de linguagens a códigos aplicáveis, como os sistema braile e a língua de sinais. (CNE, 2001, p. 08)


Tal exigência tem sido aplicada, dessa forma escolas e outros órgãos já contam com a presença do TILS, para auxiliar a pessoa surda no processo de compreensão. De acordo com Famularo (1999) apud Jordão (2013), o ato de interpretar corresponde ao desenvolvimento cognitivo, pelo qual se transmite ideias, informações, discursos, diálogos, sejam eles orais ou sinalizados. Assim sendo, analisa-se que a interpretação não pode ser dada simplesmente como uma troca de mensagens, mas sim como um processo de comunicação efetivo e eficaz.

O TILS que atua na área educacional, além de possibilitar a compreensão e a interpretação dos conteúdos curriculares, deve também possibilitar a interação do aluno surdo, com os demais colegas de classe e com os professores.


[...] a presença do intérprete na escola se deu a partir da constatação que apenas inserir o surdo em sala de aula não garante acesso aos conhecimentos sistematizados em razão da falta de língua comum entre ouvinte e surdo ou pela ausência do domínio efetivo de Libras, uma vez que está é fundamental no processo de escolarização e inclusão sob uma perspectiva bilíngue. LACERDA (2006) apud JORDÂO (2013, p. 19)




Além das características citadas acima, sobre o exercício das atividades realizadas pelos TILS, ainda há outros fatores que influem de forma positiva na capacitação para uma efetiva atuação deste profissional. Tais elementos, somados ao conhecimento amplo e profundo tanto da língua de sinais, como da comunidade surda, o intérprete será capaz de atuar com segurança.


[...] conhecer as características de cada faixa etária dos alunos; refletir sobre as características da Libras usada por criança, jovens e adultos, conhecer como se organizam os conteúdos curriculares a serem trabalhados com os alunos nos diferentes níveis e as metodologias mais utilizadas para ensinar cada um deles. A tarefa do TILS educacional é atuar em ambientes complexos, multideterminados, que envolvem diversos interlocutores (alunos surdos, alunos ouvintes, professores, gestores e demais funcionários entre outros) com uma série de variações implicadas, que precisam ser apresentadas e refletidas no decorrer de sua formação. (LACERDA, 2009, p. 149)


A partir do que foi exposto, averígua-se que o profissional TILS, deve ser muito bem preparado para realizar sua função, pois ao contrário, poderá exercer de forma errônea suas atividades e em vez de auxiliar a pessoa surda, fará ao contrário, irá confundi-la. Sendo assim, é de essencial importância que o profissional tenha pleno conhecimento de Libras e da Língua Portuguesa nos mais diferentes contextos e com diferentes interlocutores.

Faz-se necessário também, que o profissional tenha domínio de técnicas de interpretação, pois “[...] a passagem de uma língua viso-gestual para uma língua auditiva-oral e vice-versa implica estratégias linguísticas próprias que precisam ser debatidas, refletidas e construídas” (Lacerda, 2009, p. 32). Para tal, é primordial que o TILS tenha conhecimentos de aspectos culturais e sociolinguísticos, pois de acordo com Jordão (2013, p. 20), “[...] a fala do outro, sua expressão corporal e facial, seus trejeitos, podem determinar que diferentes falantes estejam comunicando-se entre si e que o que dizem está repleto de ecos e lembranças de outros enunciados.

Gurgel (2010) aponta, que nesse contexto, a função do intérprete, além de traduzir, requer cuidados com a escolha dos sinais para descrever determinadas situações. A autora relata que a fidelidade ao original deve ser sempre, se possível, mantida, desta forma a construção de sentido dos discursos são mais compreensíveis. Tal fidelidade também, não permite que o texto seja interpretado de forma ambígua, assim encontrando o melhor sentido e significado para qualquer tradução.

Deve-se ter bastante cuidado e conhecimento ao utilizar a Libras, pois tal língua “[...] adquire seu sentido no momento em que está sendo utilizada, num movimento ativo e não pode ser considerada como algo estático, como um sistema de regras [...] (GURGEL, 2010, p. 44). Devido a isso, é de grande valia que o intérprete conheça melhor as pessoas surdas com quem trabalha diretamente, para que assim ele possa entender com mais propriedade as formas de elaboração e expressão dos mesmos e, assim, ampliando suas formas de interação.

 

Muitos acreditam que a fluência em Libras seja suficiente, outros argumentam que além da fluência é necessário o conhecimento gramatical da Libras; outros confundem a formação de intérprete com a do professor de Libras. Para ser intérprete é necessário amplo domínio de pelo menos duas línguas: a língua de origem e a língua alvo – Libras e Português, mas esse domínio não se refere apenas a fluência, refere-se fortemente a um conhecimento da polissemia da língua, da diversidade de sentidos e possibilidades, de temáticas e aspectos da cultura que perpassam cada uma das línguas, já que a tarefa de interpretar implica não apenas verter palavras/signos de uma língua para outra, mas verter sentidos/significados estruturados linguisticamente na língua alvo (LACERDA, 2009, p. 31).



Enfim, como já citado anteriormente, para que o profissional tradutor e intérprete da língua de sinais tenha uma boa atuação, se faz necessário ter uma boa relação com a comunidade surda, ser conhecedor profundo de Libras, ter domínio da Língua Portuguesa e sobretudo, ter amplo desenvolvimento gestual, capaz de estabelecer relações constritivas entre signos e significantes, possibilitando assim, que a pessoa surda se comunique naturalmente.


O PROFISSIONAL INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS E SUA ATUAÇÃO NA ESCOLARIZAÇÃO DE SURDOS


Dentre os espaços de atuação dos intérpretes de Língua de Sinais, o mais suscitado é na área educacional, pois conforme aponta Quadros (2004), é o espaço onde tal profissional é mais requisitado atualmente. Pois com o surgimento das escolas inclusivas, para que haja de fato a inclusão de alunos surdos, faz-se necessário a presença de um intérprete.

A presença desse profissional em sala de aula, não é um processo simples, pois existem muitos obstáculos a serem vencidos, como o fato do intérprete não deixar sua atuação ser confundida com a do professor. Uma questão fundamental a ser analisada como problematização, diz respeito ao nível educacional do intérprete, conforme afirma Quadros (2004, p. 62):


Outro aspecto a ser considerado na atuação do intérprete em sala de aula é o nível educacional. O intérprete de Língua de Sinais poderá estar atuando na educação infantil, na educação fundamental, no ensino médio, no nível universitário e no nível de pós-graduação. Obviamente que em cada nível deve-se considerar diferentes fatores. Nos níveis mais iniciais, o intérprete estará diante de crianças. Há uma série de implicações geradas a partir disso. Crianças têm dificuldades em compreender a funções do intérprete puramente como uma pessoa mediadora da relação entre o professor e o aluno. A criança surda tende a estabelecer o vínculo com quem lhe dirige o olhar. No caso, o intérprete é aquele que estabelece essa relação. Além disso, o intérprete deve ter afinidade para trabalhar com crianças. Por outro lado o adolescente e o adulto lidam melhor com a presença do intérprete. Nos níveis posteriores, o intérprete passa a necessitar de conhecimentos cada vez mais específicos e mais aprofundados para poder realizar a interpretação compatíveis com o grau de exigência dos níveis cada vez mais adiantados da escolarização.


Diante da citação, observa-se que não é somente a presença do intérprete que vai garantir a efetiva inclusão dos surdos no âmbito escolar. Para tal é necessário uma metodologia bem delineada, disposição e contínuo aperfeiçoamento. Segundo Jordão (2013, p. 20), “O TILS trabalha transitando entre línguas vivas, que têm diversos sentidos e enunciados [...]”, por isso é essencial que ele desenvolva técnicas gestuais, para ser capaz de passar a mensagem correta e completa ao aluno surdo, expondo-a de forma clara, objetiva e o mais natural possível.

A fidelidade da enunciação deve ser sempre razão de atenção, pois durante uma conversação, “[...] há sempre variações de sentido que podem favorecer que algum mal-entendido ocorra no momento da interpretação” (JORDÃO, 2013, p. 20). Tais fatores negativos, são sanados por profissionais bem qualificados, com profundo conhecimento da área e com disposição para se integrar ao processo de ensino/aprendizagem do aluno surdo.

Sabe-se que a escolarização do surdo, não ocorre somente com a atuação do intérprete, mas sim com a interação entre todos os envolvidos no processo. De acordo com Jordão (2013, p. 29), “Para que o desenvolvimento do surdo seja o mais pleno possível é necessário que tenha interlocutores capazes de interagir com eles [...]”. Promovendo assim, fatores que agucem a compreensão, trocas de conhecimentos e acima de tudo, novos saberes.

Como dito no parágrafo acima, a relação da pessoa surda com o meio social, é imprescindível para sua socialização e para o processo educacional. Os espaços compartilhados por pessoas surdas e ouvintes favorece o diálogo entre os que usam a língua oral e os que usam a língua de sinais e, favorece também o momento de ensino/aprendizagem, já que evidencia a diversidade e pluralidade de sentidos expressos no discurso de ambas.

No entanto, Quadros (2004) afirma que o intérprete especialista para atuar na área educacional deve ter um perfil intermediar as relações entre professores, aluno surdo e alunos ouvintes, mas as competências e responsabilidades destes profissionais não são claramente determinadas, muitas vezes causando conflitos.

 

[...] Há vários problemas de ordem ética que acabam surgindo em função do tipo de intermediação que acaba acontecendo em sala de aula. Muitas vezes, o papel do intérprete em sala de aula acaba sendo confundido com o papel do professor. Os alunos dirigem questões direto ao intérprete, comentam e travam discussões sobre os tópicos abordados com o intérprete e não com o professor. O próprio professor delega ao intérprete a responsabilidade de assumir o ensino dos conteúdos desenvolvidos em aula ao intérprete [...]. (QUADROS, 2004, p. 53)

 

Tais atitudes não permitem o crescimento escolar do aluno surdo, pois ele se torna totalmente dependente do intérprete e não consegue estabelecer suas próprias relações sem que o profissional esteja lá para intermediar. O TILS deve ser a ponte entre o aluno surdo, o professor e os colegas ouvintes, porém, não deve trazer para si e nem permitir que se estabeleça a responsabilidade de ensinar os conteúdos curriculares abordados, uma vez que tal responsabilidade cabe ao professor.

 

[...] Muitas vezes, o professor consulta o intérprete a respeito do desenvolvimento do aluno surdo, como sendo ele o mais indicado para dar um parecer a respeito. O intérprete, por sua vez, se assumir todos os papéis delegados por parte dos professores e alunos, acaba sobrecarregado e, também acaba por confundir o seu papel dentro do processo educacional, um papel que está sendo constituído [...]. (QUADROS, 2004, p. 53).

 

Diante da conceituação da autora, é possível analisar que quando o intérprete passa a ser também o professor, existe uma grande chance do aluno surdo fazer confusão, já que ele não estabelecerá mais contato direto com o professor, mas somente com o profissional de TILS. Dessa forma não conseguindo averiguar qual função é atribuída a cada profissional que divide o mesmo espaço.

O papel do educador/professor não pode recair sobre o intérprete, já que seu papel é interpretar. O intérprete não pode ser responsabilizado pela aquisição de conhecimento do aluno. É preciso que a atuação do intérprete se constitua em parceria com o professor, propiciando que cada um cumpre efetivamente o seu papel, em uma atitude colaborativa, em que cada um possa sugerir coisas ao outro, promovendo a melhor condição possível de aprendizagem para a criança surda. (LACERDA, 2000, p. 125)


Diante da complexidade da competência de um TILS, entende-se que para realizar suas funções diárias com êxito, o intérprete deve estar sempre motivado, causando assim boa impressão ao aluno surdo e motivando-o também. Gómez (1999) apud Jordão (20013) aponta três fatores fundamentais para o desenvolvimento da pessoa surda no âmbito educacional:

  • Interesse: é fator positivo que aguça a curiosidade e desperta o aluno para o processo de ensino/aprendizagem. No entanto, não é só o aluno que deve demonstrar interesse, é primordial que o intérprete também demonstre se interessar pelo assunto em foco.

  • Relevância: é o pré-requisito para uma motivação contínua. Demonstra ao aluno que o que é apresentado é importante para suas necessidades pessoais; e

  • Expectativa: oportuniza ao aluno o desejo de realizar suas atividades dentro dos padrões, para obter resultados positivos.

 

Se bem aplicados, os fatores acima permitem a todos os envolvidos no processo educacional da criança surda, um desenvolvimento contínuo e não mecanizado, proporcionando assim a construção de novos saberes. A partir disso, analisa-se que para ter um resultado significativo, a aprendizagem deve ser contextualizada.

Jordão (2013, p. 32) afirma que “É necessário considerar não só os aspectos motivacionais que permeiam o processo de aprendizagem de uma língua, mas também as metodologias aplicadas [...]”. As metodologias são essenciais para despertar o interesse do aluno surdo e propiciar satisfatoriamente sua compreensão. Uma metodologia bem delineada é um importante instrumento para a escolarização dos surdos.

No processo de escolarização, o uso de Libras não é um instrumento simples. Silva (2001, p. 37) expõe que “[...] não podemos ser ingênuos em relação ao aluno surdo, considerando a Língua de Sinais como solução para todos os problemas em sala de aula [...]”. A complexidade da Libras, entre outros motivos, está em ser bastante difícil propiciar de forma natural todas as diferenças linguísticas presentes em sala de aula, assim dificultando a interação entre os alunos surdos e os ouvintes.

Nessa mesma linha de raciocínio, observa-se que os problemas comunicativos e cognitivos das crianças surdas não estão relacionados somente à sua deficiência auditiva. A problemática está relacionada ao “[...] meio social em que ela está inserida, que frequentemente não é adequado, ou seja, não utiliza uma língua que essa criança tenha condições de adquirir de forma espontânea, a língua de sinais”. (GOLDFELD 1997, p.25). Assim sendo, é de essencial que a criança surda mantenha desde cedo o contato com a Libras, intensificando seu meio de comunicação e, também é importante manter interação com outras pessoas, outros ambientes, promovendo a construção contínua de conhecimentos.

Diante de tudo que foi exposto, observa-se que o profissional intérprete de língua de sinais deve estar bem preparado para exercer sua função. Sua atuação na escolarização de surdos deve ir bem além da mera tradução e interpretação, tem que ter vida, passar mensagens claras de forma natural. Para que o resultado colhido seja satisfatório, é necessário que o aluno surdo tenha entendimento do papel do intérprete, para não confundir com o papel do professor. A relação entre intérprete e o aluno surdo deve ser dinâmica e bem estruturada, possibilitando um processo educacional de qualidade.


INCLUSÃO DO ALUNO SURDO

 

Em seu artigo intitulado O papel do intérprete de Libras no contexto da educação inclusiva: Problematizando a política e a prática (2011), Joelma Remígio de Araújo, expõe que “Os intérpretes de Língua de Sinais da área educacional, como participantes ativos nesse contexto tão complexo e diverso, têm vivido diariamente experiências ímpares quando se trata de inclusão social de surdos [...]” (p. 75). Por não ser um processo simples, a inclusão de surdos, deve ter uma estrutura sólida e profissionais bem preparados.

Durante o processo de inclusão, por mais que haja dificuldades e obstáculos, “[...] é primordial que que a escola seja um ambiente linguístico onde a comunicação aconteça de forma natural e fluente, através da Língua de Sinais entre outros participantes do processo educacional [...]” (DORZIAT, 2009 apud ARAÚJO, 2011, p. 78). Analisa-se então, que a escola tem que se configurar para sanar todos os percalços existentes e construir um ambiente propício para a construção do conhecimento.

Tratando-se da inclusão, é primordial que se reflita sobre “[...] os estudantes surdos que num espaço que se diz inclusivo e precisa possibilitar reais oportunidades de participação dos alunos surdos [...]” (ARAÚJO, 2011, p. 81), para que esses possam realmente se sentir à vontade no âmbito escolar. Para que isso ocorra, há “[...] a necessidade de se criar estratégias educacionais a partir do respeito a forma visual de apreensão que os alunos surdos tem, possibilitando maiores oportunidades de desenvolvimento [...]” (ARAÚJO, 2011, p. 81), estabelecendo assim, relações significativas e profundas no espaço escolar.

No processo de inclusão, além da presença do TILS bem preparado, também é importante que haja a possibilidade de trabalhar a partir da cultura surda, práticas pedagógicas adequadas e direcionadas às reais possibilidades do aluno surdo. Dorziat (2009, p. 72) apud Araújo (2013, p. 84) afirma que “[...] o ato de interpretar o processo educativo é complexo porque transcende a simples transmissão de informações, sendo o espaço educacional essencialmente lugar de negociação de sentido, de prática de significação”. Assim sendo, é imprescindível que todos os envolvidos no processo de inclusão educacional de surdos, tenham conhecimentos fundamentados e esteja sempre se atualizando sobre a história dos surdos.

A comunicação encontra-se no centro das discussões voltadas à inclusão de surdos, devido a surdez implicar em uma diferença linguística. A comunicação é uma questão bastante delicada, pois caso haja sua ausência efetiva, todo o processo educacional será prejudicado. Causará comprometimento desde a assimilação dos conteúdos transmitidos até a criação de um vínculo afetivo entre aluno surdo, alunos ouvintes, professor e intérprete.

Segundo Martins (2010) apud Jordão (2013), aproveitar as experiências visuais na e dá língua de sinais pode produzir estratégias de ensino eficientes, já que esta língua inscreve-se no lugar da visualidade e encontra na imagem uma grande aliada junto às propostas educacionais e às práticas sociais. Metodologias bem definidas, constituem práticas pedagógicas e o gerenciamento escolar dos saberes e das necessidades do aluno surdo, influindo assim, positivamente em sua vida escolar.

Enfim, analise-se que a inclusão do aluno surdo não é um processo simples, pois requer muita dedicação de todos os envolvidos e uma estrutura pedagógica bem elaborada. O intérprete é parte essencial deste processo, mas não é o único que deve manter-se ativo. É de grande importância, para garantir o sucesso da inclusão, que os alunos surdos sintam-se inseridos realmente no seio escolar, mantenha contato direto com alunos ouvintes, professores e demais funcionários da escola. Para ter resultados satisfatórios metodologias, técnicas gestuais, conhecimento da cultura surda e sobretudo, boa vontade e profissionalismo de todos que fazem parte do âmbito educacional.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O presente estudo buscou analisar o papel do TILS no desenvolvimento educacional do aluno surdo. Pôde-se analisar então, que a atuação do intérprete faz toda diferença no processo de ensino/aprendizagem, mas tal profissional não deve ser o único envolvido, pois para que a inclusão seja efetiva e ativa, todos pertencentes ao núcleo escolar devem fazer-se presentes.

A responsabilidade pelo desenvolvimento do aluno surdo, se direcionada somente ao intérprete não surtira efeitos positivos, pois além de necessitar de um acompanhante que seja bilíngue e saiba interpretar e fazer-se compreender, o aluno surdo também necessita ter uma relação estreita com os alunos ouvintes e com o professor, para que assim, sinta-se à vontade no âmbito escolar e tenha resultados satisfatórios.

A falta de estrutura escolar é considerada um dos piores fatores que influem-no desenvolvimento da pessoa surda, pois se não houver profissionais preparados e qualificados para exercer determinadas funções, a inclusão escolar passa a não existir. A escolarização do aluno surdo, além da atuação do TILS precisa ser bem estruturada, com metodologias e técnicas bem elaboradas. Tais fatores contribuem para que a comunicação, de forma natural, seja estabelecida e o conhecimento construído.

Como já dito anteriormente, a inclusão de alunos surdos é um fator delicado, por isso deve ser bem definida, para não gerar efeito contrário e influir negativamente na vida dos envolvidos. Conforme citado no decorrer do trabalho, é de grande importância que as ações do intérprete, tenham atendimentos bem delineados, de acordo com o perfil e o histórico de vida do aluno surdo, pois só assim é possível conseguir resultados positivos.

Enfim, o estudo demonstrou através da revisão bibliográfica e do senso crítico dos autores aqui citados, que o aluno surdo pode ser incluso no ambiente escolar através de projetos bem desenvolvidos, estímulo pedagógico e apoio do intérprete e dos demais funcionários da escola. A inclusão não é algo simples, mas pode ser alcançada com sucesso, desde que haja interesse do aluno e da equipe escolar especializada em atendê-lo.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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QUADROS, R. M. O tradutor e intérprete da língua brasileira de sinais e a língua portuguesa. Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos. Brasília: MEC; SEESP, 2004.

 

SACKS, O. Vento vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. Rio de Janeiro: Companhia das Letras: 1999.

 

SILVA, M. P. M. A construção de sentidos da escrita do aluno surdo. São Paulo: Plexus, 2001.

1 Especialista em Planejamento e Docência do Ensino Superior, e Tradução e Interpretação da LIBRAS, graduada em Licenciatura Plena em Letras/Literatura, professora da Seduc/MT.