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A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA ESCOLA PARA O DESENVOLVIMENTO DA LEITURA

 

Márcia Gabriela Schonton

Monaísa Araújo Nascimento

Fernanda Cristina Berlanda

 

RESUMO

 

Neste trabalho, buscou-se evidenciar a literatura em seus diversos aspectos e possibilidades, demonstrar a importância da criação do hábito de ler desde as séries iniciais. Os motivos que levaram à escolha do tema foram discutir a importância do texto literário na leitura, bem como a literatura em sala de aula e na formação do leitor e a literatura e leitura no mundo atual. Sabe-se também que a leitura é uma condição prévia para a escrita, pois bons leitores são bons escritores, suas produções de textos demonstram também que o ato de ler deve ir além da leitura das letras, de palavras; levando o indivíduo à leitura de mundo, do contexto cultural onde ele vive possibilitando assim o desenvolvimento do senso crítico.

 

 

Palavras-Chave: Leitura; Literatura; Educação

 

 

INTRODUÇÃO

 

A importância de discutir a literatura na escola e na formação do leitor se dá pelo fato que a criança ao ingressar na escola traz uma série de conhecimentos sobre as diferentes formas de compreender o mundo onde vivem. Quando chegam à escola passam a conviver com outras crianças que tem outras formas de ver o mundo, fruto de sua vivência anterior, e sua compreensão do mundo que a cerca precisa ser desenvolvida, e a literatura infantil se torna um instrumento indispensável à práxis do professor. Porém a escola tem se mostrado incapaz de formar sujeitos leitores.

A reflexão sobre o ensino da leitura na escola é muito importante para analisar os fatores que impedem a formação de leitores que as levaria a apresentar caminhos de renovação e qualificação na prática pedagógica relativa à leitura. Toda criança gosta de histórias, fabulas, poemas, cantigas.

A leitura sempre teve e tem um papel social de grande interferência na sociedade, mas enquanto houver educadores com caráter dominador o processo educacional será sempre excludente. É muito importante que o leitor se envolva, se emocione e adquira uma visão de vários materiais portadores de mensagens presentes na comunidade em que vive, buscando sempre a democracia. Um trabalho de leitura e de formação de leitores precisa abordar tipos diversificados de textos, pois o mundo está em mudança constante e é preciso avançar de acordo com a tecnologia. No âmbito escolar percebemos que os alunos cada vez mais se afastam e se desinteressam pela leitura e é aí que se questiona a prática pedagógica, o ensino e o incentivo da leitura em sala de aula e as propostas de ação que podem levar as crianças a se tornarem bons leitores. É preciso ir muito além da alfabetização e formar sujeitos leitores que sejam capazes de olhar reflexivamente a realidade à sua volta, e de fazer a opção de mudá-la de alguma forma.

No presente trabalho propôs-se apresentar os conceitos sobre leitura, a interação entre autor e leitor, o conhecimento prévio do mesmo em busca de um significado ao texto e quais são os tipos, as estratégias e os níveis de leitura. Sequencialmente apresenta-se uma reflexão em torno do ato de ler, a importância fundamental da interação leitor x texto, na qual fica claro que a leitura significativa é muito mais que decodificação do signo lingüístico, precisa-se que o autor e o leitor estejam entrosados, assim o autor constrói o texto, dá significância, mas não domina o processo de leitura de seu leitor, pois o leitor dá também ao texto sua significância.

 

DESENVOLVIMENTO

 

O TEXTO LITERÁRIO E A LEITURA

 

De acordo com SOUZA (2000), o homem construiu novas formas de existência, pois dispõe de um extraordinário instrumento de memória, de criação e propagação de suas produções, que é a linguagem. Antes da invenção da escrita, a palavra tinha como função básica a gestão da memória social, e não somente a livre expressão ou a comunicação entre as pessoas. Nas sociedades sem escrita, linguagem e memória são a base de todo conhecimento possível. Ritos e mitos são preservados pela roda das gerações, configurando um tempo cíclico, sempre reiterado pela memória e através das narrativas. O conhecimento tinha como seu fundamento de base a sabedoria transmitida na interação social entre pessoas, portanto, sua origem era sempre um saber coletivo mais amplo, um saber transmitido de geração em geração.

CALVINO (1990) defende que cabe à literatura a tarefa de devolver ao homem a possibilidade de justo emprego da linguagem. Isto nos permite dizer que somente no interior das possibilidades de criação que a escrita permite será viável superar as várias cisões que favorecem o distanciamento entre o homem e a linguagem, entre a linguagem e o pensamento, e entre a linguagem e a memória. Somos seres de palavras, que tentamos dar sentido a nós mesmos, construindo-nos a partir das palavras e dos vínculos narrativos que recebemos. A idéia da literatura como resgate da relação do homem com a linguagem na sua forma emancipadora é o caminho para uma pedagogia da imaginação.

Embora todos os tipos de texto tenham importância, o professor não deve deixar de trabalhar, a fim de que os alunos se familiarizem com os diferentes tipos de discurso. NEVES (1999, p. 218), O texto literário deve ocupar lugar prioritário em função do caráter específico de sua estrutura de linguagem, por três razões: pelo fato de a literatura ser ficção, o leitor pode acumular experiências só vividas imaginariamente, o que o torna mais criativo e crítico; a leitura possibilita ao leitor internalizar tanto estruturas simples quanto complexas da Língua, desenvolvendo o desempenho lingüístico; e o raciocínio lógico na criança

Dessa forma, o aluno descobre a capacidade libertadora e criativa de esculpir em cada texto a sua própria leitura. Em outras palavras, a leitura de textos literários infanto-juvenis proporciona experimentar ações, reações, emoções através da ficção. Essa experiência poderá servir de exemplo para que o leitor aja com equilíbrio e de forma racional em um acontecimento real, pois já vivenciou uma situação parecida no mundo imaginário.

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leitura do texto literário, tanto em seu aspecto quantitativo como qualitativo, tem-se constituído em grande preocupação não só de professores de Língua Portuguesa e Literatura, como também de educadores em geral, haja vista as discussões apresentadas na obra Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. (NEVES, 1999, p. 49).

Ao tentar entender o que afasta o aluno de textos, percebe-se que a problemática é advinda de diversos fatores, dentre eles os meios de comunicação.

O problema pode estar também na preparação da grande maioria de professores que hoje trabalham com leitura: foram formados numa tradição acrítica que vê o aluno como um ser passivo, o que o leva a considerar a leitura como mais uma obrigação a cumprir, sem o menor vínculo afetivo. A maioria das atividades propostas são periféricas, o que torna a leitura reprodutiva e repetitiva, dissociada de qualquer prazer. O que se avalia é se o aluno leu e não como leu, não dando importância às inferências que ele, possivelmente, pode fazer em sua leitura de mundo.

Para CALVINO (1990, p. 16), a leitura não exige necessariamente a solidão, já que considera o livro como companheiro, na medida em que pode promover a sociabilidade. Justifica sua posição, atribuindo à leitura não somente a criação de um mundo onírico e de fantasia, como também de comunicação. A comunicação literária “[...] está ligada à mais palpável e indefinida das realidades. Há quem sustente que a literatura vem a ser a mais confessional das artes.” (CALVINO (1990, p. 16). O autor destaca, ainda, que, na sociedade contemporânea, se registram duas modalidades de literatura: uma culta, formada por “livros de fundo”; e outra popular, para a qual se endereçam os “livros de choque”. Os livros de fundo são consumidos por um público elitizado, que tem consciência de suas preferências, competência para emitir juízos de valor e autonomia para a leitura. A literatura popular é direcionada pela doutrinação consumista e tem uma orientação que depende de diversas variáveis, normalmente de caráter extraliterário, tais como a moda, o recebimento de algum prêmio ou o sucesso em alguma outra atividade relacionada à cultura de massa.

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ortanto, a leitura e a escrita, como habilidades fundamentais para a aprendizagem e a aquisição de conhecimentos, encontram na biblioteca todas as condições para o seu amplo e bem-sucedido desenvolvimento.

SOARES (2001) discute o problema da escolarização da leitura literária, apresentando duas possibilidades de abordagem: a primeira consiste na apropriação da literatura infantil pela escola, na medida em que a utiliza para atingir seus objetivos, escolarizando-a; a segunda relaciona-se à literatura infantil como produção destinada à escola, numa tentativa de dar à escolarização um cunho literário.

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m função de promover e disseminar o hábito da leitura na escola é necessário uma diversidade maior de textos literários à disposição dos alunos, para que eles ampliem seus horizontes de leitura e de mundo.

Para CALVINO (1990) o ensino da literatura não pode partir de um ponto de vista estritamente pedagógico, seguindo os requisitos das normas vigentes. "A literatura pode formar, mas não segundo a pedagogia oficial, que costuma vê-la ideologicamente como um veículo da tríade: o verdadeiro, o bom, o belo, definidos conforme os interesses dos grupos dominantes." (p.14)

Com a democratização do processo de ensino, que antes atendia somente às camadas socialmente mais favorecidas, a escola passou a ser destinada também às camadas populares, o que fez com que se concretizasse um crescimento quantitativo e diversificado do alunado.

No contexto atual, em que as informações circulam rapidamente, associadas quase sempre à imagem ou à oralidade, tratar de leitura literária torna-se, quando menos, um paradoxo.

A literatura infantil ocupa hoje lugar de destaque entre os autores famosos do nosso universo literário. Hoje contamos com autores premiados internacionalmente e best-sellers que ocupam uma boa parte do mercado editorial. Procurando atender as demandas de temas transversais propostos pelos parâmetros curriculares, muita coisa inútil, com pouca ou nenhuma qualidade literária, ou apenas informativa, foi oferecida pelas editoras às escolas.

Acredita-se que é papel da escola auxiliar na formação de leitores por meio do diálogo com os diversos gêneros literários. Assim sendo, o papel da literatura nas séries iniciais do Ensino Fundamental, não se esgota na tarefa de proporcionar o prazer de ler. Na alfabetização, a relação entre aluno e texto é ainda mais importante, pois o texto literário torna-se mais uma revelação do que um elemento a ser decodificado, uma vez que conduz à compreensão e ao estabelecimento de ricas relações interpessoais, uma função que leva ao aluno a perceber a linguagem como algo concreto, importante e significativo.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A leitura na escola deve criar nos aluno a criar hábito de leitura para desenvolver a compreensão de textos e dimensionar seu lugar na sociedade, permitindo o desenvolvimento do pensamento crítico, para que o aluno seja capaz de decidir e exercer seus direitos e melhoria na qualidade de vida. Isso significa que a leitura não resolve os problemas sociais ou individuais, mas constitui um recurso para interagir com o real.

As leituras devem fornecer aos alunos oportunidades para o processo de interligação da linguagem e habilidades, dando ênfase não só ao significado pelo autor e pelo leitor, mas também as estratégias para construção do significado de um texto.

O papel do professor deverá ser de assumir o compromisso com o livro, tendo o hábito de contar histórias, despertando a curiosidade pelos misteriosos signos da escrita, desafiando os alunos, encorajando-os, solicitando-os, provocando-os, para que essas criem suas hipóteses, abrindo as portas para o universo da leitura.

Cabe ao professor a competente tarefa de utilizar a Literatura Infantil no seu dia-a-dia profissional, fazendo com que os alunos possam ter interesse e acesso aos livros e também fazendo com que as crianças venham a ter futuramente uma visão mais crítica frente a tudo que os rodeiam. 

A leitura nos dias de hoje, dado sua importância, deve tomar um rumo diferente, não se restringindo ao domínio de aspectos mecânicos, de fluência e da boa dicção, que mesmo sendo necessários, não são suficientes. Precisa-se que a leitura do mundo preceda à leitura da palavra e que sua temática explicite a compreensão crítica.

A leitura acontece quando se organiza os conhecimentos, partindo de situações impostas pela realidade, quando se estabelece relações entre experiências e procura-se resolver os problemas apresentados. O leitor então tem impressão de que o mundo está a seu alcance, que pode compreendê-lo, conviver com ele e até modificá-lo, pois além da inteligência tem consciência crítica.

 

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 

BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

 

 

CALVINO, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio: lições americanas. São Paulo: Companhia da Letras, 1990.

 

__________. Por que ler os clássicos? Tradução Nilson Moulin. São Paulo: Companhia da Letras, 1993.

 

NEVES, I. C. B. Ler e escrever na biblioteca. In: NEVES, I. C. B. et al. (Org.). Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. 2. ed. Porto Alegre: UFRGS, 1999.

 

SOARES, M. A escolarização da literatura infantil e juvenil. In: EVANGELISTA, A. A. M., BRANDÃO, H. M. B.; MACHADO, M. Z. V. A escolarização da leitura literária. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.