A função socializadora da escola e a formação integral do aluno: uma análise do modelo da Escola da Escolha
Iraci Santos Silva
Elisângela Aparecida Del Negro Oliveira
Yolanda Aparecida Rodrigues
Sandra de Cássia Oliveira Santos
Neize Lucia Ferreira
José Helder Ferreira
Thaisa J. Arruda Moreschi
Henrique Pereira Moreschi
Resumo
A educação é um processo contínuo e fundamental para o desenvolvimento integral dos indivíduos. A partir deste contexto, este artigo analisa a função socializadora da escola e a formação integral do aluno no contexto do Modelo da Escola da Escolha, sendo assim a partir de uma revisão dos conceitos apresentados no Caderno "Memória e Concepção - Conceitos", são discutidos os compromissos básicos da escola, a importância do protagonismo e do Projeto de Vida, e a necessidade de uma metodologia de ensino inclusiva e cooperativa.
Palavras chave: Desenvolvimento integral. Função socializadora. Memória e Concepção – Conceitos. Ensino inclusiva e cooperativa.
Introdução
A educação tem sido amplamente reconhecida como um elemento fundamental no desenvolvimento das sociedades contemporâneas. Sua influência perpassa todos os aspectos da vida social, cultural, econômica e política, moldando cidadãos capazes de contribuir de forma crítica e consciente para o progresso coletivo. Neste contexto, a função socializadora da escola emerge como um pilar essencial, não apenas na transmissão de conhecimentos técnicos e científicos, mas também na formação integral dos indivíduos, preparando-os para enfrentar os desafios do século XXI. Este artigo busca explorar, de forma detalhada, os princípios e práticas do Modelo da Escola da Escolha, conforme apresentado no Caderno "Memória e Concepção - Conceitos", destacando seu compromisso com a formação integral dos alunos através de uma abordagem inclusiva, cooperativa e centrada no desenvolvimento humano.
A Função Socializadora da Escola
A socialização é um processo que se inicia no contexto familiar, onde os indivíduos recebem os primeiros ensinamentos sobre as normas e valores que regulam as relações interpessoais e as instituições sociais, no entanto, a escola desempenha um papel crucial na extensão e aprofundamento desse processo. Sendo assim, através da mediação escolar, os alunos não apenas adquirem conhecimentos conceituais, mas também desenvolvem competências sociais, emocionais e éticas fundamentais para sua integração e participação na sociedade. Neste contexto, segundo Lino de Macedo (ICE, 2017, p. 40), a escola deve comprometer-se com três pilares principais: a transmissão de conhecimento científico, a promoção de normas e valores filosóficos, e a articulação desses dois aspectos para ensinar procedimentos e habilidades.
Compromissos Básicos da Escola
Os compromissos básicos da escola, conforme delineado por Macedo (2005), abrangem:
- Compromisso Científico: Envolve a transmissão do conhecimento socialmente produzido, através do ensino de fatos, conceitos e princípios. Este compromisso é fundamental para equipar os alunos com o conhecimento necessário para entender e atuar no mundo.
- Compromisso Filosófico: Foca na promoção de normas, atitudes e valores que complementam a formação científica dos alunos, proporcionando-lhes uma compreensão mais profunda do propósito e sentido do conhecimento adquirido.
- Articulação dos Dois Anteriores: Refere-se à integração dos conhecimentos científicos e filosóficos, através do ensino de procedimentos e habilidades que permitam aos alunos aplicarem esses conhecimentos de forma prática e significativa em suas vidas.
Protagonismo e Projeto de Vida
O desenvolvimento do protagonismo é um dos objetivos centrais da educação proposta pelo Modelo da Escola da Escolha, assim ser protagonista implica ser capaz de se colocar como sujeito ativo na construção do próprio Projeto de Vida e na resolução de problemas reais. Neste contexto, segundo Coll (ICE, 2017, p. 43), isso requer uma orientação contínua e a criação de oportunidades desde os anos iniciais da educação, permitindo que os alunos desenvolvam consciência de seus processos de aprendizagem, recursos internos e capacidade de tomar decisões, a escola, nesse sentido, deve criar um ambiente que favoreça a participação ativa dos alunos, promovendo a autonomia, a responsabilidade e o compromisso com o bem comum.
Inclusão e Autonomia
A inclusão e a promoção da autonomia são aspectos fundamentais da formação integral dos alunos. Um ambiente escolar inclusivo e solidário não apenas respeita as diferenças individuais, mas também valoriza a contribuição de cada aluno para o coletivo. A aprendizagem, nesse contexto, vai além da mera transmissão de conteúdos, implicando na reconstrução desses conhecimentos pelos alunos, considerando seus conhecimentos prévios, capacidades cognitivas e experiências de vida (ICE, 2017, p. 26). A autonomia, portanto, é construída em relação com o outro, implicando em solidariedade e cooperação.
Formação Integral e Sociedade
A função socializadora da escola transcende a mera transmissão de conteúdos formais. A formação integral dos alunos visa capacitá-los a analisar criticamente a realidade e tomar decisões embasadas na investigação e na reflexão sobre seu cotidiano e os valores sociais (ICE, 2017, p. 26). A autonomia, a solidariedade e a competência são condições essenciais para a construção e realização do Projeto de Vida de cada aluno, refletindo o tipo de sociedade e de cidadão que se pretende formar. A escola, assim, desempenha um papel crucial na formação de indivíduos capazes de contribuir de maneira ativa e responsável para o desenvolvimento social, econômico e cultural de suas comunidades.
Currículo da Escola da Escolha
A Escola da Escolha adota um modelo curricular que integra três eixos fundamentais: Formação Acadêmica de Excelência, Formação para a Vida e Formação para o Desenvolvimento das Competências para o Século XXI. Este currículo visa proporcionar aos alunos uma educação ampla e flexível, que promova o protagonismo e a formação integral. O currículo deve ser organizado de forma sequencial, equilibrada e integradora, considerando as experiências, oportunidades e atividades necessárias para o desenvolvimento contínuo e estratégico dos alunos (ICE, 2017, p. 41).
Metodologias e Práticas Educativas
O currículo da Escola da Escolha incorpora metodologias inovadoras e práticas educativas que suportam a elaboração do Projeto de Vida dos alunos. Isso inclui inovações em conteúdo (o que ensinar), método (como ensinar) e gestão (condução dos processos de ensino e aprendizagem), visando assegurar que a escola forme jovens autônomos, solidários e competentes. As práticas educativas são baseadas na diversificação e no enriquecimento dos conteúdos, permitindo que os alunos tenham uma formação significativa e aplicada (ICE, 2017 p. 42).
Objetivos e Competências
As aprendizagens na Escola da Escolha devem integrar teoria e prática, promovendo a formação de alunos autônomos, solidários e competentes. O conhecimento deve ser significativo e aplicável na vida dos alunos, ampliando suas possibilidades de análise e escolha. A seleção dos conteúdos deve considerar a formação integral dos alunos em todos os aspectos: cognitivo, social, moral, corporal e afetivo (ICE, 2017 p. 43). Isso exige uma abordagem holística e interdisciplinar, que vá além dos recortes tradicionais dos componentes curriculares.
Questões Fundamentais do Currículo
Coll (1996) propõe que o currículo deve responder às seguintes questões: O que ensinar? Quando ensinar? Como ensinar? A seleção dos conteúdos deve ser guiada pela visão de homem e de sociedade que se deseja formar, considerando os objetivos educacionais, os conteúdos, as formas de ação e de avaliação. A formação integral dos alunos implica no desenvolvimento de recursos internos que favoreçam a construção do Projeto de Vida, promovendo a autonomia, a solidariedade e a cooperação (ICE, 2017 p. 43).
Organização Temporal do Ensino
A organização temporal do ensino é fundamental para estabelecer boas sequências de aprendizagem. O currículo deve garantir a continuidade e a progressão dos conteúdos ao longo dos anos, respeitando as condições de aprendizagem dos alunos e as singularidades de cada área de conhecimento (ICE, 2017 p. 43). Isso inclui a análise das capacidades cognitivas e dos conhecimentos prévios dos alunos, assegurando que a aprendizagem seja significativa e aplicada.
Metodologia de Ensino
A formação de um sujeito ativo requer uma metodologia de ensino que desafie os alunos a refletir, elaborar hipóteses, buscar soluções e validar respostas. A metodologia deve considerar as capacidades cognitivas, os conhecimentos prévios e as experiências dos alunos, promovendo uma intervenção pedagógica que respeite as diferenças individuais e incentive o desenvolvimento de habilidades e competências (ICE, 2017 p. 43). A compreensão dos conteúdos não deve se limitar à memorização, mas deve envolver a reelaboração das informações transmitidas, permitindo que os alunos construam uma compreensão significativa e aplicável dos conhecimentos.
Avaliação Educacional
A avaliação educacional é um procedimento fundamental para acompanhar o desenvolvimento dos projetos pedagógicos. Ela deve ser contínua, processual e incluir diversas fontes de informação para ajustar as estratégias de ensino e aprendizagem. A avaliação deve ser inicial, formativa e somativa, atendendo às especificidades de todos os alunos, incluindo aqueles com deficiências (ICE, 2017, p. 45). A avaliação inclusiva permite uma leitura ampliada do desenvolvimento dos alunos, favorecendo a autorregulação e a adaptação das práticas pedagógicas.
Perspectiva Inclusiva da Avaliação
A avaliação inclusiva é contínua e processual, utilizando diversas fontes para acompanhar o desenvolvimento dos alunos e ajustar estratégias de ensino e aprendizagem. Isso implica em uma abordagem que respeite os processos individuais de aprendizagem e promova a permanência dos alunos em suas turmas, considerando suas necessidades específicas (ICE, 2017, p. 47). A avaliação deve ser uma ação de questionamento da escola sobre como melhor atender a cada um de seus alunos, promovendo a inclusão e o desenvolvimento integral.
Autonomia e Solidariedade
A construção da autonomia está intrinsecamente ligada à promoção da solidariedade. A autonomia, entendida como a capacidade de tomar decisões informadas e responsáveis, só é possível na relação com o outro. A escola deve proporcionar situações que promovam a autoavaliação, autorregulação e a cooperação entre os alunos, incentivando a construção de vínculos afetivos e racionais que sustentem a solidariedade (ICE, 2017, p. 26). A ética e a responsabilidade são aprendidas através das ações observadas e das vivências práticas, sendo fundamentais para a formação de cidadãos comprometidos com o bem comum.
Construção da Ética
A ética é um componente essencial da formação integral dos alunos, sendo aprendida mais pelas ações observadas do que pelos discursos. A responsabilidade, entendida como a consciência dos direitos e deveres individuais e coletivos, deve ser ensinada através de vivências que demonstrem como agir eticamente e cooperativamente (ICE, 2017, p. 26). A escola deve promover relações de cooperação, em que as pessoas trabalhem em conjunto, tomem decisões coletivas e respeitem as diferenças, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e solidária.
Corresponsabilidade na Educação
A corresponsabilidade é uma premissa fundamental do Modelo da Escola da Escolha, implicando que todos os membros da comunidade escolar são responsáveis pela forma como as relações acontecem. A educação deve promover a convivência e a construção de uma sociedade cooperativa e solidária, onde todos tenham a oportunidade de se desenvolver plenamente e contribuir para o bem comum (ICE, 2017, p.46).
Continuidade da Educação Escolar
A educação escolar é um direito de todos e deve ser concebida como um processo ao longo da vida. A escola tem a responsabilidade de ampliar os conhecimentos e potencialidades dos alunos, assegurando as condições necessárias para seu pleno desenvolvimento. A formação integral dos alunos implica na promoção de um ambiente inclusivo e cooperativo, que respeite as diferenças individuais e valorize a contribuição de cada um para o coletivo (ICE, 2017, p.48).
Paradigma do Desenvolvimento Humano
O Modelo da Escola da Escolha adota o Paradigma do Desenvolvimento Humano, que enfatiza a importância de proporcionar oportunidades para que todos desenvolvam seu potencial. As escolhas e oportunidades ao longo da vida são determinantes para o desenvolvimento pessoal, e a educação deve incluir e promover a compreensão da totalidade, favorecendo o pleno desenvolvimento dos alunos (ICE, 2017, p. 49).
Importância do Protagonismo
O protagonismo é central no Modelo da Escola da Escolha, implicando que os alunos devem ter oportunidades de se envolverem ativamente no desenvolvimento de suas potencialidades. A escola deve criar um ambiente que promova o protagonismo, incentivando a participação ativa dos alunos na construção de seu Projeto de Vida e na resolução de problemas reais (ICE, 2017 p. 44).
Conclusão
O caderno "Memória e Concepção - Conceitos" oferece uma base teórica robusta para a atuação dos educadores na Escola da Escolha. A formação integral dos alunos, promovida através de um currículo amplo e flexível, metodologias inovadoras e práticas educativas inclusivas, visa desenvolver cidadãos autônomos, solidários e competentes. A leitura deste caderno deve ser complementada por outros estudos e reflexões sobre a prática pedagógica, assegurando a eficácia do modelo educacional proposto.
Referências
Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE). (2017). Memória e Concepção do Modelo: Conceitos.