A IMPORTÂNCIA DA DIDÁTICA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Keli Cristina de Lima1
RESUMO
A preocupação básica desse estudo é refletir sobre o papel do educador diante da relação educando/aprendizagem a fim de buscar novos meios para que a aprendizagem realmente aconteça. Este artigo tem por objetivo conceituar didática e prática pedagógica para entender como o educador deve conduzir suas aulas de forma a atrair o educando e por consequência efetivar a aprendizagem. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica considerando as contribuições de autores como ANTUNES (2002), COMENIUS (1952), FREIRE (1985), LIBÂNEO (1994), TIBA (2006), entre outros, procurando enfatizar a importância de uma boa didática utilizada em sala de aula, bem como, compreendendo quão importante é o educador no processo ensino/aprendizagem. Conclui-se que o educador precisa entender que saber apenas sobre sua disciplina já ficou no passado, cabe a ele a busca de novos conhecimentos, meios e técnicas eficazes para atender as necessidades que o educando apresenta em relação aos conhecimentos adquiridos no contexto escolar.
Palavras-chave: Didática. Aprendizagem. Educador.
Introdução
As transformações que vem ocorrendo na educação exige cada vez mais da classe docente uma educação de qualidade, pois a sociedade necessita de pessoas qualificadas para atuar em seu meio. Dessa forma a escola torna-se responsável em atender a expectativa do mercado globalizado. Nessa perspectiva, na problemática apresenta-se o seguinte questionamento: em que medida a didática pode ser ressignificada a ponto de tornar a prática pedagógica mais atraente?
Dentre as obras literárias sobre didática, este estudo terá embasamento do conhecimento de J. A. Comênio ao introduzir o conceito de didática ao mundo quando quis revolucionar a educação de sua época, Paulo Freire por compartilhar com a humanidade seus feitos sobre a aprendizagem enfatizando a pedagogia da pergunta que possibilita um maior diálogo entre educando e educador fortalecendo o processo de aprendizagem e J. C. Libâneo por exaltar uma didática sistemática pontuando a importância da relação de teoria com prática.
O presente trabalho tem por objetivo compreender em que medida a didática pode ser ressignificada a ponto de tornar a prática pedagógica mais atraente nos educandos, conceituando ainda o termo didática, pesquisando sobre práticas pedagógicas que podem ser utilizadas em sala de aula para que o mesmo compreenda os conteúdos com maior facilidade.
Desenvolvimento
A educação é um tema a ser estudado constantemente e é através desse que a humanidade vive e se organiza em sociedade. A escola não pode estar alheia as necessidades básicas do meio social, pois é nela que a mesma vem se apoiando para desenvolver nos jovens a capacidade do pensamento crítico, a necessidade de aprender como aprender, a tomar decisões, a buscar seus ideais, a trabalhar e sobreviver em grupo, "desde o início da história da humanidade, os indivíduos e grupos travavam relações recíprocas diante da necessidade de trabalharem conjuntamente para garantir sua sobrevivência" (Libâneo, 1994, p.19). Nesse pensamento a função da escola é a formação de cidadão crítico, ativo, reflexível e autônomo, porém, esta, está encontrando algumas dificuldades pelo caminho e uma delas está relacionada à prática docente.
O educador assume papel fundamental nesse confronto de ideias, escola-sociedade, é ele o responsável pela permanência ou abandono dos educandos do banco escolar. Muitas vezes a escola deixa de ser atraente ao educando, facilitando assim a evasão escolar. Sua função é sim manter o educando na escola e oferecer-lhe o conhecimento científico correlacionando com sua vivência prática. Dessa forma se torna importante as habilidades e a criatividade que o ser humano tem, o educador precisa entender que é um agente transformador, que muitos educandos dependem dele para se tornarem adultos críticos e conhecedores do mínimo saber.
Atrair e oferecer uma educação de qualidade, não é tarefa fácil, o educador precisa estar atento as transformações que ocorrem na sociedade para que suas aulas sejam planejadas de forma atrativas e prazerosas. A partir desse ponto é que a didática a ser utilizada em sala define sua efetiva aprendizagem, esta só acontece se ambas as partes estiverem envolvidas no processo ensino-aprendizagem. O educador como mediador tem a função de conduzir o conhecimento ao educando, orientando-o, questionando o que já sabe e aprimorando seus conhecimentos.
O ser humano é capaz de aprender e ensinar de forma sistêmica e observativa, a história nos conta que a primeira forma de ensino, hoje a didática. O termo didática tem origem grega e significa “a arte de ensinar”, é uma prática dotada de desafios e foi Comênio (1592 – 1970) que deu os primeiros passos na compreensão de seu significado difundindo seus ensinamentos em seu livro intitulado: “Didática Magna”. Comênio percebeu que as crianças passam por estágios de desenvolvimento e como é importante respeitá-los, assim como a construção do conhecimento sendo desenvolvida pela experiência, observação e ação, outro ponto de destaque foi seu entendimento sobre a punição, descrevia-a como não produtiva ao processo de ensino/aprendizagem, destacando assim que somente o diálogo será capaz de produzir o conhecimento necessário. Ele acreditava ainda que o educador deva saber trabalhar interdisciplinaridade com afetividade em um ambiente escolar arejado, bonito, com espaço livre e ecológico. Seus pensamentos estavam além da época em que viveu, por isso nos dias atuais ainda é preciso seus ensinamentos quanto a Didática adotada e sua função social. No período em que Comênio viveu as aulas eram ministradas apenas com o intuito de repassar os conhecimentos encontrados nos livros sem a mínima preocupação de contextualização e aprendizagem significativa.
Nos dias de hoje essa teoria não é mais aceitável, os educandos são mais perceptivos e já sabem diferenciar os educadores com ou sem didática, com ou sem conhecimento científico, dessa forma é preciso formar educadores com capacidade de evoluir assim como a sociedade evolui, com pensamentos abertos aos diferentes conceitos de vida que se encontra em diferentes grupos sociais.
A utilização de uma didática atrativa justifica a vontade do educando em aprender e permanecer em sala de aula, pois um dos maiores desafios que a classe docente enfrenta hoje é atrair a atenção desses jovens sedentos de tecnologias. Neste sentido cabe ressaltar que o educando deve se sentir atraído e envolvido na dialética ensino/aprendizagem e para tal é preciso despertar nele a vontade de aprender e querer continuar aprendendo, oferecendo aulas dinâmicas, concisas e criativas com metodologias adequadas para atender suas expectativas.
Segundo Libâneo (2002):
A razão pedagógica, a razão didática, está associada à aprendizagem do pensar, isto é, a ajudar os alunos se constituírem como sujeitos pensantes, capazes de pensar e lidar com conceitos, para argumentar, resolver problemas, para se defrontarem com dilemas e problemas da vida prática. Democracia na escola hoje, justiça social na educação, chama-se qualidade cognitiva e operativa do ensino. (LIBÂNEO, 2002, p.26)
O docente com essa visão de educação está à frente dos demais, pois além de se preocupar com o currículo, observa o educando num todo, suas características individuais e sociais, pensa uma melhor maneira de atingi-lo, de ensiná-lo com significado, propondo uma metodologia diferenciada, valorizando os conhecimentos prévios e motivando-o a busca incessante do conhecimento, baseado no diálogo e trocas de experiência (Freire, 1985). Completando o pensamento sobre o ‘educador ideal’, PERRENOUD (2000) relaciona dez domínios de competências que considera de fundamental necessidade na formação de docentes:
...”organizar e dirigir situações de aprendizagem; administrar a progressão das aprendizagens; conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação; envolver os alunos em sua aprendizagem e em seu trabalho; trabalhar em equipe; participar da administração da escola; informar e envolver os pais; utilizar novas tecnologias; enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão; e administrar sua própria formação contínua.”
Ser professor é uma tarefa árdua e difícil na atual conjuntura em que a sociedade se encontra. O estudante não quer mais saber de aulas expositivas em que não pode expressar sua opinião. A tecnologia está competindo de igual para igual e o maior desafio do professor é como utilizá-la a seu favor. Nesse contexto, cabe a ele, buscar ferramentas e novas estratégias para atrair a atenção do aluno e consequentemente a aprendizagem. Uma aula em que o aluno é indagado sobre conteúdos da aula anterior, sobre sua opinião a cerca do assunto, sobre sua experiência com certeza terá maior significado na vida escolar dele do que a aula monótona, cansativa em que o professor é apenas um palestrante frente a uma plateia sem voz.
Um bom professor busca saber, quer ensinar e vai ensinar, traça metas e objetivos, elabora plano de ensino com base na realidade em que seu aluno está inserido. No entanto há escolas que ainda adotam o mecanismo tradicional como ferramenta de trabalho, estas enobrecem a bagagem que o professor traz consigo dispensando novas técnicas e métodos para melhor expansão do conhecimento, um exemplo claro é a utilização de provas quantitativas como meio de avaliar, no caso, não é possível falar em avaliação e sim em medição de conteúdos repassados, que foram memorizados e posteriormente escritos com todos os pontos aos qual a fala do professor se ateve.
É de fundamental importância a reflexão do professor sobre sua prática pedagógica, sobre sua real função na formação do indivíduo, sobre o seu papel como mediador do conhecimento. Esse repensar suas ações perpassam por indagações sobre sua aula: ela é bem planejada? Há tempo disponível para um diálogo? O que está tendo de atrativo para aquele aluno que deixa sua casa e todos os aparatos tecnológicos de que gosta e senta-se em um banco escolar para ouvi-lo? Aqui é imprescindível responder as perguntas clássicas de o que, como e por que fazer, de maneira a atender as expectativas de uma educação de qualidade.
Todos esses mecanismos remontam ao princípio básico da educação, a construção do conhecimento, encaminhando o educador a conduzir sua aula para uma aprendizagem efetiva. Numa abordagem paradoxal muitos são os ensinamentos que norteiam o processo ensino-aprendizagem, alguns com traços fortes do tradicionalismo, outros com abordagens mais significativas para o educando, posicionando-o como agente principal na sociedade, porém o enfoque maior fica sob responsabilidade da didática que oportuniza o ensinar e aprender do educador e do educando, respectivamente, como forma de interação e trocas de conhecimentos, colocando o professor como mediador do conhecimento e aprendiz ao mesmo tempo, pois erra muito aquele que pensa que sabe tudo e que não precisa estudar mais “seus conteúdos”.
Assim a figura do docente sempre estará à frente da educação, vem tecnologia, novos estudos, mas a presença física do educador se faz necessária para mediar o conhecimento do mundo real para com o educando. Dessa forma é sua a função de buscar incansavelmente novos métodos de ensino que visem o interesse e a aprendizagem do educando, que o fortaleça no sentido da criticidade e da reflexão por meio de questionamentos que geram uma desacomodação do seu atual conhecimento. O meio social visa hoje um cidadão capacitado, com características incomuns aos demais, com embasamento científico do conteúdo (teoria), mas com base prática, além de autocontrole emocional e psíquico, com capacidade de lidar com adversidades que ocorrem no meio social.
Assim fica evidente que o processo de ensino/aprendizagem é de responsabilidade do educador, saber e saber ensinar são duas condições de existência na atualidade, o bom profissional da educação busca sempre uma saída para todas as intempéries que surgem em sua prática escolar.
Conclusão
Diante da pesquisa realizada, concluiu-se que a educação precisa de uma atenção especial, principalmente no aspecto docente, no que diz respeito ao pedagógico. O educador é um agente que atua diretamente no processo ensino/aprendizagem, os meios e técnicas que utiliza devem ser as mais variadas possíveis para que haja a efetivação do aprendizado do educando, pois competir com os atrativos que o meio social fora da escola está oferecendo está cada vez mais difícil, por isso a aposta numa proposta pedagógica de qualidade é a melhor saída na atualidade. Libâneo (1994) interage nesse ponto afirmando que “a escola cumpre funções que lhe são dadas pela sociedade que, por sua vez, apresenta-se constituída por classes sociais com interesses antagônicos...”
O bom profissional da educação hoje está preparado para suprir e contornar as mais diversas situações que lhe aparecem cotidianamente. De fato ser educador já foi um quebra galho, ou uma profissão do acaso, qualquer escola que se presa busca profissionais gabaritados, com visão do mundo pós moderno, com criatividade, capacidade e vontade de aprender cada vez mais.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Celso. Novas maneiras de ensinar, novas formas de aprender. Porto Alegre: Artmed, 2002
BECKER, Fernando. Epistemologia do professor: o cotidiano da escola. Petrópolis: Vozes, 1993
COMENIUS, J.A: Didática Magna. São Paulo, Calouste Gulbenkian, 1952.
FREIRE, Paulo; FAGUNDEZ, Antonio. Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
LIBÂNEO, J. C. Didática. 22ª ed. São Paulo: Cortez, 1994.
LUCKESI, Cipriano. Fazer universidade: uma proposta metodológica. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 1991.
MARTINS, Pura Lúcia O. A Didática e as contradições da prática. 2. ed. Campinas. Papirus, 2003.
PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes
Médicas Sul, 2000.
SANTOS, A. R. Metodologia científica: a construção do conhecimento. 4.ed. Rio de Janeiro, RJ: DP&A, 2001. 144p.
TIBA, Içami. Ensinar aprendendo: novos paradigmas na educação. 18. ed. ver. e atual. São Paulo: Integrare, 2006.
1Especialista em Metodologia do Ensino da Matemática e da Física, graduada em Matemática e professora da rede particular de ensino de Mato Grosso.