REFLEXÕES SOBRE A NATUREZA E SOCIEDADE NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Michael Roberto Guedes dos Santos
Christiane Aparecida Saturnina da Silva
Marlene de Matos Macedo Silva
Andrea Aparecida de Medeiros
RESUMO
O presente artigo abordou os conhecimentos relacionados aos fundamentos pertinentes ao estudo da natureza e sociedade e a sua importância na educação infantil, com vista a explicar as relações estabelecidas entre a criança e o mundo, com ênfase nas situações características dessa faixa etária. Buscou defender a importância dos conceitos prévios e científicos que também auxiliam na compreensão desse processo, baseado em concepções sociointeracionistas. Percebemos, ao longo do trabalho o quanto é importante discutir sobre a preservação ambiental e quanto é significativo trabalhar o tema dentro do sistema de ensino. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica considerando as contribuições de autores como: AQUINO (2008), TOMASSONI (2004), FREIRE (1997), CALLAI (2002), entre outros.
Introdução
O presente artigo tem como objetivo enfatizar a importância do estudo da natureza e sociedade na perspectiva da educação infantil.
Estimular a autonomia da criança a fim de proporcionar a complexidade dos sistemas naturais e sociais contemporâneos.
Compreender as características e as relações estabelecidas entre a criança nesta faixa etária, a sociedade e a natureza.
Aprofundar os estudos sobre a construção de conhecimento científico e as relações sociais.
Propiciar experiências e reflexões sobre situações que permitam o desenvolvimento de conceitos relacionados à vida em sociedade e à natureza.
Refletir sobre as consequências geradas pela relação natureza e sociedade em nossa contemporaneidade e de que forma o professor poderá considera-los no cotidiano do seu fazer pedagógico.
Considerar que nossas práticas de preservação ambiental são construídas em nossas primeiras vivências escolares, enfatizando que o processo de socialização se inicia desde a sua concepção.
Desenvolvimento
O ser humano é definido como um ser social, porém quando e como se mete processo de socialização.
A partir do momento da concepção a criança passa a receber influências maternas e do meio externo iniciando assim esse processo de socialização que perdura pelo resto da vida Ainda no ambiente intrauterino abre as relações entre mãe e a criança se intensifica de modo que mesmo após o parto a mãe é a primeira referência que a criança tem no mundo externo e ela estabelece inicialmente uma relação de dependência física e por que não social.
O sujeito em desenvolvimento, desde o nascimento constrói seu conhecimento mediado pelas relações com o mundo físico e social num permanente ato de formular hipóteses e confrontá-las via ação (física e mental), conferindo, revalidando ou reformulando os conceitos iniciais, o que reorganiza, não só o conhecimento,, mas também a forma de pensar (AQUINO; VASCONCELLOS; COLINVAUX, 2008, p.3).
Nos primeiros anos de vida, a criança se socializa no ambiente familiar, onde os pais e se for o caso, os irmãos constituem seu núcleo central e único de referência. Nesse período, para criança em desenvolvimento não existem outras realidades se não aquelas vivenciadas por ela no dia a dia. Assim a família constitui-se como primeiro grupo social que o indivíduo faz parte
Geralmente, o segundo grupo social com o qual a criança tem contato e é inserida é a escola. Ao observar atentamente os primeiros dias da criança na escola (geralmente na educação infantil), é possível perceber as mais variadas reações, a maioria demonstra insegurança, estranheza, medo etc., resultado do contato com o mundo que até então a criança desconhecia e do qual ela agora passa a fazer parte.
Com o passar do tempo, a criança entra em contato com outros grupos sociais, nos quais ela pode ser inserida ou não e o processo de adaptação se repete. As dificuldades decorrentes da inserção ou não em novos grupos sociais podem ser creditadas ao fato de que cada criança carrega consigo valores sociais e culturais, provenientes de experiências sociais e culturais anteriores, muitas vezes relacionados às experiências familiares ocorridas pela primeira infância. Essa influência geralmente é bastante significativa e se expressa na dificuldade de adaptação a novos ambientes, novos grupos e novas situações às quais a criança é naturalmente exposta. Também ocorrem situações em que os pré-requisitos sociais são positivamente significativos nas experiências posteriores da criança. Em ambos os casos é necessário que a criança consiga ser flexível em relação aos seus valores anteriores, para que seja possível a incorporação de valores novos, o que muitas vezes torna a transição um processo dificultoso.
Na fase escolar, é fundamental a compreensão dos pais e o respectivo auxílio no sentido de incentivar a socialização da criança ao novo contexto social, pois o indivíduo será considerado socializado a partir do momento em que admitir a existência do outro e do mundo o que ocorre normalmente no início do período escolar. O momento da socialização de fato ocorre quando a criança consegue enxergar dentro de si o respeito pelo outro e num sentido amplo, o respeito pelos direitos do outro, por suas tristezas, por suas alegrias, por suas limitações, por suas potencialidades etc. Do mesmo modo, é quando consegue perceber que todos os seus atos e/ ou omissões têm efeito no todo por menores que sejam. É o momento em que a criança compreende que cada indivíduo precisa colaborar para construir uma sociedade melhor, que é possível perceber a natureza e o mundo à sua volta, dentro de qualquer grupo social.
Ao analisar a natureza, deve-se levar em consideração sua relação com a sociedade, uma vez que ambas estão interligadas. Assim, a sociedade não pode ser estudada mediante apenas as relações entre os grupos, mas, sobretudo, a partir de sua independência coma natureza. Ao estudar tal relação. É preciso entender “[…] a complexidade da organização da vida no planeta Terra: a de que existe um homem e uma natureza” (TOMASONI, 2004, p.13).
A sociedade é, ao mesmo tempo sujeito e objeto, pois ela destrói a natureza primitiva e, esta, se reconstitui, resultando em formas diferentes da primeira, dando origem ao que chamamos de segunda natureza. Dessa forma, ao destruir a natureza em busca da satisfação de suas necessidades ou “desejos”, a sociedade a reconstrói e se prepara para novas reconstruções, na medida em que seu objetivo vai sendo atingido.
Devido ao intenso relacionamento da sociedade coma natureza ao longo dos tempos, surgiram as preocupações com o meio ambiente temática importantíssima na atualidade. No que se refere ao meio ambiente, podemos afirmar que se trata de um sistema no qual interage a natureza e a sociedade, formando um espaço socialmente construído pelas relações cotidianas, permeadas por atividades econômicas, sociais e políticas.
Para Reigota (1994, p.21):
Meio ambiente é um lugar determinado/ou percebido onde estão as relações dinâmicas e a constante interação dos aspectos naturais e sociais. Essas relações acarretam processos de criação cultural e tecnológicos e possessos históricos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e políticos de transformação da natureza e sociedade” (REIGOTA, 1994, p. 21).
Do ponto de vista da relação natureza e sociedade, vemos que, com os passar dos tempos, houve uma melhoria significativa na qualidade de vida de parte da população mundial aliada ao forte crescimento populacional, fatores que exerceram forte pressão nos recursos da natureza.
No passar dos tempos, a relação natureza sociedade passou por um processo gradativo de mudanças, culminando em transformações radicais, se levarmos em consideração, o cenário do mundo atual. Essas transformações nos obrigam, em termos de produção de conhecimentos, a lidar com uma diversidade de informações e transformá-las em uma linguagem voltada para o universo infantil, o que não é tarefa fácil.
Vivemos um período de incertezas marcado pelo desperdício e pelo consumismo exagerado aliado a uma geração de riquezas para poucos e em contrapartida a miséria e a pobreza para muitos. Acreditamos na necessidade urgente de se valorizar a educação preparando o ser humano para o exercício da cidadania plena e que esse processo deve ser considerado desde a primeira infância. Dessa forma para a construção de um mundo socialmente justo e ecologicamente equilibrado, necessitamos de grande responsabilidade individual e coletiva, do nível local ao global. A escola é um dos territórios privilegiados para a vivência prática e simbólica de valores voltados para o equilíbrio na relação homem-homem e natureza-natureza.
Ao professor cabe redesenhar seu papel e contribuir para que as crianças cresçam na vivência de valores e não apenas na sua aceitação. Para FREIRE (1997), p. 20):
Mais que um ser no mundo, o ser humano se tornou presença no mundo, com o mundo e com os outros. Presença que reconhecendo a outra presença como um “não eu” se reconhece como “si própria”. Presença que se pensa a si mesma, que se sabe presença, que intervém, que transformam, que fala do que faz, mas, também, do que sonha. FREIRE, (1997), p. 20.
Assim a vivência em comunidades (escola, famílias, igrejas etc.), abre a possibilidade de aprender: a gostar de si próprio e do outro, a viver juntos, a respeitar as diferentes formas de vida existentes no planeta Terra, entre outros. Esse é um caminho que devemos buscar como tentativa de superar a cultura individualista e competitiva que se mantem hegemônica no cenário do mundo atual.
Nesse sentido, é necessário o desenvolvimento no espaço escolar a começar pela educação infantil de práticas voltadas para a resolução de problemas concretos que levem a participação ativa de cada criança e da coletividade, no meio em que esta inserida.
O meio em que vivemos é rico em possibilidades de exploração, por isso devemos sempre colocar a realidade concreta, como ponto de partida para a criança entender melhor o seu mundo, o seu espaço, a sua história, reconhecendo a natureza como provedora de bens para a nossa sobrevivência na Terra. É preciso que ela compreenda a sua cotidianidade a sociedade em que vive, conhecendo o espaço que esta sendo construído e a natureza que esta sendo transformada por essa sociedade.
Para Callai, (2002, p.59):
[…] o homem deve ser considerado não de forma abstrata, desligando da realidade em que vive, mas sim, inserido na sociedade. É o cidadão que tem direito e deveres para com a própria sociedade. E a sociedade também tem de ser entendida na sua real dimensão, não abstrata, distante do aluno, mas é importante lembrar essa música de direita nenhum concreta, situada em determinado espaço e tempo. (CALLAI, 2002, p.59).
A criança adquire e desenvolve noções sobre o conceito de natureza e de sociedade na medida em que interage com o mundo nesse processo relaciona-se com o mundo à sua volta percebendo não apenas como um mundo repleto de cor e forma, mas como um mundo dotado de sentimento e significado o Referencial Curricular Nacional para a educação infantil conhecimento de mundo destaca a relação da criança com a natureza e a Sociedade da qual faz parte afirmando que o referencial curricular nacional para a educação infantil conhecimento de mundo destaca a relação da criança com a natureza e a sociedade da qual faz parte, afirmando que:
O mundo onde as crianças vivem se constitui em um conjunto de fenômenos naturais e sociais indissociáveis diante do qual elas se mostram curiosas e investigativas desde muito pequenas pela interação com o meio natural e social no qual vivem as crianças aprendem sobre o mundo fazendo perguntas e procurando respostas às suas indagações e questões como integrantes de grupos socioculturais singulares vivenciam experiências e interagem num contexto de conceitos valores Ideais construindo um conjunto de conhecimento sobre o mundo que a cerca (BRASIL, 1998b, p.163).
A proposta deste eixo temático é discutir a importância da construção de valores habilidades e atitudes na infância voltadas para o meio ambiente e melhoria da qualidade de vida.
A sociedade contemporânea tem exigido dos educadores uma reflexão contínua no sentido de reformular e construir estratégias que orientem as crianças na vivência de valores e atitudes voltados para uma maior afetividade em relação ao meio que vivem. Essa meta pode ser alcançada mediante práticas voltadas para o estudo da natureza e da sociedade de forma lúdica e criativa assim podemos instigar a curiosidade “epistemológica” da criança possibilitando-lhe perceber a riqueza natural e cultural em que estamos envolvidos, em como respeitar a diversidade e a complexidade dos fenômenos e das relações que o ambiente proporciona.
Para Dohme (2002, p.18):
O ideal é que cada um assuma a responsabilidade com o lugar em que vive, em todas as dimensões. Alguém que não se preocupa em manter em boas condições de higiene e organizado o local onde vive, trabalha ou estuda, dificilmente, estará com as praias não serem limpas ou com a poluição do ar. Esse descaso poderá ter raízes pouco profundas e simplistas: a pessoa não adquiriu consciência dessa sua responsabilidade por não ter sido informada ou motivada (DHOME; DHOME, 2002, p. 18).
Assim a afetividade em relação ao meio é algo que precisa ser estimulado e depende muito do modo como cada vê e sente o lugar o primeiro passo é conscientizar as crianças de seu papel no meio em que vivem para que possam ser multiplicadoras de ações que habita.
Conclusão
Diante da pesquisa realiza podemos concluir que natureza e sociedade contemplam o estudo de aspectos referentes tanto à natureza envolvendo as ciências naturais, como também a sociedade, envolvendo as ciências humanas.
A abordagem do tema em questão possibilita a criança ampliar as experiências que traz de sua vivência cotidiana, estabelecer novas formas de relação com uma variedade de costumes e expressões.
Ficou evidente que a criança constrói conhecimentos práticos sobre o mundo nos primeiros anos de vida, dessa forma percebe a existência de cores, objetos, formas, odores movimenta-se e manipula objetos, conhece o mundo por meio da atividade física, mental e afetiva. Atribui os primeiros significados interage com as pessoas com as quais compartilha novos conhecimentos e constrói explicações subjetivas e individuais dos fenômenos. Quanto menor for uma criança, mais as representações estarão associadas aos objetos concretos da realidade observada e vivida.
O ensino da natureza e sociedade na perspectiva da educação infantil é fundamentado nas teorias que explicam como a criança concebe suas relações com o mundo natural e a sociedade. Desse modo indicam a importância do trabalho com essa disciplina na educação das crianças, buscando a formação de futuros cidadãos.
Referências
AQUINO, Ligia Maria M. L. Leão de; VASCONCELLOS, Vera Maria Ramos de; COLINVAUX, Dominique. Ciências e educação infantil: Iniciando o debate. Disponível em: http://bdt.d.ndc.uff.br/trd_busca/arquivo.php?codArquivo=94. Acesso em: 15 mar. 2008.
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para educação infantil. Conhecimento de mundo. Brasília ME/SEF, 1998b, v.3.
CALLAI, Helena Copetti. Os estudos sociais nas séries iniciais. In(Org.) O ensino de estudos sociais. 2. ed. Ijuí:UNIJUÍ,2002. p.55-70.
DOHME, Vânia D’ Angelo; WOHME Walter. Ensinando a criança a amar a natureza. 4. ed. São Paulo: Informal, 2002. V.1.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
REIGOTA, Marcos. O que é Educação ambiental? São Paulo: Brasiliense, 1994.
TOMASSONI, Marco Antonio. Considerações sobre a abordagem da natureza na Geografia. In: SANTOS, jémison Mattos dos; FARIA, Marcelo (Org.) Reflexões e construções geográficas contemporâneas. Salvador:UNEB, 2004. V. 1.