UTILIZAÇÃO DE JOGOS COMO RECURSO DIDÁTICO NA MATEMÁTICA
Keli Cristina de Lima1
Rosimeire Pereira de Oliveira2
RESUMO
Através de atividades lúdicas como jogos, quebra–cabeças, recortes e montagens, entre outros, é possível estimular o raciocínio lógico fundamental ao desenvolvimento do intelecto do indivíduo, para tal a utilização de jogos matemáticos como recurso didático auxilia nessa formação. Este artigo tem por objetivo proporcionar condições para que o educando possa através dos jogos ser estimulado a re-elaborar seu pensamento matemático de forma ágil e precisa, com coerência estabelecendo metas e objetivando o pensamento lógico. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica considerando as contribuições de BORIN (1996), FIANI (2004), LARA (2003), entre outros, enfatizando a importância do lúdico na aprendizagem, bem como a ressignificação aos conteúdos estudados com base nos aspectos sócio afetivos e cognitivos do ser humano. Conclui-se que toda atividade lúdica quando utilizada com cunho pedagógico traz resultados satisfatório ao indivíduo, há um crescimento intelectual da criança significativamente, no entanto sabemos que a aprendizagem é um processo contínuo e como tal, não acontece de uma hora para outra, é preciso a insistência do docente frente ao uso sequenciado de materiais alternativos(jogos) como apoio em suas aulas.
Palavras-chave: Atividade lúdica. Aprendizagem. Jogos matemáticos.
Introdução
O presente trabalho tem como tema principal o uso dos jogos lúdicos matemáticos como recurso didático nas séries iniciais do ensino fundamental para enriquecer as aulas, proporcionando uma melhor aprendizado. Essa ferramenta extra de trabalho deverá vir de encontro aos objetivos traçados pelo docente.
Nesta perspectiva, construiu-se questões que nortearam este trabalho:
De que forma o educador deve selecionar os jogos a serem propostos aos educandos?
Como saber quando o jogo é significativo ao público alvo?
Quando o jogo é proposto com fim pedagógico e quando é proposto como passa tempo?
A partir de que momento o jogo ou atividade lúdica estimula o raciocínio lógico matemático?
Qual a importância da interferência do educador durante o desenvolvimento de um jogo?
Desenvolvimento
A nova concepção de Matemática, dada nos dias de hoje, não concebe mais essa disciplina como de caráter modelo e segmentos, visa, de certa forma, a aprendizagem significativa e atraente para os educandos. Desse modo é essencial o dinamismo em apresentar os conceitos matemáticos de forma a aguçar o interesse e o gosto por desenvolvê-los em sala de aula, colocando esses conteúdos como veículos de grandes realizações humanas, vivenciando a prática do aluno e suas experiências acumuladas.
Para esse arranjo conceitual, o professor deve desencadear uma série de alternativas de cunho pedagógico diversificado, baseado em fontes reais, de dizeres concretos, com maturidade de entendimento e aprendizagem, criando em sala de aula momentos capazes de proporcionar uma postura crítica e reflexiva perante sua atualidade e disciplina.
Por outro lado, o ato de oportunizar o envolvimento entre o sujeito a ser trabalhado e o contato com o objeto de estudo (e/ou de análise) tem-se a intenção de proporcionar condições de interação para com o meio social, como fator determinante no aprendizado do aluno, afirma Vygotsky. O ser humano nasceu para aprender, para descobrir e apropriar-se dos conhecimentos, desde os mais simples até os mais complexos, e é isso que lhe garante a sobrevivência e a integração na sociedade como ser participativo, crítico e criativo. Em todas as fases de sua vida, o ser humano descobre e aprende coisas novas pelo contato com seus semelhantes e pelo domínio sobre o meio em que vive independente de cultura, raça, credo ou classe social, toda criança brinca.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, volume 3), um dos recursos a ser utilizado para diversificar as aulas de matemática é o “jogo: Não existe um caminho único e melhor para o ensino de Matemática, no entanto, conhecer diversas possibilidades de trabalho em sala de aula é fundamental para que o professor construa sua prática.”
Esse trabalho desenvolvido com os jogos de maneira lúdica vem auxiliar o trabalho do professor, desenvolvendo conceitos relacionados com a disciplina com maior interesse e entendimento. O que se sabe é que os povos de civilizações rudes já desenvolviam atividades relacionadas à ludicidade. Pequenas aldeias jogavam, lutavam e utilizava-se de marcadores de varetas e/ou ilustravam quantidades na terra, dessa forma desenvolveram várias maneiras de contagem sem que fosse por símbolos numéricos que hoje se conheça. As crianças também se utilizavam de jogos alternativos para distração de tempo, como pequenas adivinhas animais, quem conseguia correr por maior tempo, ou ser mais veloz. Com o passar do tempo e a ânsia de aprimoramento de brincadeiras o faz de conta entrou em ação, um dos primeiros indícios de jogos lúdicos encontrados foi o de gamão, feito por pedra lascada com desenhos nas faces, o qual propostiava que o jogador adivinhasse a soma dos desenhos feitos, pois a noção de quantidade era algo já conhecido na Idade Média. Dessa forma, o entendimento de lúdico extrapola no sentido de imaginar o que pode vir acontecer em uma determinada situação num jogo. É pelo lúdico e com o lúdico que o sujeito vai se construindo e se apropriando da realidade, tecendo relações sociais e aprimorando suas habilidades mentais. Na vivência lúdica, o indivíduo experimenta situações novas e desafios que facilitam seu entendimento enquanto aprendizagem formando seus conhecimentos, adestro de valores, aprendendo limites. Superando seus medos e adquirindo autoconfiança.
Nada pode substituir o saber do ser humano sobre os conhecimentos do mundo, e neste contexto fica evidente que a interiorização de conceitos pode acontecer com um estímulo a mais, e, partindo desse pressuposto os jogos interferem na aprendizagem do aluno, de maneira lúdica e prazerosa, explorando sua curiosidade e seu intelecto. O jogo lúdico matemático visa uma melhor compreensão e análise de fatores não existente, ou aparentemente não vistos em situações de mera repetição de exercícios (modelagem), são eles os responsáveis pela assimilação da teoria proposta com a prática realizada.
Outro motivo para a introdução de jogos nas aulas de matemática é a possibilidade de diminuir bloqueios apresentados por muitos de nossos alunos que temem a Matemática e sentem-se incapacitados para aprendê-la. Dentro da situação de jogo, onde é impossível uma atitude passiva e a motivação é grande, notamos que, ao mesmo tempo em que estes alunos falam de Matemática, apresentam também um melhor desempenho e atitudes mais positivas frente a seus processos de aprendizagem. (Borin, p.29)
O que mais é intrigante nos relatórios apresentados por muitos professores são estes bloqueios apresentados em alguns alunos em não falar matematicamente, em não saber expressar-se, e não requererem a ajuda do professor. Já com o auxílio do desenvolvimento de jogos o “medo/receio” de expressar-se não aparece, pois o ato de jogar proporciona a interação com os colegas tornando mais natural as indagações.
Quando utilizados pedagogicamente, os jogos produzem efeitos visíveis na aprendizagem do aluno, de forma a amadurecer conteúdos e preparar os educandos para um maior aprofundamento de itens trabalhados. Nesta direção de pensamento, o ato de escolher os jogos a serem apresentados recai numa postura de análise rigorosa situando série/idade. De acordo com a escolha dos jogos, os alunos apresentarão um determinado comportamento respondendo com sua motivação ao participarem.
Antes de iniciar qualquer atividade lúdica é de suma importância deixar claro o objetivo de se trabalhar com este ou aquele jogo, socializando as regras, o como jogar (utilidades dos instrumentos), posicionamento adequado, e os conhecimentos prévios necessários. Ainda, ao término da atividade é importante fazer um fechamento com comentários no que se refere ao jogo, a conduta dos jogadores e quem sabe, algumas críticas de melhoramentos. Neste momento o aluno pode ainda acrescentar no debate, quais foram seus acréscimos intelectuais que o jogo lhe proporcionou.
Basicamente utilizar-se de jogos lúdicos para melhorar o desempenho dos alunos nas aulas de Matemática é maravilhoso, com isso o professor consegue melhorar seu relacionamento com os alunos, tornando a aula mais atraente e prazerosa com qualidade de Ensino. Em muitas escolas está faltando esta reflexão, essas, desconhecem o objetivo de introduzir os jogos nas aulas, por vezes, a má utilização deste como apenas um passa tempo e sem responsabilidade, enfim, de conhecimento restritivo ao assunto, sem teoria alguma, apenas praticada.
Vários estudos já realizados afirmam que os jogos são reconhecidos fora da escola como meio de um processo fundamental para o desenvolvimento social, emocional e intelectual da criança. E se essas crianças permanecem mais tempo na escola do que em casa, logo a escola terá essa incumbência de lhes oferecer esta base de conhecimento/relacionamento. Implicando maiores responsabilidades de limites e controles de ânimos, no que se refere ao trabalho em grupo, ou seja, aceitação do colega sem objeção.
Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem. (Carlos Drummond de Andrade)
Conclusão
Diante da pesquisa realizada, concluiu-se que a aprendizagem em Matemática concretiza-se apenas a partir da elaboração de novos conceitos para aprimorar o conhecimento já existente. A troca de informações enriquece o próprio conhecimento e estabelece uma boa interação do sujeito com o mundo. De certa forma, a Matemática é mais prática que teórica, e enquanto atividade prática e humana tem como função organizar objetos e eventos no mundo.
Jogar não é só distração, é mais que estudar, porque jogando, o aluno aprende, sobretudo, a conhecer e compreender o mundo social que o rodeia, estabelecendo regras de bom convívio. Os jogos educativos requerem um plano de ação que permita a aprendizagem de conceitos matemáticos, culturais e sociais de uma maneira geral, visa sempre à aprendizagem prazerosa. Os jogos em sala de aula são importantes e devem ser utilizados não como instrumentos recreativos na aprendizagem, mas como facilitadores, colaborando para trabalhar os bloqueios que os alunos apresentam em relação a alguns conteúdos matemáticos, pois são eles que, de maneira lúdica, estimulam o indivíduo a buscar novos conhecimentos facilitando seu desenvolvimento.
REFERÊNCIAS
BORIN, J. Jogos e resolução de problemas: uma estratégia para as aulas de matemática. São Paulo: IME-USP; 1996.
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria da Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais – Ensino Fundamental. Secretaria da Educação Básica e Tecnológica. Brasília: MEC, 1999.
DAVIS, M. D. Teoria dos Jogos; trad. LeonidasHegenberg e Octanny S. da Mota. – São Paulo: Cultrix, 1973.
FIANI, Ronaldo. Teoria dos Jogos. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
GUZMÁN, M. de. Aventuras Matemáticas. Barcelona: Labor, 1986.
LARA, Isabel Cristina Machado de. Jogando com a Matemática. São Paulo: Rêspel, 2003.
MOURA, M. O. de. A construção do signo numérico em situação de ensino. São Paulo: USP, 1991.
SANTA CATARINA. SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Proposta curricular de Santa Catarina: Florianópolis: COGEN, 2005.
TAHAN, Malba. O homem que calculava. Rio de Janeiro: Record, 1968.
1Especialista em Metodologia do Ensino da Matemática e da Física, graduada em Matemática e professora da rede particular de ensino de MT.
2Especialista em Planejamento e Docência do Ensino Superior, e Tradução e Interpretação da Libras e graduada em Licenciatura Plena em Letras/Literatura, professora contratada da Seduc/MT.