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A importância das tecnologias assistivas para atendimento de alunos surdos no âmbito educacional

Fabiana Cristina Nobre de Oliveira

Ismael Pinheiro Lopes

Karen Joana Gomes Silva Rodrigues

 

DOI: 10.5281/zenodo.14231269

 

 

RESUMO

O presente trabalho foi desenvolvido a partir de pesquisa bibliográfica acerca do tema: o uso das Tecnologias Assistivas na Educação de Surdos. Este texto tem como escopo analisar a importância do uso destas Tecnologias Assistivas para atendimento de alunos surdos no âmbito educacional. O real impacto social do uso das Tecnologias Assistivas pode ser verificado através da adesão, promoção e do uso dessas ferramentas pelas entidades educacionais, uma vez que os alunos vêm tendo um desenvolvimento eficaz no que concerne a intermediação por meios das Tecnologias Assistivas. Diversos autores, alertam para o fato de que o aluno surdo, frequentemente, não compartilha uma língua com seus colegas e professores, estando em desigualdade linguística em sala de aula, sem garantia de acesso aos conhecimentos trabalhados, aspectos estes, em geral, não problematizados ou contemplados pelas práticas inclusivas. O conhecimento e o uso das TA’s, no âmbito educacional, certamente facilitarão o trabalho de professores em sua interação com o aluno, dos seus colegas de classe, e de sua evolução na escola, visto que, incluído e munido de ferramentas que o capacitam a acompanhar e interagir em sala, ele terá acesso ao conteúdo.

 

Palavras-chaves: Tecnologia Assistiva. Surdo. Educação.

 

 

 

Introdução

 

Historicamente, até meados do século XV os surdos eram considerados seres ineducáveis. Do ponto de vista aristotélico, na perspectiva da condição humana, as pessoas que não têm audição não falam, e se não falam (oralmente), não possuem língua, portanto, não pensam, logo não são humanas (MOURA, 1996). O surdo era excluído da sociedade, alguns até mesmo sacrificados. Aqueles que sobreviviam tinham dificuldades extremas de convivência devido à forte exclusão social.

Além da notória mudança do pensamento em relação as pessoas surdas, houve também grandes avanços tecnológicos no século XXI, principalmente no que se refere aos meios de comunicação, por exemplo, a internet e os dispositivos móveis. Estas evoluções trouxeram mudanças importantes para a sociedade. Dentre elas, destacamos as Tecnologias Assistivas – TA’s, recurso desenvolvido voltado para pessoas com deficiência.

Com a evolução tecnológica, todos os setores da sociedade foram amplamente beneficiados. Dentre eles podemos destacar a Educação em geral que, por meio de políticas públicas, tem implementado a massiva utilização das TA’s nos espaços de ensino aprendizagem, compreendendo-a como “bem além de meros dispositivos, equipamentos ou ferramentas, englobando no conceito também os processos, estratégias e metodologias a eles relacionados” (GARCIA; GALVÃO FILHO, 2012, p. 14).

O real impacto social do uso das TA’s pode ser verificado através da adesão, promoção e do uso dessas ferramentas pelas entidades educacionais, uma vez que os alunos, demonstram notório desenvolvimento intermediado por elas. Nessa perspectiva, Bersch (2017, p. 2) afirma que “o objetivo maior da TA é proporcionar à pessoa com deficiência maior independência, qualidade de vida e inclusão social, através da ampliação de sua comunicação, mobilidade, controle de seu ambiente, habilidades de seu aprendizado e trabalho”. Vale ressaltar que, até meados da década 80, o professor contava somente com quadro, giz, mimeógrafo e o livro didático para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem.

O modelo educacional inclusivo brasileiro vem implementando, neste espaço de troca de saberes, ferramentas que corroboram na disseminação de conteúdos técnicos, práticos e científicos, a fim de promover educação de qualidade e com amplo acesso as informações. Nesse contexto, o presente trabalho tem como desígnio analisar a importância do seu uso no atendimento de alunos surdos no âmbito educacional, uma vez que este recurso garante melhorias no processo de aprendizagem otimizando as potencialidades de cada aluno e proporcionando aulas mais visuais, por meio de momentos lúdicos, estimulantes, diferenciados, respeitando as características individuais de cada aprendiz.

É importante salientar que as Tecnologias Assistivas, quando amplamente explorada pelo professor, servem de apoio primordial no processo de ensino aprendizagem dos alunos surdos ou com deficiência auditiva, redefinindo o processo de inclusão através de ferramentas e recursos tecnológicos. Sendo assim, o conhecimento aliado ao uso dessas tecnologias promove maior interação no ambiente educacional.

Para Vygotsky (2010), a mediação é uma característica da cognição humana, que se refere à internalização de atividades e comportamentos, incluindo o uso de ferramentas e de signos. A combinação do uso desses instrumentos possibilita o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores, ou seja, do social (inter) para o individual (intra) por meio da internalização desses. (WERSTCH, 1988)

O aporte teórico desta pesquisa bibliográfica analisa as contribuições das Tecnologias Assistivas, mais especificamente para o atendimento de alunos surdos ou com deficiência auditiva no âmbito educacional. A base epistemológica deste estudo enquadra-se aos pressupostos teóricos de Bersch (2017); (Garcia, Galvão Filho 2012); Botelho (1998); e Lacerda (2006). Este artigo tem como escopo analisar a importância do uso destas Tecnologias Assistivas no processo de ensino-aprendizagem dos alunos surdos ou com alguma deficiência auditiva.

 

 

Contexto sócio-histórico do desenvolvimento da educação para pessoas com deficiência

 

Vários acontecimentos e fatos marcam a história da educação inclusiva. As ações empreendias em prol de uma educação igualitária impactam diretamente na prática cotidiana das escolas, bem como marcam as conquistas das pessoas com deficiência. Pode-se verificar a existência de diferentes métodos e conceitos sobre educação especial, e Estes modelos não se limitam à educação, mas também orientam todos os comportamentos sociais relacionados às pessoas com deficiência.

De acordo com pesquisas realizadas na área de educação especial em países europeus e norte-americanos, em diferentes períodos históricos, foram identificadas quatro etapas do desenvolvimento e cuidado às pessoas com deficiência.

O surgimento dos métodos científicos começou a surgir, assim como as pesquisas sobre os tipos de deficiência, começam a emergir dos modelos clínicos, e as características patológicas foram adotadas e o tratamento medicamentoso são realizados.

De acordo com Mendes (1995) a defesa das possibilidades ilimitadas do indivíduo e a crença de que a educação poderia fazer uma diferença significativa no desenvolvimento e na vida das pessoas, aparecem no movimento filosófico posterior à Revolução Francesa. Desse momento em diante o conceito de educabilidade do potencial do ser humano passou a ser aplicado também à educação das pessoas que apresentavam deficiência mental.

No Brasil, em 1970, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) cria o grupo-tarefa responsável por tratar da Educação Especial, bem como a Lei que versa sobre a reforma da educação em nosso país, a Lei 5692/71, que prevê os fundamentos tecnicistas para o tratamento dos alunos da Educação Especial (MIRANDA, 2010, p. 2).

Em 1973, foi criado o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), órgão máximo para coordenar as ações direcionadas à educação de alunos com deficiência em território nacional. Em 1980, acontece o I Seminário Nacional de Reabilitação Profissional, que pela primeira vez, formalmente, as bases filosóficas e teóricas da relação entre a sociedade brasileira e a população de pessoas com deficiência são discutidas (MIRANDA,2010, p.2).

Em 1994, foi convocada uma convenção em Salamanca, Espanha, que resultou em um documento denominado Declaração de Salamanca, cujo conteúdo reflete a participação dos países participantes no acolhimento de alunos com necessidades especiais e na construção da promessa de uma escola integrada.

O Brasil aprovou a proposta da Declaração de Salamanca, tendo como meta a construção de escola integrada. Com isso, a nova LDB 9394/96 reformulou o sistema de ensino com vistas à implantação de uma escola aberta e inclusiva e à aceitação de todos os alunos com necessidades especiais. Em 2006 foi publicada pelas Organizações das Nações Unidas (ONU) a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, sendo ratificada no Brasil como emenda constitucional pelos Decretos 186/08 e 6.949/09. Está em seu artigo 1, diz:

 

O propósito da presente Convenção é promover, proteger, e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente. (BRASIL, MEC, 2010)

 

Em 2008 o MEC apresentou a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva que tem como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas (BRASIL, MEC/SEESP, 2008). Já em 2009 o MEC apresenta a Resolução da Câmara de Educação Básica e do Conselho Nacional de Educação (CEB/CNE) nº4/2009 que institui as Diretrizes Operacionais para o AEE na Educação Básica. No que se refere a formação e as atribuições do professor:

 

Ensinar e usar recursos de Tecnologia Assistiva, tais como: as tecnologias da informação e comunicação, a comunicação alternativa e aumentativa, a informática acessível, o soroban, os recursos ópticos e não ópticos, os softwares específicos, os códigos e linguagens, as atividades de orientação e mobilidade entre outros; deforma a ampliar habilidades funcionais dos alunos, promovendo autonomia, atividade e participação. (BRASIL, MEC/CNE, 2009).

 

Dessa forma, fica evidente que o professor é o intermediador da política de inclusão nas escolas. O uso das TA’s proporciona às pessoas com deficiência maior independência, melhorando sua qualidade de vida visando a inclusão social, por meios que abrangem a ampliação de sua comunicação.

 

 

A educação de surdos no Brasil mediado pelas TA’s

 

Denominada no final da década de 80 como “Tecnologia Assistiva (TA)”, este recurso possibilita uma maior acessibilidade aos diversos tipos de conhecimentos, principalmente na educação de pessoas com deficiência. Essa modalidade tecnológica proporciona aos alunos maior acesso aos conteúdos, por meio de momentos lúdicos, estimulantes, diferenciados, respeitando as características individuais de cada aprendiz.

A Tecnologia Assistiva - TA é um termo, utilizado para identificar todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e consequentemente promover vida independente e inclusão. (BERSCH; TONOLLI, 2006).

É notório que o uso das Tecnologias Assistivas é eficaz para garantir a comunicação e aprendizagem do aluno surdo. Para os surdos essas tecnologias contemplam um mundo de possiblidades e potencialidades acessíveis visualmente, alçando novos horizontes. Dessa forma, introduzem suas necessidades educacionais ao campo visual.

Assim, percebe-se que há necessidade de conhecer a sua importância e seus benefícios com a finalidade de contribuir com a aprendizagem do aluno surdo não apenas em um espaço institucionalizado, mas também socialmente, gerando “uma realidade de cidadania, de equiparação de oportunidades e de sociedade inclusiva” (GARCIA; GALVÃO FILHO, 2012, p. 22).

No contexto educacional visando o processo de ensino-aprendizagem para todos, na qual ouvintes e surdos frequentam o mesmo espaço, cujo objetivo é a busca pela adaptação da escola, torna-se cada vez mais necessária a ações de caráter que viabilizem o uso das TA’s. Nesse sentido, essas ferramentas passam a ser primordiais, contribuindo na promoção da acessibilidade e acesso ao conhecimento.

Para facilitar o processo de ensino-aprendizagem do sujeito surdo, o professor/mediador deve compreender o emprego da pedagogia visual, cujo objetivo visa superar as barreiras, na qual são também utilizados recursos como: jogos interativos, softwares educacionais, dicionários digitais, entre outros aspectos que correlacionam à comunicação visual, garantem uma maior eficiência no processo ensino/aprendizagem e ameniza as dificuldades melhorando o desempenho dos alunos surdos.

Botelho (1998) e Lacerda (2000) alertam para o fato de que o aluno surdo, frequentemente, não compartilha uma língua com seus colegas e professores, estando em desigualdade linguística em sala de aula, sem garantia de acesso aos conhecimentos trabalhados, aspectos estes, em geral, pouco problematizados ou contemplados pelas práticas inclusivas.

O processo de ensino-aprendizagem aliado ao uso dessas tecnologias promove maior interação entre professores e alunos, bem como entre colegas de classe, estimulando o processo de inclusão social e educacional melhorando sua evolução na escola, visto que, incluído e munido de ferramentas que o capacitam a acompanhar e interagir em sala, ele terá acesso ao conteúdo didático trabalhado.

É necessário promover ajustes que venham a garantir o ensino do aluno surdo de maneira eficaz desde os anos iniciais ao ensino médio, para que o estudante surdo possa ter direito a conclusão de seus estudos podendo imediatamente adquirir condições de acesso ao espaço comum da vida em sociedade.

Para que o acesso à educação seja garantido a população surda, dado o contexto sócio-histórico de silenciamento, obteve-se recentemente a conquista de ocupar um espaço assegurado pela legislação vigente, pois, conforme Santos (2011 p. 56):

 

...temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades.

 

A proposta vigente na educação de surdos é a bilíngue assegurando que ele deve adquirir a língua de sinais está considerada língua materna para o surdo, e a língua oral como segunda língua, garantindo que o surdo saiba comunicar-se pelas duas línguas. Através de posicionamentos adotados em várias partes do mundo em virtude dos movimentos organizados pela comunidade surda fomentou o processo de inclusão de estudantes surdos na rede regular de ensino, assegurando o reconhecimento da Língua de Sinais – Libras, através da Lei 10.436/2002 que em seu artigo 2º profere que:

 

Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. (BRASIL,2002).

 

As universidades ofertam a disciplina de Libras em todos os cursos de licenciaturas capacitando professores e garantindo a formação de especialistas/intérpretes. Este sempre foi o objetivo da comunidade surda brasileira: o reconhecimento e divulgação da língua de sinais.

Desta forma vale destacar que o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), a partir de 2017, disponibilizou através de tecnologias assistivas vídeoprovas para alunos surdo, fomentando o processo de inclusão. Recurso desenvolvido em parceria com o INEP e professores pesquisadores da UFSC e do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), entre outros. (INEP, 2017).

De acordo com a diretora de Gestão e Planejamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Eunice Santos:

 

As questões da prova do Enem, trabalhadas pelos técnicos do Inep com apoio da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foram traduzidas para a linguagem de libras, arquivadas em dispositivo próprio e transportadas em total segurança para a gráfica responsável pela reprodução dos DVDs que serão distribuídos nos dias do exame. (INEP, 2017).

 

O funcionamento aconteceu de forma que cada participante recebeu um notebook para fazer as provas. As orientações, os enunciados das questões e as alternativas de respostas estavam apresentadas em Libras, por meio de vídeos gravados em DVDs. O menu do vídeo é simples, fácil e autoexplicativo. Junto com o notebook e os DVDs, os participantes também receberam um caderno de questões, a folha de redação e cartão-resposta. O participante deveria escolher qual área do conhecimento faria primeiro e assim assistir aos vídeos na ordem que desejada. (INEP, 2017).

A sala onde aconteceu a aplicação pode ter até 20 participantes usando o recurso, e nela atuam dois intérpretes, três fiscais e um técnico de informática. Os intérpretes fazem a mediação entre ouvintes e usuários de Libras. Esses profissionais não auxiliam os participantes na tradução das questões da prova. (INEP, 2017).

Desde 2017, o Inep adotou uma série de melhorias na acessibilidade de surdos e deficientes auditivos, além da videoprova, que exigiu a montagem de um estúdio de gravações dentro do ambiente físico integrado seguro do Inep, esse público teve, pela primeira vez, conteúdos exclusivos em Libras, como campanha em redes sociais, versão da cartilha do participante – redação no Enem 2017, e materiais no canal do Inep no YouTube. Os vídeos em Libras abordavam instruções gerais para as provas, assim como é feito para os participantes ouvintes, além de instruções sobre a vídeo prova e sobre os horários de aplicação. O tema da redação do Enem 2017 foi Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil. (INEP, 2017).

Ao longo da história  do  Enem,  o  atendimento  às  diferentes  necessidades  dos

participantes tem sido uma preocupação do Inep. A TA é de grande relevância no ambiente educacional, deve ser compreendida como um auxílio que certamente facilitará o trabalho de professores em sua interação com o aluno, colegas de classe, e de sua evolução na escola.

A partir desta discussão e estudo conceitual, o Comitê de Ajudas Técnicas aprovou por unanimidade, em sua reunião VII, de dezembro de 2007, a adoção da seguinte formulação para o conceito de Tecnologia Assistiva:

 

Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social. (CAT, 2012, p.24).

 

Ao destacar a categoria das Tecnologias Assistivas, demonstra-se a importância do acesso a vida cotidiana no meio social que favorecem desempenho autônomo e independente em tarefas rotineiras ou facilitam o cuidado de pessoas em situação de dependência de auxílio, nas atividades como se alimentar, cozinhar, vestir-se, tomar banho e executar necessidades pessoais.

Visto que as possibilidades de usufruir das novas tecnologias não se aplicam tão somente a educação, mas também ao universo de convivência com o ambiente onde o surdo convive, os equipamentos favorecem a adaptação social, e no ponto de vista dos surdos o uso do computador e da Internet constrói uma ponte com novas possibilidades de comunicação. (OLIVEIRA, 2010).

As tecnologias trouxeram várias formas de fazer o planejamento e adaptação curricular desde a Educação Infantil até os anos finais, proporcionando a possiblidade de comunicação, desenvolvimento de habilidades entre os estudantes surdos e ouvintes. Segundo Corradi (2007):

 

O uso do computador e a conexão com a Internet estiveram presentes em diversos atendimentos pedagógicos: ora na pesquisa de imagens e informações web, ora na utilização de softwares (PowerPoint e Word na projeção de imagens e textos na tela, no processo de aquisição da Língua Portuguesa escrita, com o apoio da fonte LIBRAS2002). O aplicativo HagáQuê (história em quadrinho eletrônica), software educacional desenvolvido pelo Instituto de Computação da UNICAMP (software livre disponível pelo site), propiciou momentos de produção de textos e narrativas em LIBRAS por crianças em fase de alfabetização e adolescentes inseridos no ensino regular, como elemento motivador para o processo de aquisição criativa da linguagem, de leitura-escrita e da função social da escrita (p. 18).

 

Nota-se que mesmo o estudante sendo inserido na sala regular, não significa que ele irá ter uma participação ativa equiparada aos demais alunos, pois, nem sempre, a adaptação do componente curricular torna acessível para que esses alunos se adequem aos níveis propostos no currículo da escola regular. Como formação complementar, o aluno deve participar no contraturno e ser atendidos na sala multifuncional e ou Atendimento Educacional Especializado (AEE) com as Tecnologias Assistivas para melhor desenvolvimento da sua aprendizagem.

Amorim, Souza e Gomes (2016) descrevem como a tecnologia de interação adequada possibilita a inclusão e aprendizagem desses sujeitos no ambiente educacional, orientando as diretrizes para a construção de um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) para pessoa com surdez, sendo:

 

… as ferramentas de apoio linguístico para português e/ou português libras e vice-versa que auxiliem surdos na relação ensino-aprendizagem; a criação de ícones específicos para surdos com o auxílio de um surdo designer; a criação de um protótipo para auxiliar quanto às tarefas e resolução de problemas, onde os resultados da avaliação deste protótipo possui indícios suficientes para afirmar que o uso de estilos de interação web [...], minimizará as dificuldades de acesso às informações pelos surdos. (AMORIM; SOUZA; GOMES, 2016, p. 120).

 

Seguindo ainda a esteira de Amorim, Souza e Gomes (2016), pode-se asseverar que a inserção de computadores nas escolas proporcionou aos alunos (surdos e ouvintes) uma ferramenta de auxílio na educação, sendo utilizados softwares específicos para aprendizagem, Internet e conhecimento de informática.

As novas tecnologias são fundamentais para esse caminho de descobertas, inclusão e também da superação dos obstáculos, permitindo a socialização e integração do aluno no meio social. Vale pontuar que Tecnologia Assistivas é tudo o que utilizamos ou confeccionamos bem como a acessibilidade à escola e tudo que tem dentro da mesma, para que o aluno e a comunidade escolar possam se situar dentro da sua capacidade no ambiente escolar.

 

 

Resultados e análises

 

A partir das análises bibliográficas apresentadas, o uso de tecnologia assistiva no ambiente escolar contribui significativamente para o processo de ensino aprendizagem de pessoas surdas, dando-lhes autonomia e garantindo sua inclusão social.

Profissionais relacionados aos alunos/sujeitos surdos precisam buscar conhecimentos e informações a fim buscar a aplicabilidade dessa área do conhecimento, bem como adotar postura mais crítico-reflexiva para compreender como ocorrem as múltiplas experiências visuais dos surdos. Logo, oportunizar-se-á a construção da identidade surda por meio de uma escola inclusiva, na qual os professores contribuam para a afirmação dos aspectos socioculturais, dominem os recursos de tecnologias assistivas, participem, e estejam cientes de suas responsabilidades de acordo com seu compromisso de buscar o aprimoramento do ensino para crianças surdas.

A construção da educação inclusiva nas escolas regulares começa pelo reconhecimento de suas enormes diferenças e convivências e pelo enfrentamento de novos desafios em um mundo globalizado.

Exemplos de algumas ferramentas tecnológicas que auxiliam os surdos em seu cotidiano:

  • Rybená (programa gratuito que pode ser instalado em smartphones)
  • -SMS (permite troca de mensagens de texto via celulares e smartphones)
  • Closed Caption (também conhecida como legenda oculta é um sistema de transmissão de legendas podem ser reproduzidos para uma TV)
  • Videoconferência (permite a visualização através de língua de sinais)
  • ProDeaf (aplicativo para Android e iOS que traduz frases de português para Libras)
  • Livros digitais (permite a utilização de uma linguagem visual)
  • Tablets e Smartphones (meio de acesso aos diversos aplicativos e internet)
  • Hand Talk (aplicativo de celular que converte fala ou texto em língua de sinais) ressaltamos que aplicativos como o ProDeaf e o Hand TalK sanam problemas de acessibilidade e inclusão social para a comunidade surda.

Tanto o ProDeaf, quanto o Hand Talk são softwares que utilizam um Avatar 3D (figura 1) que traduz textos em tempo real para a língua de sinais, conforme apresentado na figura abaixo:

 

Figura 1: Avatar 3D

 

A utilização das Tecnologia Assistiva no âmbito escolar, contribuir significativamente para o processo de ensino aprendizagem do indivíduo surdo, garantindo autonomia, e de fato uma inclusão significativa, Koch (2013) nos traz o seguinte conceito:

 

Nesta perspectiva, as novas tecnologias de comunicação passam a desempenhar um papel vital neste processo. Assim, considera-se um desafio problematizar e investigar as práticas educacionais a fim de enriquecê-las e propor assim sempre que possível novo saber para os professores, que estarão investigando e refletindo sua ação docente, buscando novas estratégias de ensino, para que o educando se aproprie de maneira significativa do conhecimento elaborado através das tecnologias do cotidiano escolar. (KOCH, 2013, p.11)

 

Desse modo, pode-se afirmar que as TA’s funcionam como meio potencializador da aprendizagem, ou seja, uma ferramenta que possibilita a eficácia da aprendizagem do aluno surdo oportunizando um mundo visual para os surdos, proporcionando-lhes inúmeras mudanças no seu convívio social, se caracterizando também como uma ferramenta estimuladora aumentando sua autoestima, auxiliando e garantindo a construção do conhecimento e desenvolvimento cognitivo, intelectual, cultural.

 

 

Considerações finais

 

Durante o desenvolvimento deste trabalho, percebeu-se que, por séculos, as pessoas com deficiências foram vistas como incapazes, devido as suas limitações. Porém a história nos mostra, que, com o passar do tempo, muitas conquistas foram alcançadas. A partir desse cenário a prática educativa, passou a ser alicerçada na busca pelo conhecimento, de modo que não se pode mais conceber uma educação moldada na escola tradicional.

Desse modo, pode-se entender que a TA inclui recursos e serviços que apoiam e favorecem a inclusão de estudantes surdos, promovendo o desenvolvimento da autonomia; da construção do conhecimento e as potencialidades destes sujeitos, viabilizando sua autonomia no desenvolvimento de atividades como entretenimento, interação e processos educativos, melhorando a qualidade de vida dos usuários.

Acreditamos que a utilização das tecnologias assistivas no processo de ensino para surdos, representa o estímulo à criatividade, assegurando o direito de saber desta parte da população. Obviamente, a tecnologia não deve ser vista como um substituto do professor, mas como um meio que promove e complementa as capacidades do professor em sala de aula.

As escolas devem analisar essas questões a fim de promover a aquisição de tecnologias que venham a sanar as dificuldades enfrentadas pelos professores na educação do surdo, pois acreditamos que as TA’s e os recursos didáticos podem promover a comunicação entre os surdos e o mundo. Ou seja, a tecnologia deve ser considerada como peça essencial na educação inclusiva, pois a partir dela será possível proporcionar um ambiente social adequado para que aconteça de maneira satisfatória o processo de ensino-aprendizagem do aluno surdo.

Conclui-se que o uso das TA’s surge como meio favorável e efetivo a comunidade surda, pois, contribui no processo de ensino aprendizagem ressignificando sua inclusão social no âmbito escolar, explorá-las como forma de ajudar os surdos a terem um acesso mais igualitário as informações tornam-se primordiais para a educação dos dias atuais, onde não se deve fazer distinções entre estudantes e o tratamento deve acontecer de forma igualitária para todos.

 

 

Referências

 

AMORIM, M. L. C. de; SOUZA. F. F. de; GOMES. A. S. Educação à distância para surdos: acessibilidade de plataformas virtuais de aprendizagem. 1ª Ed. Curitiba: Appris, 2016.

 

BERSCH, Rita. Introdução à Tecnologia Assistiva. Porto Alegre- RS. 2017. Disponível em:

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CORRADI, Juliane Adne Mesa. Ambientes informacionais digitais e usuários surdos: questões de acessibilidade. 2007. Dissertação (Mestrado em Ciências da Informação). São Paulo: Universidade Estadual Paulista (UNESP), 2007.

 

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DIGITAIS PUC CAMPINAS. Avatar 3d traduz textos em tempo real para a língua de sinais, 2015. Disponível em: <https://digitaispuccampinas.wordpress.com/2015/10/09/avatar- 3d-traduz-textos-em-tempo-real-para-a-lingua-de-sinais/>. Acesso em 26 abril 2021.

 

GARCIA, Jesus Carlos Delgado; GALVÃO FILHO, Teófilo Alves. Pesquisa nacional de tecnologia assistiva. São Paulo: ITS Brasil/MCTI-Secis, v. 68, 2012.

 

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