NOVAS ANÁLISES DE TEXTOS COM MENSAGEM MORAL PARA UTILIZAÇÃO EM SALA DE AULA
Lúcio Mussi Júnior
Trabalho apresentado à UNIP
RESUMO
Frente ao crescente estímulo à adoção de práticas multidisciplinares em sala de aula o presente trabalho traz como foco a análise de vários textos voltados à reflexão valores e de ética. Assim, este artigo é produzido na intenção de de servir de sugestão para professores não só de Língua Portuguesa e Interpretação de textos, como também a professores de Filosofia e Sociologia.
Palavras-chave: Análise de textos. Interdisciplinaridade. Valores morais.
Introdução
O presente trabalho configurou-se no sentido de servir como sugestão a professores de diversas áreas do conhecimento no trabalho multidisciplinar com alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio.
Trata-se da análise de vários textos que instigam a reflexão e a valorização da moral e da ética.
Desenvolvimento
Texto: Assembleia na carpintaria
Era uma vez uma carpintaria onde aconteceu uma estranha assembleia. Foi uma reunião de ferramentas para acertar suas diferenças.
Um martelo presidiu a reunião, mas os participantes avisaram-no que teria de renunciar, pois fazia muito barulho e golpeava muito.
O martelo aceitou sua culpa, porém exigiu que fosse expulso o parafuso, alegando que dava muitas voltas para conseguir algo.
Diante do ataque o parafuso concordou desde que expulsassem a lixa por ser muito áspera no tratamento com os demais, atritando sempre.
A lixa acatou a decisão, mas exigiu a expulsão da trena por sempre medir os outros segundo a sua medida, como se fosse perfeita.
No auge da discussão, entrou o carpinteiro, juntou o material e iniciou seu trabalho. Utilizou o martelo, a lixa, a trena e o parafuso, convertendo uma rústica madeira em um fino móvel.
Quando a carpintaria ficou novamente em silêncio com a saída do carpinteiro, a assembleia reiniciou.
Foi então que o serrote, até então calado, falou:
— Senhores, ficou demonstrado que temos defeitos, mas o carpinteiro trabalha somente com as nossas qualidades, com nossos pontos valiosos. Vamos deixar nossos pontos fracos e concentremos em nossos pontos fortes.
A assembleia entendeu então que o martelo era forte, o parafuso unia e dava força, a lixa era especial para limar e afinar a aspereza e a trena era precisa e exata. Sentiram-se como uma verdadeira equipe capaz de produzir móveis de qualidade. Sentiram, então, uma grande alegria em trabalhar juntos.
O mesmo ocorre com os seres humanos. Quando se busca defeito no outro, a situação fica tensa e negativa. Ao contrário, quando se busca sinceramente o ponto forte, as qualidades dos outros, florescem as melhores conquistas humanas.
É fácil encontrar defeitos, qualquer um pode fazê-lo. Mas encontrar qualidades é para os sábios!
(Autor desconhecido)
Análise do texto:
Certamente quando me encontro em um meio onde são destacados meus defeitos em detrimento de minhas qualidades é natural que eu me sinta diminuído e desmotivado. Não há como mostrar resultados positivos sendo avaliado dessa maneira. Da mesma forma ocorre com os alunos. Caso o professor foque apenas nos pontos negativos de cada um é possível que eles percebam que não há como melhorar, que são realmente falhos e incapazes de progredir.
Neste sentido, o professor que enfoque na qualidade de seus alunos estará destacando as qualidades e as possibilidades de progresso. Os alunos se sentirão motivados a buscar resultados já que estarão cientes de que são capazes. Dessa maneira o sucesso no processo de ensino/aprendizagem será certo.
Os defeitos devem ser mostrados como obstáculos a serem superados, mas o foco deve estar nas qualidades visto que são elas que tornam as pessoas capazes de superar os defeitos.
Acredito que a maneira mais acertada frente a um grupo de alunos seja valorizar as qualidades e encarar os defeitos como obstáculos a serem gradativamente superados.
“Sozinho você pode ser bom. Mas com outros você tende a ser melhor.”
Os seres humanos são tão diferentes uns dos outros em relação as suas competências e suas falhas que acabamos por nos tornar complementares. Deste modo, em equipe o ponto forte de um supera o ponto fraco do outro e todos, juntos, alcançam resultados que não alcançariam sozinhos.
Texto: Colheres de cabo comprido
Um pastor foi convidado por Deus para conhecer o céu e o inferno. Ao abrir-se a porta, viram uma sala em cujo centro havia um caldeirão cheio de suculenta sopa.
À sua volta estavam pessoas famintas e desesperadas. Cada uma delas segurava uma colher de cabo tão comprido que era possível alcançar o caldeirão, mas não a própria boca.
O sofrimento era imenso.
Em seguida, Deus levou o pastor para conhecer o céu.
Entraram em uma sala idêntica à primeira.
Havia o mesmo caldeirão, pessoas em volta e o mesmo cabo comprido.
A diferença é que todos estavam saciados.
— Eu não compreendo, disse o pastor.
— Por que aqui as pessoas estão tão felizes, enquanto na outra sala morrem de aflição, se é tudo igual?
Deus sorriu e respondeu:
— Você não percebeu? É porque aqui elas aprenderam a dar comida umas às outras.
(Autor Desconhecido)
Análise do texto:
Trabalho em equipe é quando cada pessoa envolvida faz o que está ao seu alcance para que o objetivo do grupo seja alcançado. No exemplo do texto o objetivo de saciar a fome de todos só podia ser alcançado com uma pessoa alimentando outra. Neste sentido, muitas vezes em um grupo de trabalho, suas ações dão suporte às ações de outras pessoas.
Em uma comunidade escolar essa cooperação é fundamental. Assim, sinto-me preparado para compor tal ambiente em simbiose com os que já estiverem lá, trabalhando em equipe para o objetivo de formar cidadãos seja cumprido da melhor maneira possível.
Texto: Faça parte dos 5%
Certa vez, tivemos uma aula de Fisiologia na escola de Medicina, logo após a Semana da Pátria.
Como a maioria dos alunos havia viajado aproveitando o feriado prolongado, todos estavam ansiosos para contar as novidades aos colegas e a excitação era geral. Nosso velho professor entrou na sala e imediatamente percebeu que iria ter trabalho para conseguir silêncio.
Com grande dose de paciência tentou começar a aula, mas você acha que minha turma correspondeu?
Que nada. Com um certo constrangimento, o professor tornou a pedir silêncio educadamente.
Não adiantou. Ignoramos a solicitação e continuamos firmes na conversa.
Foi aí que o velho professor perdeu a paciência e deu a maior bronca que eu já presenciei.
— Prestem atenção porque eu vou falar isso uma única vez, disse, levantando a voz, e um silêncio carregado de culpa se instalou em toda a sala. E o professor continuou:
— Desde que comecei a lecionar, isso já faz muitos anos, descobri que nós, professores, trabalhamos apenas 5% dos alunos de uma turma. Em todos esses anos observei que de cada 100 alunos, apenas 5 são realmente aqueles que fazem alguma diferença no futuro; apenas 5 se tornam profissionais brilhantes e contribuem de forma significativa para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Os outros 95 servem apenas para fazer volume; são medíocres e passam pela vida sem deixar nada de útil.
O interessante é que esta porcentagem vale para quase tudo no mundo. Se vocês prestarem atenção, notarão que, de 100 professores, apenas 5 são aqueles que fazem a diferença; de 100 garçons, apenas 5 são excelentes; de 100 motoristas de táxi, apenas 5 são verdadeiros profissionais.
E podemos generalizar ainda mais: de 100 pessoas, apenas 5 são verdadeiramente especiais. É uma pena muito grande não termos como separar esses 5% do resto, pois, se isso fosse possível, eu deixaria apenas esses alunos especiais nesta sala e colocaria os 95% restantes para fora, e então
teria o silêncio necessário para dar uma boa aula e dormiria tranquilo à noite, sabendo ter investido nos melhores.
Mas, infelizmente, não há como saber quais de vocês são esses 5% de alunos especiais. Só o tempo é capaz de mostrar isso. Portanto, terei de me conformar e tentar dar uma aula para esses alunos especiais, apesar da confusão que estará sendo feita pelos 95% restantes. Claro que cada um de vocês sempre pode escolher a qual grupo pertencerá. Obrigado pela atenção e vamos à aula de hoje.
Nem preciso dizer o silêncio que ficou na sala e o nível de atenção que o professor conseguiu após esse discurso. Aliás, a bronca tocou fundo em todos nós, pois, depois desse dia minha turma teve um comportamento exemplar em todas as aulas de Fisiologia, durante todo o semestre; afinal, quem gostaria de espontaneamente ser classificado como fazendo parte dos 95% que o professor gostaria de ver longe dali?
Hoje não me lembro de muita coisa das aulas de Fisiologia, mas a bronca do professor eu nunca mais esqueci. Para mim, aquele professor foi um dos 5% que fizeram a diferença em minha vida. De fato, percebi que ele tinha razão, e desde então tenho feito de tudo para ficar sempre no grupo dos 5%, mas, como ele disse, não há como saber se estamos indo bem ou não; só o tempo dirá a que grupo pertencemos.
Contudo, uma coisa é certa: se não tentarmos ser especiais em tudo o que fazemos, se não tentarmos fazer tudo o melhor possível, seguramente faremos parte da turma do resto.
(Autor Desconhecido)
Análise do texto:
Fica difícil saber exatamente se essa proporção de 5% está correta, porém podemos notar à nossa volta que essa teoria do velho professor faz todo o sentido. Vemos que apenas uma pequena parcela das pessoas está comprometida com o faz e coloca de fato seu empenho por fazer bem feito. A maioria simplesmente ocupa o espaço e realiza o mínimo necessário para receber em troca o que esperam. Nesse sentido podemos citar os profissionais que se esforçam o mínimo possível e simplesmente esperam o salário no final do mês. Ou o estudante que não se preocupa em aprender e apenas “passando de ano”.
Certamente é possível trocar de grupo, basta ter consciência de que podemos mudar de atitude e de postura. Podemos nos dedicar a fazer com excelência tudo aquilo que fazemos.
O texto traz um grande estímulo já que nos convida a refletir sobre nosso grau de comprometimento com a vida e com a sociedade. Acredito que ele esteja correto, mas que seja possível aumentar esse percentual valendo-se principalmente da educação para despertar a consciência dos indivíduos, sobretudo os mais jovens.
Texto: O homem e o mundo
Um cientista vivia preocupado com os problemas do mundo e estava resolvido a encontrar meios de respostas para suas dúvidas.
Certo dia, seu filho de sete anos invadiu o seu santuário decidido a ajudá-lo a trabalhar. O cientista, nervoso pela interrupção, pediu que o filho fosse brincar em outro lugar. Vendo que seria impossível removê-lo, o pai procurou algo que pudesse ser oferecido ao filho com o objetivo de distrair sua atenção: deparou-se com o mapa do mundo, o que procurava.
Com o auxílio de uma tesoura, recortou o mapa em vários pedaços e, junto com um rolo de fita adesiva, entregou ao filho dizendo:
— Filho, você gosta de quebra-cabeças? Então vou lhe dar o mundo para consertar. Aqui está o mundo todo quebrado. Veja se consegue consertá-lo bem direitinho! E faça tudo sozinho.
Então, calculou que a criança levaria dias para recompor o mapa.
Passadas algumas horas, ouviu a voz do filho que o chamava calmamente.
— Pai, pai, já fiz tudo! Consegui terminar tudinho.
A princípio o pai não deu crédito às palavras do filho. Seria impossível na sua idade ter conseguido recompor um mapa que jamais havia visto. Relutante, o cientista levantou os olhos de suas anotações, certo de que veria um trabalho digno de uma criança. Para sua surpresa, o mapa estava completo. Todos os pedaços haviam sido colocados nos devidos lugares. Como seria possível? Como o menino havia sido capaz?
— Você não sabia como era o mundo meu filho, como conseguiu?
— Pai, eu não sabia como era o mundo, mas quando você tirou o papel da revista para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem. Tentei, mas não consegui. Foi aí que me lembrei do homem, virei os recortes e comecei a consertar o homem que eu sabia como era. Quando consegui consertar o homem, virei a folha e vi que havia consertado o mundo.
(Autor desconhecido)
Análise do texto:
“Quando o homem resolver o problema entre homens e homens, aí estará pronto para resolver os problemas entre homens e mundo”.
A história nos mostra claramente isso. Os maiores problemas enfrentados pela humanidade estão sempre ligados às relações entre os seres humanos, os grupos, as classes sociais, as nações. Sempre a falta de entendimento entre homem e homem, a ganância de alguns, a tirania de outros. Se fosse possível “consertar” cada um de nós no tocante a esse convívio em sociedade, despertar a consciência que em boa parte está adormecida, certamente o mundo estaria concertado.
Com certeza é possível aprender com as crianças, elas veem o mundo com inocência e uma simplicidade prática que muitas vezes permite enxergar por um ângulo que não veríamos. Ouvir o outro, seja a criança, o operário, o gari, a merendeira, ou seja lá o que for, independente de sua idade ou escolaridade sempre é uma oportunidade de enxergar um ponto de vista diferente e aprender algo novo.
Texto: Pipocas da vida
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre.
Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre. Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo, o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela. A pipoca não imagina do que ela é capaz. Aí sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura. No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira.
Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar alegria para ninguém.
Fonte: ALVES (1999)
Análise do texto:
As mudanças podem gerar medo e ansiedade visto que nos confrontam com novidades. Novos convívios, novos cenários, novas responsabilidades, nova realidade. – E se for pior e não der pra voltar atrás? Talvez esse seja o maior dilema e nesse sentido é importante ter alguém que encoraje e mostre um caminho mais seguro. Provavelmente esse seja um dos papeis do professor. Mostrar um caminho mais confiável e encorajar a caminhada.
Quanto ao piruá ter sua utilidade, as vezes, mostra que mesmo as pessoas mais resistentes às mudanças acabam de alguma forma se integrando à sociedade, com maior ou menor sofrimento e na maioria das vezes fora do que imaginaram para suas vidas, elas acabam encontrando uma maneira de sobreviver.
A questão do tempo certo para virar pipoca... no caso, cada ser humano tem um grau diferente de amadurecimento e de consciência. Assim sendo cada pessoa é capaz de compreender a vida de maneira diferente e apenas quando está pronto é que consegue empreender as transformações necessárias em suas vidas. Algumas jamais conseguiram, são os piruás.
Considerações finais
Contudo é possível observar que os trabalhos com textos ou alguma outra mídia que busque valorizar a ética e os valores morais são de grande importância na formação do caráter das crianças e adolescentes, haja vista a reflexão que provocam e os bons exemplos destacados.
REFERÊNCIAS
SILVA, Wanderlei Sérgio da. Prática de Ensino – Introdução à Docência. São Paulo: UNIP.
_____. O Menino e os Pregos na Tábua. Disponível em: www.portalbrasfer.com.br/assets/doc/o-menino-e-os-pregos-na-tabua.docx. Acesso em 26/11/2016.