Educação Inclusiva: desafio do autismo nos anos iniciais
Antonio Carlos Lima Oliveira
Fabiana Cristina Nobre de Oliveira
Flávia Michelle Ferreira Oliveira
Karen Joana Gomes Silva Rodrigues
RESUMO
Este trabalho foi produzido por meio da metodologia de revisão bibliográfica, tendo por objetivo geral discutir sobre a inclusão de crianças autistas nos anos iniciais e relatar as dificuldades dos professores para atender os alunos com esse transtorno. Como objetivos específicos temos os seguintes: refletir o papel do professor e suas dificuldades na inclusão de aluno autista e descrever a importância da família nesse processo.
Palavras-chave: Autismo. Inclusão. Família. Formação Continuada.
Introdução
O presente trabalho teve por objetivo geral discutir sobre a inclusão de crianças autistas nos anos iniciais e relatar as dificuldades dos professores para atender os alunos com esse transtorno.
Como objetivos específicos temos os seguintes: refletir o papel do professor e suas dificuldades na inclusão de aluno autista e descrever a importância da família nesse processo.
A escolha pelo tema se teve ao fato de aprofundamento em educação especial, em especifico o Transtorno do Espectro Autista (TEA), e compreender como vem ocorrendo a inclusão deste grupo nas escolas. Nossas reflexões levaram-nos as seguintes perguntas: Quais os desafios dos profissionais de educação para inclusão de crianças com transtornos autista nos anos iniciais?
Partimos da hipótese de que o professor enfrenta diversas dificuldades para incluir o aluno com o transtorno na escola e que essas dificuldades estão relacionadas com a formação inicial que não promove ao profissional de educação um conhecimento adequado sobre o transtorno. Da mesma maneira que pensamos, que quando o professor tem a informação adequada sobre o assunto, consequentemente, encontra mais possibilidade de realizar a inclusão do aluno com o autismo. Pois promove de forma adequada a socialização, interação e aprendizagem.
A partir disto, tornou-se evidente a precisão desta pesquisa que se justifica pela necessidade de ainda serem poucas as pesquisas deste tema, por isso a escolha do mesmo e também por ter casos na minha família. Percebi a dificuldade para o diagnóstico e também dos professores quando se deparam com essa situação em sala de aula e não sabem como agir, por isso a necessidade de pesquisar os desafios dos docentes na tentativa de inclusão dos autistas, e entender também o papel da família nesse processo de inclusão.
O professor precisa conhecer e compreender a deficiência para então se preparar para conduzir e ensinar seu aluno autista, que requer uma atenção, mas jamais uma distinção por sua necessidade educacional. O objetivo desse artigo é que ele seja um norte para que profissionais da educação busquem novos métodos seguros para incluir esse aluno na aprendizagem.
De modo que possa promover sua melhor aprendizagem e encaminhando-a aos profissionais competentes. Esses darão prosseguimento ao diagnostico desta criança e envolvendo também a família da mesma, para que estes possam entender e compreender da melhor forma possível as dificuldades dessa criança
A família é a parte mais importante a ser trabalhada, pois ninguém faz curso para ser pai e ter um filho com qualquer tipo de transtorno faz com que ao decorrer do caminho se tome inúmeras decisões e a maioria delas sem ter o mínimo de conhecimento e preparo. Ajudar esses pais não é uma tarefa fácil, mas a intenção de dar um passo para que eles não tenham receio de pedir ajuda sempre que necessário. É ajudá-los a encarar o autismo de forma realista e positiva.
A escola também tem um papel na investigação do diagnóstico, tendo em vista que é um dos primeiros lugares de interação social da criança separada de seus pais. É o lugar onde a criança vai ter a maior dificuldade em se adaptar as regras sociais, o que é muito difícil para um autista. Por isso que muito dos diagnósticos dos autistas só acontecem quando a criança vai para a escola.
Esse trabalho tem como base uma pesquisa bibliográfica qualitativa, através de leitura e releituras de diversos artigos, com a finalidade de auxiliar o docente na inclusão e no ensino/aprendizagem do aluno autista.
O primeiro momento relata os conceitos históricos, os sintomas e o diagnóstico de crianças com TEA, além disto o papel da família e os aspectos legais em relação a inclusão das crianças com TEA na rede regular de ensino.
O segundo momento evidencia o papel da formação do professor quanto a inclusão e as dificuldades enfrentadas por ele para integrar os alunos com TEA. Para isso, descreve a formação formal e continuada. São estes dados que nos ajudaram a chegar nas considerações finais que apresentamos no final do estudo.
Esperamos com esta pesquisa contribuir para esclarecer aos profissionais de educação e formandos como deve ser pensada a inclusão das crianças com o autismo, considerando a formação formal e continuada como o maior suporte para uma verdadeira escola inclusiva. Da mesma forma esperamos ajudar os familiares que tem de alguma forma dúvidas e medos em relação a como lhe dar com as crianças autistas.
DEFINIÇÕES DE AUTISMO
Autismo deriva do grego: autos, que significa em si mesmo. A palavra autismo foi usada pela primeira vez em 1911, pelo psiquiatra Eugen Bleuler, que descreveu uma das características da esquizofrenia, referindo ao isolamento social dos indivíduos. Em 1943, o psiquiatra infantil Leo Kanner, publicou a obra Distúrbios Autisticos do Contato Afetivo, que descreveu casos de 11 crianças que tinham em comum “um isolamento extremo desde o início da vida e um desejo obsessivo pela preservação da mesmice”. Denominando-a de autistas e usou o termo “autismo infantil precoce”, pois os sintomas já apareciam da infância. O mesmo médico criou o conceito de “mãe geladeira”, ao descrever o comportamento observado por ele, onde o afeto das mães era frio, mecanizado e obsessivo. Anos depois ele veio a público se retratar por essa declaração.
Em Viena, no ano de 1944, o psiquiatra Hans Asperge escreveu o artigo A Psicopatia Autista na Infância, onde observou mais de 400 crianças e descreveu um transtorno da personalidade, que incluía falta de empatia, pouca capacidade de fazer amizade, além de hiperfoco em determinados assuntos. Em especial destacou a dificuldade da coordenação motora. Essas observações foram denominadas anos depois como Síndrome de Asperge.
Nos meados de 1960, a psiquiatra Lorna Wing, cuja filha era portadora de autismo, começou a publicar textos sobre o assunto. Sendo a primeira a descrever os sintomas. Porém só na década de 80, que os estudos ganharam bases sólidas, onde se obteve maior cuidado com o diagnóstico e maiores critérios para se inferir sobre o tema evidenciados. Há uma distinção entre a esquizofrenia e o quadro autístico, sendo este tratado como um distúrbio do desenvolvimento (SILVA et al, 2012).
No Brasil, o Dia Mundial de Conscientização do Autismo vem conseguindo mais aderentes. Em 2010, pela primeira vez a data foi lembrada no dia 2 de abril com iluminações em azul (cor definida pelo autismo) de vários monumentos importantes, entre eles o Cristo Redentor; a Ponte Estaiada e o Viaduto chá, em São Paulo.
A primeira organização brasileira foi a Associação de Amigos Autistas (AMA), em São Paulo, oficialmente fundada em 8 de agosto de 1983, por um grupo de pais, a maioria com filhos com autismo. Esses pais tinham como objetivos acolher, informar e capacitar famílias, com o papel social. Em novembro de 1984 teve o “I Encontro de Amigos do Autistas”, promovido pela AMA. Este encontro reuniu médicos e outros profissionais do país que estudavam o autismo na época e algumas instituições que atendiam crianças com o transtorno. A partir desse grande exemplo dos pais da AMA, hoje no Brasil há várias outras instituições preocupadas com a inclusão dos TEA na sociedade, com destaque para a Associação Brasileira de Autismo (ABRA) que tem como lema “a União Faz a Força”. (SILVA et al, 2012, p. 115).
Causas
Até hoje não se sabe com precisão as causas do autismo. Para alguns estudiosos os fatores podem ser predominantes de anomalia. Santos (2008) destaca alguns deles: rubéola materna, encefalite, meningite, fenilcetonúria não tratada, tuberosclerose, exposição química, desbalanceamento químico durante o desenvolvimento da criança e predisposição genética.
Para Silva et al (2012) está entre os fatores que podem deflagrar os transtornos: o uso de medicamentos na gravidez, intoxicações alimentares, bebidas alcoólicas, e o uso de substâncias abortivas. No entanto até agora esses fatores não em comprovação cientificam; porém a genética ainda é a causa mais provável do autismo.
Porém já houve estudo com gestantes de riscos no qual nasceu crianças sadias e grupo de gestante saudáveis onde nasceu crianças autistas.
De acordo com Silva:
Não há como negar a influência biológica, mas ainda engatinhamos lentamente na identificação das reais causas dessas alterações. Consideramos que o desenvolvimento do feto até o nascimento depende de um conjunto de fatores que, milagrosamente, darão origem à vida, ou, para os céticos, diríamos que se trata de um conjunto de probabilidades, no qual várias etapas estão implicadas para que o desenvolvimento ocorra de maneira correta. (SILVA et al, 2012, p. 115)
Isso nos faz pensar que a cada etapa do desenvolvimento de um feto é importante, de maneira que qualquer alteração, por menor que seja, poderá causar dificuldades nas demais etapas. Causando sintomas variáveis, que vai desde dificuldades leves á grandes comportamentos disfuncionais.
Característica do autismo
São diversas características comportamentais que podem ser apresentadas por uns autistas, entre elas estão: distúrbio do relacionamento, da fala e linguagem, distúrbio no ritmo de desenvolvimento, da motilidade e da percepção. Vejamos cada um detalhadamente:
Distúrbio do relacionamento: Falta de desenvolvimento social e de contato visual, ausência de sorrisos, desinteresse em participar de jogos e brincadeiras, preferência por se manter só.
Distúrbio da fala e linguagem: caracterizado por atraso, com fixação e paradas ou total mutismo. A ecolalia é comum, estando associada ao uso indevido ou reverso do pronome pessoal. A fala comunicativa quando se desenvolve, não tem tonalidade definida, é arrítmica, sem inflexão e inapto de comunicar apropriadamente as emoções.
Distúrbio no ritmo de desenvolvimento: O mais comum é a descontinuidade na sequência normal do desenvolvimento.
Distúrbio da percepção: caracteriza-se por falhas na modulação de estímulos, com deformidade na hierarquia normal, nas preferencias dos receptores e a incapacidade de usar estímulos sensoriais para descrever o que é importante ou não. Assim certos estímulos o atemorizam, como o som alto, o corte de um papel, estalar os dedos. Por outro lado, os sons que seriam desagradáveis para crianças “normais”, como arranhar de unha em um quadro negro ou em uma lixa, são procurados com insistência. (Santos, 2008, p 18 e 19)
Segundo SCHWARSTZMAN, J.S. e ajudadores (1995) o fato das crianças esfregarem a mão e a língua na parede ou irem de encontro a uma porta e parede, relaciona-se aos distúrbios de percepção.
Estudos de Goodman & Scott (1997) apontam que um terço dos autistas com retardo mental sofre de crises convulsivas, que começam a se manifestar dos 11 aos 14 anos. A hiperatividade é frequente, mas corre o risco de desaparecer na adolescência e ser substituída pela inercia. O autista também pode desenvolver medos intensos e fobias.
De forma resumida há alguns fatores que podem ser observados para o diagnóstico do autismo, como: Durante a fase do aleitamento o bebe não querer sugar ou até mesmo rejeitar a mama; não ter o contato olho á olho na hora do mamar; alterações no sono, pode dormir menos ou demais; dificuldades na hora de brincar; podem apresentar movimentos repetitivos desde muito cedo, como balançar as mãos, cabeças ou girar objetos; não responder chamados, como se tivesse problemas auditivos; não apresentar movimentos antecipatórios, como levantar os braços quando vai ser carregado no colo; quando começar a andar pode fazer na ponta do pé; podem ter crises de birra, ser agressivas ou se baterem e se morderem; ter interesse restrito e saberem tudo sobre um único tema, como mecânica, elétrica e dinossauros.
Ainda há outras características que o autismo apresenta, alguns não sente dor, como por exemplo cair e não chorar; podem comer demais ou menos, uns são mais agitados, enquanto outros já são mais tranquilos. A dificuldade da fala e coordenação motora ainda é os principais fatores para descobrir o autismo.
Para as crianças com autismo é de suma importância o diagnóstico precoce, por isso é fundamental a observação tanto do pediatra, quanto dos professores e pais desde o nascimento e a qualquer alteração notada, encaminhá-la a um especialista.
A legislação e o autisno
Se referindo a legislação e direitos, é necessário falar, mesmo que de maneira resumida algumas leis que fundamentam a inclusão educacional.
A Constituição Federal vem falar no seu Art. 205, a seguinte afirmação:
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988, Art.205).
A lei vem garantir que é direito de todos a educação. E um dos artigos que mais defende os alunos autista está no Art. 208, onde a lei afirma no inciso III que é dever do estado a garantia do “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”. (BRASIL, 1988).
Diante disso o Brasil entra em harmonia para defender o direito pela inclusão que defende a Declaração de Salamanca. Um documento elaborado em uma conferência mundial, em Salamanca, na Espanha, 1994, com o objetivo de criar diretrizes básicas para o sistema educacional de acordo com o movimento social. Esse documento proporcionou uma oportunidade única da educação especial dentro da estrutura “educação para todos” firmada em 1990.
De certa forma a Declaração de Salamanca foi um passo muito importante para inclusão educacional. Nesse caso, o Brasil se tornou gradativamente um parceiro nessa luta pela inclusão, um exemplo claro é a Lei de Diretrizes Básica (LDB, 1996), que visou:
Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação [...] O poder público deverá instituir cadastro nacional de alunos com altas habilidades ou superdotação matriculadas na educação básica e na educação superior, a fim de fomentar a execução de políticas públicas destinadas ao desenvolvimento pleno das potencialidades desse alunado. (LDB, 1996, Art.59)
No mesmo caminho vem a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, que tem como seus objetivo, a aprendizagem dos alunos com deficiência, superdotação nas escolas regulares e garantir a transversalidade da educação especial em todos os níveis. (BRASIL, 2008).
Como podemos ver, pouco a pouco as leis vão assumindo a preocupação com as pessoas com TEA. Mas somente em 2012 é sancionada uma leia pela presidente Dilma Rousseff, a Lei nº 12.764/2012, que foi batizada como “Lei Berenice”, pois foi uma homenagem a uma mãe, que desde que descobriu o diagnóstico do filho, lutou pelos direitos das pessoas com autismo. Essa lei deixa claro no Art. 1, que a pessoa com TEA é considerada pessoa com deficiência para todos os aspectos legais. (BRASIL, 2012).
O que nos chama atenção na Lei Berenice é que no seu Art. 3º, ela frisa:
I - a vida digna, a integridade física e moral, o livre desenvolvimento da personalidade, a segurança e o lazer; II - a proteção contra qualquer forma de abuso e exploração; III - o acesso a ações e serviços de saúde, com vistas à atenção integral às suas necessidades de saúde, incluindo: a) o diagnóstico precoce, ainda que não definitivo; b) o atendimento multiprofissional; c) a nutrição adequada e a terapia nutricional; d) os medicamentos; e) informações que auxiliem no diagnóstico e no tratamento; IV - o acesso: a) à educação e ao ensino profissionalizante; b) à moradia, inclusive à residência protegida; c) ao mercado de trabalho; d) à previdência social e à assistência social. Parágrafo único. Em casos de comprovada necessidade, a pessoa com transtorno do espectro autista incluída nas classes comuns de ensino regular, nos termos do inciso IV do art. 2º, terá direito a acompanhante especializado. (BRASIL, 2012)
A lei mais atual é a Lei 2.573/2019, batizada de “Lei Romeo Mion”, em homenagem ao filho de um famoso apresentador de televisão. A lei institui a Carteira de Identificação da Pessoa com Espectro Autista, a carteira é expedida gratuitamente pelos órgãos especializados, a garantia de um atendimento prioritário em órgãos públicos e privados. O projeto também obriga os cinemas a reserva uma sessão mensal para as pessoas com TEA, devendo o local de exibição ter os recursos de acessibilidade necessário. (BRASIL, 2019).
Diante deste resumo histórico, podemos observar que ainda há muito que se fazer para que a educação inclusiva seja realidade em nosso país, apesar de tantas leis ainda fica uma lacuna do que realmente deve ser feito. Podemos presenciar no nosso cotidiano o quanto era difícil para as mães de crianças autistas irem ao supermercado om seu filho, pois muitos não se sentem bem com multidão, e agora eles são prioridade.
Acreditamos que ainda há um longo caminho para se trilhar, pois encontra partida encontramos a escassez da formação dos profissionais de educação. Por isso, cabe ao professor buscar uma formação continuada, pois ele é o principal mediador para o avanço do ensino das crianças autistas.
A família da criança com autismo
O autismo é o causador de muitos distúrbios nas interações sociais. De acordo com Mirenda, Donnellan & Yoder (1983), tais distúrbios podem ser observados já no início da vida; o contato “olho a olho” já se presenta anormal antes do final do primeiro ano de vida. Um grande número de criança não demonstra postura antecipatória ao serem pegos pelo pai, podendo resistir ao toque ou afeto.
Isso mostra que não é uma tarefa muito difícil de identificar, porém a muitos pais que tem medo de descobrir que tem um filho diferente e não buscam o auxílio por receio do diagnóstico e muitas vezes quando buscam, os profissionais não estão capacitados para dar um diagnóstico preciso.
Na busca pelo diagnostico, a caminhada é longe e árdua. Cada profissional fala uma coisa e não é raro encontrar aqueles que digam que a culpa é da mãe, aumentando ainda mais, a indecisão, a dúvida e a insegurança. Quando finalmente o diagnóstico vem, a negação é a primeira reação dos pais: “Não, não pode ser, isto não é verdade! Não meu filho!” (Santos, 2008, p.26)
Diante dessa real situação vem a necessidade do preparo do educador para receber futuramente essa criança com necessidade especial e assim poder auxiliar de alguma forma os familiares. Pois, não é fácil ouvir que seu filho tem um transtorno, principalmente quando já se tem um filho sadio, para muitos pais essa não é uma tarefa fácil de aceitar.
Percebemos que alguns pais não conseguem aceitar o diagnóstico de seus filhos e fazem dispendiosas peregrinações ou verdadeiros "doctor shoppings", isto é, passam de médico em médico em busca de outras opiniões ou diagnósticos. Isso, além de acarretar um desgaste maior na família, traz um atraso considerável no tratamento efetivo da criança. (SILVA et al, 2012, p. 96)
Quando recebem o diagnóstico comprovando que seu filho tem o autismo, muitos não aceitam ou até mesmo desprezam a ideia por um longo período e outros tem a vida transformada radicalmente, e na maioria das vezes necessitam da ajuda de outros profissionais para encarar a situação e a realidade do seu filho. E muitas vezes os profissionais não estão preparados e até mesmo capacitados para instruir a família de forma segura. Em vista disso, a situação da família acaba piorando, pois sem a ajuda adequada, os pais não conseguem ver com olhares melhores para a nova jornada que os esperam.
Muitos pais relatam que quando receberam a notícia foi o momento mais traumático de suas vidas, pois não conseguiriam realizar o relacionamento de pais e filho. É preciso de um empo para entender que será preciso ir além do que se foi planejado, pois a criança com autismo precisa de pais amorosos e compreensivos, que o estimulem a buscar o melhor de si.
Silva et al (2012) dá algumas sugestões a serem seguidas por pais e familiares, especialmente sobre os cuidados, integração e rotina das crianças, entre ele está: zelo, paciência, persistência, fiscalização, disciplina e criatividade. Para a autora é necessário olhar para a criança autista pela perspectiva dela e só assim será capaz de ajudá-la. Além disso, é imprescindível a presença dos demais profissionais capacitados para ajudar esses pais, para desenvolver a criança para sua independência.
Para a família nem sempre é fácil compreender as reações momentâneas da criança, como por exemplo, estar brincando na sala e o filho de dois anos de idade falar, muito bem! Você fez um ótimo trabalho. É algo que não tem relação com a situação, mas ele simplesmente ouviu em um desenho e repetiu depois.
Para Silva:
Em algumas situações, as crianças pequenas com autismo podem ficar apáticas ao ver sua mãe chorar, pois ainda não aprenderam a interpretar isso como resultado de uma sensação ruim. Por outro lado, quando menos se espera, você pode receber um abraço amoroso, ou um objeto simples que pode significar muito para aquela pessoa. (SILVA et al, 2012, p. 115)
Cabe a família ensiná-los a conhecer e a entender os sentimentos e compreender o jeito que se expressam. Pois, eles não conseguem se comunicar efetivamente e as vezes se comunicam de forma inadequada e alternativa, como foi o caso do exemplo acima.
Sabendo que não seria fácil os desafios enfrentados pelos pais, Silva et al (2012), cita algumas dicas para os pais, no caso de birras ou teimosias, nem sempre é bom punir, mais conversar sobre as ações do filho. Dessa forma, as ações negativas não serão repetidas. Em contrapartida, as ações positivas devem ser comemoradas, estimuladas e destacadas, para que sejam repetidas pela criança.
Por isso é fundamental a presença da família para todas as etapas da criança com autismo, seja nas tarefas domésticas ou na escola, a família é fundamental para o desenvolvimento. Podemos até dizer que a família é a base para o crescimento e evolução da criança com o Transtorno de Espectro Autista
Desse modo, é importante que a família busque informações sobre o autismo, sobre a suas dificuldades e superações. Essas informações podem ser buscadas em escolas, grupos de apoio, e profissionais especializados, e também em relatos de pais que também tem o filho com autismo. O importante é se sentir seguro sobre o que fazer no cotidiano com o seu filho (a).
O estudante autista no contexto escolar
Devido à grande escassez de qualificação de profissionais para o atendimento a criança autista, a escola sofre para recepcionar estes alunos. O que traz limitações para o melhor atendimento da escola.
Santos declara que:
A escola recebe uma criança com dificuldade em se relacionar, seguir regras sociais e se adaptar ao novo ambiente. Esse comportamento é logo confundido com falta de educação e limite. E por falta de conhecimento, alguns profissionais da educação não sabem reconhecer e identificar as características de um autista, principalmente os de alto funcionamento, com grau baixo de comprometimento. Os profissionais da educação não são preparados para lidar com crianças autistas e a escassez de bibliografias apropriadas dificulta o acesso a informação na área. (Santos, 2008, p.9)
A escola tem um papel importante na investigação para o diagnóstico, devido a escola ser o primeiro lugar de interação social da criança longe de seus familiares. É o lugar onde a criança vai ter mais dificuldades em se adaptar as regras sociais, sabemos que é o mais difícil para uns autistas.
Para uma criança “normal” a entrada para escola gera medos e ao mesmo tempo expectativa para o novo. Já para as crianças com autismo essa tarefa se torna mais difícil, pois é um ambiente com novas interações, comunicação e comportamentos específicos, por ser um ambiente com regras. Porém o autismo tem suas especificidades, por isso o professor não pode generalizar.
Tendo em vista que há vários tipos de autismo, seus aspectos podem variar, e consequentemente o processo de aprendizagem ser diferente. Por isso há necessidade da adequação pedagógica para aluno. Santos (2008) destaca que, o autista de tipo asperge, por falarem perfeitamente bem, até sem erros, entre tanto eles tem dificuldade de usar a linguagem como meio de contato social. Os principais obstáculos são sua indisposição ao contato e o foco de interesse restrito.
O professor precisa ter conhecimentos adequados para readaptar a sala de aula para os alunos autistas aprenderem. Pois de acordo com Santos: “O nível de desenvolvimento da aprendizagem do autista geralmente é lento e gradativo, por tanto, caberá ao professor adequar o seu sistema de comunicação.” (Santos 2008, p. 30).
À medida que se conhece o autismo, percebe-se que alguns possuem um grau de hipersensibilidade e isso lhe causa grande sofrimento, o que para nós é algo normal, para eles poderá ser inaceitável, como falar em voz alta ou até mesmo tocá-lo. Logo, os professores devem ficar atentos e buscar um meio de interação entre o aluno autista e os demais da sala, promovendo atividades que tenha contatos sem forças. “É de responsabilidade do professor a atenção especial e a sensibilização dos alunos e dos envolvidos para saberem quem são e como e comportam esses alunos autistas.” (Santos, 2008, p. 30).
Sempre que possível, os professores poderão introduzir em meios as atividades de classe figuras, para facilitar o entendimento dos alunos e para aproximar o professor do aluno. Outra forma que o professor poderá utilizar para incluir a criança, é convidá-la para fazer pequenas tarefas durante as aulas, criar um quadro ilustrativo com as atividades a serem feitas durante a semana, pois sabemos que eles gostam de seguir uma rotina e muitas vezes sair da rotina, os deixam chateados. O professor deve criar um meio para as demais crianças compreender e acolher os alunos autistas.
Nesse mudo inclusivo, quando ocorrer da criança com TEA estiver em um momento de crise ou medo, os colegas de classe vão entender e ajudar a criança a se acalmar. Podemos dar um exemplo que viralisou nas redes sócias, de um menino com síndrome de daw acalmando seu amigo autista na escola. Quando o menino autista é abraçado pelo colega aos poucos ele para de chorar. Isso nos faz ver que ainda se pode acreditar em inclusão na escola.
O professor também deve ficar atento na maneira a qual explica determinadas situações para o aluno com TEA, uma vez que eles não entendem metáforas e nem palavras de duplo sentido. Tendo em vista que toda explicação deves ser feita de forma clara e sucinta, para que não gere desorganização ou desentendimento.
Nos anos iniciais se faz necessário a ajuda da equipe da sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE), os profissionais precisam ter muita criatividade para estimular a aprendizagem da criança. E para isso é necessário materiais concretos e visuais que possam ser inseridos como facilitador para o ensino dessa criança. Entre tanto é preciso respeitar a preferência e o tempo da criança, desse modo será possível proporcionar ao aluno autista um aprendizado prazeroso e aconchegante.
É necessário frisar que os alunos autistas nos anos iniciais não estão preparados para a socialização, e nem sempre entendem que ao pegar algum objeto do colega de classe e esse colega chorar, o motivo o choro será pelo objeto. É então que entra o auxílio o professor, que deve explicar de forma simples para o aluno autista que quando pegar o objeto do coleguinha o mesmo vai chorar. Dessa maneira ele será estimulado a aprender e entender que quando quiser algo deve se pedir primeiro.
Os professores que tiverem um aluno autista em sala de aula, precisam conhecer outros métodos pedagógicos e psicológicos para dar suporte para qualquer eventualidade que a criança possa precisar. Para isso é necessário a ajuda da família para o sucesso e evolução da aprendizagem.
A importância da formação do professor
A formação docente traz como principal objetivo a preparação dos profissionais de literatura para o mercado de trabalho com a proporção da pedagogia fundamentada. Na formação inicial é possibilitado ao aluno um estudo baseado em documentos legais e teóricos. Porém, atualmente se espera que o profissional olhe além e busque um aprofundamento para a inserção de sua prática pedagógica.
Para Costa:
[...] os cursos de formação docente sinalizam para a importância do entorno que dá significado à autonomia escolar e determina as responsabilidades dos docentes, sem descuidar do projeto institucional dos estabelecimentos de ensino. Portanto, está posto que o protagonismo na educação esteja dirigido aos educadores e se dará a partir de suas definições sobre como ensinar, como se aprende, qual a melhor forma de avaliar. Assim, podem-se assumir concepções que possibilitem desenvolver uma atividade pedagógica caracterizada por uma perspectiva instrumentalizadora e voltada a tratar o ensino como uma ação educacional que não ultrapasse os limites da sala de aula, cujos métodos e técnicas empregados estejam a serviço de um conhecimento pragmático sem relação com a complexa dinâmica do universo (COSTA, 2012, p.4-5)
Na atualidade as escolas devem deixar as ações pragmáticas, mas ter multidisciplinaridade. É preciso ir além dos muros da escola, percorrer a estrutura escolar, andar em volta da escola, conhecer a comunidade em que a escola está inserida. Essa realidade e encontrada por alunos em processo de formação inicial, os estágios os colocam em frente dessa realidade.
Apesar da carência de profissionais com formação continuada em educação inclusiva, ainda há insegurança para trabalhar com as crianças com deficiência. Diante disso é preciso ajudar esses profissionais com salas preparadas para inclusão desse aluno, do contrário, teremos um aluno inserido em uma sala de aula e não incluso.
Diante do exposto, Silva et al (2012), destaca uma dura realidade vivida pelos professores que vivem na educação inclusiva. A maioria desses profissionais estão com esgotamento físico e psicológico, pois lidam com diariamente com vinte a trinta alunos e de contrapartida ainda tenta dar atenção especial para um aluno inclusivo. Um dos primeiros passos a serem feitos, seria um apoio de um professor assistente.
Silva et al acrescentam:
Além do preparo técnico e pedagógico, os professores precisam de suporte psicológico e uma boa relação com as famílias para lidarem com os desafios da inclusão. Afinal, o tratamento multidisciplinar da criança com autismo inclui, além dos profissionais da saúde, pais e mestres. (SILVA et al, 2012, p. 115)
Por tanto o grande recurso do professor é conhecer a vida do aluno, o professor precisa conhecer suas especificidades e habilidades, as dificuldades que ele enfrenta. Pois é a partir delas que o professor saberá com intervir no ensino e aprendizagem e incluir o aluno na sala de aula.
Entretanto, tudo depende da formação o professor, pois é ela que garante o papel que o mesmo vai promover na sociedade. Nessa perspectiva, segundo a Declaração de Salamanca:
É preciso repensar a formação de professores especializados, a fim de que estes sejam capazes de trabalhar em diferentes situações e possam assumir um papel - chave nos programas de necessidades educativas especiais. Deve ser adaptada uma formação inicial não categorizada, abarcando todos os tipos de deficiência, antes de se enveredar por uma formação especializada numa ou em mais áreas relativas a deficiências específicas. (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994, p, 27)
Sabemos que não é fácil trabalhar com crianças com deficiência, principalmente o autista, por isso é necessário ter a formação continuada. Muitos profissionais não estão preparados para receber crianças com TEA em sua sala de aula, não só porque a sala é despreparada, mas porque o profissional não tem preparação para incluir o aluno. E para incluir o aluno autista faz necessário que o educador tenha paciência e compreensão, para que o aluno consiga aprender.
Considerações finais
A inclusão da criança com autismo vai muito além da sala de aula, deve se engajar a aprendizagem, o desenvolvimento e o relacionamento, superando sempre as dificuldades. No entanto o que vemos nas escolas regulares é a ofertas de vagas para inserir essa criança, não se faz modificação para incluir a criança no ambiente escolar. Ou seja, não se faz inclusão.
Podemos perceber que mesmo com tantas evoluções tecnológica, biológica e cientifica, não se sabe a verdadeira causa do autismo. Uns falam que daqui um tempo será feito exames de sangue para provar o autismo. Enquanto isso, nada é provado cientificamente que possa ser algo genético.
Constatamos que a família não aceita de início o diagnóstico do filho. Que não recebem a ajuda adequada dos profissionais, devido os profissionais de não estarem preparados para conversar e preparar a família para o que está por vim depois do diagnóstico. A escola é a principal acolhedora da família e do aluno, por isso o professor deve estar preparado para receber o aluno e auxiliar a família.
Neste estudo é notória a falta de conhecimento dos professores relacionada com as propostas inclusivas das crianças com TEA e suas especificidades, característica e intervenções. É gritante a falta de compromisso dos docentes com a aprendizagem dos alunos e o desconhecimento acerca das necessidades de cada um e do que precisam para desenvolver em suas habilidades e competências
A pesquisa deixa evidente que a inclusão escolar não está acontecendo e que caminha em passos largos para pôr em prática o que realmente é a inclusão para “todos”. Os professores ainda sofrem por tentar ajudar da forma melhor forma possível a incluir o aluno na sala de aula, pois as salas não são preparadas e as turmas são grandes para um só profissional. Os profissionais da educação ainda estão despreparados para receber o aluno autista, é necessário que os educador tenham a formação continuada, para poder evoluir o potencial do aluno.
Ressaltamos, por fim, que este estudo é apenas o começo de muitos outros que estão por vim e que não é nossa pretensão deixá-lo em poucas linhas. O tema exige que se tenha um estudo mais aprofundado, para afim de buscar alternativas de solução. Para que seja possível a evolução do autista é preciso ver com outros olhos, valorizá-los e amá-los do jeito que eles são.
Referências
COSTA, Flávia Fernanda. Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul, RS: ANPED, 2012
DECLARAÇÃO DA SALAMANCA: Disponível em http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf. Acessado em 08 de Jde 2016
GOODMAN, Robert, SCOOTT, Stephen. Child Psychiatry. Wiley-Blawwell
http://www.psiqweb.med.br/, 2004.
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