Buscar artigo ou registro:

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONHECER PARA PRATICAR

 

Rosimeire Pereira de Oliveira1

 

 

RESUMO

 

 

Por meio deste trabalho atualizaremos o conceito de Educação Inclusiva que é o processo de inclusão dos portadores de necessidades especiais ou de distúrbios de aprendizagem na rede regular de ensino. Vivemos em uma sociedade que busca essa inclusão não apenas no ambiente escolar, mas também em ambientes não escolares mas de aprendizado, mas percebe-se que as dificuldades encontradas na realidade escolar e não escolar são inúmeras o que torna o processo lento. Mantoan (2003) apresenta a importância do espaço escolar na construção de personalidades humanas autônomas. E Gil (2005) encoraja a busca de formas adequadas para transmitir conhecimento e avaliar cada aluno incluído nos ambientes educativos, e Ainscow& César, 2003 ressalta a importância da família no processo de inclusão e nos instiga a refletir em busca da construção de uma sociedade mais inclusiva.

 

Palavras-chave: Educação inclusiva. Aprendizagem. Ambiente escolar.

 

 

Introdução

 

O presente trabalho pretende apresentar a Inclusão como uma prática social na educação,mas devemos lembrar que a mesma se aplica em variadas áreas, seja no trabalho, na arquitetura, no lazer, na educação, na cultura, mas, principalmente, na atitude e no perceber das coisas, de si e do outrem, e acordo com Sassaki, “é um processo que contribui para um novo tipo de sociedade através de transformações, nos ambientes físicos (...) e na mentalidade de todas as pessoas” (2010, p. 40).

Segundo Aranha (2002) a Inclusão é: afiliação, combinação, circunvizinhança, continência, envolvimento e compreensão, ou seja, o ato de incluir e acrescentar seriamum chamado a todos que têm aguardado participar de novos sistemas que animem a se envolver e tomar parte todas as pessoas juntamente com suas capacidades, assim incluindo e exercendo seus direitos.

A inclusão é um paradigma que se aplica aos mais variados espaços físicos e simbólicossegundo Camargo (2017, p.1). Os grupos de pessoas, nos contextos inclusivos, têm suas características idiossincráticas reconhecidas e valorizadas. Por isto, participam efetivamente. E ainda de acordo com Camargo (2017) o referido paradigma, identidade, diferença e diversidade representam vantagens sociais que favorecem o surgimento e o estabelecimento de relações de solidariedade e de colaboração, e esses grupos de pessoas não são passivos, eles respondem as mudanças e agem sobre as mesmas, poistransformam e são transformados por ele.

De acordo com Mantoan (2005, p.6): “Estar junto é se aglomerar com pessoas que não conhecemos. Inclusão é estar com, é interagir com o outro.”

 

Segundo Mantoan todas as pessoas são acolhidas sem exceções pela educação inclusiva e complementa,“inclusão é a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoasdiferentes de nós”.

 

Histórico

 

No século XVI inicializou os debates a respeito da educação especial, onde a principio a educação dos portadores de necessidades especiais era fundamentada em discriminação, pois eram vistos como incapazes e na grande maioria eram abandonadas. De acordo com Mazzotta (2005), no Brasil no início do século XIX as pessoas com necessidades especiais não recebiam tratamento nenhum; somente nos meados de XIX que as Santas Casas de Misericórdia brasileiras iniciaram alguns cuidados específicos.

Segundo afirma Sassaki (1997)a educação especial no Brasil foi marcada pelas fases deexclusão, segregação institucional, integração e inclusão.

Na fase da exclusão Sassaki (1997)relata que houve rejeição, exploração e perseguição para as pessoas com deficiências, assim surgiram alguns estudos que tinham em vista a educação especial. Ainda século XIX o surgimento de serviços voltados para o atendimento de deficientes mentais e físicos, surdos e cegos, inicia-se a ideia de que seria possível deficientes na educação.

No período da segregação institucional inicia inquietação a respeito do desenvolvimento educacional, fazendo surgir às escolas especiais, assim foi criado por Dom Pedro II no Rio de Janeiro em 12 de outubro de 1854 o Imperial Instituto de Meninos Cegos. (Mazzota, p.28, 2005).

Segundo Strobel (2008), o professor surdo francês Ernest Huet chega ao Brasil no ano de 1855, a convite de Dom Pedro II para criar a primeira escola para surdos, a qual foi oficializadaem setembro de 1857 com nome de Imperial Instituto de Surdos-Mudos, que no inicio contava com a presença de dois alunos e que no ano de 1957 teve seu nome alterado para INES- Instituto Nacional de Educação de Surdos, o qual permanece até os dias de hoje.

Diante desses avanços,Sassaki (1997) relata queiniciaram as discussões sobre educação especial onde se visava o currículo e formação docente, e foram destinados recursos financeiros para que os portadores de necessidades especiais tivessematendimento pedagógico e medico-pedagógico.

A fase de integração de acordo com Sassaki (1997) acontece diante do desenvolvimento nas escolas de ensino regular das classes especiais, onde os alunos com deficiência (excepcionais) ficavam em salas à parte dos demais alunos.O inicio do processo de mudança ocorre quando a Constituição Federal de 1988, aliada a educação inclusiva passa a garantir que quando possível o aluno com deficiência tivesse direito a educação em sala regular de ensino.

A educação inclusiva teve avanços significativos ao longo dos anos 90 do século XX, por dois movimentos importantes, a saber: a Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em Jomtiem,Tailândia, em 1990 e a Conferência Mundial de Educação Especial, realizada em 1994, emSalamanca, Espanha, de onde se originou o documento “Declaração de Salamanca”.Sendo assim como está proposto na Declaração de Salamanca, cabe à escolaem si resolver as desigualdades.

Segundo Sassaki (1997), a fase de inclusão é apresentada diante da precisão de adaptação dentre a sociedade e das pessoas com deficiência mutuamente. Assim compreendemos que:

 

A inclusão do aluno deficiente sensorial no ensino regular, é muito mais do que a simples socialização, representa o combate à separação, o respeito e a consideração da existência das diferenças humanas. A prática da exclusão é uma grande colaboração à constatação de que uma escola da forma como está, quer padronizar pessoas, em critérios dominantes. (FERREIRA, 2005, p. 21).

 

 

Escola Inclusiva

 

A escola é a primeira oportunidade que a criança tem para aprender a conviver com outras crianças fora do ambiente familiar, fase importante que deve ser proporcionada a todas as crianças. As escolas são espaços educativos de construção de personalidades humanas autônomas, buscando constituir seres pensantes, críticos, questionadores, criativos, desenvolvendo seus talentos e preparando-os paraserem melhores cidadãos (MANTOAN, 2003).

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Especial (MEC-SEESP, 1998), o conceito de escola inclusiva implica em uma escola regular propor no projeto político- pedagógico, no currículo, na metodologia, na avaliação e nas estratégias de ensino, ações que favoreçam a inclusão social e práticas educativas diferenciadas que atendem todos os alunos.

Assim a escola buscar atingir quatro objetivos muito importantes:

 

Transmitir conhecimentos;

Formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres;

Preparar para o trabalho;

Promover o desenvolvimento pessoal.

 

A Escola Inclusiva respeita e valoriza todos os alunos, cada um com a sua característica individual e é à base da Sociedade para Todos, que acolhe todos os cidadãos e se modifica, para garantir que os direitos de todos sejam respeitados. A Educação Inclusiva vem para substituir a escola tradicional, na qual todos os alunos precisavam se adaptar ao mesmo método pedagógico e eram avaliados da mesma forma. Quem não se enquadrasse, estava fora dos padrões considerados aceitáveis e era encaminhado para a classe especial, para a escola especial ou, simplesmente, acabava desistindo de estudar.

Para Mantoan&Prieto, (2006) um dos grandes obstáculos ainda se encontra na “distorção conceitual” da inclusão escolar, enfatiza que a inclusão propulsa a qualidade de aprendizagem a todos os alunos e que é no enfrentamento desse processo que devemos nos atentar às possíveis barreiras impostas para a busca coletiva de soluções. Num discurso objetivo e bem fundamentado, as autoras, referências na área da educação inclusiva, contribuem ao debate em prol de uma escola mais justa e acolhedora frente às diferenças de seus alunos. É responsabilidade de toda a sociedade civil brasileira, como representação do poder público, assim como dos sistemas de ensino, o engajamento por uma escola para todos, para que superemos os obstáculos que mantêm a exclusão. Assim, como nos afirma Prieto,(2006, p. 69)“... fazer que os direitos ultrapassem o plano do meramente instituído legalmente e construir respostas educacionais que atendam às necessidades dos alunos.”.

De acordo com Gil (2005) é base da Educação Inclusiva: considerar a deficiência de uma criança ou de um jovem como mais uma das muitas características diferentes que os alunos podem ter. E, sendo assim, respeitar essa diferença e encontrar formas adequadas para transmitir o conhecimento e avaliar o aproveitamento de cada aluno.

A Educação Inclusiva implica que TODAS as crianças tenham a mesma oportunidade de acesso, de permanência e de aproveitamento na escola, independentemente de qualquer característica peculiar que apresentem ou não, que todos os alunos com ou sem deficiência participem ativamente de todas as atividades na escola e na comunidade, Cada aluno é diferente no que se refere ao estilo e ao ritmo da aprendizagem e essa diferença é respeitada numa classe inclusiva.

Segundo Minetto, (2008) o real objetivo da inclusão

...é buscar entender o processo de inclusão de crianças com deficiência nas escolas regulares de ensino. A partir dessa busca, perceber quais são os facilitadores e as barreiras desse processo, se a família da criança está pronta para incluir ela no meio social, que é a escola, e se esta se encontra preparada para receber esses alunos com necessidades especiais.”

Conclusão

Temos no nosso país um grande índice de pessoas com algum tipo de necessidade especial, assim a escola e a família desempenham um papel fundamental na inclusão dessas pessoas, sendo fundamental a busca por uma reflexão de como poderemos construir um caminho para uma sociedade mais inclusiva.

Nos dias atuais, encontramos um grande desafio na educação que é alcançar a meta de que todos os alunos tenham ingresso à educação básica de qualidade através da inclusão escolar, com suas diferenças culturais, sociais e individuais. Vemos então a importância da capacitação de profissionais, infraestrutura das escolas e ambientes educacionais e o material didático adequado às variadas necessidades.

É necessário que essa inclusão ultrapasse o ambiente escolar e que outros espaços sejam pensados e preparados para receber pessoas com necessidades educativas especiais. Assim a educação inclusiva é incorporar o diverso, proporcionar uma educação com excelência.

 


REFERÊNCIAS


ARANHA, M. S. F. Integração social do deficiente: análise conceitual e metodológica. Temas em Psicologias, v. 2, p. 63-70, 2002.

 

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Imprensa Oficial, 1988.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria do Ensino Fundamental. Secretaria de Educação Especial. Parâmetros curriculares nacionais. Adaptações curriculares. Estratégias para a educação de alunos com necessidades educacionais especiais. Brasília: MEC/SEF/SEESP, 1998.

 

CAMARGO, Eder Pires de. Inclusão social, educação inclusiva e educação especial: enlaces e desenlaces. Ciênc. educ. (Bauru), Bauru, v. 23, n. 1, p. 1-6, Mar. 2018. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-73132017000100001&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 08 de Jan de 2018.

 

FERREIRA J. R. Reformas educacionais pós LDB: a inclusão do aluno com necessidades especiais no contexto da municipalização. IN: SOUZA, D. B; FARIA, L. C. M. (Orgs) Descentralização, municipalização e financiamento da Educação no Brasil pós LDB. Rio de Janeiro, DP&A, p. 372-390, 2003.

 

GIL, Marta. Educação Inclusiva – O que o Professor Tem a Ver com Isso.São Paulo, 2005. Ed TEC 4. Bibliografia ART

 

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão é o Privilégio de Conviver com as

Diferenças.In Nova Escola, maio, 2005.

 

MANTOAN. E. Tereza. Inclusão escolar. Disponível:<http://www.cee.rr.gov.br/dmdocuments/educ_inclusiva.pdf>. Acesso 10 junho 2013

 

MANTOAN, Teresa E.; PRIETO, Rosângela G. In: ARANTES, Valéria A. (Org.). Inclusão Escolar: pontos e contrapontos. São Paulo: Ed. Summus, 2006. 103p.

 

MAZZOTTA, Marcos José Silveira. Educação Especial no Brasil: História e Políticas Públicas. São Paulo: Ed. Cortez, 2005.

 

MINETTO, Maria de Fátima.Currículo na Educação Inclusiva: Entendendo esse Desafio. São Paulo. Ibpex, 2008.

 

SANTOS, P. Mônica. O papel do ensino superior na proposta de uma educaçãoinclusiva. Disponível:http://www.lapeade.com.br/publicacoes/artigos/Paper%20UFF.pdf . Acesso: 9 abril 2013.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. 8ª ed. Rio de Janeiro: WVA, 2010.

 

STROBEL, Karin L. Surdos: Vestígios Culturais não Registrados na História. 2008. 176 f. Tese. (Doutoradoem Educação) – Faculdade de Educação. UFSC, Florianópolis.



1Especialista em Planejamento e Docência do Ensino Superior, e Tradução e Interpretação da LIBRAS, graduada em Licenciatura Plena em Letras/Literatura, professora da Seduc/MT.