Impactos do manejo inadequado no bem-estar e saúde do gado zebuíno: uma revisão bibliográfica narrativa das práticas e suas consequências
Maria Kathllen Oliveira Morais e Sousa[1]
Orientador: Dr. Saulo Gonçalves Pereira [2]
Orientadora: Dra. Sandra Regina A. Cardoso[3]
RESUMO
O artigo aborda o impacto do manejo inadequado em gado de corte sobre o bem-estar animal, destacando a relação entre estresse, saúde e qualidade da carne. O objetivo da pesquisa é avaliar as características e consequências de práticas de manejo em rebanhos, especialmente aqueles com alto temperamento, e como essas práticas influenciam o desempenho dos animais. A metodologia utilizada foi uma revisão narrativa da literatura, com análise de artigos científicos, dissertações e protocolos clínicos publicados entre 2010 e 2024, focando em temas como estresse bovino e qualidade da carcaça. As conclusões indicam que o manejo inadequado resulta em estresse, perda de peso e deterioração da qualidade da carne, evidenciando a necessidade de práticas mais éticas e sustentáveis. A pesquisa ressalta que a melhoria das condições de manejo não apenas beneficia o bem-estar dos animais, mas também traz vantagens econômicas para os produtores, promovendo uma pecuária mais responsável e produtiva.
Palavras chave: Zebuínos. Manejo. Estresse. Bem-estar.
ABSTRACT
The article addresses the impact of inadequate management on the welfare of beef cattle, highlighting the relationship between stress, health, and meat quality. The aim of the research is to evaluate the characteristics and consequences of management practices in herds, especially those with high temperament, and how these practices influence the performance of the animals. The methodology used was a narrative literature review, analyzing scientific articles, dissertations, and clinical protocols published between 2010 and 2024, focusing on topics such as bovine stress and carcass quality. The conclusions indicate that inadequate management results in stress, weight loss, and deterioration of meat quality, highlighting the need for more ethical and sustainable practices. The research emphasizes that improving management conditions not only benefits the welfare of the animals but also brings economic advantages to producers, promoting a more responsible and productive livestock industry
Keywords: Zebu. Management. Stress. Welfare.
Introdução
O gado zebuíno, com ênfase na raça Nelore, começou a se desenvolver no Brasil entre os séculos XVIII e XIX, com a chegada dos primeiros animais em 1968. Atualmente, o Brasil possui cerca de 238 milhões de bovinos, dos quais 80% são destinados à produção de carne. Esses animais são reconhecidos por sua rusticidade, além de outras características que os tornam mais reativos, resultando em custos adicionais para os pecuaristas. A reatividade dos bovinos impacta o manejo, exigindo mais tempo, mão de obra e reduzindo a vida útil das instalações, além de aumentar os riscos de contusões, acidentes e perda da carcaça. Ademais, o estresse, medido pelo aumento dos níveis de cortisol, tende a afetar negativamente o crescimento e a qualidade do produto (ACNB, 2006; ABIEC, 2023).
O bem-estar animal é importante para garantir a qualidade de vida dos bovinos, englobando suas condições físicas e psicológicas em ambientes de manejo. Práticas adequadas de manejo, alimentação e interação com tratadores são essenciais para evitar estresse, dor e doenças, permitindo que os animais expressem comportamentos naturais. Além de melhorar a saúde e a qualidade de vida dos bovinos, o bem-estar animal também traz benefícios econômicos para os produtores, pois animais saudáveis apresentam melhor desempenho produtivo e qualidade de carne. Assim, investir em práticas que assegurem o bem-estar animal é uma responsabilidade ética e uma estratégia inteligente para a sustentabilidade da pecuária (Oliveira, 2019).
As consequências do manejo inadequado em gado de corte são significativas e podem impactar tanto a saúde dos animais quanto a produtividade da pecuária. O estresse, resultante de práticas inadequadas, pode levar a uma série de problemas, incluindo a perda de peso e a deterioração da qualidade da carne. Animais submetidos a altos níveis de estresse frequentemente apresentam uma redução no ganho de peso, o que compromete a eficiência produtiva e a rentabilidade do rebanho. Além disso, o estresse pode afetar negativamente a qualidade da carne, resultando em características indesejáveis, como a carne seca e dura. Segundo Da Costa e Ceballos (2021), a avaliação das práticas de manejo é fundamental para evitar prejuízos econômicos e garantir uma vida de qualidade para os animais. Ademais, Leite (2020) destaca que a compreensão do estresse é importante para entender o bem-estar animal, evidenciando a necessidade de intervenções que promovam um manejo mais adequado e respeitoso.
A realização desta pesquisa é fundamental tanto no âmbito acadêmico quanto na saúde animal, pois o manejo inadequado em gado de corte representa um desafio significativo para a produção pecuária e o bem-estar dos animais. Academicamente, a investigação dos fatores que influenciam o manejo e suas consequências contribui para a formação de profissionais capacitados e para a construção de um conhecimento mais robusto na área. Na saúde animal, práticas inadequadas podem resultar em estresse, doenças e até morte dos animais, impactando a produtividade e a rentabilidade dos rebanhos. Identificar essas práticas é importante para implementar intervenções que melhorem as condições de vida dos bovinos e, ao mesmo tempo, proporcionem benefícios econômicos aos produtores. Assim, a pesquisa justifica-se pela necessidade de promover um entendimento mais profundo sobre a relação entre manejo, bem-estar animal e saúde, visando uma pecuária mais ética, sustentável e produtiva.
Os objetivos da pesquisa visam, de forma geral, avaliar os fatores e consequências que induzem um manejo inadequado em gado de corte, com ênfase no impacto sobre o bem-estar animal. Para isso, busca-se identificar as práticas de manejo consideradas inadequadas que podem comprometer o bem-estar dos animais, analisar as consequências econômicas e produtivas decorrentes desse manejo inadequado em rebanhos de gado zebuíno, e investigar a relação entre o manejo sanitário, as condições de currais e o temperamento dos animais no contexto do bem-estar.
Metodologia
Este estudo foi realizado por meio de uma revisão narrativa da literatura. A pesquisa bibliográfica foi conduzida nas bases de dados CAPES, SciELO, Google Acadêmico e em periódicos acadêmicos especializados em medicina veterinária e bem-estar animal. Foram utilizados os seguintes descritores e transferências de palavras-chave: bem-estar animal, estresse bovino, qualidade da carcaça e manejo zebuíno.
O período de pesquisa abrange publicações entre 2010 e 2024, priorizando artigos em língua portuguesa. Foram incluídos no estudo artigos científicos, revisões de literatura, dissertações, teses e protocolos clínicos publicados nos últimos 10 anos, preferencialmente, com ênfase em materiais que abordam diretamente o tema em questão.
Gado zebuíno: caracterização geral
O Zebuíno começou a se desenvolver no Brasil entre os séculos XVIII e XIX, destacando-se a raça Nelore. Essa raça teve sua primeira aparição em 1968, quando um navio ancorou em Salvador trazendo um casal de animais da raça a bordo (ACNB, 2006). Atualmente, estima-se que haja cerca de 238,4 milhões de animais, sendo 80% gado de corte. conforme dados do IBGE (2023),
Tendo em vista sua a rusticidade como principal particularidade, estes animais zebuínos e suas cruzas têm sido caracterizados como mais reativos, o que pode resultar em custos mais altos para o sistema pecuário (Araújo, 2023). É importante destacar que o seu temperamento positivo e negativo quando se trata do seu comportamento, pois os seres humanos sempre se sentiram atraídos por animais mais calmos, por serem melhor de manejar, assim selecionando esses indivíduos com características mais fáceis de lidar (Oliveira 2019).
Ao lidar com animais mais ativos a necessidade de funcionários é maior e consequentemente um maior tempo de manejo, pois podem ampliar o número de eventualidades envolvendo animais e pessoas ali presentes, além de comprometer a vida útil dos equipamentos e instalações dos currais, assim desenvolvendo queda na carcaça de possíveis contusões (Araújo, 2023).
Animais mais reativos tendem a ganhar diariamente de 10 a 14% menos peso diário, quando igualados com animais mais calmos (Silveira, Fischer, Wiegand, 2008). Diante dessas características cita-se ainda o cortisol, que é o essencial marcador biológico do estresse, conhecido como o hormônio do estresse, desta maneira pode estar impactando no desempenho do animal de diversas maneiras. (Ujita 2022).
A princípio animais em altos níveis de estresse tendem a apresentar um desempenho inferior a outros animais quando comparados com o consumo de alimentos, disposição e menor crescimento quanto a absorção de gordura, e consequentemente um crescimento insignificante (Ujita 2022). Destacando também perda e qualidade da carcaça e dificuldade de prenhes e escore corporal.
Desta forma, pode-se evidenciar a importância e a relevância de interação entre o ser humano e bovinos, através de um manejo mais apropriado onde possa estar refletindo de maneira que contribua para as condições de bem-estar. (Oliveira, 2019).
As boas práticas segundo a ´´Farm Animal Welfare Council`` são é referência mundial e cita as 5 liberdades para ter um rebanho desejado sendo elas livrem de fome e sede, livre de dor e doenças, livre de desconforto, livre de medo e estresse, livre para expressar o seu comportamento natural. Assim auxiliando para boas práticas e sustentabilidade na produção pecuária (Autran, Alencar, Viana, 2017).
Ujita (2022) ressalta que para melhorar o conforto dos animais o ambiente em que vivem deve ser o mais adequado possível. O mesmo autor ressalta que bovinos que tendem a ter um menor contato com o manejo tendem a estar demonstrando um maior nível de estresse, e mudança no seu comportamento e ações fisiológicas, e quando se trata do ambiente ali presente e o tratador.
A busca pela redução do estresse em bovinos, especialmente em raças de corte, é fundamental. Muitos produtores têm alternativas procuradas para promover o bem-estar dos animais, confirmando que práticas de manejo adequadas não apenas melhoram a saúde e a qualidade de vida dos bovinos, mas também refletem positivamente na qualidade da carne e na eficiência da produção (Silveira, Fischer, Wiegand, 2008).
Bovinocultura no Brasil: caracterização geral
Segundo o (IBGE 2023a) O Brasil tem uma média de 238 mil de bovinos. Destaca também como líder de exportações bovina, tendo em vista que em 2017 o país exportou cerca de 1,4 de toneladas de carne bovina e 248 mil bovinos vivos (CNA, 2017).
Atualmente, um dos principais produtos de exportação destes setores é a carne bovina. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes Brasil/ABIEC (2023), o Brasil detém o segundo maior rebanho de bovinos do mundo, com aproximadamente 202,78 milhões de cabeças, e é reconhecido mundialmente por seu constante crescimento, tanto na produção, quanto na produtividade dentro da porteira. Dada a produção, com cerca de 25% de excedentes, o Brasil liderou como maior exportador de carne bovina do mundo, detendo 27,7% das exportações mundiais no ano de 2022, seguido por um faturamento histórico, na ordem de USD 12,97 bilhões, tornando-se oficialmente a produção que mais cresceu nos últimos 10 anos (ABIEC, 2023, p. 02).
Entre os demais estados brasileiros, Minas Gerais tem se destacado, abrigando um total de 22.498.415 cabeças de gado (IBGE 2018). Embora os dados do IBGE (2018a) apontem um desaceleramento no rebanho e uma redução na área utilizada.
A diminuição do rebanho e da área dedicada à produção visa otimizar o retorno sobre o investimento, aumentar a eficiência no uso da terra e melhorar a taxa de lotação. Esse é um aspecto importante diante da crescente competição por espaço entre a pecuária e outras culturas (Oliveira, 2017). De tal forma, esse movimento busca a direção de equilíbrio, que tende a expandir a produtividade por áreas e ter a execução por estar produzindo carnes com uma melhor qualidade quando se trata do bem-estar animal e o crescimento sustentável ambiental em que vive assim também tendo aumento contínuo de novas tecnologias que possam estar possibilitando o uso mais eficiente da terra (ABIEC, 2018).
As tecnologias de confinamento de animais se referem a um sistema que acomoda lotes de bovinos em áreas menores e mais controladas, onde eles recebem alimentação de alta qualidade e água limpa nos cochos. Este modelo de confinamento começou a ganhar destaque nos anos 1980, com o objetivo de garantir uma alimentação adequada para os rebanhos, principalmente durante períodos de seca, em que a disponibilidade de recursos naturais tende a ser limitada. Com isso, o confinamento foi consolidado na produção de gado de corte, pois oferece um retorno financeiro específico ao investimento no ganho de peso dos animais de forma mais rápida e eficiente, resultando em maior produtividade e lucratividade para o produtor. (Oliveira, 2017).
- Bem-estar animal: caracterização geral
Quando se fala em bem-estar animal, observa-se que é um tema amplamente discutido atualmente, principalmente na bovinocultura de corte, onde tem um grande fator de genética, e alimentação que são fatores fundamentais para alcançar o produto dos animais (Moreira, Caetano, 2023).
Tendo em vista que o maior interesse dos consumidores no produto e a segurança deste alimento suas procedências até os últimos processo, em que é possível observar também que buscam informações sobre a prática de criação desses animais e o acompanhamento até o abate. (Amaral, 2022)
Considerando o crescente interesse dos consumidores pela procedência e segurança dos alimentos, observa-se uma demanda por informações sobre as práticas de criação dos animais e o acompanhamento até o abate (Amaral, 2022).
Ademais, ao abordar o impacto do estresse no bem-estar animal, verifica-se uma queda significativa na produção de carne. A avaliação das práticas de manejo nas propriedades é fundamental para assegurar uma vida de qualidade para os animais e evitar prejuízos econômicos. A compreensão do estresse é importante para entender o bem-estar animal, que pode ser desencadeado por diversos fatores ambientais e de produção, incluindo a privação de recursos essenciais e procedimentos estressantes, como transporte e desmame (Da Costa; Ceballos, 2021).
Para mitigar o estresse e aprimorar a produtividade, é evidente a necessidade de implementar um manejo racional. Isso inclui investir em ações que respeitem o bem-estar dos animais, como capacitar os trabalhadores para um manejo mais eficiente, planejar as atividades nos currais para reduzir o tempo de estresse, e garantir a oferta adequada de alimentação, sombra e água, além de boas condições sanitárias e nutricionais. A tendência global indica uma preocupação crescente com o bem-estar animal e a sustentabilidade na produção de alimentos, o que demanda a adoção de práticas mais éticas e sustentáveis na criação, transporte e abate dos animais (De Assunção, 2023).
Instalações na pecuária
Destaca-se, de maneira geral, que as instalações no meio rural devem atender a quatro principais critérios básicos: funcionalidade, que favorece o trabalho dos operadores; economia, evitando a necessidade de equipamentos excessivamente luxuosos, mas que satisfaçam as demandas diárias do manejo dos animais; durabilidade, com a utilização de materiais de qualidade; e sustentabilidade, assegurando que as instalações não prejudiquem nem as pessoas que nelas trabalham, nem os animais que serão manejados (Gonzaga et al., 2011).
Nesse contexto, Quintiliano e Costa (2006) enfatizam que instalações adequadas e bem conservadas são essenciais para garantir o bem-estar dos bovinos em confinamento, recomendando a adoção de formatos circulares ou em "U". Além disso, é sugerido que a área destinada a currais ou piquetes deve variar entre 15 a 20 m² por cabeça (Embrapa, 2011).
Figura 1 – Modelo de instalações adequadas
Fonte: Embrapa (2021)
Como recomendações, sugerimos evitar a construção de currais muito grandes. Os animais devem ficar no curral apenas o tempo necessário para o manejo. Enquanto aguardam, é melhor mantê-los em piquetes próximos ao curral, com acesso a água, alimento e sombra. A sombra pode ser natural, vinda de árvores, ou artificial, como telas de sombreamento (Quitiliano, Costa, 2006). Animais em ambientes mais arejados tendem a ter um ganho de peso maior.
Figura 2 – Gráfico explicativo sobre a importância do sombreamento
Fonte: (Quintiliano, Costa 2007)
De acordo com o gráfico de Quintiliano e Costa (2007) no período inicial (Dia 1 a 42), foi observado que os animais mantidos sob sombra apresentaram um ganho médio diário (GMD) superior, cerca de 1,35 kg por cabeça por dia, em comparação aos animais expostos ao sol, que registraram aproximadamente 1,1 kg por cabeça por dia. Esse resultado sugere que a presença de sombra contribuiu para um melhor desempenho no ganho de peso diário, possivelmente devido à redução do estresse térmico, um fator importante para a saúde e produtividade dos bovinos de corte.
No segundo período (Dia 43 ao 82), o GMD dos grupos se aproximou, com ambos apresentando valores em torno de 0,9 kg por cabeça por dia. Essa redução e semelhança entre os grupos podem ser atribuídas às adaptações dos animais ao ambiente ou a outros fatores, como mudanças climáticas ou alimentares, que impactaram o desempenho de ambos.
De maneira geral, observa-se que os animais sob sombra mantiveram uma leve vantagem no GMD em relação aos que estavam expostos ao sol, evidenciando que a oferta de sombra completa pode ser uma estratégia benéfica para melhorar o ganho de peso, especialmente em ambientes mais quentes. Isso reforça a importância de práticas de bem-estar animal, como a disponibilização de sombra, na maximização da produtividade e do desempenho dos bovinos.
Portanto, quando se trata de instalações, sombreamento que são peças necessárias, do curral, não podemos deixar de citar os reservatórios de água que são de grande importância antes do embarque. (Embrapa, 2011) cita que reservatórios de água devem ser posicionados em locais estratégicos e ter capacidade suficiente para abastecer os bebedouros por pelo menos três dias, caso ocorra falta de água ou seja necessário fazer reparos na rede.
Apesar de suas rusticidades, os zebuínos são considerados como animais mais reativos, podendo estar gerando despesas maiores para o produtor, pois sempre existe necessidade de uma equipe maior de ajudantes e consequentemente maior tempo de manejo, e assim gerando acidentes entre pessoas e animais, redução da vida útil de instalações o principal que é as contusões em carcaças (Silveira; Boligon 2022).
Transporte na pecuária
O transporte de animais é um fator crítico que pode resultar em perdas significativas na qualidade da carne e na saúde dos animais, gerando, assim, consideráveis prejuízos econômicos. Desde o início do manejo, seja por meio de práticas violentas ou de manuseio inadequado até o curral ou piquetes, é fundamental reconhecer que o transporte pode ocasionar lesões de diferentes graus, mortalidade e alterações nas características da carne (De Almeida et al., 2024).
O manejo pré-abate, que inclui o transporte, compromete o bem-estar animal, manifestando-se em fraturas, contusões, estresse térmico, permanência prolongada em posição deitada e exaustão metabólica. Esses fatores podem ocorrer em decorrência de um transporte inadequado. Assim, o período que antecede a morte do animal pode ter um impacto significativo na qualidade da carcaça, resultando, por conseguinte, em carne com características indesejáveis, como a carne escura, firme e seca (DFD) (De Deus; Batista; Soares, 1999).
Por fim, é importante ressaltar que as etapas mais críticas do manejo pré-abate são o embarque e o desembarque dos animais. Essas fases são particularmente estressantes, o que pode levar a prejuízos significativos. Muitas vezes, esses danos são decorrentes de ações humanas, como o contato direto ou indireto com porteiras, cercas, entre outros, que desrespeitam o comportamento social dos animais e aumentam os níveis de agressão entre eles e os humanos. Isso se inicia desde a formação de novos lotes até o final do ciclo produtivo, resultando em sérios prejuízos que podem afetar diversas áreas da produção (Costa, 2003).
Bem-estar em relação a qualidade da carcaça
O estresse, resultante do manejo, transporte e outros agentes estressores, é uma realidade comum no sistema de produção de bovinos de corte. Esse estresse pode ter impactos econômicos significativos na qualidade do produto, além de comprometer o bem-estar animal inserido nesse sistema. Situações que geram desconforto podem levar a alterações morfológicas, fisiológicas e comportamentais nos animais (Mobiglia, Camilo, Fernandes, 2014).
O estresse foi inicialmente definido como uma condição do organismo que, ao ser exposto a agentes estressores, responde com uma série de comportamentos adaptativos. Esses agentes podem incluir fatores externos, como condições ambientais adversas (frio, calor), necessidades básicas (fome, sede), e outros estressores como dor, isolamento, barulho excessivo e doenças (Leite, 2020).
Esse estresse pode afetar tanto a textura quanto a maciez da carne. Animais submetidos a altos níveis de estresse antes do abate tendem a produzir carne mais escura, com menor retenção de água e um pH elevado, resultando em carne seca, escura e dura, conhecida como DFN (Dry, Firm, Dark). Essa carne não apenas apresenta uma consistência indesejável, mas também possui uma vida útil mais longa nas prateleiras (Santos, 2023).
Ademais, Silva (2017) destaca que a qualidade final da carne bovina é influenciada por todos os procedimentos aos quais os animais são submetidos ao longo da cadeia produtiva. Isso implica que os fatores de produção impactam diretamente os bovinos, resultando em carne de qualidade inferior em comparação com a de concorrentes. Entre as alterações observáveis na produção, estão os defeitos tecnológicos, que podem surgir devido ao estresse crônico ou agudo enfrentado pelos animais, seja no período pré-abate, enquanto ainda estão na propriedade, ou durante o transporte.
Manejo adequado
Quando se discute o manejo correto e inadequado, é fundamental destacar os benefícios e as perdas econômicas que um gado zebuíno mal manuseado pode trazer ao produtor. Nesse contexto, Garcia e Saquetto (2024) explicam que a utilidade de avaliar o desempenho dos animais permite classificar as práticas de manejo aplicadas no rebanho. Essa abordagem ajuda na identificação de possíveis divergências em relação aos padrões definidos e orienta os responsáveis a adotarem medidas adequadas.
De Almeida et al. (2024) mencionam que alguns estudos indicam que os animais possuem estados emocionais que podem refletir a percepção de ausências ou emoções positivas e negativas dos tratadores. Em decorrência disso, os produtores estão buscando maneiras mais adequadas de lidar com o manejo, como evitar o uso de bastões de choque e gritos, o que pode gerar benefícios futuros com os bovinos, especialmente na prevenção do estresse. Além disso, quando se trata de manejo adequado, o custo operacional favorável no setor da pecuária deve considerar o valor agregado com custos de animais mais fáceis de lidar, em relação à alimentação, bem-estar, mão de obra, reprodução e onerosidade (Cruz e Guzatti, 2019).
Consequências
Após a análise das partes teóricas citadas, observa-se, de acordo com os autores mencionados (Leite, 2020; Santos, 2023; De Almeida et al., 2024), e através de conversas informais sobre os prejuízos de um manejo inadequado, que a qualidade da carcaça vai além do bem-estar animal e do acompanhamento de todo o manejo, desde o gado no pasto até a chegada do produto final à mesa do consumidor. Assim, nota-se prejuízos na carcaça, conforme evidenciado nas fotos apresentadas a seguir.
Figura 3 – Bovino com indícios de stress antes do abate
Fonte: Arquivo pessoal (2024)
Figura 4 – Carcaças com prejuízos causados pelo estresse do manejo adequado
Fonte: Arquivo pessoal (2024)
Considerações finais
Em conclusão, práticas inadequadas de manejo em gado zebuíno, especialmente na raça Nelore, impactam significativamente o bem-estar animal, resultando em aumento do estresse, perda de peso e redução da qualidade da carne. Esta pesquisa ressalta a importância da adoção de estratégias de manejo éticas e sustentáveis que melhorem o bem-estar dos zebuínos e proporcionem benefícios econômicos aos produtores. Ao priorizar melhores condições de manejo, a pecuária de zebuínos pode alcançar uma abordagem mais responsável e produtiva, beneficiando tanto os animais quanto os agricultores.
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[1] Graduada em Medicina Veterinária pela Faculdade Patos de Minas. e-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
[2] Professor, Pedagogo e Biólogo, Doutor em Saúde Animal, coorientador da pesquisa. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
[3] Médica Veterinária, Professora, orientadora da pesquisa. Doutora em Imunologia. E-mail: sandra.cardosoO endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.