CONTRIBUIÇÕES DAS BRINCADEIRAS E ESPAÇOS LÚDICOS NA INFÂNCIA
Ednalva Aparecida Ferreira Militao
Sandra Maria da Silva
Maxima Graziella Ortolan
Leidiana Castelans Vieira Evangelista
Este trabalho teve como objetivo destacar a importância das atividades lúdicas nos diferentes contextos sociais. Entre esses contextos em que os jogos e brincadeiras estão presentes, destacamos a Brinquedoteca, como um espaço destinado ao livre brincar, portanto um ambiente agradável, alegre e colorido onde a ludicidade está presente em cada canto.
De acordo com Cunha (1992. p 35) “... brincar é essencial à saúde física, emocional e intelectual do ser humano, brincar é coisa séria, também, porque na brincadeira não há trapaças, há sinceridade, engajamento voluntário e doação”.
Muitos estudos e pesquisas têm demonstrado a diversidade de situações em que as atividades lúdicas estão presentes, contribuindo assim para a valorização dos jogos e brincadeiras não apenas como próprias do universo infantil, mas também destacando-as como importantes recursos na promoção das relações interpessoais nos mais diversos setores da atividade humana.
Palavras chaves: criança; brinquedos; brincadeiras.
A CRIANÇA E SEUS BRINQUEDOS
Um homem somente brinca quando é humano e só se torna plenamente humano quando brinca. Friedrich Schiller
Destacaremos as fases pelas quais as crianças constroem seu universo lúdico. Nesse sentido, e importante ressaltarmos alguns aspectos acerca dos elementos culturais presentes nos jogos e brincadeiras.
De acordo com Kishimoto (1992 p.15) os jogos infantis, por ser considerado como elemento cultural tradicional guarda a produção espiritual de um povo em certo período histórico. Essa cultura não oficial, desenvolvida, sobretudo pela oralidade, não fica cristalizada. Está sempre em transformação, incorporando criações anônimas das gerações que vão se sucedendo.
As brincadeiras da infância são muito importantes para a formação da criança. É no ato de brincar que a criança desenvolve as habilidades de linguagem, o desenvolvimento cognitivo e a formação de conceitos demonstrando assim companheirismo, para com os colegas bem como suas dificuldades de se relacionar com seu próximo. Volpato (2002) cita que a história do jogo,
[...] da brincadeira e do brinquedo tem trajetória interessante a ser revelada nos espaços singulares desse complexo e contraditório mundo das relações humanas. As primeiras representações apontavam o jogo como algo que se contrapunha ao trabalho e as atividades sérias, por isto eram vistos como recreação, descanso do espírito para o duro trabalho físico ou intelectual, ou ainda como dispêndio de energia física, como algo não sério. (VOLPATO, 2002, p. 10).
Segundo Lebovici (1985, p.07) a criança que não brincar não se sujeita a algo novo, desconhecido. Se ao contrário é capaz de brincar, de imaginar, de sonhar, está revelando ter aceitado o desafio do desenvolvimento, da possibilidade de errar, de tentar e de arriscar para progredir e evoluir. É no momento de brincar que muitas crianças expõem o que realmente estão sentindo, e se estão entendendo o mundo em sua volta, porque cada gesto seu pode ser algo que ela viu em seu cotidiano e julga ser certo, onde o brincar simbólico é fundamental.
Segundo Piaget, estes jogos fazem parte da fase pré-operatória (dos dois aos seis anos de idade), onde a criança, além do prazer, começa a utilizar a simbologia. A função simbólica já está estruturada e começa a fazer imagens mentais, já domina a linguagem dos jogos e brincadeiras nesse sentido, o jogo torna-se essencial na vida da criança a possibilidade de vivenciar aspectos da realidade, de acordo com sua percepção.
Piaget defende que o jogo não é determinante nas modificações das estruturas, mas pode transformar a realidade. Para ilustrar trazemos o seguinte exemplo: ao brincar de casinha a criança vai fingir que é a mamãe e a boneca o filhinho e sua coleguinha é sua vizinha que traz seu filhinho para brincar com o dela. Esse tipo de brincadeira começa entre crianças espontaneamente por estar vivenciando isso no seu dia a dia.
Kishimoto (1996) é considerado que a criança aprende de modo intuitivo, em processo interativo adquire noções espontâneas, envolvendo o ser humano com suas cognições, afetividade, corpo e interações sociais. O brinquedo desempenha um papel de grande relevância para desenvolvê-la.
Pois conforme Santos na perspectiva Vygotskyana, brincadeira e coisa séria, pois brincando as crianças representam aquilo que não são, mas gostaria de ser, isto é, um constante faz-de-conta. Desta maneira as maiores aquisições de uma criança são adquiridas no brinquedo. (2000, p.111).
Cada estágio do desenvolvimento descrito por Piaget tem uma seqüência que depende da evolução da criança, do nascimento até o final da vida. Uma fase se interliga com a outra de forma que o final de uma se confunde com o começo de outra. A evolução começa com a fase puramente reflexiva, passando pela assimilação, pelo simbolismo até chegar à acomodação. Piaget defende o jogo simbólico, de construção e de regras, porque nessa situação a realidade é assimilada por relação, como a criança pode ou deseja. Isto é, os significados que ela atribui aos conteúdos de suas ações, quando joga, são alterações dos significados adequados na vida social ou física.
Em outras palavras, os significados das brincadeiras podem ser por percepção, inventados pela criança. Essas construções alcançadas nos contextos dos jogos simbólicos e as regularidades adquiridas nos jogos de exercício serão fontes das futuras operações mentais. Isso favorece a integração da criança a um mundo social cada vez mais complexo.
A não seriedade representa e resguarda as práticas e o contexto sociocultural de cada época da humanidade.
Atualmente os jogos infantis, independentes das concepções apresentadas por diferentes teóricos, representam uma importante fonte de pesquisa dos estudiosos das mais diversas áreas do conhecimento.
Porém, Kishimoto (1994) destaca que a compreensão de jogos e brinquedos do passado exige o auxilio da visão antropológica, que também discute os comportamentos considerados lúdicos e seus significados em cada cultura. (VOLPATO, 2002, p. 15).
Segundo Volpato nesse sentido destacamos a origem e significado de alguns jogos e brinquedos que ainda hoje compõe o repertorio lúdico das crianças. (2002, p. 17).
No jogo de exercício que é aquele em que a criança repete uma determinada situação por puro prazer, por ter apreciado seus efeitos podemos citar jogos e brincadeiras que predominam ate hoje no mundo e na imaginação da criança, o papagaio conhecido também como pipa, o famoso pião ou (pinhão) que é encontrado em feiras artesanais, objeto feito de madeira tendo na ponta um prego ate hoje meninos e meninas passam horas e horas jogando.
A brincadeira acontece quando a criança consegue imaginar varias situações, fazendo com que desenvolva sua inteligência na formação de conceitos, a boneca, sonho de consumo de toda menina, em alguns séculos atrás, era vista com muito receio pelos adultos por ter sido considerada como objeto de bruxaria, a amarelinha, pega-pega, a peteca esta entre muitas outras brinquedos e brincadeiras que permite momentos de prazer e de realizações.
Os brinquedos são úteis para compreender e identificar os sons, conhecer e entender seu corpo e o ambiente, como chocalho sensorial, cocos decorados, tateando. Despertar a curiosidade e o prazer de ver e buscar melhorar a eficiência visual, os fantoches, meia careta, bola baby, bicharada.
Despertar a vontade de movimentar-se e realizar atividades, conhecer e entender seu corpo e o ambiente, o amassadinho, dentro d’água, móbile de brinquedos, doce sabor. Desenvolver habilidades para encaixe e pinça, conhecer formas, sequências e seriação e classificar tem os form color, formatando, forme formas, gira-gira. Desenvolver o tato para reconhecer texturas, formas, temperaturas, grandeza, peso, consistência e materiais de que são feitos os objetos e desenvolver a estruturação e organização espacial são os cubos surpresa, text form, encaixado fofão e rebola bola. (fonte: CAMPOS, 2005).
Segundo kishimoto, o jogo e a criança caminham juntos desde o momento em que se fixa a imagem da criança como um ser que brinca portadora de uma especificidade que se expressa pelo ato lúdico, à infância carrega consigo as brincadeiras que se perpetuam e se renovam a cada geração.
Para Miranda o prazer e a alegria não se dissociam jamais o brincar é incontestavelmente, uma fonte inesgotável desses dois elementos o jogo, o brinquedo e a brincadeira sempre estiveram presentes na vida do homem dos mais remotos tempos até os dias de hoje, nas suas mais variadas manifestações. (2001, p. 20).
È claro que brincar leva a criança a ter uma atividade física ativa onde temos o brincar construtivo como uma forma de praticar habilidades motoras finas, enquanto o brincar físico que envolve a musculatura vasta e o brincar turbulento exercita o corpo e a coordenação motora.
Segundo Friedman a brincadeira evolui na perspectiva de Piaget, nas crianças, até 1 ano e meio, fase em que aparece a linguagem, a atividade lúdica tem como característica essencial o exercício: a criança na sua atividade de brincar pelo simples prazer de fazer rolar uma bola, produzir sons ou bater com um martelo, repetindo essas ações e observando seus efeitos e resultados. Essas brincadeiras se prolongam, muitas vezes, até adultas, mas com o passar dos anos, diminuem sua intensidade e importância. (1992, p.70).
Com o passar do tempo surgem os jogos de regras, que supõem ralações sociais. A regra é uma regularidade imposta pelo grupo Os jogos de regras são transmitidos de geração para geração, ou automáticas, a partir de um acordo instantâneo definido pela relação entre as crianças de diferentes faixas etárias, ou de uma mesma geração, ou ainda nas relações com os mais velhos.
Para Friedman (1992 p. 71) “o jogo de regras caracteriza-se por ser uma combinação sensório-motora (corrida, jogo de bola, etc) ou intelectual (cartas, xadrez), com competição individual e regulamentada por um código”. Esse período da vida da criança e marcada pelo egocentrismo onde o egoísmo é consequência do egocentrismo e o egocêntrico se torna distante de tudo que está em sua volta e, só se preocupa com o que lhe interessa.
REFERÊNCIAS
FRIEDMANN, A. Brincar: crescer e aprender: o resgate do jogo infantil. São Paulo: Moderna, 1996.
FRIEDMANN, A. Jogos Tradicionais. Disponível em: . Acesso em: 25 set 2016.
KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 1997.
KISHIMOTO, T. M. [org.]. O brincar e suas teorias. São Paulo: Cengage Learning, 2008.
KISHIMOTO, T. M. (Org.) Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 3ª Ed. São Paulo: Cortez 1998.
PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. 3ª ed. Rio de Janeiro: ed. Zahar, 1973.
PIAGET, J. A formação do símbolo: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
PIAGET, J. O juízo moral na criança. 3. ed. São Paulo: Summus, 1999. (ed. orig. 1932).
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1989.
VYGOTSKI, L. S. Fundamentos da Defctologia: Obras Escogidas V. Madri: Visor, 1997.
WALLON, H. Origens do pensamento na criança. São Paulo: Manda, 1989.