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Inovação educacional: o papel das Tecnologias Assistivas no desenvolvimento de crianças com TEA

Andréa Bezerra Ferreira

Antonio Carlos de Lima Oliveira

Dayane Ferreira Amaral Côrtes

Lígia Mara Ormond Pereira

Maria José Nunes Mota Gomes

 

DOI: 10.5281/zenodo.14207331

 

 

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O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurológica complexa que afeta a interação social, a comunicação verbal e não verbal, e se manifesta por comportamentos repetitivos e interesses restritos. A heterogeneidade dos sintomas do TEA impõe desafios consideráveis ao sistema educacional, especialmente no que concerne à inclusão e ao atendimento das necessidades individuais dos alunos diagnosticados. Este trabalho explora a utilização de tecnologias assistivas e computacionais como ferramentas essenciais para superar essas dificuldades no contexto educacional, promovendo uma educação mais inclusiva e adaptada às crianças com TEA. A pesquisa revisa a evolução dos critérios diagnósticos do TEA e discute como essa evolução impacta a aplicação de tecnologias educacionais. Estudos de caso, como o uso do aplicativo SpeeCH e da plataforma WebSCALA, demonstram os efeitos positivos dessas tecnologias no desenvolvimento acadêmico e social das crianças, realçando a importância da formação adequada dos educadores para a eficácia dessas intervenções. O trabalho conclui que a integração de abordagens pedagógicas tradicionais com tecnologias inovadoras é fundamental para maximizar o potencial educacional das crianças com TEA e sugere que futuras pesquisas devam focar no desenvolvimento de ferramentas ainda mais adaptáveis às necessidades individuais desses alunos.

 

 

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O Transtorno do Espectro Autista (TEA) caracteriza-se como uma condição complexa que afeta o desenvolvimento neurológico, manifestando-se por déficits na interação social, comunicação verbal e não verbal, além de comportamentos repetitivos e interesses restritos (American Psychiatric Association, 2014). Esse transtorno, que geralmente se manifesta nos primeiros anos de vida, pode variar significativamente em termos de intensidade e abrangência dos sintomas, daí a denominação "espectro". A heterogeneidade do TEA impõe desafios significativos ao sistema educacional, especialmente no que se refere à inclusão e ao atendimento às necessidades específicas de cada aluno diagnosticado.

No contexto educacional, as crianças com TEA frequentemente enfrentam barreiras que dificultam seu pleno desenvolvimento acadêmico e social. Essas dificuldades incluem desde a interpretação literal de linguagem até a resistência a mudanças na rotina, o que pode impactar negativamente sua capacidade de aprender em ambientes de ensino tradicional (García Tabuenca, 2016). A inclusão dessas crianças no ambiente escolar regular exige adaptações curriculares, além de estratégias pedagógicas diferenciadas que considerem suas peculiaridades.

As tecnologias assistivas e computacionais têm emergido como ferramentas fundamentais para mitigar essas dificuldades, promovendo uma educação mais inclusiva e adaptada às necessidades das crianças com TEA. Essas tecnologias oferecem suporte em áreas críticas como a comunicação, a socialização e o desenvolvimento de habilidades cognitivas, possibilitando que os alunos com TEA participem de atividades educacionais de maneira mais efetiva e significativa (Proença et al., 2019).

O uso de tecnologias como o aplicativo SpeeCH, investigado por Costa et al. (2023), demonstra como a intervenção tecnológica pode facilitar o desenvolvimento da fala e da oratividade em crianças com TEA. De maneira similar, plataformas computacionais como a WebSCALA, estudada por Pinheiro et al. (2023), têm mostrado eficácia na alfabetização, ao adaptar o ensino às necessidades individuais dessas crianças. No entanto, a implementação dessas ferramentas tecnológicas requer que educadores estejam adequadamente preparados e formados para utilizá-las de maneira eficiente, como destacam Favoretto e Lamônica (2014) ao discutir as lacunas no conhecimento dos professores sobre TEA.

Neste cenário, torna-se imperativo analisar a aplicabilidade e os efeitos das tecnologias assistivas e computacionais no contexto da educação de crianças com TEA. Este trabalho visa explorar as potencialidades dessas ferramentas, além de discutir os desafios envolvidos na sua integração ao ambiente educacional, com base na literatura existente e em estudos de caso recentes.

O diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) passou por diversas transformações ao longo das últimas décadas, refletindo avanços nas pesquisas e mudanças na compreensão da natureza desse transtorno. Inicialmente, o TEA foi tratado como um distúrbio emocional grave, mas com o tempo, foi reclassificado como um transtorno do neurodesenvolvimento, com critérios diagnósticos mais amplos e complexos (Tabuenca, 2016). A publicação do DSM-5 pela American Psychiatric Association, em 2013, representou uma mudança significativa, consolidando diferentes condições previamente separadas, como o autismo clássico e a síndrome de Asperger, sob a mesma categoria diagnóstica do TEA (American Psychiatric Association, 2014). Essa reorganização diagnóstica teve implicações diretas na forma como o TEA é compreendido e tratado no ambiente educacional, especialmente no que se refere à escolha de tecnologias assistivas adequadas para cada perfil de aluno.

As tecnologias assistivas compreendem uma variedade de ferramentas e dispositivos projetados para auxiliar indivíduos com deficiência a superar barreiras e participar de forma mais plena nas atividades diárias, incluindo a educação. No contexto do TEA, essas tecnologias têm se mostrado essenciais para promover a comunicação, a interação social e o desenvolvimento cognitivo. As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), por exemplo, são amplamente utilizadas para criar ambientes de aprendizado mais acessíveis e personalizados, permitindo que crianças com TEA desenvolvam habilidades de maneira mais autônoma (Maia & Jacomelli, 2020).

Estudos indicam que as intervenções com tecnologias assistivas têm resultados positivos no desenvolvimento de crianças com TEA, particularmente no que se refere à melhoria das habilidades de comunicação e socialização. A aplicação do aplicativo "Jornada das Letras", conforme investigado por Kanashiro e Seabra Junior (2018), é um exemplo de como a tecnologia pode ser utilizada para promover a alfabetização e o desenvolvimento de habilidades de escrita em crianças autistas. Esses estudos demonstram que, quando bem implementadas, as tecnologias assistivas não apenas facilitam o aprendizado, mas também contribuem para o desenvolvimento global da criança, aumentando sua capacidade de participar de atividades escolares e sociais.

As plataformas computacionais, como a WebSCALA, oferecem uma abordagem personalizada para o ensino de crianças com TEA, permitindo que o conteúdo educacional seja adaptado às necessidades individuais de cada aluno. Essas plataformas utilizam tecnologias móveis e desktop para criar ambientes de aprendizagem interativos, que podem ser ajustados em termos de dificuldade e estilo de aprendizado, conforme as capacidades e interesses da criança (Pinheiro et al., 2023).

Apesar das vantagens oferecidas pelas tecnologias computacionais, a implementação dessas ferramentas no ambiente educacional enfrenta desafios significativos. A falta de formação adequada dos professores e a dificuldade em integrar abordagens pedagógicas tradicionais, como ABA (Applied Behavior Analysis) e TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Communication Handicapped Children), com as novas tecnologias são questões que precisam ser abordadas (Silva et al., 2017). No entanto, essas dificuldades também representam oportunidades para o desenvolvimento de pesquisas que explorem maneiras de combinar métodos tradicionais com inovações tecnológicas, visando maximizar o potencial educacional das crianças com TEA.

Os estudos de caso analisados neste trabalho investigaram a aplicação de tecnologias assistivas no contexto educacional de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Para cada estudo, foram empregados métodos específicos para introduzir e avaliar essas tecnologias em ambientes educacionais variados.

No estudo conduzido por Costa et al. (2023), o método escolhido foi um estudo de caso exploratório, onde o aplicativo SpeeCH, desenvolvido para facilitar a comunicação em crianças com TEA, foi introduzido em um ambiente escolar. O processo envolveu a adaptação do aplicativo às necessidades da criança, com monitoramento contínuo do progresso ao longo do tempo. Os dados foram coletados por meio de observações diretas, registros de uso do aplicativo e entrevistas com os professores envolvidos. Esse método permitiu uma avaliação detalhada de como a tecnologia assistiva impacta as habilidades comunicativas da criança, oferecendo dados sobre a usabilidade do aplicativo e sua eficácia em contextos educacionais reais.

De forma semelhante, Melo et al. (2019) conduziram um estudo de caso para investigar a importância do atendimento multidisciplinar e da qualificação dos professores na aplicação de tecnologias assistivas para crianças com TEA. Neste estudo, a tecnologia foi introduzida como parte de um programa mais amplo de intervenção que envolveu professores, terapeutas ocupacionais, psicólogos e outros profissionais. A abordagem metodológica incluiu observações qualitativas das interações da criança com as tecnologias, além de entrevistas semiestruturadas com os educadores para entender as dificuldades e benefícios percebidos. O estudo também considerou as adaptações feitas nas práticas pedagógicas em resposta à implementação da tecnologia assistiva.

Os critérios utilizados para avaliar a eficácia das intervenções tecnológicas variaram entre os estudos, mas todos buscaram medir o impacto das tecnologias no desenvolvimento acadêmico e social das crianças com TEA.

No caso do estudo de Costa et al. (2023), os critérios de avaliação incluíram a melhoria na comunicação verbal e não verbal da criança, a frequência de interações sociais durante o uso do aplicativo e o nível de autonomia alcançado ao longo do tempo. A eficácia do aplicativo foi medida com base no progresso observado em comparação com a linha de base estabelecida antes da introdução da tecnologia.

No estudo de Melo et al. (2019), os critérios de avaliação focaram na melhoria do engajamento acadêmico da criança, a capacidade de seguir instruções em sala de aula e a interação com colegas e professores. Além do que, o estudo avaliou o nível de satisfação dos educadores com as ferramentas tecnológicas e a adequação delas às necessidades específicas do aluno. A avaliação considerou tanto os aspectos quantitativos, como a frequência de uso da tecnologia, quanto qualitativos, como o feedback dos educadores sobre o impacto da tecnologia na aprendizagem.

Os estudos analisados evidenciam que as tecnologias assistivas têm um impacto significativo no desenvolvimento das crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), tanto no âmbito acadêmico quanto social. A aplicação de ferramentas como o aplicativo SpeeCH, descrito por Costa et al. (2023), demonstrou uma melhoria expressiva nas habilidades de comunicação das crianças, aumentando a frequência e a qualidade das interações verbais e não verbais. O uso contínuo do aplicativo também promoveu maior autonomia nas atividades escolares, permitindo que as crianças se engajassem de forma mais ativa e independente nas tarefas educacionais.

Além das melhorias na comunicação, outros estudos, como o de Pinheiro et al. (2023), que analisaram a utilização da plataforma WebSCALA, destacaram o potencial dessas tecnologias na alfabetização de crianças com TEA. A adaptação do conteúdo educacional às necessidades individuais, proporcionada por essas ferramentas, resultou em um avanço significativo na aquisição de habilidades de leitura e escrita, evidenciando que as tecnologias assistivas podem ser instrumentos eficazes para superar barreiras no aprendizado.

Esses efeitos positivos não se limitam ao desenvolvimento acadêmico; as tecnologias assistivas também desempenham um papel crucial na inclusão social. Aumentando a capacidade das crianças de se comunicar e interagir, essas ferramentas facilitam a participação em atividades coletivas e o estabelecimento de relações interpessoais dentro e fora do ambiente escolar. Dessa forma, as tecnologias assistivas contribuem para uma inclusão mais ampla e significativa dessas crianças na comunidade escolar.

A eficácia das tecnologias assistivas está intrinsecamente ligada ao preparo e à formação dos educadores que as utilizam. Como destacado por Favoretto e Lamônica (2014), muitos professores ainda carecem de conhecimentos específicos sobre TEA, o que pode limitar a eficácia das intervenções tecnológicas. O estudo revelou que, embora os professores reconheçam o potencial das tecnologias para melhorar o aprendizado dos alunos com TEA, há uma necessidade urgente de formação continuada que aborde tanto os aspectos teóricos quanto práticos dessas ferramentas.

Melo et al. (2019) reforçam essa perspectiva ao demonstrar a importância do atendimento multidisciplinar e da infraestrutura adequada para a implementação eficaz de tecnologias assistivas. O estudo aponta que, além da formação específica dos professores, é essencial que haja uma colaboração entre diferentes profissionais da educação e da saúde, para que as intervenções sejam bem-sucedidas. A infraestrutura escolar também desempenha um papel crucial, pois a falta de recursos adequados pode comprometer a utilização das tecnologias e, consequentemente, os resultados esperados.

Portanto, a preparação dos educadores e a adequação do ambiente escolar são fatores determinantes para o sucesso das tecnologias assistivas na educação de crianças com TEA. Investir na formação contínua e na infraestrutura adequada não só potencializa os benefícios dessas tecnologias, mas também promove uma educação inclusiva e de qualidade.

Os estudos analisados destacam a relevância das tecnologias assistivas e computacionais como ferramentas essenciais na educação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A aplicação dessas tecnologias tem demonstrado impactos positivos significativos no desenvolvimento acadêmico e social dessas crianças, especialmente no que se refere à comunicação, alfabetização e inclusão social. Ferramentas como o aplicativo SpeeCH e a plataforma WebSCALA, investigadas respectivamente por Costa et al. (2023) e Pinheiro et al. (2023), comprovam a eficácia das intervenções tecnológicas, proporcionando melhorias substanciais na capacidade das crianças de interagir com o conteúdo educacional e com seus pares. Como também, a formação contínua e específica dos educadores, conforme destacado por Favoretto e Lamônica (2014) e Melo et al. (2019), é um fator crítico para o sucesso dessas intervenções, evidenciando que o preparo dos profissionais da educação e a adequação da infraestrutura escolar são elementos indispensáveis para a efetividade das tecnologias assistivas.

As investigações futuras devem focar na integração de abordagens pedagógicas tradicionais com as novas tecnologias assistivas e computacionais, explorando como essas combinações podem maximizar o potencial educacional de crianças com TEA. Ainda, é necessário desenvolver ferramentas tecnológicas que sejam ainda mais adaptáveis às necessidades individuais desses alunos, considerando a diversidade das manifestações do espectro autista. As lacunas identificadas por Silva et al. (2017), especialmente em relação à aplicação de abordagens como ABA e TEACCH junto às tecnologias, oferecem uma direção promissora para pesquisas que visem melhorar a personalização do ensino e a eficácia das intervenções. Outro aspecto importante é a necessidade contínua de ajustar as intervenções educacionais à luz das mudanças nos critérios diagnósticos, conforme discutido por Tabuenca (2016). Isso permitirá que as tecnologias sejam aplicadas de maneira mais precisa e eficiente, atendendo às demandas específicas de cada perfil de aluno dentro do espectro autista.

 

 

Referências

 

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5). 5th ed. Arlington, VA: American Psychiatric Publishing, 2014.

 

COSTA, Matheus Santos; COSTA, Vasti Ferreira Gonçalves; JUNIOR, Niltom Vieira. Uso do aplicativo SpeeCH como tecnologia assistiva para uma criança com transtorno do espectro autista (TEA): um estudo de caso. 2023.

 

FAVORETTO, Natalia Caroline; LAMÔNICA, Dionísia Aparecida Cusin. Conhecimentos e necessidades dos professores em relação aos transtornos do espectro autístico. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 20, 2014.

 

GARCÍA TABUENCA, Patricia. Trastorno del espectro autista (TEA). Anuario del Centro de la Universidad Nacional de Educación a Distancia en Calatayud, v. 22, p. 149-62, 2016.

 

KANASHIRO, Mônia Daniela Dotta Martins; SEABRA JUNIOR, Manoel Osmar. Tecnologia educacional como recurso para a alfabetização da criança com transtorno do espectro autista. Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, 2018.

 

MAIA, Maria Suely Deganutti; JACOMELLI, Milleni Kelly. A Aprendizagem da Criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) através do Uso das Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC. Revista Psicologia & Educação, 2020.

 

MELO, Mayara Macedo et al. Atendimento multidisciplinar para a educação especial e inclusiva de uma criança com transtorno do espectro autista: um estudo de caso. Revista Eletrônica Acervo Saúde, n. 25, p. e529, 2019.

 

PINHEIRO, Elizandra Lúcia Vasconcelos et al. A utilização da plataforma Web Scala, como ferramenta de apoio à prática pedagógica na alfabetização de crianças com transtorno do espectro autista. 2023.

 

SILVA, Martony; MOURA, Igo; SOARES, André. Uso de tecnologias computacionais para o ensino de crianças com transtorno do espectro autista: Um mapeamento sistemático da literatura. In: Brazilian Symposium on Computers in Education, 2017.