A IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA E JOGOS NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Vera Lucia Teixeira Rodrigues
Rosa Ferreira Nobre
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo refletir a importância das brincadeiras e jogos para o desenvolvimento e aprendizagem de crianças entre 4 a 6 anos de idade, tendo como ponto de partida os trabalhos realizados no contexto escolar. O objeto de indagação da pesquisa direcionou sobre: qual a concepção de ensino utilizando-se a prática das brincadeiras e jogos adotados por professores de algumas escolas públicas de Educação Infantil no município de Sorriso – MT? Para alcançar os objetivos pretendidos, foi formulado um questionário no qual foi aplicado a um grupo de professores que atuam em salas de aulas com alunos da Educação Infantil. No desenvolvimento do trabalho, foi feito uma reflexão pautada em vários autores de como trabalhar as brincadeiras e jogos no contexto da Educação Infantil. É a partir disso se procurou fazer a reflexão da prática pedagógica dos professores vivida no cotidiano no qual se pode perceber que embora trabalhem jogos e brincadeiras no desenrolar de suas aulas, ainda não conseguem visualizar a importância que estas atividades têm para o processo de ensino aprendizagem da criança.
Palavra chave: Contexto Infantil. Brincar. Jogar.
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa teve como objetivo refletir a importância das brincadeiras para o desenvolvimento e aprendizagem de crianças entre 4 a 6 anos de idade, tendo como ponto de partida as brincadeiras realizadas no contexto escolar. A partir daí, procurou-se também, analisar a importância das brincadeiras no desenvolvimento da personalidade infantil, tendo como suporte leituras bibliográficas que abordam quanto ao tema e a observação direta de crianças em atividades lúdicas em pré-escolas municipal da cidade de Sorriso – MT e refletir em que medidas as brincadeiras contribui para a socialização das crianças e se há interesses e participação dos professores nos mementos das atividades lúdicas.
O referido estudo se realizou tanto de forma teórica, debatendo com vários autores que refletem sobre o tema, quanto de forma empírica, através de observações de atividades realizadas e entrevistas com professores de Educação Infantil.
Buscou-se como foco de problema saber qual a concepção de ensino utilizando-se a prática das brincadeiras e jogos adotados por professores de algumas escolas públicas de Educação Infantil no município de Sorriso – MT?
O trabalho está organizado em três partes sendo: Fundamentação Teórica, Análise e discussão dos dados obtidos das observações in loco e Considerações Finais.
No primeiro momento da fundamentação teórica, procura refletir “A Importância do Lúdico no Desenvolvimento da Criança”, considerando aspectos ligados ao crescimento da criança, a utilização de recursos utilizados pelos professores, a motivação advinda do professor no momento de inserir em sua prática pedagógica jogos e brincadeiras.
No segundo momento faz-se uma discussão sobre o papel dos brinquedos e brincadeiras no processo de aprendizagem da criança, tendo em vista que ao utilizar-se das brincadeiras e jogos propriamente ditos, a criança estará fazendo relações muito próximas aos padrões inseridos no contexto social dos adultos.
No terceiro momento busca tecer uma discussão quanto “O prazer e o Lúdico nas Realizações de Tarefas” pela criança, haja vista que toda a criança nasce predisposta a vivenciar seu “mundo imaginário” por meio das brincadeiras e jogos. Assim, vivenciando esse processo oportuniza-o se tornar um adulto mais preparado para enfrentar a vida em adulto.
No quarto momento faz-se uma reflexão mais detalhada sobre “Jogos e Brinquedos no Desenvolvimento da Educação Infantil”, tendo o papel da Escola como fundamental para o desenvolvimento da criança.
Na segunda parte do trabalho, busca-se fazer uma Análise e discussão dos dados obtidos das observações in loco, onde algumas escolas turmas de Educação Infantil foram observadas os trabalhos pedagógicos dos professores.
Por fim, faz-se as considerações finais, no qual buscou concluir a pesquisa de acordo com o objetivo pretendido. Observou-se que ao trabalhar jogos e brincadeiras neste nível, é preciso que haja planejamento por parte dos professores e que os mesmos sejam ministrados de forma interdisciplinar, ou seja, que tenham relação com todas as disciplinas e não de forma isolada.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
Com a influência da história da pedagogia pré-escolar brasileira, principalmente após os anos setenta, com a priorização dos programas de educação compensatória, em instrumentos didáticos, observou-se uma tendência das pré-escolas brasileiras em desenvolver seus trabalhos com crianças através de materiais didáticos, brinquedos pedagógicos e métodos lúdicos de ensino de alfabetização como fins em si mesmo, descontextualizando seu uso dos processos cognitivos e históricos vivenciado pelas crianças.
Desta forma, a escola tem dado muita ênfase às didáticas lúdicas das crianças limitando-as de discriminação viso motora e auditiva, através do uso de brinquedos, desenhos coloridos e mimeografados e músicas ritmadas. Essa prática acaba por bloquear a organização independente das crianças para a brincadeira, uma vez que a atividade ministrada tem apenas um cunho de ação simbólica que serve apenas para exercitar a facilitar para o professor a transmissão de determinada visão de mundo. Segundo Marcellino (1996, p. 38):
É fundamental que se assegure à criança o tempo e o espaço para que o caráter lúdico do lazer seja vivenciado com intensidade capaz de formar a base sólida para a criatividade e a participação cultural e, sobretudo para o exercício do prazer de viver, e viver, como diz a canção... como se fora brincadeira de roda.
Um dos objetivos primordial da educação é fornecer elementos capazes de formar pessoas críticas e criativas, que criem, que inventem, descubram que sejam capazes de construir e reconstruir conceitos até chegarem ao conhecimento. Não apenas ficarem reproduzindo simplesmente o que os outros fazem, aceitando tudo o que lhe é oferecido. É por isso a importância oferecer aos alunos subsídios para que possam ser ativos, que aprendam, adotando assim uma atitude mais de iniciativa do que expectativa.
A Educação Infantil tem por função favorecer o desenvolvimento da criança na sua totalidade; para que isso aconteça é imprescindível considerar o conhecimento que ela possui, oportunizando-a as novas experiências por meio da vivência de seu mundo, explorando, respeitando e reconstruindo.
A brincadeira na pré-escola deveria ser a estratégia fundamental a ser utilizada pela escola. Porém, segundo Amorim (1986, 68) isso na prática não acontece, pois “Quando é colocada na prática as atividades lúdicas, o que se tem verificado na maioria das pré-escolas é uma forma combinada de orientações; ênfase na disciplina e exercícios de adestramento para o ensino fundamental. ”
O professor deve ter em mente que a criança chega à escola com um determinado conhecimento oriundo da própria atividade lúdica. Na escola, esse conhecimento deve ser aproveitado para o desenvolvimento de sua imaginação e emoção, uma vez que esse conhecimento (brincadeiras, falas, envolvimento com seres inanimados) é estágio inicial para a construção de novos saberes. Daí a necessidade de brincar. Para Rizzi e Haydt (1987, p. 14) a ação “De brincar corresponde a um impulso da criança, e este sentindo, satisfaz uma necessidade interior, pois o ser humano apresenta uma tendência lúdica. ”
Os lúdicos aplicados na prática pedagógica alem de contribuir para a aprendizagem da criança, também possibilita ao professor tornar sua aula mais dinâmica e prazerosa. Cunha (1994, p. 29) ressalta que a brincadeira oportuniza uma “situação de aprendizagem delicada”, ou seja, o professor como mediador deste processo deve respeitar e contribuir na motivação da criança, dando-lhe várias possibilidades para que evolua em seu processo, ou do contrário o lúdico acaba por perder seu efeito e importância para a criança.
Portanto, é responsabilidade do professor na educação infantil é proporcionar à criança brincadeiras que contribuam para o seu desenvolvimento psicossocial e para a sua educação.
O jogo é outro elemento fundamental para o desenvolvimento infantil ao propiciar a construção de regras, a expressão imaginária e a apropriação do conhecimento. Dentre vários pensadores estudaram (e estudam) as representações mentais, pode-se destacar Piaget sobre o desenvolvimento infantil, integrando aspectos morais, sociais e cognitivos. Conforme Piaget citado por Oliveira (1998, p. 91):
As funções essenciais da inteligência consistem em compreender e inventar, em outras palavras, construir estruturas estruturando o real. E, de fato, é cada vez mais patente que estas duas funções são indissolúveis e que, para compreender um fenômeno ou acontecimento, é preciso reconstruí-las, faz-se mister primeiramente elaborar uma estrutura de transformação, o que supõe uma parte de invenção ou reinvenção.
Partindo daí, tem-se como pré-requisito, o planejamento das brincadeiras diversificadas que é fundamental para o processo de aprendizado do aluno, pois lhes facilita a novas experiências. É necessário estimular a participação ativa e a imaginação criativa dentro de um contexto real e vivencial, possibilitando-lhes que vivenciem o mundo do “faz de conta” para que atinjam estágios de desenvolvimento. Por outro lado, se a ação do professor for pautada num sistema de brincadeira que poda horizontes lúdicos da criança por meio de regras pré-estabelecidas cujo objetivo principal é desenvolver conteúdo, fica visível o pouco envolvimento dos alunos nas atividades.
A atividade lúdica deve ser encarada pelo professor de forma séria, correta e profissional, que tem um objetivo a ser atingido sobre dada atividade, que não é algo solto no tempo e espaço, sem importância pedagógica. Por isso, afirma Almeida (1994, p. 32) que “O sentido real, verdadeiro, funcional da educação lúdica estará garantida se o educador estiver preparado para realizá-lo”
A partir destas considerações, observa-se que a função do professor é pensar com clareza que tipo de atividade propor, sabendo o que as crianças dão conta de desenvolver com a atividade proposta. Outro fator também determinante é forma como é encaminhado a atividade proposta, ou seja, a delimitação de como será realizada, tendo noção clara da ocupação do espaço e o limite de tempo, de acordo com as condições da própria atividade ministrada, permitindo a realização dos movimentos em sua totalidade.
Não resta dúvida que o lúdico proporciona à criança a condição de encontrar-se na própria vida, no contexto real de suas ações, a complementação para as necessidades. Oliveira (1998, p. 112) comenta que “Privar a criança de agir, é incapacitá-la para a própria vida. ”
Partindo deste ponto o papel do professor na educação infantil para o processo de aprendizagem do aluno é fundamental. Proporcionar ao aluno brincadeiras que venham a contribuir para o seu processo de construção psicossocial e consequentemente para a sua educação.
O professor precisa planejar brincadeiras diversificadas e lhes facilitar a experimentação. Estimular os alunos a participarem de forma ativa usando toda a sua capacidade criadora, pois a criança tem uma grande capacidade de brincar com o “faz de conta”. Por outro lado, quem apenas determina o que a criança deva ou não brincar tentando controlar sua brincadeira em demasia, acaba podando o potencial lúdico da criança. De acordo com Kishimoto (1994, p. 35) “Se a atividade lúdica não for de livre escolha e seu desenvolvimento não depender da própria criança, não se tem brincadeira, mas trabalho”.
Portanto, compreender o papel do lúdico nas atividades escolar apenas como prazer e diversão, vai à contramão do processo educativo. A educação por meio do lúdico é uma atividade que faz parte da criança, pois ela aprende através de atividades lúdicas, encontrando-se nas pessoas reais a complementação para as suas necessidades. Oliveira (1998, p. 112) coloca que “Privar a criança de agir, é incapacitá-la”
A educação em nosso país está vinculada à escola nas exigências atuais da sociedade, no sentido de adequar o aluno as responsabilidades e maior capacidade de análise crítica e um aprendizado mais criativo, autônomo e participativo.
O tema ludicidade tem sido nos últimos tempos, foco de estudos e discussões em diferentes espaços e instituições, surgindo como decorrência de implicações deste no campo do lazer, da saúde, recreação, cultura e educação. Segundo Ramos (2003, p. 59) o comportamento lúdico:
Tem seu início, desde o nascimento da criança, mediante reações espontâneas e prazerosas. Assim o bebê vai respondendo ao movimento de um objeto próximo de sua vista, seguindo-o com o olhar cujo comportamento pode revelar expressão de prazer e de distração. A partir desses primeiros sinais, o brincar vai configurando ao longo da infância, incluindo a dramatização, como uma das fases de maior significação no comportamento lúdico.
É no dia-a-dia que a brincadeira se torna para a criança uma condição essencial para o desenvolvimento de suas potencialidades. Portanto, o ato de brincar na concepção de Winnicott (1975, p. 7), "É um modo particular de viver, é preciso aprender a brincar com prazer e, por extensão, aprender com prazer".
É compreendido que na fase da infância a criança percebe o meio a sua volta por meio de imagens. Daí a presença do brinquedo como fundamental para dar suporte ao ato de brincar através da manipulação
Partindo desse contexto, o papel do professor na Educação Infantil é de suma importância, pois é ele quem cria os espaços, disponibiliza materiais, participa das brincadeiras, ou seja, faz a mediação da construção do conhecimento. Kramer (1996, p.19) já dizia que:
É preciso que os profissionais de educação infantil tenham acesso ao conhecimento produzido na área da educação infantil e da cultura em geral, para repensarem sua prática, se reconstruírem enquanto cidadãos e atuarem enquanto sujeitos da produção de conhecimento. E para que possam mais do que implantar currículos ou aplicar propostas à realidade da creche/ ou pré-escola em que atuam efetivamente participar da sua concepção, construção e consolidação.
Diante dessa realidade, indagam-se quais os aspectos em que os brinquedos e brincadeiras auxiliam no desenvolvimento infantil de uma criança?
A motivação para a atividade lúdica reside exatamente no fato de correr o risco, e no confronto constante com o real que implica. Este é a etapa que qualifica a realidade e a brincadeira. Brincando a criança se descobre, experimenta, cria, relaciona, compreende e transforma, e começa a construir sua história.
2.2 BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS E SUAS FINALIDADES
O brincar para criança deve ser um momento espontâneo. Quanto mais brincadeiras se envolvem maior é a sua capacidade de interação. A escola por sua vez deve oferecer aos alunos um leque opcional de atividades que leve aos alunos a recriarem por meio de gestos, sinais e expressões suas formas de compreender seu meio em que vive. Vygotski (1998, p. 114), ressalta ainda que:
O brincar e o brinquedo criam na criança uma nova forma de desejos. Ensinam-na a desejar, relacionando seus desejos a um fictício, ao seu papel no jogo e suas regras. Desta maneira, as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo; aquisições que, no futuro, se tornará seu nível básico de ação moralidade.
Ao brincar, a criança vivencia certos padrões que estão presentes no contexto do adulto no que diz respeito aos grupos sociais diversos. Portanto, a brincadeira contribui para a construção da autoestima da criança, possibilitando que ela supere suas próprias limitações de forma criativa.
Nas brincadeiras, às crianças transformam o conhecimento que já possuíam anteriormente em conceitos gerais, com os quais se propõe a brincar. A esse respeito Roza (2002, p.50), faz o seguinte comentário:
Dizer que o brincar é uma linguagem significa de imediato conferir-lhe um caráter de prática significante. Assim, é possível relacioná-lo à estruturação subjetiva, pois, de acordo com os ensinamentos de Lacan, a ordem humana é caracterizada pela intervenção da função simbólica que constitui um universo no qual tudo se ordena. Não é certamente por acaso que o jogo do faz de conta é, naturalmente, o significado que Freud lhe confere, tornou-se um marco na elaboração de pontos teóricos da psicanálise, particularmente o que diz respeito ao advento da linguagem, ao acesso da criança ao simbólico.
A criança é um ser racional que nasce com capacidades afetivas, emocionais e cognitivas, mas para que essas capacidades se desenvolvam, é imprescindível que ala esteja próxima das pessoas, interagindo e aprendendo com elas, e ainda, que haja riqueza e diversidade nas experiências que lhes são oferecidas.
Ao ocupar seu tempo livre com brincadeiras, a criança torna-se mais criativa e responsável. Essas brincadeiras são lições de vida que a criança poderá se utilizar quando adulta. Nesse sentido Velasco (1996, p. 117), comenta:
No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade. Além de seu comportamento diário; no brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento sob a forma condensada, sendo ele mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento.
É na capacidade imaginária, como se algo fosse real, que a criança utiliza da brincadeira para expressar a sua presença do estar no mundo. Tais atitudes são refletidas quando ele inventa, exercita e descobre por meio das brincadeiras. O brinquedo é um elemento crucial que possibilita a autoconfiança, fator importante para o seu processo de aprendizagem. Velasco (1996, p. 110), diz em seu livro Brincar: o despertar psicomotor que:
A criança que brinca se tornará um adulto muito mais equilibrado física e emocionalmente, suportará melhor as pressões da vida adulta e terá mais criatividade para solucionar os problemas. Na criança a falta da atividade lúdica pode deixar marcas profundas, e muitos dos problemas apresentados em consultórios médicos ou psicológicos surgiram pela provocação desse trabalho infantil.
O professor como mediador precisa ter claro que através das brincadeiras a criança constrói conhecimento sobre o seu meio em que vive.
2.3 O PRAZER E O LÚDICO NAS REALIZAÇÕES DE TAREFAS
A brincadeira para a criança é de fundamental importância, pois o ato de brincar proporciona a construção e desenvolvimento da identidade e autonomia. A condição natural que a criança tem de se comunicar desde a tenra idade através dos gestos, sons e, posteriormente transformar a brincadeira em determinados papeis oportuniza-o ao desenvolvimento de sua imaginação.
O brincar de faz-de-conta para a criança é uma referencial indispensável para seu desenvolvimento cognitivo, uma vez que ao imitar, representar, ou imaginar o mesmo se coloca na condição do personagem que pode ser uma pessoa, um animal que reflete uma determinada situação da realidade.
Quando a criança está participando das brincadeiras está envolvida num contexto onde terá que vivenciar várias situações que servirão de base para construção de sua personalidade e vivência no meio em que vive. De acordo Cunha (1988, p. 11):
No brincar existe necessariamente participação e engajamento, o brinquedo é certamente uma forma de desenvolver capacidade de engajar-se, de manter-se ativo e participante. A criança que brinca bastante será um adulto trabalhador. É brincando bastante que a criança vai aprender a ser adulto consciente, capaz de participar e engajar-se na vida de sua comunidade.
Portanto, é fato que a criança que passa por uma infância a qual as brincadeiras fizeram parte de seu universo, sua condição de se tornar um adulto mais preparado para os desafios da vida é muito maior. Porém, na criança que é privada essas atividades, por condições de saúde, financeira ou social, ficam marcas profundas dessa falta de vivência lúdica. Muitos dos problemas apresentados em consultórios médicos ou psicológicos surgiram dessa privação, desse trabalho infantil. Cunha (1988, p. 9) comenta que:
Quando a criança tem acesso a farto material, satisfaz suas necessidades de desenvolvimento e sente-se atraída pelas possibilidades que eles representam. As crianças trabalham com materiais não somente para alcançar um objetivo, mas pelo prazer de experimentá-los e lidar com eles.
Brincar faz da criança um ser criativo, responsável e trabalhador. A tarefa do brincar são lições de vida que nenhum professor é capaz de ensinar, essas lições quando na quantidade necessária são tomadas futuramente pelas necessidades pessoais de cada adulto frente a diferentes situações.
2.4 JOGOS E BRINQUEDOS NO DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Jogo origina-se do latim “jocus”, que significa diversão, brincadeira. O jogo apresenta significados distintos, uma vez que pode significar desde os movimentos que a criança realiza nos primeiros anos de vida, agitando os objetos que estão ao seu alcance, até as atividades mais ou menos complexas, como certos jogos tradicionais e/ ou o desporto constitucionalizado.
Sabe-se que os brinquedos e jogos construídos especialmente para a criança só adquirem o sentido lúdico quando funcionam como suporte de brincadeiras, favorecendo o aprendizado de modo geral, por trazer atração e participação ativa, deixando claro o aprendizado dos próprios limites. Caso contrário, não passam de objetos. É a função lúdica que atribui o estatuto de brinquedo ao objeto fabricado pela indústria de brinquedo ou a qualquer outro objeto. Chateau (1987, p.137) diz que:
O trabalho escolar deve ser mais que o jogo e menos que o trabalho. É uma ponte alcançada do jogo ao trabalho. Nas escolas maternais, será ainda quase um jogo, um jogo educativo. Nas classes mais avançadas, será próximo do trabalho.
Assim o jogo está presente em todas as fases da vida humana, desde a mais tenra idade até a 3ª idade, sendo necessário mudar os conteúdos quantitativos e abstratos que ocasionam o rompimento no processo de desenvolvimento integral da criança, afastando-a do verdadeiro prazer de aprender.
Ao participar dos jogos, a criança vivencia situações que a ela são impostas por existir regras e faz com que ela procure superar uma situação “difícil” que faz parte do jogo para chegar ao resultado.
A criança desempenha um papel, quando assume um personagem, ao mesmo tempo em que estabelece relações com essas ações. Ela pode já ter visto, escutado, tocado em um cavalo, nunca montou num, movimenta-se. Não reproduz o cavalo que viu, mas um cavalo em geral. Sua ação tem um objetivo. Afinal, o que ela quer mesmo é montar num cavalo.
A criança brinca e essa brincadeira, em determinado momento acaba. Ela joga e brinca dentro da mais perfeita seriedade, mas sabe que o que está fazendo é um jogo, sabe que só está fazendo um faz-de-conta. Se suas características individuais forem respeitadas, passará do brincar para o trabalhar, sem perceber, pois, continuará sentindo o mesmo prazer na atividade.
A infância é marcada pelo jogo, pelas brincadeiras. A falta dessa atividade para a criança pode causar problemas na criança que permanecerão até a fase adulta. Partindo daí, a atividades com jogos passa a ser um instrumento indispensável para o desenvolvimento da criança no que diz respeito à socialização, superação de inúmeros desajustes de ordem psicossocial, ao mesmo tempo em que estimula a criatividade, raciocínio e investigação. Sua principal importância se dá na construção da personalidade integral do indivíduo. Ao brincar a criança explora e manuseia percebendo tudo que está a sua volta, por meio dos esforços físicos e mentais e sem sentir-se pressionada pelo adulto, desenvolve o sentimento de liberdade e satisfação pelo o que faz. Segundo Araújo (1992, p. 64) “Jogo é uma atividade espontânea e desinteressada, admitindo uma regra livremente escolhida, que deve ser observada, ou um obstáculo deliberadamente estabelecido, que deve ser superado. ”
As atividades trabalhadas na educação infantil devem ter seu início a partir do jogo como desafio à participação da criança na construção do seu conhecimento. Dentro deste contexto, os jogos passam a ser um recurso didático de muito valia para o processo de ensino aprendizagem, pois está provado que a crianças aprendem melhor brincando. Conforme Piaget (1979, p.95) “Os jogos não são apenas uma forma de entretenimento para gastar energias das crianças, mas meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual. ”
O brinquedo surge para enriquecer a atividade lúdica contribuindo para o conhecimento da criança no seu dia-a-dia. Daí em diante, o brinquedo estará presente em sua vida até a fase adulta. A criança se envolve num mundo imaginário onde faz parte personagens muitos brinquedos. De acordo com Almeida (1994, p.26) “O brinquedo faz parte da vida da criança. Ele simboliza a relação pensamento-ação e, sobre este ponto, constitui provavelmente matriz de toda atividade lingüística, ao tornar possível o uso da fala, do pensamento e da imaginação. ”
É preciso que deixe a criança brincar para poder expressar suas fantasias, experiências e desejos, pois no seu mundo imaginário é possível excluir o que lhe perturba, para dominar seus medos, para exprimir sua natural agressividade, de forma calma e segura de maneira socialmente aceita, para que possa construir sua capacidade e favorecer toda a expressão de sua personalidade.
O brinquedo tem uma função importantíssima para o desenvolvimento das habilidades verbais da criança, pois em contato com o brinquedo ela se comunica com seu companheiro de brincadeira e se comunica com o próprio brinquedo por meio de pequenos diálogos. Uma criança quando brinca com um determinado brinquedo, conversa com ele como se tivesse vida, procura se relacionar através da linguagem construída por ele, criando tentativas de não apenas copiar a linguagem do adulto, mas criar também sua maneira própria de se comunicar. Vygotski (1992, p. 92) considera que:
No brinquedo, espontaneamente, a criança usa a sua capacidade de separar significado de objetos sem saber que o está fazendo, da mesma forma que ela não sabe estar falando em prosa, no entanto, fala sem prestar atenção às palavras. Dessa forma, através de brinquedo, a criança atinge uma definição funcional de conceitos de objetos e as palavras passam a se tornar parte de algo concreto.
O que não se deve perder de vista é que o brinquedo é um instrumento riquíssimo no processo de construção de aprendizagem da criança, proporciona um aprender-fazendo, desenvolvendo a linguagem, o senso de companheirismo e a capacidade de criar.
3. METODOLOGIA
Refletir a importância das atividades lúdicas na educação infantil, leva afirmar que o lúdico ainda é um instrumento que necessita ser mais bem implementado no contexto escolar, tendo em vista que uma proposta bem elaborada contribui para o desenvolvimento integral da criança e para a apreensão de conteúdos da alfabetização.
Exercer a docência é um desafio. Trabalhar com a educação infantil não é fácil, portanto, cabe ao educador pesquisador nunca dar a pesquisa por acabada, fazendo o sonho de uma educação de qualidade para todos ser aplicada hoje, sem saudades do ontem, com um olhar sorridente para o amanhã.
O trabalho será desenvolvido tendo como base a metodologia da pesquisa-ação para a transformação da prática, em dois aspectos: de forma previamente planejada, ou seja, estratégica, e de forma colaborativa, buscando-se a interação dos sujeitos no processo de mudança. De acordo com Franco (2005, p. 485-486):
A pesquisa-ação tem sido utilizada, nas últimas décadas, de diferentes maneiras, a partir de diversas intencionalidades, passando a compor um vasto mosaico de abordagens teórico-metodológicas, o que nos instiga a refletir sobre sua essencialidade epistemológica, bem como sobre suas possibilidades como práxis investigativas.
A realização do trabalho se dará através de uma busca minuciosa em literatura de autores que trazem à tona esta temática, que visam ampliar a concepção da importância de jogos e brincadeiras na Educação Infantil. A partir daí se fará uma análise, baseada nos autores para refletir a importância das brincadeiras e jogos para o desenvolvimento e aprendizagem de crianças entre 4 a 6 anos de idade.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS OBTIDOS DAS OBSERVAÇÕES IN LOCO
Como especificado nos objetivos específicos deste trabalho, procurou-se por meio de visitas in loco em algumas escolas para identificar qual a concepção dos professores quanto o envolvimento e importância da Educação Física na prática pedagógica e, ao mesmo tempo, conhecer a forma como os mesmos direcionam as atividades e suas concepções acerca dos jogos na Educação Infantil.
A realização das observações teve como intuito verificar de que forma os professores de Educação Infantil utilizam os jogos em suas aulas. Com base no referencial teórico, ao relacionar com a prática presente nas escolas pesquisadas percebeu-se que os profissionais não acompanham uma concepção teórica específica, sendo um de seu maior referencial o seu trabalho diário. Também se verificou um ponto bastante visível nas aulas, a dificuldade em integrar os jogos nos conteúdos programáticos. Outra questão foi o procedimento metodológico, onde cada professor adota um para acompanhar o desenvolvimento de suas atividades.
Em uma das turmas observada constatou que há professores que trabalham os conteúdos por meio de uma metodologia diversificada e com alguns recursos visuais como cartazes e alguns jogos em momentos de términos de alguma atividade, ou então no recreio. Mesmo introduzindo alguns jogos no desenvolvimento dos trabalhos, muitos professores não dão valor de cunho pedagógico aos mesmos. Ainda há certa resistência por parte dos professores quanto ao jogo. Falta-lhes, talvez, conhecimento mais aprofundado do ponto de vista pedagógico quanto à importância do jogo para o desenvolvimento da criança, na socialização e na construção de competências voltadas a expressão de suas ideias.
No ponto de vista educacional, o jogo não pode ser visto e entendido apenas como prazer, diversão, pois sua aplicação de forma sistematizada contribui para o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, social e moral. Conforme Piaget (1979, p. 32):
O jogo é a construção do conhecimento principalmente, nos períodos sensório-motor e pré-operatório. Agindo sobre os objetos, as crianças, desde pequenas, estruturam seu espaço e o seu tempo, desenvolvem a noção de casualidade, chegando a representação e, finalmente a lógica.
Numa outra turma percebeu-se que há uma socialização bastante significativa entre a professora e alunos. Pois, vê o interesse por parte da professora em trabalhar suas aulas de forma lúdica, utilizando o planejamento semestral e aplicando a metodologia nos conteúdos, aproveitando todos os recursos que estão disponíveis em sala de.
É preciso ter conceituado que a criança chega à escola com um determinado conhecimento oriundo da própria atividade lúdica. Na escola, esse conhecimento deve ser aproveitado para o desenvolvimento de sua imaginação e emoção, uma vez que esse conhecimento (brincadeiras, falas, envolvimento com seres inanimados) é estágio inicial para a construção de novos saberes. Daí a necessidade de brincar.
Os jogos e brincadeiras aplicados na prática pedagógica além de contribuir para a aprendizagem da criança, também possibilita ao professor tornar sua aula mais dinâmica e prazerosa. Para isso, o professor como conhecedor e mediador deste processo deve respeitar e contribuir na motivação da criança, dando-lhe várias possibilidades para que evolua em seu processo, ou do contrário o lúdico acaba por perder seu efeito e importância para a criança.
Portanto, é responsabilidade do professor na educação infantil é proporcionar à criança brincadeiras que contribuam para o seu desenvolvimento psicossocial e para a sua educação.
O jogo é um elemento fundamental para o desenvolvimento infantil ao propiciar a construção de regras, a expressão imaginária e a apropriação do conhecimento. Dentre vários pensadores estudaram (e estudam) as representações mentais, pode-se destacar Piaget sobre o desenvolvimento infantil, integrando aspectos morais, sociais e cognitivos. Conforme Piaget citado por Oliveira (1979, p. 91):
As funções essenciais da inteligência consistem em compreender e inventar, em outras palavras, construir estruturas estruturando o real. E, de fato, é cada vez mais patente que estas duas funções são indissolúveis e que, para compreender um fenômeno ou acontecimento, é preciso reconstruí-las, faz-se mister primeiramente elaborar uma estrutura de transformação, o que supõe uma parte de invenção ou reinvenção.
Partindo daí, tem-se como pré-requisito, o planejamento das brincadeiras diversificadas que é fundamental para o processo de aprendizado do aluno, pois lhes facilita a novas experiências. É necessário estimular a participação ativa e a imaginação criativa dentro de um contexto real e vivencial, possibilitando-lhes que vivenciem o mundo do “faz de conta” para que atinjam estágios de desenvolvimento. Por outro lado, se a ação do professor for pautada num sistema de brincadeira que poda horizontes lúdicos da criança por meio de regras pré-estabelecidas cujo objetivo principal é desenvolver conteúdo, fica visível o pouco envolvimento dos alunos nas atividades. Kishimot (1994, p. 35) afirma que “Se a atividade lúdica não for de livre escolha e seu desenvolvimento não depender da própria criança, não se tem brincadeira, mas trabalho.”
O jogo em sala de aula é uma ótima proposta pedagógica, porque concluímos que propicia relação entre parceiros e grupos, e nestas relações podemos observar a diversidade de comportamento das crianças para construir estratégias para a vitória, como também as relações diante da derrota. Toda a derrota no jogo provoca na criança uma reação de revolta. Nestas reações o professor não deve interferir fazendo julgamentos, deverá apenas dar sugestões verbais e pacientemente saber esperar a superação desta conduta. O importante é o professor verbalizar a criança reconhecendo todo o seu mal-estar diante da derrota para poder ajudá-la a superar o que, para todos nós é tão difícil: o sentimento de frustração diante de qualquer perda.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento humano. A escola, como intermediadora direta para esse desenvolvimento, precisa estar bem estruturada para que possa proporcionar ao aluno instrumentos que os levem por meio de suas experiências a uma aprendizagem significativa no qual possam experimentar inventar, descobrir, perguntar. Daí a necessidade de se ter um conhecimento mais aprofundado sobre a importância dos jogos e brincadeiras paro o crescimento da criança no que diz respeito à socialização, a capacidade criativa, ao psíquico, ao movimento, etc.
Durante as observações, verificou-se que, embora os professores introduzindo alguns jogos e brincadeiras na realização de suas aulas, ainda não conseguem perceber o valor pedagógico que os mesmos oferecem. Pois veem o jogo como atividade isolada do contexto pedagógico, por isso, na maioria das vezes é proposto sempre no fim de uma atividade ou então na hora do recreio. Ainda não ha clareza por parte dos professores que a ludicidade deva ter uma intencionalidade para quem cumpre um papel pedagógico e, ao mesmo tempo, o professor precisa ter a concepção de que dependendo da forma em que se propõe a brincadeira, ela perde o seu efeito pedagógico e se transforma não só em atividades dirigida, mas também manipuladora.
É preciso que os professores tenham planejamento das atividades relacionadas aos jogos e brincadeiras e quais seus objetivos diante do planejado. Que o ato de brincar e jogar não fiquem isolados de um contexto pedagógico mais amplo.
Merece aqui destacar a importância da formação do professor em estar desenvolvendo em sua prática pedagógica as brincadeiras e jogos como instrumento de apoio para a aprendizagem dos alunos, oportunizando-os a criarem situações relacionadas ao seu cotidiano, ao seu meio e desenvolver suas capacidades de se expressar, de interagir, de se envolver e socializar. Isto é, oferecer condições para que o aluno tenha prazer em participar e conviver em sala de aulas.
Dentro de uma perspectiva de crescimento pessoal, posso afirmar que a realização deste trabalho tem contribuído significativamente para a minha formação profissional. Pois, através dos referenciais teóricos e, em seguida, com as visitas in loco nas escolas, pude verificar a importância dos jogos e brincadeiras para o processo da construção da aprendizagem de crianças de 4 a 6 anos de idade. Sem deixar de dizer que é nessa fase que as crianças estão abertas ao mundo mágico das brincadeiras, dos jogos, do sonho, isto é, de tornar tudo que é por ele imaginário em realidade. E que não devemos desperdiçar recursos esses tão ricos para a prática pedagógica.
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