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Desafios e dificuldades dos professores no ensino de interpretação de leitura no Ensino Fundamental

Fabiana Félix de Lima

 

DOI: 10.5281/zenodo.14165933

 

 

Introdução

 

O ensino da interpretação de leitura é uma tarefa complexa, que exige dos professores não apenas conhecimento técnico, mas também criatividade e sensibilidade para lidar com as dificuldades e as diferentes realidades dos alunos. Paulo Freire já dizia que "ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção" (Freire, 1996). Porém, essas possibilidades nem sempre estão ao alcance dos professores, que enfrentam obstáculos práticos e emocionais na sua missão de ensinar a interpretar textos. Este artigo discute esses desafios e reflete sobre possíveis caminhos para superar as dificuldades no ensino fundamental.

 

 

A Falta de Recursos Didáticos e a Formação Limitada

 

A falta de materiais e recursos didáticos de qualidade é um dos principais problemas enfrentados pelos professores ao ensinar interpretação de leitura. Com livros desatualizados e uma escassez de materiais que atraiam o interesse dos alunos, os docentes têm dificuldades em criar um ambiente estimulante para a leitura. A esse respeito, Isabel Solé, em sua obra "Estratégias de Leitura" (1998), afirma que "a compreensão leitora não se limita à decodificação de palavras, mas envolve uma complexa interação entre o leitor, o texto e o contexto." No entanto, sem ferramentas adequadas, os professores ficam limitados em sua capacidade de promover essa interação e desenvolver estratégias de interpretação significativas.

Além disso, a formação dos professores em práticas pedagógicas voltadas para a interpretação de leitura nem sempre é suficiente. Muitos profissionais do ensino fundamental sentem-se despreparados para lidar com as dificuldades interpretativas de alunos que apresentam diferentes níveis de compreensão. Para Freire (1996), "não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino." Ou seja, os professores precisam de formação contínua e suporte para aprimorar suas práticas, e essa necessidade ainda é pouco atendida.

 

 

Heterogeneidade de Habilidades e Experiências de Leitura

 

Outro desafio relevante é a grande diversidade de níveis de leitura entre os alunos. Nas salas de aula do ensino fundamental, encontram-se alunos com diferentes níveis de fluência e compreensão leitora, fruto das diversas realidades socioeconômicas e culturais de cada um. Em "A Literatura em Perigo", Todorov (2009) argumenta que "a literatura é uma das formas mais poderosas de se expandir a experiência humana," o que sugere que a leitura pode ser um ponto de partida para superar algumas dessas barreiras. No entanto, a heterogeneidade na sala de aula cria uma situação em que os professores precisam adaptar o ensino constantemente, o que é desafiador quando as turmas são grandes e o tempo é limitado.

 

 

A Influência das Tecnologias e o Desinteresse pela Leitura

 

A concorrência entre a leitura e o entretenimento digital é outro fator que dificulta o ensino de interpretação de textos. Em tempos de redes sociais e dispositivos eletrônicos, muitos alunos veem a leitura como uma atividade pouco atrativa. Segundo o educador espanhol Fernando Savater, em "A Criança e o Livro" (1999), "a leitura deve ser uma conquista prazerosa e não uma obrigação aborrecida". O desafio dos professores é transformar a leitura em algo estimulante e interessante, mas essa tarefa é complicada quando não há suporte tecnológico para integrar as novas mídias ao ensino. O uso de audiolivros, jogos interativos e outras ferramentas pode ser uma forma de aproximar a leitura do universo digital que os jovens conhecem, mas essas práticas ainda são pouco acessíveis em muitas escolas.

 

 

A Pressão por Resultados em Avaliações e o Currículo Engessado

A pressão para obter bons resultados nas avaliações padronizadas também representa um obstáculo para o ensino de interpretação. Para cumprir o currículo extenso e preparar os alunos para as provas, muitos professores sentem-se obrigados a adotar uma abordagem mais mecânica, focando em técnicas para responder a questões em vez de promover uma interpretação profunda e reflexiva dos textos. Conforme destaca Lúcia Santaella em "Leitura Crítica dos Meios de Comunicação" (2003), "a formação de um leitor crítico não pode ser reduzida a técnicas, pois exige um trabalho constante de interpretação e análise do mundo." A pressão por resultados, entretanto, muitas vezes reduz a interpretação de leitura a um exercício de memorização, limitando o desenvolvimento do pensamento crítico nos alunos.

 

 

Possíveis Soluções e o Papel da Comunidade Escolar

 

Diante desses desafios, é necessário repensar as práticas de ensino e buscar apoio na comunidade escolar para promover uma cultura de leitura que seja atraente e acessível. A formação contínua dos professores é um ponto essencial, pois permite que eles explorem novas metodologias e enfoques para tornar a leitura mais envolvente. Para isso, é importante que os gestores educacionais ofereçam cursos e treinamentos frequentes e que incentivem o intercâmbio de experiências entre os professores. Além disso, atividades como rodas de leitura, clubes de livros e projetos interdisciplinares podem criar um ambiente mais colaborativo e lúdico em torno da leitura. Levando em conta a afirmação de Solé (1998) sobre a interação entre leitor, texto e contexto, tais atividades podem ajudar a construir um espaço onde os alunos se sintam motivados a interpretar textos e onde a leitura seja valorizada não só como uma obrigação escolar, mas como uma atividade prazerosa e enriquecedora.

 

 

Conclusão

 

A interpretação de leitura é uma habilidade essencial para a formação de cidadãos críticos e conscientes, mas os desafios para ensiná-la no ensino fundamental são significativos. Ao reconhecer e valorizar o trabalho dos professores, proporcionando-lhes os recursos e o apoio de que necessitam, poderemos construir uma sociedade que não só lê, mas também compreende, questiona e interpreta o mundo à sua volta. Como disse Paulo Freire (1996), "não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão." Essa é a essência da leitura interpretativa e a meta que devemos perseguir no ambiente escolar.

 

 

Bibliografia

 

Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa.São Paulo: Paz e Terra, 1996. 

 

Solé, Isabel. Estratégias de Leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998. 

 

Todorov, Tzvetan.  A Literatura em Perigo. Rio de Janeiro: Difel, 2009. 

 

Savater, Fernando. A Criança e o Livro. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 

 

Santaella, Lúcia. Leitura Crítica dos Meios de Comunicação. São Paulo: Cortez, 2003.