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O ENSINO DA MATEMÁTICA NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR: CRÍTICAS E REFLEXÕES

Andréa Bezerra Ferreira¹

Dayane Ferreira Amaral Côrtes ²

Maria José Nunes Mota Gomes³

Rebeca Sara Serra Costa Nascimento 4

Taysa Delarcos de Oliveira

 

 

RESUMO:

O ensino de matemática é fundamental para o desenvolvimento do ser humano e da humanidade, em seu percurso pessoal e histórico. A escola é o espaço por excelência na sociedade para a promoção do conhecimento e da matemática, mais especificamente. No entanto, há críticas à BNCC um dos principais documentos que regula o ensino dela no país, como a falta de clareza e profundidade nas orientações, o excesso de conteúdo e a falta de ênfase na resolução de problemas e na aplicação dos conceitos matemáticos na vida real (Lira, 2018; Andrade e Moreira, 2019; Santos, 2021). 

 

 

INTRODUÇÃO

 

Neste trabalho realizamos uma pesquisa bibliográfica (LAKATOS, 1978) que se constituiu como fundamental para articularmos as ideias de D'Ambrósio (1998) e Freire (1970) no que se refere ao ensino de uma matemática crítica, o que exige que ela seja contextualizada levando em consideração as diferentes formas com que é utilizada e é entendida nas diferentes sociedades e culturas, além de abordar questões sociais e políticas a fim de desenvolver habilidades para que a(o) estudante pense de forma crítica e mais significativa a aplicação da matemática em sua vida.

 Em nosso país a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o documento que estabelece as diretrizes e os objetivos a serem alcançados pelo ensino de matemática no ensino básico (MEC, 2017). No entanto, desde a sua implementação, em 2017, diversas críticas têm sido levantadas quanto ao ensino de matemática na BNCC, como a falta de clareza nas orientações, o excesso de conteúdo e a falta de ênfase na resolução de problemas e na aplicação dos conceitos na vida real (Lira, 2018; Andrade & Moreira, 2019; Santos, 2021).

 

 

DESENVOLVIMENTO

 

Neste trabalho realizamos uma pesquisa bibliográfica que segundo Lakatos (1978) se constitui como fundamental para a construção do conhecimento científico, pois permite conhecer o que já foi produzido sobre o tema em questão e se aprofundar em suas fontes de informação.

O ensino de matemática no Brasil é regulamentado por algumas leis, diretrizes e outros documentos que legislam  a seu respeito e consideram seu ensino  essencial para o desenvolvimento das habilidades de pensamento lógico, crítico e criativo dos estudantes, para a formação básica, para o prosseguimento dos estudos e para a vida cotidiana (LDB, 1996). A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a LDB (1996) são documentos que norteiam a educação brasileira; no que se refere a matemática estabelecem os objetivos e conteúdos mínimos obrigatórios para o seu ensino, com o objetivo de garantir que todos os estudantes no Brasil tenham acesso a uma educação de qualidade e equitativa (MEC, 2017)

De acordo com a BNCC, os objetivos do ensino de matemática no ensino fundamental são: 

 

... desenvolver nos educandos a capacidade de compreender e aplicar os principais conceitos, procedimentos e teoremas matemáticos; formular, resolver e interpretar problemas matemáticos, utilizando os conhecimentos matemáticos e as habilidades de raciocínio lógico, crítico e criativo; e utilizar a linguagem matemática e os meios de representação gráfica e simbólica para comunicar e argumentar, de maneira clara e precisa, sobre situações matemáticas e outras que envolvem raciocínio quantitativo" (MEC, 2017, p. 3).

 

Todavia, existem críticas a ela como a falta de clareza e de profundidade nas orientações fornecidas pela BNCC para o ensino de matemática. Segundo Lira (2018), "a BNCC é muito genérica e não dá orientações precisas sobre como os conteúdos de matemática devem ser ensinados". Isso tem gerado dificuldades para os professores, que se sentem inseguros quanto à melhor forma de abordar os tópicos matemáticos.

Outra crítica é o excesso de conteúdo incluído na BNCC. De acordo com Andrade e Moreira (2019), "a BNCC inclui uma quantidade excessiva de conteúdo matemático, o que dificulta a compreensão dos alunos e leva a uma sobrecarga de trabalho para os professores". Isso tem sido um fator de desinteresse dos alunos pela matemática.

Uma terceira crítica é a falta de ênfase na resolução de problemas e na aplicação dos conceitos matemáticos na vida real. Segundo Santos (2021), "a BNCC se preocupa muito em ensinar os conceitos matemáticos de forma teórica, mas não dá tanta atenção à resolução de problemas e à aplicação desses conceitos na vida real". Isso pode levar os alunos a não enxergarem a utilidade da matemática para a realidade.

Em resumo, as críticas referentes ao ensino de matemática na BNCC dizem respeito à falta de clareza e profundidade nas orientações, ao excesso de conteúdo incluído e à falta de ênfase na resolução de problemas e na aplicação dos conceitos matemáticos na vida real.

De acordo com Ubiratan D'Ambrósio, "a matemática é uma construção cultural" e, portanto, "o ensino da matemática deve ser contextualizado e levar em consideração as diferentes formas como a matemática é utilizada e entendida em diferentes sociedades e culturas" (D'Ambrósio, 1998, p. 53). O ensino tradicional da matemática, que se concentra em procedimentos e regras formais, "não leva em conta o contexto cultural em que a matemática é utilizada e pode ser desconectado das necessidades e interesses dos estudantes" (D'Ambrósio, 1998, p. 54). Em vez disso, D'Ambrósio defende o uso de uma abordagem contextualizada para o ensino da matemática, que inclui exemplos e problemas baseados em situações do mundo real e leva em conta as formas como a matemática é utilizada em diferentes culturas e sociedades (D'Ambrósio, 1998, p. 54).

Outro ponto que o autor D'Ambrósio (1998) nos traz é que a matemática é frequentemente apresentada como uma disciplina isolada, sem conexão com outras áreas do conhecimento. No entanto, ele argumenta que "a matemática tem muito a oferecer às outras disciplinas e, ao mesmo tempo, pode ser enriquecida pelas outras disciplinas" (D'Ambrósio, 1998, p. 57). Ele defende a necessidade de integrar a matemática com outras disciplinas, como ciências, história e artes, para ajudar os estudantes a compreender a matemática em um contexto mais amplo e aplicá-la de maneira mais significativa em suas vidas.

As ideias de Ubiratan D'Ambrósio sobre o ensino de matemática e o papel da matemática como uma construção cultural podem ser aproximadas com as ideias de Paulo Freire sobre a educação e o ensino. De acordo com Freire, "a educação deve ser contextualizada e levar em consideração as experiências e o contexto cultural dos estudantes" (Freire, 1970, p. 56). Ele defende a necessidade de um ensino crítico que aborda questões sociais e políticas e que ajude os estudantes a desenvolver habilidades para pensar crítica e independentemente (Freire, 1970, p. 56). 

 

Paulo Freire (1996 apud Anjos 2016), em entrevista ao professor Ubiratan D’Ambrósio, nos fala que: “[...] deve haver a alfabetização matemática do aluno. Mas, que o professor não deve ser transferidor de conhecimentos e sim lutar, para com os alunos, criar as condições em que o conhecimento esteja se construindo, para que haja uma condição do aprender matemático [...]”, buscando seu próprio meio diante do problema em questão.

 

Além disso, as ideias de D'Ambrósio sobre a integração da matemática com outras disciplinas e a importância do pensamento crítico e da resolução de problemas no ensino de matemática também são consistentes com as ideias de Freire sobre a educação como uma ferramenta para a mudança social e a transformação do mundo. Freire defende a necessidade de uma educação que promova a crítica social e a reflexão crítica sobre o mundo e que ajude os estudantes a desenvolver habilidades para agir de maneira transformadora em suas próprias comunidades (Freire, 1970, p. 56).

Após análise das citadas críticas referentes ao ensino de matemática na BNCC, é possível concluir que existem pontos que precisam ser melhorados no documento. A falta de clareza e profundidade nas orientações, o excesso de conteúdo incluído e a falta de ênfase na resolução de problemas e na aplicação dos conceitos matemáticos na vida real, são alguns dos pontos apontados como problemáticos.

No entanto, é importante lembrar que a BNCC é um documento orientador e não detalhado, o que significa que cabe aos professores adaptar as orientações à realidade de cada sala de aula e incluir exemplos e problemas contextualizados. Como afirma D'Ambrósio (1998), "o ensino da matemática deve ser contextualizado e levar em consideração as diferentes formas como a matemática é utilizada e entendida em diferentes sociedades e culturas" (p. 53). Além disso, é fundamental promover o ensino crítico da matemática, que aborde questões sociais e políticas e que ajude os estudantes a desenvolver habilidades para pensar crítica e independentemente (Freire, 1970).

 

 

CONCLUSÃO

 

Em conclusão, o ensino de matemática no Brasil enfrenta críticas relacionados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) a sua falta de ênfase na resolução de problemas e na aplicação dos conceitos matemáticos na vida real (Lira, 2018; Andrade & Moreira, 2019; Santos, 2021).

Para garantir que todos os estudantes tenham acesso a uma educação de qualidade e equitativa, é necessário promover mudanças na forma como a matemática é ensinada e percebida. Isso inclui a valorização da resolução de problemas e da aplicação dos conceitos matemáticos na vida real, bem como o incentivo do interesse e do gosto dos estudantes pela disciplina (Santos, 2021).

Como afirma Paulo Freire (1970), "para mudar a realidade, é preciso primeiro compreendê-la, interpretá-la crítica e criativamente" (p. 123). A resolução de problemas da vida cotidiana ou do mundo real pode ser uma importante forma de promover essa mudança e fomentar o aprendizado de matemática de forma mais significativa e enriquecedora.

 

 

Referências:

 

Anjos, Teresinha Antônio Silva dos. As dificuldades enfrentadas por alunos com deficiência visual e professores no ensino e aprendizagem da Matemática. 2016.

 

Andrade, S. C. C. de, & Moreira, M. A. (2019). A Base Nacional Comum Curricular e o ensino de matemática: uma análise crítica. Revista Brasileira de Ensino de Física, 41(1), 1-11.

 

D'Ambrósio, U. (1998). Sociedade, cultura, matemática e seu ensino. In M. L. Carvalho (Org.), Matemática: ensino e cultura (pp. 53-74). São Paulo: Cortez.

 

Freire, P. (1970). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra.

 

Freire, P. (1970). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

 

D'Ambrósio, U. (1998). Matemática, cultura e sociedade. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.

 

Lei nº 9.394/1996: Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm

 

Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Fundamental. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/pcnensfund.pdf

 

Currículo Nacional Base da Educação Básica. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cnbeb/arquivos/pdf/cnbeb.pdf

 

Andrade, A. & Moreira, M. (2019). A BNCC e o ensino de matemática: desafios e possibilidades. Revista de Educação, 35(2), 345-362.

 

Andrade, D. & Moreira, M. (2019). A Base Nacional Comum Curricular e o ensino de matemática: uma análise crítica. Revista Brasileira de Educação, 24(80), 1-17.

 

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996)

 

Lakatos, I. (1978). A metodologia dos programas de pesquisa científica. Cambridge University Press.

 

Lira, L. (2018). A BNCC e o ensino de matemática: uma análise crítica. Revista de Ensino, 22(1), 45-53.

 

Lira, A. (2018). BNCC e ensino de matemática: reflexões sobre a Base Nacional Comum Curricular. Revista Brasileira de Educação, 23(76), 1-10.

 

Lira, L. (2018). A Base Nacional Comum Curricular e o ensino de matemática: perspectivas de professores de uma escola pública de São Paulo. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo.

 

Santos, J. (2021). O ensino de matemática na BNCC: o que está faltando? Revista Brasileira de Ensino de Matemática, 43(1), 23-32.Santos, T. S. (2021). A Base Nacional Comum Curricular e o ensino de matemática: uma análise crítica. Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Ensino de Física.

 

Santos, P. (2021). Ensino de matemática: desafios e possibilidades na Base Nacional Comum Curricular. Revista Brasileira de Educação, 26(88), 1-12.

 

Ministério da Educação (MEC). (2017). Base Nacional Comum Curricular: matemática. Brasília: MEC.