Saúde mental - depressão e ansiedade
Luzinete da Silva Mussi
RESUMO
A depressão e a ansiedade estão entre os transtornos mentais mais prevalentes na atualidade, afetando milhões de pessoas no mundo inteiro. Ambos os quadros comprometem significativamente a qualidade de vida, o desempenho social e profissional dos indivíduos, podendo evoluir para formas graves se não forem adequadamente tratados. Este artigo tem como objetivo apresentar uma abordagem teórica e prática sobre esses transtornos, discutindo sintomas, fatores causais, impactos e estratégias terapêuticas eficazes. Com base em autores renomados e dados de instituições como a Organização Mundial da Saúde, o estudo busca contribuir para a compreensão dos aspectos clínicos e sociais da saúde mental, além de destacar a importância do diagnóstico precoce, do suporte psicossocial e do tratamento interdisciplinar.
Palavras-chave: Saúde mental. Depressão. Ansiedade. Transtornos psicológicos. Intervenção terapêutica.
Introdução
A saúde mental tem ganhado destaque nas últimas décadas, sobretudo diante do aumento expressivo de casos de transtornos psicológicos como depressão e ansiedade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (2023), mais de 280 milhões de pessoas vivem com depressão em todo o mundo, e cerca de 301 milhões sofrem de transtornos de ansiedade. Essas condições, muitas vezes silenciosas, provocam sofrimento psíquico profundo, prejudicam relações interpessoais e comprometem a autonomia dos indivíduos.
A depressão é caracterizada por sentimentos persistentes de tristeza, desânimo, perda de interesse e alterações no sono e apetite. Já a ansiedade envolve preocupações excessivas, inquietação, tensão muscular e sintomas físicos como taquicardia e sudorese. Embora distintos, esses transtornos frequentemente coexistem, tornando o diagnóstico e o tratamento ainda mais desafiadores (DSM-5, APA, 2014).
O presente artigo propõe uma análise integrada dos dois quadros, abordando suas manifestações clínicas, causas multifatoriais e possibilidades terapêuticas. Ao compreender melhor essas condições, espera-se contribuir para o enfrentamento do preconceito, a promoção do cuidado em saúde mental e o fortalecimento de políticas públicas que valorizem o bem-estar emocional da população.
Desenvolvimento
A compreensão da depressão e da ansiedade exige uma abordagem multidisciplinar, considerando fatores biológicos, psicológicos e sociais. Embora distintos em suas manifestações, esses transtornos muitas vezes compartilham comorbidades, surgem de forma associada e impactam profundamente a saúde mental do indivíduo.
Conceituação dos transtornos
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2023), a depressão é um transtorno mental comum, caracterizado por tristeza persistente, perda de interesse, sentimento de culpa ou baixa autoestima, alterações no sono ou apetite, e cansaço. A ansiedade, por sua vez, é definida como uma preocupação excessiva, acompanhada de sintomas físicos e emocionais que afetam a funcionalidade do sujeito.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5 (APA, 2014), os transtornos depressivos e de ansiedade são classificados de forma distinta, mas apresentam sintomas sobrepostos, como distúrbios do sono, irritabilidade, fadiga e dificuldade de concentração.
Para Aaron Beck (1997), criador da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), a depressão está associada a padrões de pensamentos negativos sobre si mesmo, o mundo e o futuro — o que ele chamou de tríade cognitiva depressiva. A TCC busca, portanto, reestruturar esses padrões mentais disfuncionais, promovendo melhora dos sintomas.
Causas e fatores de risco
A origem desses transtornos pode estar relacionada a uma combinação de fatores genéticos, neuroquímicos e psicossociais. Eventos traumáticos, perdas afetivas, estresse crônico e histórico familiar são frequentemente citados como gatilhos. Freud (1917), em seu clássico texto "Luto e Melancolia", já indicava que a perda de um objeto amado pode desencadear estados depressivos profundos.
Além disso, aspectos como pressões sociais, competitividade, isolamento, sobrecarga no trabalho e instabilidade econômica têm contribuído para o crescimento desses quadros na contemporaneidade.
Segundo Viktor Frankl (2005), psiquiatra austríaco e fundador da Logoterapia, “o sofrimento em si não é o que nos destrói, mas a falta de sentido diante dele”. Essa afirmação reforça a importância de abordagens terapêuticas que ajudem o indivíduo a ressignificar suas vivências.
Sintomas e diagnóstico
Os sintomas de depressão incluem humor deprimido, apatia, dificuldade de concentração, insônia ou hipersonia, sentimento de inutilidade e pensamentos suicidas. Já os sintomas de ansiedade envolvem preocupação excessiva, sensação de medo constante, sudorese, tremores, tensão muscular e batimentos cardíacos acelerados.
O diagnóstico deve ser realizado por profissionais capacitados, como psicólogos ou psiquiatras, com base em entrevistas clínicas, testes e observação comportamental. É fundamental considerar o contexto de vida do sujeito, evitando diagnósticos precipitados ou generalizados.
Impactos e consequências
Quando não tratados, os transtornos podem comprometer seriamente a vida pessoal, acadêmica, profissional e social do indivíduo. A depressão pode levar à perda de produtividade, abandono escolar, afastamento do trabalho e até ao suicídio. Já a ansiedade crônica pode causar transtornos físicos, como gastrite, hipertensão, e intensificar o uso de substâncias psicoativas.
A OMS (2023) alerta que os transtornos mentais são a maior causa de incapacidade no mundo, sendo a depressão responsável por mais de 15% do total de anos perdidos por incapacidade globalmente.
Intervenção e tratamento
O tratamento pode envolver psicoterapia, uso de medicamentos antidepressivos ou ansiolíticos, acompanhamento psiquiátrico e mudanças no estilo de vida. A Terapia Cognitivo-Comportamental tem sido amplamente indicada para ambos os transtornos, com base em evidências científicas de eficácia.
Além disso, práticas como exercícios físicos regulares, meditação, sono de qualidade, alimentação balanceada e suporte familiar são essenciais para a recuperação e prevenção de recaídas.
A atuação interdisciplinar — unindo psicólogos, médicos, assistentes sociais e educadores — é fundamental para promover um cuidado integral à saúde mental.
Conclusão
A depressão e a ansiedade representam desafios complexos e urgentes na área da saúde mental. O crescimento acelerado desses transtornos exige não apenas o reconhecimento de seus sintomas, mas também uma resposta ética, humana e eficaz por parte dos profissionais de saúde, educadores, instituições e da sociedade como um todo.
Ao compreender que esses transtornos envolvem uma série de fatores interligados — emocionais, biológicos e sociais — é possível construir estratégias de intervenção mais assertivas, baseadas em evidências e no acolhimento do sujeito em sofrimento. Investir em prevenção, diagnóstico precoce e acesso ao tratamento é essencial para minimizar os impactos negativos na vida dos indivíduos e no coletivo.
Por fim, é fundamental combater o estigma associado aos transtornos mentais, promovendo campanhas de conscientização, espaços de escuta e políticas públicas que garantam cuidado contínuo. Saúde mental é um direito humano, e seu cuidado deve ser tratado com a mesma seriedade que a saúde física.
Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
BECK, Aaron T. Terapia Cognitiva e os Transtornos Emocionais. São Paulo: Artmed, 1997.
FREUD, Sigmund. Luto e Melancolia. In: Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1917.
FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. 33. ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Depressão. Atualizado em 2023. Disponível em: https://www.who.int/
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Transtornos de ansiedade. 2023. Disponível em: https://www.who.int/