As contribuições para o envelhecimento ideal
Antonio Carlos de Lima Oliveira
Flávia Michele Ferreira de Oliveira
Léa Antonia Corrêa da Silva Costa
Leidimar Brito da Silva Cunha
Josiane Sérgio da Silva Miranda
RESUMO
O número de idosos no Brasil vem crescendo, torna-se, então, importante a criação de programas sociais que promovam a interação desses indivíduos, pois muitas vezes nessa idade vem sentimentos de inutilidade, solidão, tristeza, baixa autoestima. Tais programas sociais contribuem para a melhora, bem como para a ressignificação da maneira com que esses idosos encaram a vida, possibilitando-lhes novas experiências. Este trabalho é resultado de um questionário individual com uma amostra constituída por 10 idosos, de um grupo de participantes do alongamento e roda de conversa do Centro Especializado em Reabilitação (CER). O objetivo da pesquisa foi observar a importância da interação social no desenvolvimento biopsicossocial do idoso através desta participação no grupo do CER e suas contribuições. Mediante o questionário aplicado com 11 questões abertas, passamos a discutir as respostas obtidas dos participantes. Optamos por categorizar os dados distribuídos em temas, assim organizados: “Aposentadoria”, “as melhorias depois que passou a frequentar a instituição”, “rodas de conversa”, “a possível finalização do grupo” e “a maneira como encaram o envelhecimento”. Notadamente, há contribuições positivas na vida de cada participante, uma ressignificação na maneira como estão encarando a nova fase, trazendo à tona a discussão de se criar mais grupos como esse.
Palavras-chave: Idoso. Envelhecimento. Roda de conversa.
Introdução
Atualmente, o número de idosos vem crescendo, consideravelmente, em todo o planeta. Conforme Kinsella e He (2009), estima-se que em dez anos a população de pessoas com idade acima de 65 anos ou mais será superior ao de crianças com idade inferior a 5 anos, onde o número mais expressivo de idosos será em países em desenvolvimento.
Segundo Veras (2009), Wong e Carvalho (2006), em 2020 o Brasil será considerado o sexto maior país em números de população idosa, chegando à estimativa de 30 milhões. Partindo dessa perspectiva, se torna necessária a criação de programas sociais para auxiliar ao “envelhecimento bem-sucedido ou ideal”, em grande parte substitui a ideia de que o envelhecimento resulta de processos inevitáveis e intrínsecos de perda e declínio. De acordo com Rowe e Kahn (1997), considerando que os fatores modificáveis influenciam o envelhecimento, consequentemente, algumas pessoas podem envelhecer com mais sucesso que outras.
Vários estudos identificaram três componentes principais do envelhecimento ideal: (1) anulação da doença ou de incapacidade relacionada à doença; (2) manutenção elevada das funções psicológica e cognitiva e (3) engajamento constante e ativo em atividades sociais e produtivas (atividades, pagas ou não, criadoras de valor social). Mediante o que abordam Rowe e Kahn (1997), os idosos bem-sucedidos (ideal) tendem a ser os que têm apoio social, emocional e material, o que contribui para a saúde mental, pois quando permanecem ativos e produtivos não se consideram velhos.
O documento intitulado Ministério da Previdência e Assistência Social. Secretaria de Ação Social. Plano de ação governamental integrado para o desenvolvimento da Política Nacional do Idoso declara que:
O envelhecimento é um processo normal, dinâmico, e não uma doença. Enquanto o envelhecimento é um processo inevitável e irreversível, as condições crônicas e incapacitantes que frequentemente acompanham o envelhecimento podem ser prevenidas ou retardadas, não só por intervenções médicas, mas também por intervenções sociais, econômicas e ambientais (BRASIL, 1996, p.1).
No decorrer deste trabalho faz-se uma revisão teórica sobre o envelhecimento, envelhecimento ideal, e a importância dos grupos de apoio na vida dos idosos, que são criados com o auxílio do órgão público Centro Especializado em Reabilitação (CER), que realizam alongamentos como forma de prevenção de doenças físicas e roda de conversa como forma de interação. Apresenta-se os resultados, ao final do trabalho, busca-se dar visibilidade e ênfase aos grupos da terceira idade que vivenciam a proposta de envelhecimento ideal.
Envelhecimento
O uso do termo envelhecimento não tem uma definição específica de quando se inicia, podendo variar de acordo com o autor, entretanto é um processo que todos os indivíduos irão vivenciar, pode se dizer que a velhice é caracterizada por mudanças físicas e comportamentais, alterando as funções cognitivas. Dentre elas, as percepções, memória, atenção, concentração, sentimentos, ações e reações.
Segundo Lorda e Sanchez (2001) na 3ª idade as muitas mudanças no ambiente social do idoso exigem dele uma constante adaptação. Existe por parte de alguns idosos a negação do seu próprio envelhecimento, provocando muitas atitudes, sendo que, algumas delas, prejudiciais a manutenção do seu lado psicológico, entre elas: o isolamento, levando-o a evitar contato com pessoas da mesma idade e fazer-se de vítima.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), para se alcançar o envelhecimento saudável é preciso manter-se potencialmente ativo, físico e mentalmente, bem como estar inserido em atividades culturais, sociais e espirituais durante todo o ciclo da vida. Alguns dos benefícios a serem alcançados com a realização destas atividades estão na melhora da autoestima e do bem-estar geral.
Com o pais envelhecendo a cada ano, precisamos de incentivos para que se tenha um envelhecimento ideal, em que os idosos possam ser inseridos nos contextos sociais, derrubando o estereótipo de que as pessoas mais velhas não têm utilidade na sociedade, vindo a ser excluídas. Freire é bastante assertivo ao afirmar,
Sabe-se hoje que a velhice não implica necessariamente doença e afastamento, que o idoso tem potencial para mudança e muitas reservas inexploradas. Assim, os idosos podem sentir-se felizes e realizados e, quanto mais atuantes e integrados em seu meio social, menos ônus trarão para a família e para os serviços de saúde. (FREIRE, 2000, p.22).
Para garantir direitos que possibilitem a condição citada, acima, o Estatuto do Idoso (2003) regulamenta:
Art. 1º É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Art. 3º É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao desporto, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
Portanto, é fundamental que se tenha um olhar sistêmico sobre o tema “Idoso”, considerando esse aspecto como algo inerente, que faz parte do ciclo da vida do ser humano. É importante ter em mente que o meio familiar, social e político contribuem para o envelhecimento ideal, que os idosos sejam tratados com respeito e dignidade.
ENVELHECIMENTO IDEAL
De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2006), existem vários modelos de envelhecimento ideal. Um desses modelos, ilustrado pela teoria da Atividade, postula que, quanto mais ativas as pessoas se mantêm no decorrer da vida, melhor elas envelhecem. Ocorre que, infelizmente, na cultura ocidental valoriza-se excessivamente a atividade como forma de produtividade e geração de bens.
O termo envelhecimento ideal compreende uma maneira saudável de envelhecimento, em que o indivíduo passa a ter papel ativo na sociedade, intensificando a sua capacidade de interagir socialmente. Capacidade de grande valia na vida do mesmo, pois acaba criando redes de apoio que lhe dão possibilidade de melhor qualidade de vida.
Rowe e Kahn (1998) definem que o envelhecimento bem-sucedido é caracterizado pelo engajamento ativo com a vida associada à funcionalidade física e mental e à ausência de patologias. Esse engajamento ativo corresponde à manutenção das relações sociais e das atividades produtivas.
Para Zimerman (2000), o idoso deve dedicar-se a alguma atividade, seja ela remunerada ou não, de modo a proporcionar-lhe prazer e contentamento.
Essas redes de apoio social podem ser inseridas na vida dos idosos através de políticas públicas que contribuem para uma melhora ou diminuição de doenças físicas ou emocionais, promovendo o bem-estar do idoso, contribuindo também para que o mesmo tenha um bom relacionamento interpessoal, deixando de lado o estereótipo de que quando envelhece não se tem mais utilidade.
Conforme Queiroz (2003, 2008), o conceito de bem-estar psicológico corresponde à busca de ideal de excelência, de crescimento pessoal ou de auto realização e está associado ao ajustamento emocional e social, na medida em que reúne o cumprimento de expectativas sociais e emocionais, considerando seus atributos físicos, cognitivos e afetivos, idade e gênero.
Com o envelhecimento podem ocorrer alterações sociais vindas de relacionamentos interpessoais, de forma que o idoso passa a assumir um novo papel perante à sociedade, a partir do processo de aposentadoria, podendo acarretar sentimentos de inutilidade, passando por modificações psicológicas, que requer se readaptar em um ambiente totalmente novo, necessitando de motivação e incentivo na busca da autoestima e autoimagem. De acordo com Vieira (2004), a dificuldade de inserção do idoso num grupo, obriga-o a fechar-se e isolar-se socialmente, evitando os conflitos que possam surgir desta diversidade de interesses e hábitos entre ele e as gerações mais novas.
Com o envelhecimento passa-se acarretar muitas mudanças na vida do indivíduo a aposentadoria vem estar neste processo, tendo um papel significativo para tal transformação.
Aposentadoria
É a partir do trabalho que as pessoas passam a se classificar como úteis na sociedade, passam a ter seus nomes relacionados à atividade que exercem, Vasconcelos e Oliveira (2004) citam que o trabalho, ao produzir no homem o sentido de inclusão social, revela a importância que a sociedade dá àquele que produz, destacando aquele indivíduo que tem vínculo empregatício, salário fixo e estabilidade. O sujeito passa a maior parte da vida no trabalho, com este envolvimento constroem-se vínculos que podem ser de maior intensidade que com a família. Após anos de dedicação surge a aposentadoria, fase da vida em que as escolhas e o uso do tempo disponível deveriam voltar-se para a realização de desejos, muitas vezes, reprimidos durante a trajetória de vida, ressignificando valores e prioridades. Queiroz, apud Zanelli e Silva (1996) vê a aposentadoria como espaço de liberdade para o trabalhador.
Tais transformações resultam em uma relação diferenciada com o mundo que constituiu durante toda a vida, a aposentadoria passa a ser vista como prêmio, de acordo com Zanelli e Silva (1996) um júbilo, uma recompensa aos esforços depreendidos ao longo da carreira, possibilitando a concretização de planos ou sonhos talvez idealizados por muito tempo. O indivíduo empenha-se, fortalecendo laços afetivos, convívios sociais, e agora, em tese, com a aposentadoria existe um tempo para se dedicar ao seu “eu”, entretanto,
O “descarte da Laranja” ou o que ficou conhecido como “papel sem papel’ significa, para o descartado, a perda da posição, dos amigos, do núcleo de referência, a transformação dos valores, das normas e das rotinas, e a submissão a condições que agridem a autoestima e a imagem de si mesmo. Em outras palavras, coloca-se em xeque a identidade pessoal (ZANELLI; SILVA, 1996, p. 28).
Além de deixar seu trabalho ao aposentar-se é necessário que a pessoa aprenda a usar sua disponibilidade. Segundo Xavier (2004), a aposentadoria é um momento de mudança e a forma como ela se estabelece é consequência da maneira como o sujeito organizou a vida, e da importância dada ao trabalho e aos vínculos sociais. Portanto, a participação assídua, pontualidade e crescimento deste projeto do CER nos remete à importância de atividades como estas no processo de envelhecimento ideal, provendo uma ressignificação para cada indivíduo.
Ressignificação
O termo ressignificar nos remete à ideia de dar novo sentido a algo que já faz parte da vida do indivíduo, ou seja, algo que necessita de mudança, sendo o ato de dar novos significados a acontecimentos vividos e, a partir de então, gerando mudança da sua percepção de mundo.
A ressignificação pode ser entendida como movimentos que permitem ao indivíduo ocupar posições subjetivas, promovendo mudanças na sua vida, não se enquadrando somente no presente nem tampouco se resumindo ao resgate do passado.
Conforme Thompson (2000), a narrativa como reinterpretação do passado, elaborada pelas pessoas e sempre influenciada pelo ponto de vista que assumem no presente, constitui-se em ferramenta essencial ao processo de reordenar o ser e estar no mundo.
A ressignificação da história de vida pode ser resumidamente compreendida como um movimento constante de busca de novos sentidos para a vida ou aspectos dela, movimento esse que acontece como consequência das experiências compartilhadas entre os sujeitos.
Por fim, conclui-se que os processos de ressignificação têm papel importante dentro do grupo, promovendo mudanças no indivíduo, aonde pode acontecer através da fala e da escuta, nas trocas de experiências, o que contribui para um fortalecimento nas redes de apoio, bem como para o envelhecimento ideal.
METODOLOGIA
Antes da realização da pesquisa sucederam os procedimentos técnicos, a pesquisa bibliográfica em artigos, livros, teses e sites na internet, para criar embasamento, desenvolver e alcançar os objetivos propostos neste trabalho.
Para a investigação que nos propusemos, foi utilizada a pesquisa de campo por ser a mais apropriada à coleta de dados subjetivos, conforme verificamos,
Pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles (MARCONI; LAKATOS, 1990, p.75).
Para tanto, a pesquisa a campo utiliza-se de técnicas específicas e instrumentos que têm o objetivo de recolher e registrar os dados sobre o assunto em estudo, utilizando-se da pesquisa qualitativa que, segundo Flick, von Kardorff e Steinke (2000), apresentam quatro bases teóricas: a) a realidade social é vista como construção e atribuição social de significados; b) a ênfase no caráter processual e na reflexão; c) as condições “objetivas” de vida tornam-se relevantes por meio de significados subjetivos; d) o caráter comunicativo da realidade social permite que o refazer do processo de construção das realidades sociais torne-se ponto de partida da pesquisa.
Instrumentos e procedimentos
Diante das diversas técnicas de coletas de dados, optamos pelo questionário de pesquisa acadêmica semiestruturado. O questionário, segundo Gil (1999, p.128), pode ser definido “como a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc.”.
Tal instrumento nos auxiliou na coleta das informações da realidade de cada entrevistado, que se tornou de grande valia para a elaboração de tal artigo.
Conforme Gil (1999, p. 128/129) apresenta as seguintes vantagens do questionário:
- a) possibilita atingir grande número de pessoas, mesmo que estejam dispersas numa área geográfica muito extensa, já que o questionário pode ser enviado pelo correio;
- b) implica menores gastos com pessoal, posto que o questionário não exige o treinamento dos pesquisadores;
- c) garante o anonimato das respostas;
- d) permite que as pessoas o respondam no momento em que julgarem mais conveniente;
- e) não expõe os pesquisadores à influência das opiniões e do aspecto pessoal do entrevistado.
No período de 10 a 17 de maio de 2018 foram realizados 4 encontros para aplicação do questionário; onde foram realizadas após os alongamentos e roda de conversas, os entrevistados foram levados a um ambiente próximo ao local das atividades, havendo pouca interferência, onde cada um respondia de forma individualizada, sem estipulação de tempo.
Uma das atividades realizadas no grupo do CER é a roda de conversa, aonde é imprescindível dizer sobre a tendência grupal, no processo do envelhecimento ideal serve como uma ajuda, onde o grupo lhe traz uma segurança, aonde muitas vezes inseguros, encontram uma forma de inserir-se ao meio, quando encontram-se deslocados. Knobel (1976, p. 39) define que na tendência grupal “há um processo de superidentificação maciça, onde todos se identificam com cada um”. Por meio de tais mudanças vivenciadas por todos no contexto, vem a surgir essa identificação e apego ao grupo de apoio estabelecido, como atestam as falas:
É uma oportunidade de convivência com as outras pessoas, de entrosamento, a gente conversa, brinca, se diverte, amo muito vir aqui e ficar com os idosos. (Idoso 10)
Porque é muito bom você tem orientação, alongamento, conversa com outras pessoas. (Idoso 2)
Diverte, convivência a mente abre. (Idoso 3)
Aqui percebemos que as pessoas precisam umas das outras. (Idoso4)
A partir das rodas de conversas realizadas no (CER) percebeu-se que essa interação constituiu-se como partem de um processo psicológico, como forma de se passar experiências vividas e receber também, reproduzir vozes, discursos e memórias de outras pessoas que se associam às dos participantes entre si. Assim, a rememoração e a socialização, o discurso narrativo, no caso da roda de conversa, é uma construção coletiva. No contexto da coleta de dados, o pesquisador deve compreender que as memórias culturais e individuais estão intimamente ligadas. E como referem Santamarina e Marinas (1995, p. 273),
[...] recolher os relatos ou as histórias de vida não é recolher objetos ou condutas diferentes, mas, sim, participar da elaboração de uma memória que quer transmitir-se a partir da demanda de um investigador. Por isto a História de Vida não é só uma transmissão, mas uma construção da qual participa o próprio investigador [...].
Complementando, Abrahão (2004), em seus escritos sobre narrativas, descreve-as como elementos que trazem forte e acentuado tom pessoal, articulado pelo exercício da memória, pela verificação de trajetórias e pela tessitura memorialística, que permitem articular presente, passado e futuro.
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DOS PARTICIPANTES
A amostra foi constituída por 10 participantes. Destes, 6 do sexo feminino e 4 do sexo masculino. Sendo que a média de idade do sexo masculino é de 67 anos e do feminino 62 anos. Sobre o grau de escolaridade, 7 com Ensino Primário e 3 com Ensino Médio completo. O estado civil dos respondentes são 5 casados, 2 conviventes, 2 viúvos e 1 solteiro.
Resultados e discussão
Mediante o questionário aplicado com 11 questões abertas, passamos a discutir as respostas obtidas dos participantes. Optamos por categorizar os dados distribuídos em temas, assim organizados: “Aposentadoria”, “as melhorias depois que passou a frequentar a instituição”, “rodas de conversa”, “a possível finalização do grupo” e “a maneira como encaram o envelhecimento”.
De maneira geral, descobriu-se que grande parte dos entrevistados são aposentados, os mesmos passaram a maior parte do seu tempo trabalhando em diversos empregos, - doméstica, costureira, lavrador, carpinteiro, técnica de enfermagem, serviços gerais construção civil, sem garantia de permanência, ou seja, não eram concursados. Somente uma minoria ainda continua exercendo uma atividade remunerada.
Ao aposentar-se é necessário fazer uso do tempo disponível, Xavier (2004) vê a aposentadoria como um momento de mudança e a forma como ela se estabelece é consequência da maneira como o sujeito organizou a vida, e da importância dada ao trabalho e aos vínculos sociais. Manter as relações pessoais que tinham durante a atuação profissional é importante, mas ter a ciência de que não serão da mesma forma. Guidi (1994) argumenta que a vida humana é muito influenciada pela vida profissional, possibilitando com a chegada da aposentadoria a perda da identidade, pois a vida pessoal movimentava-se através do que a rotina de trabalho estabelecia. Com a ausência das atividades de trabalho, a pessoa tende a dedicar-se a outras ocupações, mesmo sendo um tanto difícil pois os mesmos estiveram condicionados a uma rotina durante anos, diante disto exigindo uma ressignificação do indivíduo na sua nova realidade.
No questionário foram colocados em discussão as rodas de conversa e os resultados demostram grande aceitação por parte dos entrevistados, bem como a eficácia da utilização da mesma, no processo de construção e fortalecimento de redes de apoio sociais, que contribuem para o envelhecimento ideal. Segundo Knobel (1976, p. 39) é um processo em que os idosos têm identificação entre si, possibilitando a consolidação dessas rodas de conversa. Foi possível mensurar a aceitação das rodas de conversa através de relatos dos entrevistados,
São construtivas. (Idoso 1)
Achei bom, muito legal, é muito importante nos incentiva mais a gente tem explicação das coisas que não sabíamos (idoso 2)
A troca de vivência, experiência sobre os filhos, companheiros e histórias de vida. (Idoso 5)
As trocas de informações, além do trabalho com o corpo se trabalha a emoção. (Idoso 6)
Ultimamente tenho conversado, é muito importante pois com os anos vai diminuindo as conversas, cada pessoa gosta de ficar com as pessoas da sua idade e aqui nós podemos conversar entre nós, fazer amigos. (Idoso 7)
Muito boa, ajuda muito a troca de experiências. (Idoso 8)
Eu gosto dessa roda, os abraços, as palavras, as vezes um bom dia porque se fosse só alongar eu alongaria em casa né? (Idoso 9)
É muito bom. Importante, pois nos oportuniza saber de outras coisas que não sabíamos, muitas vezes temos um bloqueio e isso nos ajuda a conversar e se informar. (Idoso 10)
No que tange à melhora física e emocional depois que passou a frequentar o CER, observou-se que vários entrevistados obtiveram êxito, de forma significativa, no alivio de dores físicas, melhora da coordenação motora, bem como da construção de relacionamentos interpessoais, demostrando que está sendo benéfica a continuidade do grupo. De acordo com Geis (2003), quando idoso se torna participante de uma atividade física ele não busca somente a saúde, mas também a socialização. A atividade física pode ser um meio contra o isolamento social e a solidão, auxiliando contra o tédio, podendo compensar a redução das relações sociais e oferecer a substituição do “status” ora determinado pela atividade e posição profissional. O idoso não busca somente a prática do exercício físico para a diminuição das dores, busca a interação social, “fazer amigos”, o que contribui em todos os aspectos da vida desse idoso.
Nota-se esta realidade nos relatos extraídos do questionário realizado,
Melhorou as dores, mais disposição. (Idoso 8)
Melhorou muita coisa, a cabeça, a amizade, tive depressão, mas agora me sinto bem melhor, pois aqui fiz amigos que antes não tinha. (Idoso 2)
Tive uma melhora significativa nas dores e fiz amizades com os participantes do grupo onde sempre há uma troca de experiências. (Idoso 5)
Atividade física é muito importante, a gente pode conversar e fazer amigos. (Idoso 7)
Sobre a questão da hipótese da finalização do grupo, todos os participantes foram contrários, desejando que o grupo permaneça por mais um bom tempo, pode-se analisar que os participantes estão tendo ganho significativo em suas vidas na participação dos alongamentos e rodas de conversas, o que podemos relacionar com as ideias de Geis (2003), os idosos buscam não somente o exercício físico, mas a interação social com os demais, o que acaba fortalecendo e promovendo a continuidade do grupo. Conforme relatos dos entrevistados, os mesmos desejam a continuidade do grupo,
Eu amei o grupo, não queria que acabasse nunca, porque para mim foi muito bom, pois eu quase não saio, não converso, então aqui eu venho, converso, e me faz muito bem saiu daqui bem. (Idoso 2)
A interação, você vê os outros, acaba o estresse (Idoso 3)
Saiu um pouco de casa, mais informações e fazer novas amizades. (Idoso 6)
Gostaria que ficasse para sempre, mas como o pessoal já aprendeu poderiam fazer em casa, mas não fazem, eles ficam atoa em casa, então deviam fazer alguma coisa porque não sei até quando o grupo vai continuar, então já vão fazendo em casa. (Idoso 7)
Eu acho importante a participação das pessoas. Poderiam ter mais dias para participar. (Idoso 10)
O último item discutido abordou a maneira como os idosos estão encarando o processo de envelhecimento. Sobre isso os relatos dos mesmos mostrou que grande parte se sente realizada com as suas conquistas até o presente momento, com as experiências vivenciadas. Apenas uma minoria está insatisfeita com suas experiências passadas, o que vai de encontro com as ideias de vários autores, que postulam que os idosos no processo de envelhecimento tornam-se insatisfeitos, com sentimentos de inutilidade. A comprovação contrária, nesse caso específica, pode correlacionar essa satisfação pessoal com a participação no grupo, que vem promover bem-estar aos integrantes, contribuindo com o envelhecimento ideal.
Conforme Papalia, Olds e Feldman (2006), acerca do envelhecimento ideal, outro aspecto relevante é a concepção que alguns idosos ainda têm uma perspectiva de vida, não se consideram realizados, mas sim em processo de busca da realização, mostrando mais uma vez a relevância do grupo, que contribui para a busca de novas experiências e motivação de continuar exercendo papel ativo na sociedade.
Observa-se pelos relatos, que grande parte dos idosos estão satisfeitos com a sua vida,
Vida boa, satisfatória. (Idoso 1)
Muito feliz por todas as conquistas, filhos formados e todas as dificuldades superadas. (Idoso 8)
Sinto que estou realizado, tenho uma filha formada, trabalho, vou fazer exercícios, cuidar da minha vida, tenho meus cachorros, cuido deles, domestico eles e é um trabalho para mim isso é muita vida. (Idoso 7)
Em processo de realização. (Idoso 6)
Valeu a pena viver até essa idade, realizei os sonhos tenho uma casa bonita, do jeito que sonhei. (Idoso 5)
Passei por muitas dificuldades, mas todos os dias busco o melhor dia, busco a paz todos os dias. (Idoso 4)
Não faria o que eu fiz, trabalhar sem proteção e equipamentos para não prejudicar a coluna. (Idoso 3)
Me sinto realizada, meus filhos estão criados, vivo bem com meu esposo, sinto feliz, tive uma vida difícil mas estamos lutando, então hoje me sinto feliz pelo que consegui. (Idoso 2)
Me sinto bem, além dos exercícios, tomo meus remédios me sinto bem. (Idoso 9)
De maneira geral me sinto bem. (Idoso 10)
Para finalizar considera-se que o envelhecer é um processo natural que acontece com todos os seres vivos, porém no ser humano este processo traz desconforto, pois vem carregado de estereótipos negativos. Há uma incessante busca por identificar-se em algum grupo ou por ter seu papel social reconhecido, o que mostra a importância de grupos de apoio sociais para o envelhecimento ideal. Sendo assim, a dinâmica do grupo no CER pode ser vista como agente para a eficácia do envelhecimento com qualidade de vida. Notadamente, há contribuições positivas na vida de cada participante, uma ressignificação na maneira como estão encarando a nova fase, trazendo à tona a discussão de se criar mais grupos como esse, pois como sabemos o número de idosos vem crescendo, então necessita-se dessas medidas para que esse público lide de maneira positiva com o envelhecimento.
Considerações
Por meio de revisão bibliográfica e experiência prática, foi possível perceber que a qualidade de vida dos idosos é influenciada por diversos fatores físicos, sociais e subjetivos, sendo a interação social indispensável para melhoria desses fatores, promovendo melhor expectativa de vida para o idoso.
Tivemos como objetivo observar a importância da interação social no desenvolvimento biopsicossocial do idoso, com o avanço da idade muitas transformações orgânicas, sociais e psicológicas ocorrem, sendo importante que os idosos tenham papel ativo diante do processo de envelhecimento, visando fortalecer as relações interpessoais, em que, muitas vezes, o idoso acaba tendo menor participação ativa na sociedade.
Pudemos verificar que a participação no grupo possibilita aos integrantes obterem mudança na forma de encarar o processo do envelhecimento, visando com esta participação que os idosos resinifiquem as suas histórias, atribuindo novos significados e enxergando o futuro com maior esperança.
Portanto, esta participação ativa deixa um saldo positivo, desenvolve o bem-estar físico, psicológico, emocional e social, auxilia na manutenção da autonomia e no relacionamento interpessoal, fatores importantes na redução dos riscos de várias doenças físicas e psíquicas, resultando no envelhecimento ideal.
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