Metodologias Ativas no âmbito do ensino e aprendizagem
Maria José Nunes Mota
Alessandra Almeida Cavalcante Varella
Dayane Ferreira Amaral Côrtes
Lígia Mara Ormond Pereira
Andréa Bezerra Ferreira
DOI: 10.5281/zenodo.13633075
RESUMO
Este estudo analisa as metodologias ativas no ensino e aprendizagem, evidenciando seus benefícios, desafios e estratégias de implementação. A Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL) favorece o desenvolvimento de habilidades críticas, autonomia e a conexão entre teoria e prática. A Sala de Aula Invertida aumenta a responsabilidade dos alunos e melhora seu desempenho acadêmico. A Aprendizagem Baseada em Projetos e a Espiral Construtivista otimizam a gestão do tempo, a colaboração e a aplicação prática do conhecimento. O estudo sublinha a importância da formação contínua dos professores e dos investimentos em infraestrutura. Recomenda-se a realização de pesquisas futuras para avaliar a eficácia dessas metodologias em diferentes áreas de conhecimento.
Palavras-chave: Metodologias ativas; Aprendizagem Baseada em Problemas; Formação contínua de professores.
Introdução
O ambiente educacional atual tem experimentado transformações significativas devido à globalização, à digitalização e à entrada das gerações Y e Z no ensino superior e no mercado de trabalho. Essas mudanças exigiram a implementação de novas estratégias pedagógicas que incentivem a participação ativa dos alunos no processo de aprendizagem. Nesse cenário, as metodologias ativas se destacam como opções promissoras para aprimorar o ensino e a aprendizagem, movendo o foco do modelo tradicional, centrado no professor, para uma abordagem mais voltada para o aluno (SILVA, 2013).
Este artigo tem como objetivo examinar as metodologias ativas no ensino e aprendizagem, destacando seus benefícios, desafios e formas de implementação. A estrutura do texto inclui uma base teórica sobre metodologias ativas, uma análise das obras selecionadas e uma discussão dos resultados encontrados. A metodologia empregada no estudo segue os princípios da pesquisa científica estabelecidos por Marconi e Lakatos (2017), utilizando revisão bibliográfica e análise qualitativa das obras relevantes.
Metodologias ativas na literatura
De acordo com Moran (2015, citado por Arão, Silva e Lima, 2018), a escola tradicional, que adota um modelo uniforme de ensino e avaliação, não se adequa à sociedade do conhecimento, que demanda habilidades cognitivas, pessoais e sociais, além de iniciativa. Com o fácil acesso à informação proporcionado pela internet, a educação vai além dos limites da sala de aula, necessitando de metodologias ativas que favoreçam a interação e a contextualização do conhecimento. Moran (2015, citado por Arão, Silva e Lima, 2018) destaca a importância de envolver os alunos em atividades que estimulem a criatividade e a participação, mobilizando tanto habilidades intelectuais quanto emocionais.
Essas metodologias colocam o aluno no centro do processo de ensino e aprendizagem, promovendo sua participação ativa na construção do conhecimento. Abordagens como a Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL) e a Sala de Aula Invertida buscam engajar os alunos na resolução de problemas reais e na utilização de estratégias interativas (ARÃO; SILVA; LIMA, 2018; MERCAT, 2022; SILVA, 2013).
Jean Piaget, com sua teoria construtivista, defende que o conhecimento é construído pelo aluno através de suas interações com o ambiente. Para Piaget, a aprendizagem ocorre quando o aluno consegue incorporar novas informações em suas estruturas cognitivas já existentes (PAIVA et al., 2016). Em contraste, a teoria sociointeracionista de Lev Vygotsky foca na influência das interações sociais no desenvolvimento cognitivo. Vygotsky sugeriu que o aprendizado é mediado por ferramentas culturais e acontece em um contexto social, onde indivíduos mais capacitados, como professores ou colegas, auxiliam o aluno em seu processo de aprendizagem (LIMA, 2017).
A literatura sobre metodologias ativas apresenta vários modelos que se revelam eficazes em diferentes contextos educacionais, incluindo a Aprendizagem Baseada em Problemas e Projetos (PBL), a Sala de Aula Invertida, a problematização, os estudos de caso e a espiral construtivista.
A Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL) é uma abordagem ativa que envolve os alunos na resolução de problemas reais, estimulando o aprendizado por meio da investigação e da aplicação prática de conceitos teóricos. Mercat (2022) descreve o PBL como uma metodologia que engaja os alunos em atividades de análise, revisão e avaliação, preparando-os para lidar com desafios complexos. Este estudo destaca que o PBL ajuda os alunos a desenvolverem habilidades críticas e reflexivas, essenciais para um aprendizado profundo. A aplicação do PBL em cursos de engenharia, por exemplo, tem mostrado resultados positivos ao formar profissionais capazes de integrar a resolução de problemas práticos e teóricos.
Lovato, Michelotti e Loreto (2018) confirmam essas observações, ressaltando que o PBL estimula a autonomia dos alunos e a colaboração em equipe. Os autores afirmam que o PBL surgiu na McMaster University Medical School, no Canadá, e tem sido amplamente utilizado em cursos de medicina e engenharia. Essa abordagem motiva os alunos a se responsabilizarem por seu próprio aprendizado, promovendo sua participação em discussões e pesquisas colaborativas para solucionar os problemas propostos.
Os principais benefícios do PBL incluem o aprimoramento das habilidades críticas, a promoção da autonomia e responsabilidade dos alunos, a integração da teoria com a prática e a valorização do trabalho em equipe. O PBL estimula os alunos a desenvolverem o pensamento crítico e a resolverem problemas de maneira independente, aspectos essenciais para a formação de profissionais qualificados (MERCAT, 2022; LOVATO; MICHELOTTI; LORETO, 2018).
Os alunos são incentivados a tomar a responsabilidade pelo próprio aprendizado, adotando uma postura proativa e independente (LOVATO; MICHELOTTI; LORETO, 2018). Além disso, o PBL facilita a aplicação prática dos conhecimentos teóricos, permitindo que os alunos compreendam melhor os conceitos e sua relevância no mundo real (Mercat, 2022). A abordagem também promove a colaboração em equipe, desenvolvendo habilidades de comunicação e cooperação entre os estudantes (LOVATO; MICHELOTTI; LORETO, 2018).
Contudo, o PBL enfrenta desafios consideráveis. Tanto alunos quanto professores podem demonstrar resistência à adoção dessa abordagem, pois ela requer uma adaptação a um novo modelo de ensino e aprendizagem (Mercat, 2022). Para que o PBL seja implementado com sucesso, é essencial que os professores estejam adequadamente preparados e qualificados para desempenhar o papel de facilitadores do aprendizado (LOVATO; MICHELOTTI; LORETO, 2018).
Além disso, o PBL pode necessitar de recursos e infraestrutura específicos, como acesso a materiais de pesquisa e ambientes apropriados para atividades em grupo (MERCAT, 2022). A avaliação dos resultados de aprendizagem pode ser mais complexa, demandando métodos de avaliação formativa e contínua (LOVATO; MICHELOTTI; LORETO, 2018).
Pesquisas de Mercat (2022) e de Lovato, Michelotti e Loreto (2018) mostram que, apesar das dificuldades, o PBL proporciona vantagens consideráveis para o desenvolvimento acadêmico e profissional dos alunos. A metodologia incentiva um aprendizado mais envolvente e significativo, capacitando os alunos a lidarem com os desafios do mundo real com habilidades críticas e reflexivas bem desenvolvidas.
A PBL estimula a integração entre diferentes disciplinas, permitindo que os alunos relacionem várias áreas do conhecimento, o que contribui para uma aprendizagem mais completa e contextualizada. Segundo Morales e Costa (2021), além de promover habilidades técnicas, essa abordagem também facilita o desenvolvimento de competências interpessoais, como a comunicação eficaz e a cooperação, que são fundamentais para o sucesso em ambientes profissionais contemporâneos.
Outra metodologia relevante é a Aprendizagem Baseada em Projetos, conforme discutido por Morales e Costa (2021) e Lima (2017). Esta abordagem envolve os alunos em projetos de longa duração que requerem um planejamento detalhado, execução cuidadosa e avaliação contínua. Esse modelo de aprendizagem é especialmente eficaz para aprimorar habilidades como gestão do tempo, colaboração em equipe e aplicação prática dos conceitos teóricos em situações reais.
Outra metodologia relevante é a Sala de Aula Invertida, que desloca a instrução teórica para fora do ambiente escolar e usa o tempo de aula para atividades práticas e colaborativas. Silva (2013) ressalta que, nessa abordagem, os alunos devem estudar o conteúdo teórico em casa, utilizando recursos como vídeos e leituras fornecidas pelo professor. O tempo em sala é dedicado a discussões, resolução de problemas e outras atividades práticas que ajudam na aplicação do conhecimento teórico. Essa metodologia incentiva um aprendizado mais ativo e participativo, contrastando com o modelo tradicional que foca na transmissão passiva de informações.
Gemignani (2013) confirma essas observações, destacando que a Sala de Aula Invertida eleva a responsabilidade dos alunos pelo seu próprio aprendizado, tornando-os mais autônomos e envolvidos. O papel do professor se transforma em mediador e facilitador, guiando os alunos e promovendo interações esporádicas durante as aulas. Essa abordagem permite a personalização do ensino, possibilitando que cada aluno progrida conforme seu próprio ritmo, o que é especialmente útil em turmas com diferentes níveis de conhecimento.
A implementação da Sala de Aula Invertida tem mostrado efeitos positivos no desempenho dos alunos. Segundo Silva (2013), ao estudarem o conteúdo teórico em casa, os alunos chegam às aulas mais preparados e entusiasmados para participar das atividades práticas. Isso resulta em uma maior participação e interesse nas aulas, além de uma melhoria no desempenho acadêmico. Os alunos relatam uma melhor compreensão dos conceitos e uma habilidade aprimorada para aplicar o conhecimento em situações práticas.
Gemignani (2013) também observa que a Sala de Aula Invertida favorece o desenvolvimento de habilidades importantes, como pensamento crítico, resolução de problemas e colaboração. Essa metodologia cria um ambiente de aprendizagem mais interativo e dinâmico, incentivando os alunos a colaborarem e a se engajar ativamente no processo educacional. Além de melhorar o desempenho acadêmico, ela prepara os alunos para enfrentar desafios reais, desenvolvendo competências essenciais para a vida e o trabalho.
Os estudos de Silva (2013) e Gemignani (2013) mostram que, apesar dos desafios na implementação, a Sala de Aula Invertida oferece benefícios significativos para a motivação e o desempenho dos alunos, promovendo um aprendizado mais ativo e significativo e melhorando a compreensão e aplicação do conhecimento.
A espiral construtivista, conforme descrita por Lima (2017), é outra metodologia ativa que promove uma integração contínua e dinâmica entre teoria e prática. Organizada em um ciclo de ação-reflexão-ação, essa abordagem permite que os alunos avancem de forma progressiva e colaborativa. A espiral construtivista destaca a importância do contexto social e cultural no desenvolvimento do conhecimento, alinhando-se com a teoria sociointeracionista de Vygotsky, que valoriza a mediação social para a construção do conhecimento. Essa metodologia não apenas favorece a aquisição de conhecimento de maneira gradual, mas também incentiva os alunos a revisarem e expandir conceitos e experiências anteriores ao longo do tempo.
Essa abordagem valoriza a participação ativa dos alunos, oferecendo-lhes oportunidades para refletir sobre suas ações, ajustar suas estratégias e colaborar com os colegas, resultando em um aprendizado mais profundo e contextualizado. Além disso, a espiral construtivista permite a personalização do ensino, possibilitando que os alunos avancem em seu próprio ritmo, considerando suas experiências anteriores e o contexto social. Dessa forma, promove uma aprendizagem mais integrada e significativa, que abrange tanto o desenvolvimento individual quanto o coletivo, preparando os alunos para enfrentar desafios complexos em diferentes contextos.
Ao comparar essas metodologias, fica evidente que todas têm em comum o foco na participação ativa dos alunos e na construção colaborativa do conhecimento. Vale destacar que as metodologias ativas se ajustam bem às mudanças e avanços no conhecimento, estimulando o pensamento crítico e a iniciativa, e tornando o aprendizado mais interessante e enriquecedor. Além disso, permitem que os professores identifiquem as dificuldades e as potencialidades de cada aluno, possibilitando uma atualização e aprimoramento das suas práticas pedagógicas (ARÃO; SILVA; LIMA, 2018).
Considerações Finais
A literatura revela que as metodologias ativas oferecem benefícios consideráveis no ensino e aprendizagem, embora também apresentem alguns desafios. A Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL) é particularmente eficaz em desenvolver habilidades críticas, promover a autonomia dos alunos e fazer a integração entre teoria e prática de forma eficiente. A Sala de Aula Invertida, por outro lado, melhora a responsabilidade dos alunos pelo próprio aprendizado e contribui para um melhor desempenho acadêmico. A Aprendizagem Baseada em Projetos ajuda a aprimorar a gestão do tempo e o trabalho em equipe, além de facilitar a aplicação prática do conhecimento teórico. Já a espiral construtivista, com seu ciclo de ação-reflexão-ação, promove um aprendizado gradual e colaborativo, valorizando o contexto social e cultural no ensino superior.
Lovato, Michelotti e Loreto (2018) apontam que a adoção do PBL pode enfrentar resistência dos professores devido à necessidade de adaptação a um novo modelo pedagógico e à necessidade de infraestrutura apropriada, como espaços para trabalho em grupo e materiais de pesquisa. Lima (2017) enfatiza a importância da formação contínua dos professores para que possam atuar efetivamente como facilitadores, sugerindo a implementação de programas de desenvolvimento profissional para superar essas barreiras.
Para superar esses desafios, o apoio institucional é essencial para facilitar a transição das práticas tradicionais para metodologias mais interativas e dinâmicas. É recomendado realizar estudos empíricos futuros para avaliar como as metodologias ativas funcionam em diferentes contextos e disciplinas. Além disso, é importante investigar as melhores práticas para a formação dos docentes e a adaptação dessas metodologias às necessidades específicas de cada instituição. Estudos de longo prazo podem oferecer insights sobre o impacto dessas metodologias no desempenho acadêmico e no desenvolvimento de competências ao longo do tempo.
Referências
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<https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/46031>. Acesso em: 30/08/2024.
GEMIGNANI, Elizabeth Yu Me Yut. Formação de professores e metodologias ativas de ensino-aprendizagem: ensinar para a compreensão. Fronteiras da Educação, v. 1, n. 2, 2013.
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