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INCLUSÃO E AUTISMO NA ATUALIDADE

Eliane Cerina de Lima Freire1

Marlei Vieira2

 

RESUMO

Diante do tema e a grande realidade na quantidade de diagnósticos do transtorno do espectro autista é que se observa a necessidade de abordar esse assunto no intuito de contribuir de certa forma com as famílias que vivem a essa situação. O assunto é complexo, pois até o presente momento, não há cura, porém, este artigo visa orientar pais e profissionais da área da educação, no intuito de buscar a desvendar esse universo imenso, descobrindo novas formas de ensinamentos, comunicação, conexão com o indivíduo autista, além de inventar, reinventar, adquirir, estudar e alcançar novos métodos pedagógicos, e assim, procurar formas de melhorar a vida dessas pessoas e facilitando sua interação e comunicação na sociedade, diminuindo as dificuldades enfrentadas por esses indivíduos e suas famílias. Intensificando mais informações sobre as Leis de Diretrizes e Bases da Educação para que todos possam exigir direitos iguais. Observando nossa história da educação brasileira desde a colonização do nosso País, constatando as mudanças que veem ocorrendo ano após ano. Educação de qualidade é um direito de todos e a inclusão um dever a ser posto em prática.

Palavras chaves: Autismo. Famílias. Educação.

 

INTRODUÇÃO

 

A inclusão, “vem do verbo incluir (do latim includere), na definição etimológico, significa ato ou efeito de incluir”, Aurélio (2017). Assim, falar em inclusão da criança autista significa compreender suas particularidades e dificuldades para assim se descobrir suas potencialidades, permitir que ela faça parte da sociedade, contribuir para que sua participação social ocorra.

De acordo com Camargo e Bosa (2009) apud (Aranha 1993; Dessen, e Aranha 1994), a relevância das particularidades das interações sociais e reflexões sobre a seu valor para o comportamento humano iniciou-se no século passado.

Os mesmos autores salientam que a partir dos anos 30, os estudos sobre os mistérios da interação social são praticamente inexistentes, sendo retomados somente após a Segunda Guerra Mundial, as pesquisas com uma notável ênfase na relação mãe-criança.

Segundo Camargo e Bosa (2009) “[...] o sucesso da constituição psíquica do indivíduo depende, primordialmente do processo de socialização. É no contexto das relações sociais que emergem a linguagem, o desenvolvimento cognitivo, o autoconhecimento e o conhecimento do outro”. A inclusão dentro do contexto do Espectro Autista visivelmente começa dentro das famílias, com a rápida aceitação e assimilação do diagnóstico, pois quanto mais antes se iniciar o tratamento menor será os danos.

Neste artigo será ressaltado as características da criança no Espectro Autista, o conflito de pais com o diagnóstico, o pós diagnóstico, tratamento, a inclusão escolar e a adaptação de materiais didáticos quando necessário.

Segundo o site Mente Maravilhosa (2016) [...] “o autismo não vem com manual. Vem com pais que não se rendem, que levam seus filhos à terapia enquanto outros pais levam os deles ao futebol ou ao balé”. Algumas mães que permanecem boa parte do seu tempo se dedicando a pesquisas para entender o mundo novo em que vive seus filhos e do que eles precisam, qual a melhor forma de alfabetizar seus pequenos. Pois, neste momento o que mais pesa é a vida escolar e o sucesso profissional. São elas, mães que fazem valer todos os dias os direitos dos seus amados. Por outro lado, o mesmo site diz que os diagnósticos de autismo têm aumentado muito nos últimos anos. “[...]segundo diversos estudos da Sociedade Americana de Autismo, 1 em cada 150 crianças recém-nascidas serão diagnosticadas com TEA (Transtorno do Espectro Autista)”.

 

Nenhum filho com autismo é igual ao outro. No entanto, a sociedade os rotula confundindo termos, usando estereótipos sem compreender que por trás de cada diagnóstico existe uma pessoa única e excepcional. Alguém com necessidades particulares e com uma família por trás que batalha todos os dias, não só pela sua integração, mas pela sua inclusão. [...]O autismo é um grande desconhecido para a maior parte da população. Muitos o associam às pessoas com capacidades extraordinárias, gênios na matemática ou muito hábeis na memória visual, mas com comportamentos tímidos, rígidos e estereotipados. (<https://amenteemaravilhosa.com.br/autismo-nao-vem-com-manual/> (2016).

 

Através de autores referenciados neste artigo, este fato não está totalmente correto, mesmo com o êxito do diagnóstico e a identificação mais precoce, mesmo com grandes estudiosos da genética ainda não se conhece a causa deste transtorno biológico. De qualquer forma é um fato significativo, o autismo é algo comum em nosso meio e há muitas famílias que têm necessidade de apoio.

Segundo Lacan (2005) o amor acontecerá realmente quando conseguimos amar aquilo que é diferente, o que é estranho a nós. Seguindo esta linha de pensamento, é de extrema importância que a nossa sociedade precisa aprender a conviver com a diversidade e suas inúmeras multiplicidades, aceitar que o diferente não fere ninguém e que somos todos diferentes.

 

  1. .0 DESENVOLVIMENTO

 

1.1 Historicidade da Educação Brasileira e Legislação

A luta para uma educação de qualidade historicamente falando vem acontecendo desde do descobrimento do Brasil, onde envolvia a política e interesses pessoais por parte dos governantes. De acordo com Bomeny, (1999) durante a militarização também envolveu a educação do país, cuja juventude foi mobilizada por meio do projeto de Organização Nacional da Juventude, chefiado pelo Ministério da Justiça.

Romanelli (2010, p. 157) “[...] destaca que, em 1937, as lutas ideológicas em torno dos problemas educacionais entraram em uma espécie de hibernação”, mesmo que os estudiosos ainda brigarem pelos ideais para a qualidade no ensino, estavam condenados a uma guerra individual, já que tal não iria se realizar em um deslocamento social.

A Constituição de 1934, reconhecia que a educação era um dever do Estado, foi substituída pela Constituição de 1937, que não delegava obrigação. Segundo a mesma autora, foi um feito dos intelectuais tradicionalistas e dos padrões do regime do Estado Novo.

Outras mudanças aconteceram em 1942 a partir do mandato de Gustavo Capanema, com o devido nome Reformas de Gustavo Capanema. Ouve mudanças em deferentes níveis da educação.

 

...ministério dos modernistas, dos Pioneiros da Escola Nova, de músicos e poetas. Mas foi também o ministério que perseguiu comunistas, que fechou a Universidade do Distrito Federal (UDF), de vida ativa e curta, expressão dos setores liberais da intelectualidade do Rio de Janeiro (1935-1939). Foi, ainda, o ministério que apoiou a política nacionalizante de repressão às escolas dos núcleos estrangeiros existentes no Brasil. O ministério Capanema nos desafia ao refinamento da análise e a escapar das associações mais apressadas entre políticas e comportamentos e entre os limites das ações dos atores diante da imponderabilidade dos processos (BOMENY, 1999, p. 137).

 

A Constituição de 1988 trouxe, em sua composição, um progresso em relação às anteriores, pois, em seu texto, ela declarou o direito à educação.

Em 1990 época em que o Brasil teve a obrigação de ultrapassar as grandes massas do analfabetismo, pois, grande parte do país eram composto por analfabetos. No sentido de democracia, a lei apresentou seu Art. 205 declarando que “[...] a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988, [s. p.]).

O Art. 206 trouxe as finalidades a que se destina a educação brasileira. Em seu texto podemos observar os intuitos legais:

 

I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento,

a arte e o saber;

III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência

de instituições públicas e privadas de ensino;

IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

V – valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos,

na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente

por concurso público de provas e títulos, aos das

redes públicas (Redação dada pela Emenda Constitucional

n. 53, de 2006);

VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei;

VII – garantia de padrão de qualidade;

VIII – piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação

escolar pública, nos termos de lei federal (Incluído pela Emenda

Constitucional n. 53, de 2006) (BRASIL, 1988, [s. p.]).

 

Percebe-se como foi a luta até o século XX, apesar que é nesta mesma época que já se falava em instituições para pessoas com deficiência e inclusão. Em se tratando de políticas públicas, o que os nossos governantes têm feito pela educação especial?

 

ECA – Estatuto da Criança e Adolescente – Este estatuto, na Lei n° 8.069, de 1990, em seu art. 53, no que se refere à educação, estabelece que “toda criança e adolescente tem o direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho”. Além disso, assegura:

- Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.

- Direito de ser respeitado por seus educadores.

- Acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. (SILVEIRA; NASCIMENTO,2013, pág. 44).

 

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96 – Capítulo V – Educação

Especial.

Art. 58 – Entende-se por educação especial, para efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.

§1° Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial.

§2° O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular.

§3° A oferta de educação especial, dever constitucional do estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.

Art. 59 – Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais:

I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos para atender às suas necessidades;

II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados;

III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para integração desses educandos nas classes comuns;

IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;

V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para respectivo nível do ensino regular.

Art. 60 – Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo Poder Público. (SILVEIRA; NASCIMENTO,2013, pág. 44 e 45).

 

Sobre a Diretrizes Da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva - A educação especial é uma forma de ensino que percorre todos os pontos, e etapas, desempenha atendimento educacional especializado, fornece os meios e serviços, orientando quanto a sua aplicação na metodologia de ensino e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular. A função do atendimento educacional especializado é identificar, elaborar, organizar estratégias pedagógicas e de acessibilidade que excluem barreiras para a completa atuação dos alunos, observando suas necessidades específicas. As atividades oferecidas no auxilio educacional especializado distinguem-se das atividades praticadas na sala de aula comum, não sendo substituída à escolarização. Esse atendimento integra e/ou suplementa a formação dos alunos com à autonomia e independência na escola e fora dela.

 

  1. TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

 

O termo autismo foi utilizada pela primeira vez por Bleuler (1911), para apontar a perda do contato com a realidade, o que provocava um enorme obstáculo ou impedimento da comunicação.

Kanner (1943), usou a mesma linha de pensamento para classificar crianças que tinham em comum comportamento bastante parecido. Presumiu que se tratava de uma incapacidade inata para estabelecer contato afetivo e interpessoal.

Asperger (1944), identificou casos em que havia algumas particularidades semelhantes ao autismo em relação às dificuldades de comunicação social em crianças com inteligência normal.

 

Autismo não é uma doença única, mas sim um distúrbio de desenvolvimento complexo, definido de um ponto de vista comportamental, com etiologias múltiplas e graus variados de severidade3. A apresentação fenotípica do autismo pode ser influenciada por fatores associados que não necessariamente sejam parte das características principais que definem esse distúrbio. Um fator muito importante é a habilidade cognitiva4-9. (Carlos A. Gadia, Roberto Tuchman, Newra T. Rotta, 2004, p. 83).

 

De acordo com PESSIM & HAFNER, (2014) a grande oscilação que ocorre no grau de habilidades sociais, de comunicação e nos padrões de comportamento que acontecem em autistas tornou mais propicio o uso do termo transtornos invasivos do desenvolvimento (TID)10. Seguindo a perspectiva das autoras citada a cima que, muitos ainda se confundem, na literatura, em relação à terminologia AUTISMO e TID. O termo autismo se referência ao autismo clássico, um dos transtornos mais graves do espectro dos TID. Deve-se destacar que o termo TID se utiliza a todo o espectro do autismo e não significa autismo leve ou descarta autismo.

No autismo Clássico, a criança apresenta no mínimo seis dos doze itens contendo os três campos de comportamento que identificam o espectro autista antes dos 3 anos de idade.

Observando que o comportamento intelectual prejudicado não exclui o diagnóstico, pois cerca de mais ou menos 70% dos pacientes podem apresentar deficiência mental.

Transtorno desintegrativo, alguns dizem regressão autístico, os pacientes são inicialmente normais, com desenvolvimento neuropsicomotor e linguagem normais e que não apresentam outras complicações degenerativas e a partir dos 2 aos 10 anos desenvolvem um encadeamento de regressão que pode prejudicar tanto a linguagem, quanto a cognição e sociabilidade e vem se tornar autistas com grau moderado.

 

 

[...] Transtorno Invasivo do Desenvolvimento Sem Outra Especificação, é o diagnóstico dado aos sujeitos que apresentam características muito semelhantes aos dos outros transtornos do TID, mas não se enquadram em nenhum transtorno devido a falta de clareza nos sintomas, pois se apresentam de forma incompleta”. (PESSIM & HAFNER, 2014, p. 3).

 

O quadro abaixo mostrara um exemplo de perfil autístico.

Fonte.: < https://sites.google.com/site/direitoadiferencaamais/tgd-transtorno-global-do-desenvolvimento>

 

 

2.0 A TEORIA SÓCIO CULTURAL NA PERSPECTIVA DE VYGOTSKY

 

A criança desenvolve seu cognitivo quando é passado para si seus princípios culturais crenças e estratégias de soluções de problemas por meio de diálogos colaborativos com pessoas participantes ativo da sociedade que tem mais conhecimento. Essa teoria nos mostra uma visão sociocultural é interacionista porque acredita que o desenvolvimento as interações sócias culturais, logo também as interações entre as pessoas e o diálogo na posição de meio pelo qual as interações ocorrem, o que nos remete a importância da linguagem que acontece porte um suporte fisiológico, mas que também é produto da cultura. E outra coisa muito interessante que se pode entender é que a psicologia desenvolvida por Vygotsky tinha como proposito superar por meio da investigação da influência dos processos culturais no desenvolvimento dos processos psicológicos, a cisão entre corpo e alma que pairava como herança influente para psicologia no início do século XX.

Ferramentas de adaptação intelectual é o termo usado por Vygotsky para os métodos de raciocínio e estratégias de soluções de problemas que as crianças internalizam suas interações com membros sociais que possui mais conhecimento que elas. Para melhor entendimento Vygotsky propôs que as crianças nascem com algumas funções mentais elementares como a atenção, a sensação, a percepção e memoria que acabam sendo transformadas pela cultura em funções mentais maiores que seriam funções mais sofisticadas. Como por exemplo, a memória de crianças pequenas é limitada por restrição da biologia as imagens e impressões que são capazes de reproduzir. Mas a sociedade, que representa a cultura pode estimular a memória ao realizar anotações enquanto a sociedade pré-literárias se utilizam de outras formas de memorização, ou seja, cada cultura interfere com ferramenta de adaptação intelectual que lhe são próprias e lhe permite o uso de suas funções mentais básicas de maneiras mais adaptativas.

Cada cultura transmite crenças e valores específicos, por tanto acaba por ensinar as crianças o conteúdo a ser pensado além das ferramentas de adaptação que Vygotsky considera a linguagem como fundamental para o desenvolvimento. O processo de linguagem é um dos mais importantes para que a pessoa possa interagir no mundo a sua volta. A linguagem que é apresentada a uma criança é a forma de como ela lê o mundo, evidenciando a natureza social do desenvolvimento humano e a própria criança passa a ser capaz de distinguir os aspectos importantes do mundo e agir de maneira diferenciada em relação a eles. A aquisição da linguagem organiza todos os processos mentais da criança dando forma ao pensamento, além da palavra nomear e identificar um objeto do mundo especifico, generaliza, distingue, relaciona em categorias. Por tanto a linguagem sistematiza a experiência direta da criança e serve para orientar se proporcionado de ser tanto sujeito como objeto desse processo, o papel da linguagem vai além da possibilidade de representar o mundo porque tem implicação diversas nas atividades da criança, ação e fala se relacionam em mesmo processo.

Vygotsky identifica etapas básicas pelas quais as crianças passam a partir das interações estabelecidas com o ambiente especialmente com as outras pessoas. Outro conceito muito importe na teoria de Vygotsky é a zona proximal de desenvolvimento, que se refere a gamas de tarefas demasiadamente difíceis para ser classificadas de modo único, mas podem ser executadas com sucesso quando orientada por uma pessoa habilidosa.

 

2.1 Família e Autismo

 

A maioria dos pais quando tem um bebê a caminho se enchem de alegria, a mamãe de primeira viagem se encanta com cada roupinha que vê. Muitas expectativas ao redor da criança que ainda não nasceu, como ele será? terá um rostinho parecido com o da mamãe ou do papai, cabelos castanhos, olhos amendoados, serás uma criança feliz e perfeita, terás família e uma ótima carreira. E nesse sentido vários pensamentos positivos vão se cercando até os 3 anos de idade as vezes menos até a chegada do grande vilão, o diagnóstico. É comum esses tipos de sonhos e pensamentos entre vários pais.

 

2.1.1 Pesquisa de Campo entre famílias de Crianças com Autismo

 

Segue alguns relatos reais do autismo no meio familiar, uma realidade através de quem vive o autismo.

 

2.1.2 Família 01

Mãe: F. S.

Filho: M. B. de 8 anos – Diagnostico - Autismo leve CID F84.9.

 

Ha três anos atrás eu queria muito não ter conhecido o autismo e muito menos em meu filho. No dia em que recebi o diagnóstico um letreiro luminoso piscava em minha mente "deficiência mental", meu filho, não! Hoje depois de muitas pesquisas para conhecer esse vilão que me causou tanta dor, percebi que estava enganada por minha ignorância, pois, o AUTISMO nada mais é na minha concepção, Deus querendo equilibrar o mundo, esse mesmo que está cada vez mais sombrio com pessoas com tantos preconceitos por medo das diferenças. Hoje agradeço todos os dias pela oportunidade de ter ao meu lado uma pessoa pura, sincera e amorosa. Quem tem um autista em casa sabe bem o que digo.

Talvez meu filho não me daria tanta alegria e orgulho se fosse uma criança comum neuro-típica. Eu me encho de orgulho quando o levo para passear ou almoçar em algum restaurante e vejo quanta educação, disciplina e respeitando tudo e a todos. Muitas outras crianças que vejo no dia a dia a chorar por que a mãe não comprou aquele brinquedo ou mesmo no supermercado chorando e sapateando aos berros, e o meu filho só olha e me pergunta, "por que ela está a chorar?" e eu digo não sei querido, talvez ela está triste. Meu pequeno é uma criança que compreendo tudo apenas com uma conversa, uma explicação. Não necessita de berros, tapas ou qualquer algo do tipo, apenas uma boa conversa.

Ser mãe de um autista é um privilégio, é como conhecer o outro lado do mundo, é viver no céu mais azul.

 

2.1.3 Família 02

 

Mãe: M. L.

Filho: C. E. de 6 anos – Diagnostico - Autismo leve CID F84.9.

 

Ser mãe talvez seja o maior milagre da vida. Ser mãe de uma criança especial faz com que se pratique o maior de seus ensinamentos, o maior amor em sua plenitude de pureza e genuinidade. É assim que é ser mãe de uma criança com espectro autista.

No momento do recebimento do diagnostico parece até que o tempo para por alguns minutos, muitos pensamentos passam pela mente, já tentando imaginar como será daquele momento para frente. Haverá um futuro? Durante a gravidez toda a mãe imagina como será o rostinho dessa criança, a cor dos cabelos, e então toda uma trajetória de um futuro é imaginado e desejado para ela. O primeiro olhar, o primeiro sorriso, as primeiras palavras, os primeiros passos, a primeira vez na escola, a adolescência, a faculdade, o sucesso na vida e na família, e aí vem um diagnóstico que muda tudo. Aquela sensação de luto invade nossa vida, depois, logo em seguida vem à culpa. Onde foi que errei?

Mas nada disso adianta, nós pais precisamos perceber que nosso lindo filho está ali, não como um fardo ou castigo e sim como um presente de Deus, uma criança especial para pais especiais, que veio a este mundo não só para ser ensinado e sim para nos ensinar a enxergar o mundo de uma maneira diferente, mais pura e simplificada.

O luto e tudo o que foi imaginado tinha que acabar. Precisamos estar ainda mais unidos para dar o mundo a uma criança especial. Precisa de fé, força, pois, a caminhada era longa e difícil. Desde o seu primeiro dia de aula meu filho passou por diversas escolas, teve sua autoestima diminuída, não teve acompanhamento pedagógico e nem material adaptado. Seu diagnóstico foi tardio com 6 anos, porém, após o diagnóstico não mudou muita coisa, escolas que diziam ser inclusiva nada faziam, então ele desenhava a aula toda ou ia para a sala dos menores e parquinhos, assim se seguiam os dias.

Diante de tanta dor e ao presenciar as rejeições da sociedade, percebi que não adiantava falar, brigar sem ter o um conhecimento do era aquele diagnostico. Assim fui em busca de pesquisar sobre o autismo e seu comportamento e descobri que meu menino podia ser alfabetizado assim como os demais. Parei de brigar com a escola e busquei por cursos e vídeos aulas na internet, materiais adaptados, jogos e brincadeiras, passei colocar em prática ignorando os conteúdos imposto pela escola.

Em 1 ano com o apoio da médica neurologista pediatra, terapia ocupacional, fonoaudióloga e todo conhecimento e materiais que adquiri, meu pequeno se desenvolvia a olhos vistos. Aprendeu todo alfabeto e contar e reconhecer os números até 10. Em 2 anos já esta lendo pequenas palavras simples e contando números ate 30, quanto a escola, servia apenas para socializar. Hoje ele tem 8 de idade, toma 3 tipos de medicamentos controlados para ajudar no sono, atenção, memoria e ansiedade, continuo com as aulas em casa, está matriculado no 3ª ano, porém com um nível intelectual de 2ª ano, é uma criança muito sociável, muito falante, faz aulas de capoeira 3 vezes na semana. Ainda sofre algumas rejeições, porém estamos trabalhando para administrar, pois, esse tipo de situação todo nós passamos alguma vez na vida.

 

Novamente Segundo Kanner (1943), o autista tem grande variação na interação familiar, social, comportamental, dificuldade do aprendizado e do desenvolvimento da linguagem, entre diversos outros fatores. A grande dificuldade de diagnóstico do autismo por diversos fatores, por isso muitas não recebem o tratamento adequado e assim prejudicando no seu desenvolvimento e as vezes regredindo cada vez mais. Professores se sentem frustrados ao receber um aluno com necessidades especiais, por não se sentirem preparados para atendê-las e a problemática que as rodeiam. Os profissionais entendem que elas precisam de atenção especial e diferenciada, porém, poucos o fazem e acabam causando frustrações e resistências à assiduidade das crianças no âmbito escolar e também sofrimentos e decepções aos pais.

 

2.1.4 Impacto Emocional

 

A família de pessoas com transtorno do espectro autista se vê diante de um desafio, mudança de planos de vida diária e expectativas quanto ao futuro. Muitas delas passam por um período de luto, quando se veem obrigados a enterrar todas as expectativas que criaram entorno do filho, são meses de choros e lamentações, culpam-se. Os pais precisam desse tempo e muitos ate mesmo de ajuda psicológica. Quando há irmãos mais velhos também passam a sofrer com o duro golpe.

Segundo Rosset (2005) que define a família como uma unidade ou uma estrutura e que todas as partes relacionadas se compartilham. Existem entre as partes uma ação continua, circular de trocas entre o meio familiar e a estrutura de cada integrante. Neste pensamento a família é uma organização significativa que deve oferecer um alicerce emocional, econômico, social e promover o desenvolvimento e a inclusão social do indivíduo. No mesmo raciocínio a família é meio básico de desenvolvimento das experiências, das realizações e dos fracassos do homem (SPROVIERI, 1995; SPROVIERI E ASSUMPÇÃO JR, 2001).

 

3.0 A ESCOLA FRENTE A INCLUSÃO

 

Segundo MANTOAN (2003) em sua perspectiva nos retrata a inclusão nos dias de hoje, em que nossas escolas estão se enchendo de preconceito e dividindo-se em tipos de ensino, de serviço, grades curriculares, burocracia. Uma perda em sua disposição organizacional, como sugere a inclusão, é uma saída para que a escola consiga seguir, dando continuidade, aplicando sua ação de ensino para todos os indivíduos igualmente.

A inclusão, beneficia com a transformação desse atual paradigma educacional, para que se una no contexto da educação escolar que se propõe. È inquestionável que paradigmas antigos na atualidade estejam sendo contrariados e que o saber, objeto da educação escolar, está percorrendo por novos modelos de interpretação. A mesma autora nos retrata “[...]as diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas, de gênero, enfim,” a multiplicidade humana está sendo cada vez mais aplicada e conceituada e é uma situação inevitável para se perceber como entendemos a nós mesmos e o mundo.

As instituições estão vivendo um momento de crise paradigma como diz MANTOAN (2003, P. 11), “Nosso modelo educacional mostra há algum tempo sinais de esgotamento, e nesse vazio de ideias, que acompanha a crise paradigmática, é que surge o momento oportuno das transformações.” Existem grandes discussões sobre a integração e a inclusão, causando aos grupos de profissionais tanto do setor escolar quanto da saúde que trabalham com o atendimento dos indivíduos especiais.

 

Os professores do ensino regular consideram-se incompetentes para lidar com as diferenças nas salas de aula, especialmente atender os alunos com deficiência, pois seus colegas especializados sempre se distinguiram por realizar unicamente esse atendimento e exageraram essa capacidade de fazê-lo aos olhos de todos (MANTOAN, 2003 p. 14 apud MITTLER, 2000).

 

Alguns pais de alunos neurotípicos se organizam em uma movimentação em não admitir alunos com necessidades especiais, por intuir que as escolas vão baixar ou até mesmo piorar eficiência do ensino se receberem tais alunos em sala. O que nossa humanidade precisa entender é que somos todos diferentes e somos todos seres humanos, com direitos de igualdades. MATOAN, 2003 diz que a diferença “[...] é o que está sempre no outro”, “[...] somos impedidos de realizar e de conhecer a riqueza da experiência da diversidade e da inclusão”.

 

A ética, em sua dimensão crítica e transformadora, é que referenda nossa luta pela inclusão escolar. A posição é oposta à conservadora, porque entende que as diferenças estão sendo constantemente feitas e refeitas, já que vão diferindo, infinitamente. Elas são produzidas e não podem ser naturalizadas, como pensamos, habitualmente. Essa produção merece ser compreendida, e não apenas respeitada e tolerada. (MANTOAN, 2003 p. 19).

 

O que seria uma sala de aula inclusiva? De acordo com SILVEIRA, NASCIMENTO, (2013) e toda leitura e pesquisa realizada, esta então, seria o começo:

 

- Sala organizada estrategicamente;

- Normas e Regras bem elaboradas e definidas;

- Integração família e escola;

- Conscientização da turma quanto ao aluno especial;

- Aluno especial, sempre na primeira carteira e próximo ao professor;

- Conhecer o aluno e suas potencialidades;

- Preparar material adaptado dentro do contexto curricular de acordo com seu potencial;

- Aulas 50% lúdicas, assim toda turma integrada no mesmo aprendizado.

- Sala de recursos em horário intercalado para apoio individual, contando com todos os recursos possíveis, principalmente tecnológicos.

- Ensinar de várias maneiras o mesmo conteúdo para o melhor aproveitamento do aluno.

 

Escola inclusiva é aquela que garante a qualidade de ensino educacional a cada um de seus alunos, reconhecendo e respeitando a diversidade e respondendo a cada um de acordo com suas potencialidades e necessidades. [...] numa escola inclusiva, o aluno é sujeito de direito e foco central de toda ação educacional; garantir sua caminhada no processo de aprendizagem e de construção de competências necessárias para o exercício pleno da cidadania é, por outro lado, objetivo primeiro de toda a ação educacional. (SILVEIRA & NASCIMENTO, 2013 p. 34).

 

Portanto para que se haja uma escola inclusiva seria necessário haver mudanças especificas do contexto escolar assim como, nas ideias, nas atitudes, tanto no político como administrativo e didático-pedagógico.

 

4.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Este trabalho engloba conhecer e refletir sobre o Transtorno do Espectro Autista e todos os envolvidos afetivamente e emocionalmente que rodeiam o Autista e sua família. A não aceitação da condição do filho diante de um laudo médico, traz grandes prejuízos a criança, pois, implica na demora do tratamento. O autista necessita do apoio incondicional afetivo dos pais e irmãos para que assim se sinta em um lar de amor e proteção. Existem casos em que a não aceitação seja um processo de grande demora que a torna um diagnóstico de grau leve para um grau moderado ou até mesmo severo.

Aja vista que a família também precisa de um tempo de luto, na qual se refere a criança idealizada e a mesma que a tem agora, as mudanças no meio, para que ocorram uma adaptação e procurando conhecer o que é o transtorno do espectro autista é crucial para seu desempenho escolar e na vida. A chave, para um progresso rápido se chama aceitação familiar, pois, após o recebimento do transtorno, já se deve começar imediatamente com o tratamento, com medicação, terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicologia e atividades físicas, tudo isso indicado pelo médico neurologista, nem todos os casos irá precisar de uma multidisciplinar as vezes um ou outro. A escola como fator importante na vida da criança deve ser rapidamente informada, para que aja uma inclusão e adaptação do currículo escolar. Na existência de demasiados profissionais não terem o conhecimento sobre o assunto diante da falta de interesse ou na falta de interesse por parte do Município e do Estado em oferecer cursos de qualidade profundamente embasado, no cumprimento das leis e diretrizes de bases da educação inclusiva, estes são claramente o vilão da nossa educação ser extremamente precária. Se tudo isso for visto e assim ser colocado em prática o nosso País terá avanços considerados a nível de grandes Países em alto desenvolvimento.

Dentro do meio escolar os professores têm por obrigação de informar os demais alunos sobre o que é e como procede um indivíduo autista, e isso deve acontecer de maneira didática de acordo a cada faixa etária. Pesquisar sobre o dia a dia dessas pessoas, a maneira como vivem e cuidam do filho com transtorno do Espectro de Autista, o trauma em suas vidas, a falta de atendimento e profissionais qualificados na rede SUS, mostra a importância a práticas interventivas com toda multidisciplinar que as assistem em sua vida diária.

Durante minha pesquisa visitando e realizando trabalhos voluntários em escolas e centros de atendimento de educação especial estritamente na área da inclusão escolar para criança com transtorno autista, analisando a rotina destes pais, em especial as mães que vivem a procura de informação, direcionamento e aceitação, que muitas vezes são vistos sem identidade própria e sim como mãe de criança autista que busca ajuda para aliviar sua angustia espiritual, mental e psicológico, essas pessoas que deveriam proceder no bom atendimento sem julgamento são as mesmas que os rotulam de pais relapsos, que não lutam pelos direitos dos filhos, sem controle emocional. Aos olhos dos leigos e preconceituosos não passam de pais que não sabem dar limites e educação para os filhos.

Existem vários meios que auxiliam famílias a diminuírem a negatividade sobre o transtorno do espectro do autismo, como por exemplo: de forma terapêutica ou aconselhamento, o método informativo é o primeiro passo. A partir de estudados e refletindo sobre conhecimentos adquiridos sinto me diante de questionamentos em enquanto profissional da educação, podendo auxiliar para com os familiares de indivíduos com diagnostico de autismo trilhando por caminhos de como viver em harmonia com outro e consigo, reduzindo seus pontos emocionais, elevando sua autoestima e autoconfiança sem se esquecer que na mesma famílias a outros filhos, outras preocupações, em outras palavraras a vida deve seguir, baseando-me nesta percepção que percebo que podemos fazer um mínimo de diferença na vida delas.

 

REFERÊNCIAS

 

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1Especialista em Educação Especial: Déficit Intelectual.

2Especialista em Psicopedagogia e Educação Especial.