ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NOS ANOS INICIAIS
Andrea Aparecida de Medeiros
Christiane Aparecida Saturnina da Silva
Elayne Kayte Leite Araujo
Marilene Marciana da Cruz
Marlene de Matos Macedo Silva
RESUMO:
O presente artigo buscou analisar a concepção e a relação entre o processo de alfabetização e letramento nos ambientes escolares. Buscamos enfocar a importância que o ser humano alfabetizado tem na sociedade. A escrita não é um simples código ou uma tecnologia a ser transmitida, e sim um bem social de valor inestimável e indispensável para potencializar as condições sociais, culturais e pessoais de um sujeito e de u grupo social. Embora o papel da escola seja socialização desse saber, não significa que tem cumprido seu papel com qualidade. A língua é um sistema que tem como centro a interação verbal, que se estrutura no uso e para o uso, escrito, falado sempre contextualizado. Educar e aprender são fenômenos que envolvem todas as dimensões do ser humano e, quando isso deixa de acontecer, produz alienação e perda do sentido social e individual no viver. É preciso superar as formas de fragmentação do processo pedagógico em que os conteúdos não se relacionam não se integram e não se interagem. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica considerando as contribuições de autores como CAGLIARI (2009), COLELLO (2010), SOARES (2003).
Palavras-chave: Alfabetização, Letramento, Educação, Desenvolvimento.
Introdução
Essa pesquisa será direcionada para a ampliação conceitual da natureza complexa dos processos de alfabetização e letramento no contexto dos anos iniciais do Ensino fundamental. Buscaremos analisar os princípios pedagógicos e teóricos pressupostos no ato de alfabetizar e letrar para que possamos enfrentar os desafios, que na prática alfabetizadora exige em sala de aula.
Quando nos aprimoramos teoricamente acerca dos conceitos de alfabetização e letramento, presume-se que ambos os processos não se constituem em mera prática didática de ler e escrever. Cabe ao educador enfrentar e considerar que a escola tem um papel importante na socialização da língua enquanto instrumento e patrimônio de um grupo social. Nem sempre o papel social da escola em relação à aprendizagem e ao ensino da leitura está claro.
Na formação de professores alfabetizadores é preciso que ele saiba transpor didaticamente os conhecimentos teóricos em conhecimentos práticos por meio de escolhas didáticas coerentes e que sejam capazes de alcançar seus alunos.
Desenvolvimento
A linguagem é uma construção social e histórica do homem. Portanto, é um conjunto sistemático estruturado de recursos que tem a função de discurso, de comunicação e de interação enquanto processo de simbolização, constitui um processo de construção coletiva a partir e convenções mais ou menos estáveis.
O mais correto seria dizer que temos diferentes formas de linguagem. Dessa forma, temos linguagens como formas diversas de representar ideias. Conquistar os usos que se fazem de todas essas formas de linguagem, significa conhecer os seus elementos básicos, os modos do seu funcionamento e as suas dimensões em determinado contexto cultural. Assim, a alfabetização e o letramento no contexto escolar devem significar para o educando, a possibilidade de lidar com a linguagem como um recurso comunicativo, de interação e de produção de discurso. Segundo Colello (2010 p.75-76):
[…] Por vias dialéticas, o homem apela para a escrita e o mundo da escrita, apela para o homem, formando um vínculo de Inter constituição entre o sujeito e a esfera sociocultural. Estar fora desse “jogo” é em diferentes níveis, sofrer os processos de exclusão social, submetendo-se aos esquemas de discriminação e marginalidade. (COLELLO, 2010, p. 75-76).
Segundo a autora, o domínio sobre a linguagem enquanto produto histórico e social representa para o sujeito a participação no “jogo” social e cultural no contexto no qual ele se situa. Ao mesmo tempo em que o homem apropria-se e adquire à linguagem, ele também age sobre ela.
Por vivenciarmos o tempo do escrito, a formação de leitores plenos, que reinventam a linguagem e a si próprios, é tarefa da escola como instituição social que tem por dever transmitir e possibilitar o acesso de todas as manifestações de linguagem. CAGLIARI (2009, p 24-25) questiona:
A questão mais fundamental do ensino de língua portuguesa é obviamente a seguinte: o que é ensinar português para pessoas que já sabem falar português? Por que não se ensina português no Brasil como se ensinaria para falantes de outras línguas?
A criança que se inicia na alfabetização já é capaz de entender e falar a língua portuguesa como desembaraço e precisão nas circunstâncias da vida em que precisa usar a linguagem. Mas ela, e é, sobretudo isso o que ela espera da escola [...] (CAGLIARI, 2009, p.24-25).
Acompanhando as ideias do autor, podemos ainda questionar: O que dizer de formação plena dos sujeitos leitores? O que proporcionamos diretamente ao sujeito quando ensinamos ler e escrever de forma intencional e sistemática? Essas questões parecem simples, porém exigem que cada um de nós que trabalha com educação e formação de pessoas na escolarização formal da Educação básica tenha o dever de saber respondê-la de maneira reflexiva. Para buscar a resposta vejamos as contribuições de Colello (2010).
O ensino da língua escrita abarca uma infinidade de saberes, habilidades, procedimentos e atitudes que se constroem em longo prazo pela possibilidade, entre outras coisas, conhecer letras e expressar sentimentos, decodificar sinais e interpretar o mundo, selecionar informações e articular as ideia, escrever palavras e se relacionar com o outro, conhecer as arbitrariedades do sistema e aprimorar esquemas de organização do pensamento,desenhar traçados convencionais e recriar as dimensões humanas de tempo e espaço, respeitar normas e se constituir-se como sujeito autor, adestrar os olhos e viajar por meio da leitura, dominar a mão e usufruir o direito á palavra.Das mais pontuais e mecânicas ás mais abstratas e existenciais, todas essas aquisições merecem ser discutidas não pelo mérito que têm entre si, mas pelo que o seu conjunto pode representar ao sujeito e à sociedade (COLELLO, 2010 p. 77-78).
Segundo a citação da autora, destaca-se a importância do ensinar a ler e a escrever, onde o domínio da linguagem enquanto processo simbólico é uma forma de ser, de estar, de pensar de modificar o mundo e a si próprio.
Cagliari (2009) demonstra que “[...] a leitura é a extensão da escola na vida das pessoas. A maioria do que se deve aprender na vida terá de ser conseguido por meio da leitura fora da escola”. “[...] a leitura é uma herança maior do que qualquer diploma”. A leitura, portanto, ultrapassa o mero ato de decodificação sendo “[...] uma atividade extremamente complexa” que se relaciona com “[...] problemas não só semânticos, culturais, ideológicos, filosóficos, mas até fonéticos” CAGLIARI, (2009, p.131). A leitura é decifração e decodificação conforme aponta Caglliri (2009). Quanto à temática da leitura enquanto manifestação liguistica Cagliari aponta os seus tipos. A leitura oral é realizada pelo leitor e pode ser direcionado. Assim “[...] ouvir histórias é uma forma de ler” (CAGLIARI, 2009 p. 137).
De acordo com Cagliari (2009), a leitura e a escrita podem ser entendidas de vários modos, em primeiro lugar, devemos pensar na relação entre leitura e escrita de que “[...] a leitura é a realização do objetivo da escrita”. Há alguns que preferem entender a língua escrita como um código que estrutura pela relação entre sons e letras, outros afirmam que a língua escrita se dá por meio das relações e do contexto no qual ela é produzida, tendo, portanto, funções bem definidas.
Soares (2004, p. 16) destaca: “Sem dúvida, a alfabetização é um processo de representação de fonemas e grafemas, e vice-versa, mas também é um processo de compreensão/expressão de significados por meio do código escrito”. Soares (2003, p. 39) esclarece que:
[...] Letramento é a apropriação social da escrita, é utilizar o conhecimento do código para compreender as práticas sociais do meio. Em suma, compreendem-se ações específicas de letramento: interpretar textos e livros de quaisquer gêneros; analisar criticamente propagandas veiculadas pelos Meios de Comunicação; discorrer sobre um tema tratado; redigir textos, termos e comunicados; entre outros.
Soares (2004) também acrescenta que:
[...] Letramento e alfabetização não se podem dissociar-se, pois a criança entra no mundo letrado simultaneamente por esses dois processos, pois, a alfabetização se desenvolve por meio das atividades de letramento, ou seja, através de práticas sociais da leitura e da escrita que só podem se desenvolver por meio da alfabetização.
Segundo Soares (2003), letramento corresponde no uso constante da leitura e escrita nas diversas situações do sujeito na sociedade.
Dominar a língua é uma forma de dominar uma determinada realidade social e cultural, vivemos em uma sociedade grafocêntrica os grupos letrados gozam do poder, por isso a escola é responsável em distribuir o acesso e domínio sobre este, bem como forma de possibilitar a todos vantagens que a língua escrita oferece. Nesse sentido Soares (1998 p. 39-40):
[...] Um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado é aquele que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado, o indivíduo que vive em estado de letramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura e de escrita (SOARES, 1998, p. 39-40).
Diante da análise da citação de Soares (1998), o letramento direciona-se para os usos e as práticas sociais de leitura e de escrita e não diretamente á forma pela qual ela se dá. Envolve, portanto, múltiplas formas de apropriação, domínio e uso da língua (oralidade e escrita).
Entre a relação de alfabetização e letramento, podemos afirmar que:
O processo de alfabetização sempre deve dar um contexto. O contexto é o próprio texto como ponto de partida e chegada do trabalho pedagógico desenvolvido em sala de aula. Assim, afirmamos que os sentidos dos processos de alfabetização e letramento revelam sua função, seus usos e práticas a partir da realidade como se mostra nos textos reais que circulam socialmente.
O processo de alfabetização sempre pressupôe um processo de mediação intencional, sistemático e direcionado tendo como finalidade a aquisição, a apropriação, os usos e as práticas sociais de leitura e escrita que circulam em uma determinada cultura. Aqui, estamos claramente colocando que o processo de alfabetização exige preparo teórico e metodológico do educador como agente mediador do conhecimento.
O processo de alfabetização deve garantir ao aluno a reflexão continua sobre a língua. Isso quer dizer que cabe ao professor organizar o seu planejamento tendo em vista que as situações de ensino e aprendizagem garantam a prática, o contato e a reflexão sobre a língua de um modo vivo e dinâmico.
A organização do trabalho pedagógico do professor alfabetizador deve prever o planejamento de um ambiente alfabetizador pelo qual garanta ao aluno o contato efetivo e reflexivo sobre a língua.
Diante dos pressupostos elencados anteriormente, colocamos que, em virtude dos estudos do letramento, o ato de alfabetizar ganha nova forma de ser encarado pelo educador. Trata-se na verdade de um projeto que toda a escola de Educação Básica deve assumir tendo em vista a formação de sujeitos plenos da linguagem que vivenciaram efetivamente, no processo de escolarização formal, condições de se envolver em práticas e uso sociais de leitura e escrita demandados pelo contexto social.
Hoje, a alfabetização passou a designar o processo não apenas de ensinar e aprender as habilidades de codificação e decodificação, mas também o domínio dos conhecimentos que permitem o uso dessas habilidades nas práticas sociais de leitura e escrita. Outros precedentes que levaram a ressignificar o conceito de alfabetização, foram às pesquisas que indicavam que a escola não estava dando conta de instrumentalizar os alunos para as práticas de leitura e escrita. Deste modo a escola tal como estava construida, não propicia a todos, de forma qualitativa e quantitativa, o acesso ao domínio da linguagem.
Conclusão
Diante do exposto, podemos concluir que o trabalho pedagógico do professor alfabetizador precisa ter clareza conceitual de todos os processos de alfabetização, para poder instrumentalizar-se nas suas escolhas e na maneira como conduzir a aprendizagem de seus alunos.
Desse modo, resulta que o desafio da Escola de educação Básica, como um todo, tem o dever de possibilitar aos alunos a aprendizagem significativa e contextualizada da língua, ou seja, no desafio de alfabetizar letrando.
No enfrentameto desse desafio, se torna necessária a postura do diálogo entre teoria e prática que deve, eticamente, cuidar e respeitar as práticas docentes que muitos educadores já vêm desenvolvendo em sala de aula.
O alfabetizar letrando implica o desafio de o professor ser também um leitor e ser um sujeito capaz de compartilhar junto com as crianças a aventura de aprender a linguagem.
Nesta perspectiva a escola deve conhecer a realidade linguística de seus alunos, o ambiente alfabetizador é essencial para que possibilitemos às crianças ser plenos usuários da língua.
Referências
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e linguística. São Paulo Scipione, 2009.
COLELLO, Silvia Mattos Gasparian. A escola que (não) Ensina a escrever. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
SOARES, Magda. Alfabetização e Letramento, Caminhos e Descaminhos. São
Paulo: Pátio, 2003.
SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. 5 ed. São Paulo: Contexto, 2008.
SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n25/n25a01.pdf. Acesso em 08 de nov de 2022.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2004b.