BRINQUEDOTECA: UM ESPAÇO PARA A CONSTRUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL, EMOCIONAL E SOCIAL DA CRIANÇA
Maria de Fátima Guedes dos Santos
Leandro Felix Luis Martins
Tânia Silva de Almeida
RESUMO
O presente artigo abordou os conhecimentos relacionados aos benefícios da ludicidade na vida da criança, destacando a Brinquedoteca como um espaço necessário e indispensável para a construção de novas aprendizagens. Buscou defender a importância da organização dos espaços e dos brinquedos que serão disponibilizados, pois estes devem oferecer segurança e encantamento para assim oferecer um real convite para brincar. Percebemos, ao longo do trabalho o quanto é importante discutir sobre o espaço Brinquedoteca, definindo seus objetivos e indicando brinquedos sugeridos para cada faixa etária, desse modo atingem as necessidades das crianças na fase em que se encontram. É significativo trabalhar o tema dentro do sistema de ensino. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica considerando as contribuições de autores como: FRIEDMANN (1998), CUNHA (2011) NOFFS (2001), KISHIMOTO (1999), entre outros.
Palavra-Chave: Brinquedoteca, Desenvolvimento, Criança, Conhecimento.
Introdução
O presente artigo tem como objetivo enfatizar a importância da Brinquedoteca como espaço transformador, onde se resgata o prazer do brincar inserido no contexto histórico-cultural da criança.
Oportunizar as crianças momentos de vivência lúdica.
Favorecer seu desenvolvimento global de forma natural e prazerosa.
Refletir sobre os espaços de educação infantil, que precisam garantir às crianças tanto as suas necessidades básicas, físicas e emocionais, quanto às de participação social, de troca de interações, de construção de identidade de experiências e conhecimentos sobre o mundo e sobre si mesmas.
Destacar a importância da interação com brinquedos e materias, proporcionando conhecimento do mundo dos objetos. A diversidade das formas, texturas, cores, tamanhos, espessura e outras especificidades dos objetos, são importantes para a criança compreender esse mundo.
Desenvolvimento
A primeira brinquedoteca surgiu em 1934 em Los Angeles, Estados Unidos da América, ao se constatar que os frequentes roubos de brinquedos feitos por crianças em lojas de brinquedos davam-se pelo fato de essas crianças não terem brinquedos nem condições de comprá-los.
Friedman (1998, p. 174) destaca que:
[…] ainda hoje existe, em Los Angeles (EUA), a brinquedoteca chamada “Toy Loan” ou “Toy Libraries”, tendo como propósito emprestar brinquedo caracterizado como recurso comunitário utilizado atualmente.
No entanto, a brinquedoteca teve seu reconhecimento mundial a partir da década de 1960, no século XX quando se espalhou por toda a Europa, em países como Suécia, Inglaterra, Bélgica e França. Seu objetivo havia se resinificado, pois então, passou a ser de emprestar para famílias carentes com filhos especiais, uma vez que se acreditava que os brinquedos estimulariam o desenvolvimento destas crianças.
Vale destacar que o surgimento da brinquedoteca fez com que mais teóricos e pesquisadores debruças em suas investigações sobre o lúdico, assim, em 1976, realizou-se em Londres o primeiro Congresso sobre a experiência de se emprestar brinquedos.
A efetivação da ação lúdica mundial tornou-se concreta com a criação da Associação Internacional de Brinquedoteca –(Toy Libraries Assossiation) que envolve muitos países e continentes do mundo.
No Brasil a primeira expressão lúdica voltada para a Brinquedoteca, aconteceu apenas em 1971, quando a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), em São Paulo realizou a primeira exposição de brinquedos pedagógicos, que foi visitada por pais, profissionais e estudantes da área.
A receptividade da exposição, juntamente com o propósito da brinquedoteca fez com que a APAE de São Paulo criasse a Ludoteca com objetivo de emprestar brinquedos para seus alunos.
Diante dos diferentes propósitos e características das brinquedotecas bem como o crescente reconhecimento de sua relevância à educação, a brinquedoteca tornou-se um agente provocador de mudança no trato educacional, principalmente quando o personagem principal deste espaço lúdico é a criança.
Atualmente a brinquedoteca tem seu papel muito Claro e esclarecido, conforme ressalta Ramalho (2000, p. 76), “a brinquedoteca é Considerada como um local de estímulos para o brincar livremente da criança por algumas horas do dia”.
No entanto, sabemos que esta liberdade de expressão só é possível se esse espaço for pensado, organizado e orientado pelo adulto, que deve estar sempre observando a interação da criança com o jogo, a interação da criança com a sua representação, sendo esta interação seguida ou não da presença dos seus colegas.
É possível inferir que a brinquedoteca atualmente é considerada como um espaço que permite a sociedade contemporânea fazer o resgate ao lúdico esquecido pelas pessoas, e negado às crianças, para Cunha (2011, p. 16), ela não pode deixar de exercer a sua real função, a de “fazer as crianças felizes”.
Almeida e Casarin (2002, p. 1), ao conceituarem a brinquedoteca dizem que:
[…] a Brinquedoteca escolar é um espaço que permite o brincar livremente, com todo o estímulo à manifestação de suas potencialidades e necessidades lúdicas, com a presença de muitos jogos variados e diversos materiais permitem a expressão da criatividade infantil.
Ao concordar com este pensamento Cunha (2011, p. 17), define a brinquedoteca como:
[…] responsável por mediar a construção do saber, em situações de prazer, com gosto de aventura, na busca pelo conhecimento espontâneo e prazeroso. […] um local que incentiva a criança a extravasar sentimentos, a construir conhecimentos e a demonstrar suas emoções.
Já para Noffs 2001 p 160 a brinquedoteca é:
[…] um espaço onde a criança, utilizando o lúdico, constrói suas próprias aprendizagens, desenvolvendo-se num ambiente acolhedor, natural e que funciona como fonte de estímulos para o desenvolvimento de suas capacidades estéticas e criativas, favorecendo ainda a sua curiosidade.
Diante das definições apresentadas podemos verificar que a brinquedoteca é um espaço que busca levar a criança a se expressar, a imaginar, a representar, a imitar, a competir, a criar etc., tudo isso permeado pela liberdade característica principal da ação lúdica.
Ao nos depararmos com uma gama de conceitos, definições, objetivos, princípios e ações voltados para a brinquedoteca, Puga e Silva (2008, p. 1), destacam alguns objetivos da brinquedoteca:
Proporcionar um espaço lúdico, valorizando o ato de brincar de forma espontânea; resgatar o espaço e o tempo de brincar; possibilitar o acesso a brinquedos; orientar sobre a adequação e utilização dos brinquedos; desenvolver hábitos de responsabilidade; resgatar brincadeiras, incentivando sua valorização como atividade geradora de desenvolvimento intelectual, emocional e social; propiciar a construção de conhecimentos; estimular o desenvolvimento da concentração e atenção; oportunizar a expansão de habilidades e ponte potencialidades; desenvolver a criatividade, a sociabilidade e a sensibilidade; incentivar a autonomia e o sentimento de autoestima; repassar aos professores e às famílias informações sobre conhecimentos a respeito da importância do brincar e sobre o desenvolvimento do aluno na brinquedoteca.
Assim, vale destacar, que ao distorcermos o real significado desse espaço lúdico intitulado brinquedoteca, corrompemos a formação humana da infância, reduzindo-a simplesmente a reprodução dos saberes Impostos pelos adultos, sem protagonizar as expressões da própria vida da criança.
Kishimoto (1999 apud SOUZA, 2008, p. 1) definiu a brinquedoteca como:
[…] Um espaço de animação sociocultural que é encarregado da Transmissão da cultura infantil como também pelo desenvolvimento da socialização, integração social e construções das representações infantis.
No entanto Santos (1997, p. 62), busca descrever a principal função da brinquedoteca nos dias atuais como:
[…] Não sendo apenas laboratório criado para criança, onde é ela livre para brincar e o profissional, para pensar, discutir, analisar e pesquisar o valor do brinquedo no seu desenvolvimento. Da mesma forma, é um equívoco pensar que a finalidade da brinquedoteca é atender somente o público pré- escolar. A função da brinquedoteca, na atualidade quando as crianças têm cada vez menos tempo e espaço para brincar e os adultos não exercem a sua ludicidade é de, sobretudo, proporcionar espaços lúdicos.
Vale lembrar que, por mais que a brinquedoteca seja um local ideal para trabalhar o lúdico de forma saudável e prazerosa à criança, onde se aprende brincando, é fundamental que nela não falte a presença de um “brinquedista”. Este profissional atua mediando as situações e ações lúdicas com a criança, neste espaço lúdico.
Segundo Noffs (2001, p. 71):
[…] a brinquedoteca é um espaço onde o conhecimento a ser adquirido tem possibilidade de ser trabalhado em suas significações e o conhecimento já adquirido tem a possibilidade de ser resiginificado, permitindo dessa forma o desenvolvimento integral, harmonioso e aprendizagem infinita da criança, sob a mediação do profissional deste espaço, o educador-brinquedista.
Sendo assim, a brinquedoteca escolar é um espaço educativo potencialmente pedagógico, que assume também a função de recurso didático, pois o professor se utiliza dela no intuito de diagnosticar a trabalhar dificuldades e potencializando capacidades da criança.
Para implantar uma brinquedoteca, é necessário ter definidos os objetivos e o público-alvo a ser atendido. Em seguida, as atividades ofertadas, a localização e instalação, as regras e normas para atendimento, a composição dos objetos (acervo) a serem oportunizados, e, mais que decisivo, o profissional que fará a mediação das atividades no local, com conhecimentos básicos de seu funcionamento.
Vaz (2006) acredita ser interessante fazer uma pesquisa sociocultural e ambiental sobre a comunidade local (vida e hábitos de brincar das crianças) para a implantação antes de definir as atividades ofertadas na brinquedoteca.
É evidente a presença de salas de brinquedos sob diferentes enfoques como hotéis, hospitais, clubes, shoppings etc. A diferença entre brinquedotecas e as salas de brinquedos encontra-se não no local ou tipo, mais nos objetivos estabelecidos para cada uma delas.
Com base nos apontamentos de Hypolitto (2001, p. 34), apresentaremos a seguir os tipos de brinquedoteca existentes.
- Brinquedoteca escolar: organizada num espaço da escola com finalidade pedagógica ou em centros de educação continuada.
- Brinquedoteca comunitária: as mantenedoras geralmente são associações, prefeituras e organizações filantrópicas.
- Brinquedoteca em instituição de atendimento especial: local de atendimento a crianças portadoras de necessidades especiais para atender diversas modalidades-APAE, Laramara e Larabrinq.
- Brinquedoteca em instituições de saúde: hospitais, consultórios médicos, clínicas, entre outras, objetivando amenizar as situações traumáticas das crianças ou em tratamento médico.
- Brinquedotecas em universidades e faculdades: laboratórios de aprendizagens-formação de professores e recursos humanos, para pesquisas e prestação de serviços à comunidade. A USP foi pioneira La brinp; fornece subsídios para práticas pedagógicas com o uso de brinquedos.
- Brinquedoteca circulantes: instaladas em ônibus, camionetes itinerantes para crianças da periferia e outros espaços (PUC- SP com ônibus ludicidade).
- Brinquedotecas em espaços de entretenimento: em shopping centers, casas de diversões com parques e playground, centros culturais, entre outros.
- Brinquedotecas junto às bibliotecas: geralmente não realizam empréstimos de brinquedos no Brasil, mas a criança utiliza o espaço com liberdade para brincar.
É importante ressaltar que independente do tipo de Brinquedoteca que se pretende formar, deve haver uma preocupação com a organização dos espaços e com tipos de brinquedos que serão disponibilizados para as crianças brincarem. O espaço e a disposição dos brinquedos devem oferecer segurança bem como encantar a criança oferecendo um real convite para brincar.
Vaz (2006) adverte que atualmente contamos com duas formas de organização da brinquedoteca: empréstimo para brincar em casa; instalações para brincadeiras in loco.
Com base nas ideias de Vaz (2006) e Ramalho (2000, p. 84),vejamos algumas descrições possíveis que compõem a brinquedoteca:
- Canto do “faz de conta”: Espaço com mobílias e utensílios domésticos; canto do supermercado; camarim com fantasias, chapéus, espelhos, fantasias para representação de diversos papéis, entre outros brinquedos infantis miniaturizados.
- Canto da “leitura”: diversos tipos de livros para atender a todas as faixas etárias e estimular o hábito e gosto pela leitura.
- Canto das “invenções ou criação ou sucatoteca”: uso de materiais recicláveis ou objetos diversos para inventar, construir e recriar coisas de brinquedos.
- Canto do teatro ou do fantoche: criação e construção de histórias e fantoches, com painéis e palcos para encenações.
- Canto da oficina: para construção e restauração de brinquedos entre outros.
- Mesa coletiva: espaço utilizado para jogos coletivos.
- Canto do mural de recados: para comunicações ao usuário como notícias, avisos, normas, entre outros.
- Canto do playground: local composto de brinquedos de parquinho infantil seja de fibra, plástico resistente ou metal.
- Cantos dos tapetes e colchões: espaço com tapetes grandes ao chão para brincadeiras, rolamentos, movimentos acrobáticos, entre outros;
- Canto do cinema: local com televisão DVD, com almofadas, tapetes e sofás para as crianças apreciarem filmes diversos, e atender as diversas faixas etárias.
- Canto da pintura e desenhos: disponibilizar a criança matérias às pinturas e desenhos como: pincéis, telas, papéis, cartolinas, sulfites, entre outros.
Diante do encantamento que a brinquedoteca propõe, Cunha (2011 p 106), ressalta que “os brinquedos alimentam a inteligência, e o brincar tonifica a alma”. Neste contexto, prover um espaço lúdico para a criança é muito mais do que respeitar o direito de brincar, pois é também reconhecer a necessidade da infância para a criança, bem como suas especificidades.
Conclusão
Diante dos conceitos e definições apresentados nesta pesquisa, podemos concluir que a Brinquedoteca é um espaço indispensável para a construção de aprendizagem e potencialidade da criança.
A brincadeira é uma forma de ação privilegiada de interação com outros sujeitos, sejam eles adultos ou crianças.
Brincando a criança se apropria criativamente de formas de ação sociais tipicamente humanas e de práticas sociais especificas dos grupos as quais pertencem, aprendendo sobre si mesmas e sobre o mundo.
Compreender as especificidades das brincadeiras junto à brinquedoteca torna-se importantes para resinificarmos ações lúdicas ainda presentes na educação infantil.
Concluímos então, que a brincadeira para a criança exige mais do que simplesmente permiti-la, mas sim, promovê-la. As crianças precisam de espaço, tempo, material e companhia para brincar. O espaço Brinquedoteca tem uma imensa relevância para a educação, nele a criança constrói suas próprias aprendizagens, extravasa sentimentos e demostra suas emoções.
Referências
ALMEIDA, Damiana Machado; CASARIN, Melânia de melo. A importância do brincar para a construção do conhecimento na educação infantil. Cadernos., n. 19,2002.Disponivél em: http://coralx.ufsm.br/revce/ceesp/2002/01a6.htm Acesso em: 11 out. 2011.
CUNHA, Nylse H. Silva. Brinquedoteca um mergulho no brincar. São Paulo: Aquariana, 2011.
FRIEDMANN, Adriana. A arte de brincar. São Paulo: Scrita, 1998.
HYPOLLITO, D. O brinquedo e a criança. Revista integração, ano 7,n.26, ago.2001. Disponível em: http://br.geocities.com/dineia.hypolitto/arquivos/artigos/176_26. pdf. Acesso em 13 out.2011.
NOFFS, N. A. A brinquedoteca na visão psicopedagógica. In: OLIVEIRA, V. B. de (org). O brincar e a criança do nascimento aos seis anos. 3. Ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
PUGA, Edna Mara Gonzaga Rodrigues; SILVA, Léa Stahlschmidt Pinto. A brinquedoteca na escola: Universidade Federal de Juiz de Fora: Juiz de Fora, 2008.
RAMALHO, M. T. de B. A brinquedoteca e o desenvolvimento infantil.2000. Disponível em: http://biblioteca.universia.net/html_bura/ficha/params/id/595223
SANTOS, S.M.P. Brinquedoteca: O lúdico em diferentes contextos. Petrópolis: Vozes, 1997.
VAZ, José Carlos. Brincar é um direito da criança. 17 de maio 2006. Disponível em: http://www2.fpa.org.br/formacao/pt-no-parlamento/textos-e-publicacoes/brincar-e-umdireito-da-crianca