AS PRÁTICAS EDUCATIVAS NA EDUÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Gleiciane Vieira da Silva
Kelen Conrado de Souza Santos
RESUMO
A PESQUISA VEM FALAR SOBRE AS PRÁTICAS EDUCATIVAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS, COMO OS PROFESSORES PODEM MELHOR ATENDER ESSES ALUNOS, LEVANDO EM CONTA SUAS NECESSIDADES, SEUS ANSEIOS. ONDE SERÁ POSSÍVEL COMPREENDER MAIS AFUNDO A VIDA DESSES EDUCANDOS, O QUE DESEJAM O QUE VÃO BUSCAR NA ESCOLA, PROPORCIONANDO SUPERAÇÃO, AUMENTANDO A AUTOESTIMA, O CONHECIMENTO, A SUA CAPACIDADE DE REFLEXÃO E CRITICIDADE. O TRABALHO TEVE COMO OBJETIVO UM MELHOR APROFUNDAMENTO SOBRE A CONCEPÇÃO DE ENSINO DA EJA, ONDE DEVE PARTIR DOS CONHECIMENTOS QUE O INDIVÍDUO JÁ TRAZ CONSIGO, DE SUAS VIVÊNCIAS, LEVANDO EM CONTA SUA EXPERIÊNCIA O SEU COTIDIANO. FORAM UTILIZADOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA, PESQUISA BIBLIOGRÁFICA SOBRE AUTORES QUE CONVERGEM SOBRE ASSUNTO, ATRAVÉS DE UMA PROFUNDA REFLEXÃO SOBRE A MODALIDADE. ATRAVÉS DA PESQUISA FORAM OBTIDOS RESULTADOS DE GRANDE IMPORTÂNCIA, FOI POSSÍVEL COMPREENDER CONCEPÇÕES AINDA ADOTADAS NA EJA NOS DIAS ATUAIS, ATRAVÉS DISSO, COMO EDUCADOR SER POSSÍVEL MUDAR A REALIDADE DESSES ALUNOS, TORNANDO-OS CIDADÃOS CRÍTICOS E REFLEXIVOS.
Palavras –chave: EJA. Aluno. Professor.
INTRODUÇÃO
Durante muito tempo a educação de jovens e adultos no Brasil tem sido alvo de discussões, por diversos intelectuais e também por programas educacionais. Por muito tempo essa modalidade de educação foi alvo de interesse das classes dominantes.
A EJA não era uma modalidade que visava total formação de um cidadão crítico, autônomo e reflexivo. Um dos maiores interesses era o de erradicar o analfabetismo no Brasil, isso se deve a vários motivos sendo um dos principais o capitalismo no Brasil, onde era preciso alfabetizar o cidadão para contribuir com mão de obra em indústrias, não havendo interesse em formar um cidadão crítico reflexivo, capaz de lutar por seus direitos, para mudar a sociedade, até mesmo sua realidade muitas vezes dura. Nesse período alguns educadores pensavam o contrário disso, podemos citar Freire com sua pedagogia libertadora, um dos principais educadores da época.
Através disso a pesquisa veio mostrar algumas práticas educativas adotadas na EJA, visando uma mudança de métodos nessa modalidade. Na EJA é preciso que o professor leve em conta o cotidiano do aluno, valorizando suas vivências.
Ainda que o aluno não seja alfabetizado na EJA, ele é conhecedor de vários assuntos, sendo assim esses alunos não devem ser tratados como criança, a metodologia deve e precisa ser diferenciada das crianças, é preciso pensar em métodos onde esse aluno pense de forma critica, onde se torne um cidadão autônomo.
O aluno que frequenta a EJA, por vários motivos não frequentou a escola, uma das causas era a falta de recursos, pois durante muito tempo a maioria da população era rural, sendo muito difícil o acesso à escola.
Esses alunos são maioria pais de família, pessoas que trabalham muito durante o dia, quando chegam às aulas, muitas vezes se deparam com aulas simples, cansativas, onde o professor apenas repassa o conteúdo de forma mecânica, para que seja memorizado.
O professor precisa pensar em aulas reflexivas, onde permita ao aluno pensar diferente dos livros se assim desejar. A EJA precisa ir além da transmissão de conteúdos, é preciso ensinar o aluno a ir, além disso, possibilitando um novo rumo em sua vida.
Estamos no século XXI, nesse sentido com tantos avanços tecnológicos, é preciso possibilitar que esses alunos tomem posse do conhecimento de forma ampla, que possam visualizar o mundo de outra maneira, com um novo olhar observador.
E difícil pensar na EJA sem concluir que são pessoas que por algum motivo não frequentaram a escola, ou pouco frequentaram, sendo assim, cabe ao professor, a escola, dar um novo rumo a essa modalidade. E na escola que se da maior parte do processo de conhecimento do sujeito, sendo assim a EJA precisa do conhecimento intelectual que a escola pode proporcionar.
Cabe à escola evoluir, pensar diferente também, inovando cada dia mais, estar atenta ao que esta acontecendo na atualidade. A escola não pode mais pensar em modelos tradicionais, onde apenas era pensado em alfabetizar o aluno para o trabalho, sendo alvo do interesse das classes dominantes, é preciso proporcionar novos caminhos a esses alunos. A escola continua sendo o espaço onde todo individuo precisa se inserir para tomar posse de certos conhecimentos.
O aluno da EJA precisa de autonomia, essa autonomia o professor pode dar ou tirar desse aluno, sendo assim todo e qualquer trabalho docente necessita de reflexão, é preciso pensar diariamente no trabalho que está sendo exercido, se realmente está contribuindo para formação do educando.
São reflexões necessárias que devem ser feitas continuamente, pesquisando, fazendo buscas, se atualizando. Essa tarefa cabe ao professor, de proporcionar cada vez mais conhecimentos aos alunos, possibilitando uma melhor aprendizagem.
Muitos professores ainda hoje tem receio em falar sobre política na escola, algo que não deveria acontecer, pois os professores estão formando alunos para pensar, mudar a sociedade. Sendo assim o professor precisa mais uma vez rever seus conceitos e valores, questionar a si próprio. Para que seu trabalho não seja uma mera transmissão de conhecimentos
AS PRÁTICAS EDUCATIVAS NA EDUÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
O professor continua sendo indispensável em sala de aula sendo necessária sua presença, porém não para uma mera transmissão de conteúdos, pois se torna fundamental que o professor na EJA seja um educador democrático, sempre reforçando as capacidades críticas de seus educando, incentivando suas capacidades possibilitando que o aluno tome posse de novos conhecimentos.
O educador da EJA precisa por obrigação ser um ser investigador, que saiba explorar o lado crítico do aluno, ser humilde para entender as necessidades de cada um, afinal o sujeito da EJA traz um diferencial consigo, um deles é sua vasta experiência de vida.
Transmitir um conteúdo pronto é um ato simples que muitos poderiam fazer, mas ensinar vai muito além de transmissão de conteúdo, é ensinar o sujeito educando a pensar criticamente, a buscar.
Na EJA é imprescindível professores com conhecimentos sobre os assuntos a serem tratados nessa modalidade, professores com auto senso de crítica que possibilite que seus educando também se apropriem o máximo possível do conhecimento, pois muitas vezes há diversos profissionais intelectuais, leitores ativos que apenas repassam fielmente o que está nos livros. Esses alunos precisam de professores que entendam sobre sua realidade que não repasse apenas os mesmos conteúdos que estão nos livros de forma mecânica sem se preocupar com o cotidiano desse aluno, é necessário ensinar os educandos de forma dialética com intenção de possibilitar que os educandos tomem posse da leitura e da escrita e que pensem criticamente.
A leitura que é feita apenas por fazer ou apenas com intuito de memorizar se torna ineficiente, pois o ato da leitura exige muito mais, é necessário ler e contraler. Demo (2007, pg. 23), nos mostra que:
O desafio social da leitura detém, como nódulo central, a habilidade de contraleitura, porque é com ela que podemos, com base na habilidade de brandir a autoridade do argumento, não só ir além do argumento e da autoridade, mas principalmente cultivar o saber de pensar melhor e intervir. Ler significa tanto compreender significados quanto atribuir significados alternativos ao mundo, emergindo o leitor/autor.
O aluno já traz um conhecimento, devido sua experiência de vida, o educador precisa usar esses conhecimentos já existentes e transformá-los em novos conhecimentos. Pinto (200, p. 99) traz sua contribuição afirmando que:
No âmbito das técnicas de ensino, é possível apresentar ao educando imagens de seu próprio modo de vida para que ele possa observar, discutir e abrir caminho para a reflexão crítica. Dessa forma, a "alfabetização decorre como consequência imediata da visão da realidade, associando-se a imagem da palavra à imagem de uma situação concreta".
Todo e qualquer tipo de ensino exige pesquisa por parte do educador, é através dela que surgem novas buscas de conhecimentos, novos saberes, novos pontos de interrogação, é nela que também nos apresenta respostas de nossos questionários.
É necessário que o professor entre na realidade do aluno, pois em grande maioria a EJA são alunos que vem de classes populares, de lugares que pouco é visto pelos olhares dos poderosos. É preciso que através da realidade que o aluno se encontra inserido, ensiná-lo a fazer críticas de situações que devem ser mudadas. Souza (2011, p. 114) diz que:
Na concepção dialógica/ problematizadora da educação e da EJA existe uma preocupação com o desenvolvimento da consciência política, mediante o trabalho coletivo e a valorização da prática social dos sujeitos do processo educativo. Assim, a alfabetização não deixa de ser a aquisição de um padrão convencional de escrita, leitura, ortografia etc., porém torna-se também a busca pela interpretação dos conteúdos ideológicos que envolvem as palavras e o discurso. Do mesmo modo, a continuidade dos estudos é uma forma de caminhar em direção à prática de emancipação humana.
Durante muito tempo foram discutidos os melhores caminhos para erradicar o analfabetismo, a EJA foi marcada por interesses políticos, Souza (2011, p. 116) cita que:
Durante muito tempo, a educação de adultos esteve à margem do debate sobre a educação pública. Ao longo do século XX, o analfabetismo foi tratado como um mal que assolava a sociedade e que precisava ser erradicado, era preciso diminuir a "ignorância" e formar um "coletivo eleitoral" que viesse responder aos interesses da elite politica, segundo o ideário político daquele momento.
A escola não deve pensar que o seu único dever é transferir conteúdos aos seus alunos sem um objetivo, sem uma intencionalidade, não é esse o professor que a escola realmente precisa, é preciso que a escola tenha educadores que vão muito além de transmissores de conteúdos, pois é obrigação do professor levar o aluno a pensar criticamente, sobre as problemáticas que lhes são apresentadas.
Ao ensinar o professor também deve proporcionar ao aluno o direito a liberdade de expressão, ou seja, permiti-lo fazer indagações, ou até mesmo discordar. O aluno não precisa sempre concordar com o professor, aliás, discordar também faz parte da formação crítica do aluno, afinal o professor está ali para fazê-lo sujeito crítico, pensante, dono de sua vida e não um sujeito submisso, pois é na escola umas das principais instituições onde o aluno será sendo encaminhado para vida, para exercer seus direitos e deveres de cidadão, de nada adiantaria se o professor tirasse o direito do aluno de se expressar, concordar ou não, tirando o direito de dar sua opinião, sendo na escola um dos principais lugares onde se fala em democracia.
O professor ao ensinar um conteúdo ao aluno não deve fazê-lo perder sua identidade cultural, mas preservá-la, pois faz parte desse aluno. Freire (1996, p. 23) ressalta sobre sua importância:
A questão da identidade cultural, de que fazem parte a dimensão individual e a de classe dos educandos cujo respeito é absolutamente fundamental na prática educativa progressista, é um problema que não pode ser desprezado. Tem que ver diretamente com a assunção de nos por nós mesmos. É isso que o puro treinamento do professor não faz, perdendo-se e perdendo-o na estreita e pragmática visão do processo.
Todo e qualquer conhecimento que o aluno traz consigo de forma alguma deve ser desconsiderado ou desvalorizado, um simples gesto do professor pode despertar quase que de forma mágica o interesse no aluno.
Muitas vezes esse aluno da EJA, já com certa idade, pouco tempo de estudo e pouco tempo para estudar, precisa de um incentivo, de uma palavra amiga do professor, é preciso entrar mais afundo na vida do educando, com real interesse, fazê-lo sentir-se interessante, útil, buscando conteúdos apropriados a esses alunos, Dalla Vale (2011, p. 144) diz que:
Como primeira recomendação, é preciso compor uma proposta pedagógica adequada a esse grupo etário tão distinto entre si, mas tão diferenciado do grupo de crianças em idade de alfabetização. Cabe, então, caracterizar o perfil do aluno dessa modadalidade de ensino.
Por terem pouco frequentado a escola já não se sentem valorizado, é na escola que vão buscar essa valorização, portanto o professor não deve ser um mero transmissor de conhecimentos, está ali somente por estar, para cumprir uma obrigação, pois seu dever vai muito, além disso. O aluno já está frequentando as aulas por querer mudar sua realidade muitas vezes sofrida, árdua, mesmo diante de tantas dificuldades ele mostra esforço para aprender a ler, escrever, calcular.
Nesse sentindo que o professor precisa se adequar as necessidades dos alunos, possibilitando uma melhor aprendizagem, baseado em aulas claras e objetivas, trabalhando o universo do aluno, uma vez que na EJA não se deve optar por modelos tradicionais onde era o aluno quem deveria se adequar ao professor.
É preciso que o professor busque no aluno as metodologias os conteúdos a serem trabalhados, de forma que o faça sentir-se envolvido nas aulas, onde ele mesmo consiga criar uma autonomia afim de que leve também para fora das aulas, que leve para vida.
Ser professor da EJA é entrar afundo na vida desses alunos, no seu cotidiano, é explorar nesse o aluno o que ele tem de melhor, é quebrar mitos e preconceitos, é prepará-lo de forma diferenciada para vida. É necessário que o professor faça uma reflexão crítica sobre sua prática.
Freire (1996, p. 25) fala sobre seu pensamento a respeito do docente:
O que importa, na formação docente, não é a repetição mecânica do gesto, este ou aquele, mas a compreensão do valor dos sentimentos, das emoções, do desejo, da insegurança a ser superada pela segurança, do medo que, ao ser "educado", vai gerando coragem”.
Na EJA apenas o falar bonito, não é o mais importante muito menos o suficiente, o professor deve usar historias reais com pessoas reais, trazendo à tona as realidades dos educando. Podemos usar como exemplos alunos pedreiros que tem que lidar diariamente com soma de quantidade de materiais utilizados em construções ou a dona de casa que lida diariamente com serviços domésticos, com quantidade de ingredientes usados em um bolo, quanto irão gastar no supermercado. Nada impediria que o professor tomasse um desses exemplos do cotidiano de cada aluno, usando a favor da aprendizagem do aluno, pois este se sentiria mais a vontade, sentindo que ele realmente é o foco do esforço do professor. O professor deve respeitar a autonomia de cada aluno, sua linguagem, sua cultura, pois um dos papéis do professor é o respeito pela identidade do seu educando.
Principalmente se tratando da EJA, o professor deve usar o bom senso, muitas vezes esse aluno pode não conseguir entregar um trabalho na data certa, em decorrência das atribulações, responsabilidades diárias. Freire (1996, p. 25):
vigilância do meu bom senso tem uma importância enorme na avaliação que, a todo instante, devo fazer de minha prática. Antes, por exemplo, de qualquer reflexão mais detida e rigorosa é o meu bom senso que me diz ser dão negativo, do ponto de vista de minha tarefa docente, o formalismo insensível que me faz recusar o trabalho de um aluno por perca de prazo, apesar das explicações convincentes do aluno, quanto o desrespeito pleno pelos princípios reguladores da entrega dos trabalhos.
O professor é quem está ali para orientar o educando, é preciso que professores e alunos formem um vínculo de amizade, é através desse vínculo que se torna possível à aprendizagem.
É a realidade desses educandos que por muitas vezes cruel, que o professor deve lutar em prol, fazendo sempre o possível para que haja essa mudança, o professor precisa fazer com que esses alunos vindo de lugares com poucos recursos, pouco visto pela sociedade reconheçam que essa realidade pode ser mudada, mas para isso é preciso que reconheçam seus direitos e o professor deve fazê-los tomar posse desses reconhecimentos. O que de forma alguma o professor deve é se acomodar, aceitar que a realidade é essa mesma, que não pode ser mudada.
De nada adianta o professor pregar direitos iguais para todos, se nem ao menos dá o direito ao aluno que está ali presente de escolher o que deseja aprender, como se o professor é quem fosse o centro das atenções.
O professor deve provocar a curiosidade no educando, fazendo-o ir à busca de novos desafios que mais tarde tornarão novos conhecimentos. Ser educador é entrar no mundo do educando, redescobri-lo, ajudando a suprir suas necessidades.
O educador deve pensar constantemente em sua prática educativa, no seu papel de fazer com que o aluno aprenda de forma eficaz.
A preocupação do professor não deve ser de fazer com que o os alunos dominem conhecimentos tradicionais, mas conhecimentos que realmente façam sentido. É de grande importância que o professor não pense no aluno da EJA como alguém ignorante sem conhecimento sobre o mundo, portanto os conteúdos não devem ser ensinados da mesma forma que se ensina crianças, outro exemplo que podemos tomar são as cantigas e parlendas usadas na alfabetização de crianças, podendo ser substituídas por poesias, mais apropriadas para os leitores mais velhos. Freire (1976, p. 46) faz uma reflexão sobre o assunto:
"A asa é da ave. Eva viu a uva, o galo canta, o cachorro ladra, são contextos linguísticos que, mecanicamente memorizados e repetidos, esvaziados de seu conteúdo enquanto pensamento-linguagem referido ao mundo, se transformam em meros clichês".
Freire (1976, p. 48) ainda cita que: “Um processo de alfabetização dessa natureza” reforça a mitificação da realidade, fazendo-a opaca e embotando a consciência dos educandos com palavras e frases alienadas”.
O ensino da EJA não deve ser pautado num conteúdo instrumentalista, mas dialógico. Grande parte dos programas da EJA no Brasil apresentam materiais didáticos é nessa perspectiva que deve ser feita reflexões se realmente o conteúdo ali proposto é adequado para aqueles alunos, se forem conteúdos que ao invés de motivar, dificultam a aprendizagem do aluno, é quase certo que esse aluno perderá o interesse e desistirá de terminar os estudos e isso vai gerando mais defasagem escolar. Souza (2011, p. 117), afirma que:
Numa concepção instrumental de educação, a preocupação central é que o aluno domine os conhecimentos escolares tradicionais. Na concepção dialógica, a preocupação central é que o aluno possa trabalhar com os conhecimentos que tenham significado sociocultural, e dessa lógica os conteúdos emergirão do mundo cotidiano e ganharão complexidade à medida que forem debatidos no grupo. A educação e a alfabetização constituem, portanto, o ato de conhecimento que emancipa e que motiva para realização de ações modificadoras do meio.
O professor da EJA deve ter uma boa formação para está atuando com esses alunos, os conhecimentos que ele tem em educação infantil, por exemplo, não se aplica a EJA ou se aplica parcialmente. Souza (2011, p. 133) diz que:
Ao educador cabe informar-se. É assim que poderemos ter um mundo melhor, desatando os “nós” da educação e fortalecendo-nos como seres humanos que pensam, criam e recriam conhecimentos. Educação como ato de conhecimento implica disposição para fazer diferente, pensar diferente e construir algo novo.
O professor deve está sempre atento às necessidades do aluno, olhar para esse aluno, procurando entendê-lo, ouvi-lo, sempre discutir com os alunos e outros profissionais da área o melhor caminho a ser tomado, assumindo com profissional libertador, respeitando-o, valorizando-o, sempre com intenção de trazer melhorias a esse educando, fazendo com que o mesmo pense criticamente sobre todas as situações onde possa intervir.
Quando não se leva em conta as especificidades do aluno da EJA ele acaba por perder a motivação porque sente a escola como algo muito distante da realidade do seu dia a dia.
O professor não deve ter um papel de quem ocupa uma posição de comando, mas de um profissional que atua de forma competente fazendo com que de fato esses alunos aprendam. Freire (1976, p. 49) aponta que:
Para ser um ato de conhecimento o processo de alfabetização de adultos demanda, entre educadores e educando, uma relação de autêntico diálogo. Aquela em que os sujeitos do ato de conhecer (educador-educando;educando-educador) se encontram mediatizados pelo objeto a ser conhecido. Nesta perspectiva, portanto, os alfabetizandos assumem desde o começo mesmo da ação, o papel de sujeitos criadores. Aprender a ler e escrever já não é, pois, memorizar sílabas, palavras ou frases, mas de refletir criticamente sobre o próprio processo de ler e escrever e sobre o profundo significado da linguagem [...] Enquanto ato de conhecimento, a alfabetização, que leva a sério o problema da linguagem, deve ter como objeto também a ser desvelado a relações dos seres humanos com o mundo.
O educador precisa mostrar interesse pelo conhecimento, ou seja, em cada vez mais buscar novos conhecimentos e mostrando interesse pelo aluno, pois os alunos da EJA sendo maior parte das vezes pessoas com poucos recursos, tendo que trabalhar muitas vezes excessivamente para dar sustento à família, essas pessoas precisam de uma atenção especial, de um encorajamento por parte do educador, possibilitando sempre interesse em mudar o rumo da sua historia. Souza (2011, p. 142) cita que:
Respeitar o educando a si próprio como sujeito do conhecimento. Ou seja, adotar a postura de sujeito pensante, criativo. Superar as atitudes de mera repetição de conteúdos que muitas vezes nem foram compreendidos. O educando possui um conjunto de experiências que podem ser conhecidas e reconhecidas no processo educativo. Por sua vez, o educador possui experiências e capacidade para problematizar os relatos trazidos pelos educandos, além de criar um ambiente propício à dialogicidade em sala de aula. A valorização da cultura dos educandos e da própria sociedade como constitui fonte de problematização dos conhecimentos.
O profissional da EJA quando se perguntar o que é analfabetismo jamais deve ter responder que isso é totalmente culpa do indivíduo e não culpa de suas condições de vida. Por muitos anos esses indivíduos não tiveram oportunidades de estudar, até a década de 1960 era aproximadamente metade da população era analfabeta e isso não se devia a própria vontade do individuo, havia impedimentos muito maiores que isso, existia pouquíssimas condições de vida para que de fato pudessem ser alfabetizados.
E por muito tempo se empregou a ideia que gente analfabeta era incapaz de fazer algo certo, eram vítimas de preconceito, como se servissem apenas para trabalhos braçais e não para pensar. Durante muitos anos mesmo quando o governo se conscientizou que para haver uma sociedade civilizada era preciso acabar com analfabetismo, ainda assim, a forma de ensino era muito limitada, baseada apenas em memorização, não era uma intenção verdadeira de fazer com que essas pessoas pensassem criticamente. Segundo Souza (2011, p. 21):
Durante muito tempo, a EJA teve o intuito de superar o atraso daqueles que não sabiam ler nem escrever, adotando uma concepção instrumental de educação, sem levar em conta a experiência de vida dos trabalhadores. Havia o interesse político de “erradicar” um dos males do subdesenvolvimento, mas não o de provocar rupturas para superação dos reais problemas sociais estruturais da sociedade brasileira, como concentração de terras.
O aluno da EJA ao ser inserido no contexto escolar precisa se sentir auto realizado, é preciso que tenha suas necessidades atendidas, pois esses alunos ao se sentir excluídos acabam desistindo de frequentar as aulas provocando cada vez mais atraso escolar, isso faz com que a EJA continue sendo uma modalidade para jovens e adultos que não terminaram os estudos, quando realmente todos deveriam concluir os estudos no ensino regular.
É preciso explorar o máximo possível o universo desses alunos, possibilitando uma aprendizagem significativa, fazendo com que esses alunos pensem de forma crítica, transformadora. Pois os alunos da EJA foram marcados por grande processo de exclusão que por muitas décadas não puderam ter acesso à escola por vários motivos, por interesses políticos, por mais da metade da população pertencer a zona rural e ter difícil acesso a escolarização.
A alfabetização de jovens e adultos não deve ser a mesma ensinada a crianças, pois essa concepção tradicional de tratar alunos com grande experiência de vida como criança não deve ser exposta a essas pessoas, pois diferente das crianças, já possuem grande conhecimento do mundo, é preciso haver uma aproximação grande entre aluno e professor. Todos os conhecimentos sobre letramento devem ser aplicados a EJA, deve-se alfabetizar letrando. Souza (2011, p. 130), diz que:
Concepção tradicional de ensino é alfabetização de adultos é caracterizada como semelhante à educação das crianças, e passa a existir uma preocupação excessiva com técnicas de ensino; os conteúdos são descolados da realidade social dos educandos; há distanciamento entre professor e aluno, bem como uma concepção técnica da oralidade, da escrita e da leitura, sendo estas últimas compreendidas como processo de decodificação de símbolos.
O professor deve possibilitar o aluno para que ele tome posse da leitura e da escrita de forma ampla, onde possa dominar plenamente. O aluno da EJA precisa ter possibilidades de se inserir no universo do mundo letrado, onde o aluno se sinta realizado.
Contudo isso o educador deve entrar numa concepção de ensino que, valorize esse aluno, fazendo-o sentir-se valorizado, capaz de aprender, de até ensinar. Portanto cabe ao professor transformar a vida desses alunos, com um trabalho sério em prol da melhoria de vida dessas pessoas, que muito tem para ensinar.
Facilitando a aprendizagem desse aluno, sempre trabalhando o dia a dia deles, com conteúdos conhecidos para que possam familiarizar os conteúdos com sua vida cotidiana, para que se sintam nesse universo da EJA ao invés de sentirem-se fora de todo esse contexto criado para esses alunos.
METODOLOGIA
O tema as práticas educativas na educação de jovens e adultos foi escolhido por querer mostrar como funcionou o ensino da EJA no Brasil durante muito tempo e a contribuição de muitos autores, principalmente do grande educador Paulo Freire.
Onde os autores convergem sobre o assunto e dão sua contribuição nessa modalidade educacional, mostrando a diferença entre alfabetização de adultos e de crianças.
Para a presente pesquisa, foram utilizados recursos bibliográficos através de leitura de autores e reflexão crítica sobre os dados coletados.
Segundo Fonseca (2002, p.3) “A pesquisa qualitativa se preocupa com aspectos da realidade que não pode ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais”.
O tema foi escolhido por se tratar de uma modalidade presente há muito tempo, mas que muitas vezes tratado como uma modalidade sem muita formação crítica, onde apenas são passados conteúdos de forma mecânica, sem a preocupação com o educando, sem um pensamento critico, para que exerçam seus direitos. De um modo geral a pesquisa é uma ferramenta importantíssima que vem contribuir para um melhor aprofundamento de conhecimentos sobre um determinado tema.
Através da pesquisa bibliográfica foi possível elaborar novos conceitos, novas aprendizagens, confirmando esses novos conhecimentos através de outras pesquisas já então feitas e confirmadas, através de autores que estudaram com maior aprofundamento sobre o assunto.
A pesquisa foi de grande importância para formação docente, através dela foi possível compreender várias concepções adotadas em sala de aula, entender um pouco mais sobre o cotidiano dos alunos e os motivos pelo qual estão na EJA.
O tema foi escolhido com intenção de mostrar as concepções adotadas no processo da EJA no Brasil, usando Freire como principal referência, mostrando como a alfabetização libertadora foi capaz de ensinar e letrar ao mesmo tempo, livrando esses sujeitos das amarras do analfabetismo. Além de ter sido utilizado outros autores como base para a realização do presente trabalho, onde todos os autores convergem sobre o assunto.
CONSIDERAÇOES FINAIS
A escola tem o dever de preparar o indivíduo para diversas situações da vida, entendendo-o como alguém ativo e capaz de produzir novos conhecimentos.
A escola precisa estar aberta a todas as mudanças que vem ocorrendo no decorrer dos anos, buscando sempre se adequar de acordo com as necessidades do aluno e se tratando da EJA, o professor precisa ter uma atenção especial, tendo em vista a formação integral do aluno, formação de identidade. O professor precisa ser um pesquisador invicto, no sentido de não se deixar vencer, sempre buscar.
Cada região que o aluno se encontra inserido tem suas características culturais diferentes, o que é visto de uma maneira no sul, pode ser vista de outra no norte, onde muitos tem tudo e outros não tem anda. Diante de tantos contrastes na sociedade, há uma necessidade de mudança, nesse sentindo a escola pode trabalhar essas necessidades com os alunos.
Os alunos da EJA por algum motivo não frequentaram ou deixaram de frequentar a escola, uma vez que voltam à escola, estão em busca de mudança tanto de cunho pessoal, mas também num sentindo mais amplo, também em busca mudanças sociais.
É preciso levar em conta o cotidiano desse aluno, considerando-o como um sujeito capaz, considerando suas experiências e vivências, diferente das crianças que não tem pouco conhecimento sobre a vida. Esses alunos precisam ser tratados como adultos, com metodologias que se adequam as suas necessidades.
O professor precisa trabalhar com metodologias diferenciadas com esses alunos, a maioria deles são trabalhadores, chefes de família, com grande responsabilidade, que precisam de conteúdo diferenciado, caso contrário às aulas irão gerar ainda mais cansaço e enfado.
A EJA, não se trata de uma simples modalidade onde apenas alfabetizar um aluno é o objetivo, vai muito além disso, é preciso alfabetizar de forma crítica, possibilitando que esse aluno pense assim, que seja capaz de cumprir e exigir seus deveres como cidadão, que possa mudar a sociedade, tornando-a mais justa possível.
Para que de fato ocorram essas mudanças à escola precisa de profissionais capacitados, que pensem também dessa forma, para que haja de fato uma mudança em prol desses alunos.
Muitas escolas ainda tem receio em falar sobre politica, a escola precisa discutir esses assuntos com os educandos, estimulando seu interesse em política, proporcionando momentos de reflexão crítica sobre a sociedade em que estão inseridos, sendo assim cabe à escola, buscar os conteúdos adequados, conteúdos que façam que com o que aluno reflita. É preciso mudar essa realidade, muitas vezes sofrida.
Cabe ao professor conhecer a realidade desses alunos, estudar os conteúdos a serem propostos, analisando as especificidades, sua faixa etária, desejos, anseios, objetivos, sempre propondo conteúdos que estimulem a criatividade do aluno, que leve o aluno a pensar de forma crítica, dialógica, atendendo suas necessidades educativas.
A escola não pode promover um sujeito obediente, fazendo então um sujeito controlado, que responde apenas a comandos impostos por um sistema, mas precisa encaminhar esse sujeito para vida.
Para que isso ocorra à escola precisa ouvir seus educandos, seus medos, anseios, suas dificuldades, enfrentando o desafio de transformar modelos antigos, tradicionais, entendendo que a escola está inserida em outra época, em outro contexto, muito diferente de algumas décadas atrás, hoje temos outro contexto de pessoas, personalidades, realidades diferentes.
O aluno então precisa ter autonomia mesmo na escolha do conteúdo, não pode ser algo que o professor determina e o aluno apenas cumpre, mas precisa ser escolhido de forma coletiva, em conjunto com os alunos. Como diz Freire (1996), “Ensinar exige pesquisa, ensinar exige paciência”.
Freire (1996), ainda diz que “Ensinar exige vigilância do bom senso”. Os profissionais da EJA precisam ter formação adequada para atuar com esses alunos, é preciso que o professor busque incansavelmente estudos aprofundados a fim de proporcionar uma melhor aprendizagem a esses alunos.
REFERÊNCIAS
DALLA VALLE, Luciana de Luca. METODOLOGIA DE ALFABETIZAÇÃO. 2. ed. Curitiba: Ibepex, 2011.
DEMO, Pedro. O PORVIR desafio da linguagem do século XXI. Curitiba: Ibepex, 2007.
FREIRE, Paulo. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: SABERES NECESSÁRIOS À PRÁTICA EDUCATIVA. Disponível em: http://www.facinter.com.br
______. AÇÃO CULTURA PARA A LIBERDADE E OUTROS ESCRITOS. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
SOUZA, Maria Antônia de. EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS. 2. ed. Curitiba: Ibepex, 2011.
PINTO, Alváro Vieira. SETE LIÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO DE ADULTOS. 11. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
FONSECA, João José Saraiva da. .METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA. Disponível em <http://www.ia.ufrrj.br/ppgea/conteudo/conteudo-2012-1/1SF/Sandra/apostilaMetodologia.pdf >. (Acesso em : 25 julho. 2013)