O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Carine de Lima
Ivonete Vieira dos Santos
Claudia Aranha
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo investigar as características do brincar e do brinquedo como fator fundamental para o desenvolvimento das aptidões físicas e mentais da criança, sendo um agente facilitador para que esta estabeleça vínculos sociais com os seus semelhantes. A escolha deste tema surgiu da necessidade de abordar o assunto do brincar na Educação Infantil não apenas como simples entretenimento, mas como atividades que possibilitam a aprendizagem de várias habilidades. As hipóteses do presente trabalho são: o brinquedo tem sido utilizado como elemento pedagogicamente importante nas atividades realizadas em sala de aula; os professores acreditam que o brincar influência no desenvolvimento da aprendizagem; os professores da educação infantil estão aptos a constatar as diferenças entre o brincar a brincadeira e jogos didáticos. Hoje, as brincadeiras nas escolas estão ficando escassas, portanto é importante um espaço que possa proporcionar estímulos para que as crianças possam brincar livremente. Além de resgatar o direito de a criança brincar, constrói o seu desenvolvimento cognitivo e estimula valores. Brincando a criança pensa mais e cria novas brincadeiras.
Palavras-chave: Brinquedo. Desenvolvimento infantil. Interação social.
1INTRODUÇÃO
O conceito de brincar é infinitamente flexível, oferecendo escolhas a fim de apontar a importância do brinquedo na Educação Infantil. O mundo da criança difere dodo adulto, nele há o encanto da fantasia, do faz de conta, do sonhar e do descobrir. Portanto, a brincadeira é uma situação privilegiada de aprendizagem infantil onde o ambiente deve ser acolhedor para desabrocharem todas as potencialidades da criança, sendo que a escola tem como pressuposto servir ao desenvolvimento infantil.
O brincar favorece a autoestima e a interação de seus pares, propiciando situações de aprendizagem. As brincadeiras e jogos são ferramentas e parceiros silenciosos que desafiam a criança possibilitando as descobertas e a compreensão de que o mundo está cheio de possibilidades e oportunidades para a expansão da vida com alegria, emoção, prazer e vivência grupal.
A brincadeira é a atividade que faz parte do cotidiano de qualquer criança, independente do local onde vive, dos recursos disponíveis, do grupo social e cultura da qual faça parte, todas as criança brinca. Dentro dessa perspectiva, deve-se abordar o grande valor do ato de brincar na construção do conhecimento, pois, permite que a criança explore seu mundo interior e descubra os elementos externos a si, exercite a socialização e adquira qualidades fundamentais para o seu desenvolvimento. Com base nessas considerações, as professoras que trabalham na Escola Municipal Paulo Pires Pereira, na Educação Infantil, sabem da importância do brincar e o desenvolvem com os alunos. E as crianças estão sendo estimuladas através do lúdico?As hipóteses do presente trabalho são: o brinquedo tem sido utilizado como elemento pedagogicamente importante nas atividades realizadas em sala de aula? os professores acreditam que o brincar influência no desenvolvimento da aprendizagem; os professores da educação infantil estão aptos a constatar as diferenças entre o brincar a brincadeira e jogos didáticos.
Assim, o objetivo geral desse artigo é refletir sobre os jogos e brincadeiras no desenvolvimento da criança da Educação Infantil, sendo que os específicos são: identificar como o brinquedo pedagógico pode interagir na aprendizagem e verificar se os professores da educação infantil sabem da importância do brincar.Falar sobre a importância do brincar no processo ensino aprendizagem ainda é um pouco complexo, um dos motivos da realização desse estudo é comparar-secom a utilização de jogos e brincadeiras em sala de aula, haverá uma contribuição à formação de atitudes sociais como respeito mútuo, cooperação, relação social e interação, auxiliando na construção do conhecimento, pois com a troca de experiências, teorias e prática, todos terão crescimento no ensino aprendizagem.
DESENVOLVIMENTO
O grande sucesso do brincar na Educação Infantil se dá por meio de jogos e brincadeiras, que possibilitam à criança descobertas que acarretam o aprendizado.
A observação e a interpretação da atividade de brincar dão ao professor caminhos que os levam a entender o aluno, e a criança oportunidade de mesclar as informações, ampliando seus conhecimentos e suas habilidades, sejam elas motoras, cognitivas ou linguísticas, e assim tem-se fundamentos teóricos para deduzir a importância do brinquedo no desenvolvimento da criança na Educação Infantil.
Vygotsk(1994) vê o brinquedo como o meio principal do desenvolvimento da criança. Considera que o desenvolvimento ocorre ao longo da vida e que as funções psicológicas superiores são construídas ao longo dela. Ele não estabelece fases para explicar o desenvolvimento. Segundo ele, a criança usa as interações sociais como formas privilegiadas de acesso a informações: aprende a regra do jogo, por exemplo, através dos outros e não como o resultado de um engajamento individual na solução de problemas. Desta maneira, aprende a regular seu comportamento pelas reações, quer elas pareçam agradáveis ou não. As maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no futuro tornará no seu nível básico de ação real e moralidade.
O brincar é uma característica da criança e faz parte da sua índole, ambas são praticamente sinônimas, uma não existe sem a outra,“as atividades lúdicas são a essência da infância. Santos (1997, p. 19)”, brincar contribui no desenvolvimento da criança na Educação Infantil.Brinquedos e brincadeiras aparecem com significações opostas e contraditórias: a brincadeira é vista ora como ação livre, ora como atividade supervisionada pelo adulto.
Nesta frase do autor pode-se definir a ação livre como jogos e brincadeiras em que as crianças brincam livres e as supervisionadas como jogos e brincadeiras com regras.
De acordo com Casarin (2002), as brincadeiras deixaram de ser apenas divertimento, elas passaram ser observada com potencialidade no espaço educativo.
Vale ressaltar que o brinquedo no desenvolvimento da criança na educação infantil, além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração e atenção.
Brincar é indispensável à saúde física, emocional e intelectual da criança. E irá contribuir, no futuro, para a eficiência do adulto. Brincar é um momento de auto-expressão e auto-realização.
Para Vygotsk (1998), é no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera que depende de motivações internas. É no brinquedo que a criança consegue ir além do seu comportamento habitual, atuando num nível superior ao que ela realmente se encontra.
Para superar essa necessidade, a criança brinca e, durante a atividade lúdica, vai compreendendo à sua maneira o que faz parte desse mundo, esforçando-se para agir como um adulto, por exemplo, dirigir um carro, andar a cavalo, preparar uma comida, ou atender um paciente. É o que concordaKishimoto, (1994, p. 68)
A brincadeira é a atividade espiritual mais pura do homem neste estágio e, ao mesmo tempo, típica da vida humana enquanto um todo, da vida natural interna no homem e de todas as coisas. Ela dá alegria, liberdade, contentamento, descanso externo e interno, paz com o mundo... A criança que brinca sempre, com determinação auto-ativa, perseverando, esquecendo sua fadiga física, pode certamente torna-se um homem determinado, capaz de auto-sacrificio para a promoção do seu bem e de outros... Como “sempre indicamos o brincar em qualquer tempo não é trivial, é altamente sério e de profunda significação”.
Froelbel (1912) foi o primeiro educador enfatizar o brinquedo, a atividade lúdica como parte essencial do trabalho pedagógico e a aprender o significado da família nas relações humanas, ao criar o jardim de infância com o uso de jogos e brinquedos,de acordo com Casarin, (2002, p. 2). Consequentemente, as escolas que adotam as teorias froebelianas permitem o brincar com atividades orientadas e também livres. Os brinquedos são vistos como suporte para a ação do brincar, proporcionando a aquisição de habilidades e conhecimentos.
Através da brincadeira, a criança pode experimentar novas situações, e lhe é garantida a possibilidade de uma nova educação criadora, voluntária e consciente.
Froebel foi considerado por Maluf (2003, p.48)“um psicólogo da infância ao introduzir o brincar para desenvolver e educar as crianças. Ele afirma que o desenvolvimento físico, motor e cognitivo dar-se-ão em atividades livres e espontâneas”.
De algum tempo para cá, os estudiosos passaram a ver o brincar das crianças de forma diferente, não só para passar o tempo e se divertir, mas para seu pleno desenvolvimento, o desenvolvimento de suas potencialidades, afirma Cunha (2003) apud Maluf (2003) que, diante dos desafios do brincar, as crianças tendem a alcançar melhores níveis de desempenho.
Numa situação de brinquedo, a imaginação da criança é uma atividade especificamente humana e consciente, que surge da ação. Em suas ações, a criança representa situações as quais já foram de alguma forma vivenciadas por ela em seu meio sociocultural, ou seja, a sua representação no brinquedo está muito mais próxima de uma lembrança de algo que já tenha acontecido do que da pura imaginação. Para Vygotsky, (1984, p. 134).
O brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança, aquilo que na vida real passa despercebida por ser natural, torna-se regra quando trazido para a brincadeira. “As crianças fazem das brincadeiras uma ponte para o imaginário, a partir dele muito pode ser trabalhado”.
A brincadeira fornece, pois, ampla estrutura básica para mudanças da necessidade e da consciência, criando um novo tipo de atitude em relação ao real. Nela aparece à ação na esfera imaginativa numa situação de faz de conta, a criação das intenções voluntárias e a formação dos planos da vida real e das motivações volitivas, constituindo-se, assim, no mais alto nível de desenvolvimento pré-escolar.
Para Kishimoto (1999), “o brincar tem a prioridade das crianças que possuem flexibilidade para ensaiar novas combinações de ideias e de comportamentos”.
Alves (2001) afirma que “a brincadeira é qualquer desafio que é aceito pelo simples prazer do desafio, ou seja, confirma a teoria de que o brincar possui um objetivo próprio e tem um fim em si mesmo”.
A brincadeira é a atividade principal da infância. Essa afirmativa se dá não apenas pela frequência de uso que as crianças fazem do brinquedo, mas principalmente pela influência que esta exerce no desenvolvimento infantil.
A cognição e o desenvolvimento intelectual são exercitados em jogos onde a criança possa testar principalmente a relação causa-efeito. Na vida real, isto geralmente é impedido pelos adultos.
Para Antunes (1998, p.27),“entre 3 e 6 anos de idade, as crianças estão no segundo estágio conforme Piaget (período pré-operacional), o do desenvolvimento cognitivo, em que podem pensar em símbolos, mas ainda não podem usar a lógica”.
Esta proposta faz com que se perceba que o lúdico é uma opção de trabalhar o conhecimento de forma prazerosa, pois é através do brinquedo e do brincar que a criança aprende a lidar com o mundoe forma sua personalidade, recriando situações do seu dia a dia na busca de novas experiências. Para Kishimoto, (1994, p. 68).
O brincar também contribui para a aprendizagem da linguagem, que funciona como instrumento de pensamento e ação, para ser capaz de falar sobre o mundo, a criança precisa saber brincar com o mundo com a mesma desenvoltura que caracteriza a ação lúdica.
Nesta visão, as crianças adquiriram o brinquedo, facilitando a necessidade do imaginário, enriquece as habilidades motoras e reforça a aprendizagem educativa.
Ao participar de uma brincadeira, além de aprendê-la, a criança começa a inventar outras, com variações da mesma.
É importante refletir sobre a maneira como o brinquedo vem sendo trabalhado nas escolas, e se ele favorece um aprendizado significativo nas atividades pedagógicas. Logo, é persistente a busca de respostas que levem à solução do problema. Portanto, verifica-se que se precisa não apenas saber que ensino escolher, mas como ensinar, sobretudo, quando a criança está pronta para aprender as várias tarefas intelectuais do processo ensino-aprendizagem.
Nestas contextualizações, Maués (2000, p. 01) segue citando que:“É através do brincar que a criança representa a realidade à sua volta, e com isso vai construindo seus próprios valores, ideias e conceitos”. Nos dias de hoje, o brincar vem sendo cada vez mais utilizado na Educação, sendo destacado como uma peça importantíssima para a formação da personalidade, da inteligência, na evolução do pensamento, transformando-se em um artifício mais acessível para a construção do conhecimento.
Brincar significa extrair da vida nenhuma outra finalidade que não seja ela mesma. Em síntese, o jogo é o melhor caminho de iniciação ao prazer estético, à descoberta da individualidade e à meditação individual. Antunes (1989, p. 36-37).
O brincar é a atividade predominante na infância e vem sendo explorado no campo científico, como intuito de caracterizar as suas peculiaridades, identificar as suas relações com o desenvolvimento e com a saúde e, entre outros objetivos, intervir nos processos de educação e de aprendizagem das crianças.
Piaget (1971), seguindo uma orientação cognitiva, analisa o jogo integrado à vida mental caracterizado por orientações do comportamento que denomina assimilação.”
Dentro dessa perspectiva, Piaget ressalta que a inteligência é definida pelo equilíbrio entre a assimilação e acomodação. Segundo o autor, a maneira da criança assimilar é transformar o meio para que este se adapte às suas necessidades, enquanto o acomodar é a maneira da criança mudar a si mesma para adaptar-se ao meio em que está inserida. Para Piaget(1971, p. 99):
O jogo é a construção do conhecimento, principalmente, nos períodossensório-motor e pré-operatório. Agindo sobre os objetos as crianças, desde pequenas estruturam seu espaço e seu tempo, desenvolvem a noção de casualidade, chegando à representação e finalmente à lógica.
Em resumo, Piaget (1971) assegura que o jogo na criança inicialmente é egocêntrico e espontâneo, tornando-se cada vez mais uma atividade socializadora. Portanto, verifica-se que, ao brincar, a criança constrói conhecimento. Com isso, uma das atribuições mais importantes do jogo é a confiança que a criança tem. Confiante, ela pode chegar às suas próprias conclusões, criar seus próprios valores morais e culturais, visando sua auto-estima, o autoconhecimento, a cooperação conduzindo à imaginação, à fantasia, à criatividade, à criticidade e a algumas vantagens que facilitam sua vida, seja quando criança ou como adulta.
É nesse sentido que a brincadeira pode ser considerada um excelente recurso a ser usado quando a criança chega à escola, por ser parte essencial de sua natureza, podendo favorecer tanto aqueles processos que estão em formação, como outros que serão completados.
Visto dessa forma, não há dúvidas do quanto o brinquedo influência o desenvolvimento da criança.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de ensino-aprendizagem propõe desafios, na busca de compreender o mundo e sua realidade, onde o professor deve estar em contínuo desenvolvimento.
Ao término da pesquisa, os professores da Escola Paulo Pires Pereira veem que o brincar é importante, momento de divertimento e a brincadeira faz parte do cotidiano da criança e, na escola, não poderia ser diferente. Percebe-se que os mesmos acreditam que o brincar é eficaz, que ocorrem conhecimentos e reflexões, liberdade de criação, no qual as crianças propagam suas emoções, sensações e pensamentos sobre o mundo e também um espaço de interação consigo e com os outros.
Observa-se que a escola atende aos interesses e necessidades sociais dos alunos, através dos conhecimentos significativos, possibilitando uma compreensão, visando superar obstáculos cognitivo-emocionais do aluno, realizando trocas de experiências entre os mesmos como forma de aprendizagem, proporcionando às crianças meios para que tenham confiança na própria capacidade de conhecer e enfrentar desafios.
As hipóteses de o brinquedo ter sido utilizado como elemento pedagogicamente importante nas atividades realizadas em sala de aula: os professores acreditam que o brincar influencia no desenvolvimento da aprendizagem; os professores da educação infantil estão aptos a constatar as diferenças entre o brincar, a brincadeira e jogos didáticos, constatou-se queas ações lúdicas são importantes, poistransformam a escola em um ambiente familiar, tornando-a um ambiente prazeroso e que cabe ao professor despertar no educando o interesse pelas brincadeiras, utilizando para isso um processo mais dinâmico e criativo, desta maneira a aprendizagem tornar-se-á satisfatória para ambas as partes.
Em relação ao objetivo de refletir sobre os jogos e brincadeiras no desenvolvimento da criança da Educação Infantil, constatou–se que as brincadeiras são necessárias para o desenvolvimento de cada criança e que os professores dão oportunidade de as mesmas expressarem a dificuldade, satisfazerem as curiosidades, ao mesmo tempo, são úteis e importantes para o desenvolvimento delas crianças, pois elas pensam e reorganizam as situações que vivenciam em seu cotidiano.
Recomenda-se a utilização da brincadeira emsala de aula como um recurso a ser usado quando a criança chega à escola, podendo favorecer o processode formação e que através da mesma, a criança pode experimentar novas situações e lhe é garantida a possibilidade de uma educação criadora, voluntária e consciente.
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